A disputa presidencial: programas, diálogos,
majoritários e vices
Francisvaldo Mendes, presidente da FLC
A disputa presidencial já está aberta no Brasil faz alguns meses. No entanto, no último mês houve uma arrumação dos rostos nas disputas. As pessoas que assumem papel de vice começam a aparecer, muito mais para atender um calculo eleitoral do que na defesa de um programa. O PSOL desde o início já havia apresentado sua chapa: Guilherme Boulos, trabalhador, militante, comprometido com as periferias e com linguajar que os mais pobres entendem e por defender um projeto de sociedade oposta ao que vivemos, já havia dado as mãos a indígena, professora, nordestina Sonia Guajajara. A chapa Boulos e Guajajara já se apresentava para quem o partido quer dialogar e o que está em centro na disputa presidencial. Dialogar com todos que vivem do trabalho, com todas as estéticas das periferias e apresentar saídas para enfrentar e superar as desigualdades, das econômicas até todas as outras que afloram subsequentes, são as notas de apresentação do PSOL.
No mais do mesmo, do mundo eleitoral, vices foram compondo chapas. A senadora Ana Amélia, do PP, se juntou a Alckmin dando rosto para a apresentação que unifica PSDB com DEM, entre outras siglas, como próprio PP e PR, por exemplo. Hamilton Mourão, do PRTB, abraçou Bolsonaro, agora PSL. Eduardo Jorge, do PV, com Marina Silva da Rede. Katia Abreu, que representa o agronegócio compõe com Ciro Gomes uma chapa só PDT. Meirelles também formou uma chapa só MDB com Rigotto.
Há mais chapas, mas essas disputarão, com o PT, entre Lula, Haddad e Manoela, por enquanto uma chapa de três, compondo a reedição da aliança básica, PT-PCdoB, para a presidência. Tudo indica que a chapa será Haddad e Manoela, mas por enquanto petistas lutam e ainda esperam pela manutenção, oficial, de Lula na disputa.
Possibilidades não são muitas, haja vista, o artificio criado pelas elites para realizar o golpe contra o PT e o direito dos trabalhadores. O discurso da “democracia” vai ganhar as narrativas de várias formas. As representações, o simbolismo das mulheres, a questão racial, temas que afloraram, ainda com mais força no momento atual, bordarão o tema da democracia. Caberá, principalmente ao PSOL, compor o tema da democracia com temperos estruturantes, que vão além das representações.
Vive-se uma situação nacional na qual emerge uma ditadura organizada por uma espécie de “oligarquia jurídica”. A ideologia dos três poderes – judiciário, legislativo e executivo – sucumbiu para a centralidade do judiciário e o poder econômico ganhou peso com as contra-reformas do governo golpistas. As várias Medidas Provisórias e o mercado estabelecido com a maioria do legislativo brasileiro, entre presidência, Câmara e Senado, cria uma nuvem para as questões centrais a serem debatidas e uma dificuldade para que temas estratégicos entrem no debate com compreensão para a maioria da população.
Avanços em inclusões específicas, conquistadas pela força dos movimentos, em educação, principalmente, estão sendo apagadas das linhas do ordenamento jurídico. Mas no fundamental o que está em questão é a organização da oligarquia financeira para manter e ampliar o lucro, colocando-o acima da vida. Preço de transporte, gastos com moradia, sacrifícios para vagas em hospitais e escolas, além do grande custo da sobrevivência das pessoas, são consequências das desigualdades que se ampliaram e aparecem mais forte na vida dos mais pauperizados.
Avançar em democracia, para além das transparências, da presença das várias raças e dos sexos no espaço de organização superestrutural, questões importantes em realidades que o racismo e o machismo ocupam espaço estrutural nas desigualdades, coloca o direito à vida com dignidade. Precisa-se conter o desmonte do Estado e a desestruturação da sociedade e avançar em salários, espaços de trabalho e custos de vida, que abram ambientes para mais saúde, com uma política que faça da natureza uma promotora da vida e não das destruições, como predomina hoje.
Sabe-se que o trabalho é visto como uma necessidade, e para as pessoas venderem suas forças de trabalho por condições nas quais possam viver melhor, o faz elemento chave. Isso, por sua vez, é reforçado com preços de passagens e transportes qualificados; alimentos orgânicos e com valores acessíveis; equipamentos culturais em todos os territórios, com qualidade para acesso e participação, principalmente nas periferias; saúde como base fundamental, com respeito a todos os seres vivos, humanos e não humanos; garantia de acesso de todas as pessoas no tratamento das doenças, com diminuição das filas de hospitais, que precisam de investimentos, cuidando das pessoas com respeito. Enfim, todo o investimento na dignidade humana, com respeito às diferenças e garantia de sobrevivência com saúde, em todos os aspectos e mobilidade em toda a cidade, exige melhores salários, mais postos de emprego, mas também um ordenamento das cidades com investimento em todos os territórios.
O PSOL tem condições de enfrentar esse debate, apresentando um projeto com força e identidade social para o diálogo com os sujeitos que podem fazer a mudança. A maioria da população brasileira é a cabeça, os braços, as pernas, para um programa de transformações em que essas pessoas, sujeitos desse processo, se vejam nos rostos da nossa chapa. Boulos e Guajajara possuem condições de costurar esse grande tecido, com participação organizada de todo Partido e dos movimentos sociais comprometidos com o enfrentamento e superação das desigualdades.
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