Não foi Sequestro hoje na Ponte Rio-Niterói, foi Suicídio

Não foi Sequestro hoje
na Ponte Rio-Niterói,
foi Suicídio

Por Janira Rocha

Um sequestrador clássico não atravessa um ônibus na pista de um dos locais mais movimentados do Estado, um sequestrador quer fugir, levar suas vítimas para longe para poder usá-las para pedir resgates em proveito próprio.

Não, esse rapaz, agora se sabe, mentalmente perturbado, vítima de depressão resolveu se matar e decidiu fazer isto “entrando para a história” conforme relatado por vários reféns.

No meio de sua dor e confusão mental, sabia que sua ação era um bilhete certo para a morte, afinal estamos no meio de uma Guerra Urbana, agora apimentada por um Governador que dá pulinhos de gazela toda vez que comanda explodir a cabeça de alguém.

Condeno a polícia? Bem, em outra conjuntura, se ela também fosse sã, talvez pudesse perceber o que realmente acontecia ali e, com sua alardeada capacidade técnica apenas atirar para parar o suicida. E não fuzilá-lo com 6 tiros (e muito estranho um Sniper parar alguém com tantos tiros). Mas honestamente era sim uma situação difícil e refletir a defesa dos reféns, das vítimas era a prioridade a se resolver. Foi uma ponderação que poderia se tomar como justa, quem é o hipócrita que vai dizer que se seu filho estivesse de refém naquele ônibus não aprovaria o desfecho?

Analisar as coisas da poltrona, da tela do celular é fácil, mas quando a vida se apresenta na sua concretude o buraco é mais embaixo.

Foi um dia triste, nada a se comemorar e a melhor e mais tocante imagem foi a do pai de uma das vítimas consolando a mãe do suicida.

Mas afinal de que lado estou? Aplaudo ou vaio a Polícia?

Hoje acho que “essa” polícia não poderia nos dar nada diferente, na verdade, nem os que vaiam a polícia e nem os que a aplaudem se importam realmente com ela e tem a dimensão de quanto nossa polícia precisa que se vá em seu “socorro”. Isso é fazer política concreta contra a “Guerra aos Pobres” patrocinada pelo Estado.

Sim, é uma polícia que é humilhada em seu treinamento, pelos seus superiores hierárquicos, que sofre com um regulamento autoritário  que a classifica de subcidadã, que lhe impõe baixos salários, que não lhe garante saúde, moradia adequada a se proteger e aos seus familiares, instrumental de trabalho adequado a sua proteção e mil outros etceteras que poderia enumerar, o mais grave, é uma polícia também acuada pelo crescente número de policiais caçados e mortos pela violência imposta pelo banditismo.

Uma polícia formada ideologicamente para enfrentar o “inimigo” e como é polícia de governos e não de Estado, a depender do Governo o inimigo pode mudar.

Como o menino suicida da ponte, que criou sim uma situação de perigo iminente para 37 pessoas trabalhadoras, outros suicidas criam perigos iminentes e isto tem que ser debatido pela Sociedade sem hipocrisias e sem a fórmula fácil de se “assumir um lado”, como se fosse possível absolutizar a razão em apenas um dos extremos.

Eu choro pelos meus, pela minha classe, choro pelo suicida, depressivo que na sua loucura poderia sim ter causado a morte de 37 pessoas, choro os reféns, choro pelos policiais depressivos que se suicidam pelo país afora, choro pelos policiais que não se enxergam em seu real tamanho e se deixam ganhar pra política que matar na favela a qualquer “preto suspeito” é a solução pra toda violência que vivemos, choro contra a hipocrisia dos que condenam e criminalizam a polícia, mas que não abrem mão de um milimetro de suas pautas para tentar negociar a construção de pontes. 

Meu lado é o de trabalhadores com farda e sem farda, com todas as suas contradições.

Quero ganhar a todos que nossas balas “são para os nossos Generais, ou Governadores…”

A matéria abaixo é para ilustrar a situação real da polícia e que isso também é problema de todos nós!

#DireitosHumanosParaTodosSim
#FimDaGuerraAosPobres 
#NossasBalasSãoParaOsGenerais

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