SAÚDE E PANDEMIA NO BRASIL: UMA REALIDADE EXPOSTA A TODOS

SAÚDE E PANDEMIA NO BRASIL: UMA REALIDADE EXPOSTA A TODOS

Por Francisvaldo Mendes, presidente da FLCMF

O Brasil está distante da consciência social e coletiva sobre saúde, mais distante ainda dos investimentos necessários para melhorar o SUS e faze-lo um Sistema Único com equidade, universalidade, integralidade, participação social e transparência. Sabe-se que a política é decisiva para execução de todos os princípios constitucionais da saúde. Mas a política que predomina no mundo, e principalmente em países de capitalismo tardio como o Brasil, tem maior compromisso com o dinheiro e por isso investe na doença e na proliferação dos planos de saúde. Afinal, a conta é simples para um pequeno grupo que vive do lucro e da exploração: a doença aumenta os cofres privados, garantindo a sobrevivência de alguns mercenários que negociam com a vida das pessoas.

E não se pode esquecer, nem um minuto, que o conceito de SUS – Sistema Único de Saúde – chegou na constituição de 1988 porque houve movimento organizado para conquistar esse compromisso do Estado. Defender o SUS, e fazer com que ele avance e seja praticado com investimentos significativos do Estado, também será obra de nossa mobilização e organização consciente por uma vida melhor.

Essa reflexão é importante nesse momento em que vivemos com a pandemia. O vírus devastador que toma o mundo e com força no Brasil, o faz não apenas pela letalidade do vírus, mas principalmente por um histórico de saúde precarizada que já existia, com hospitais sem leitos, sem valorização dos profissionais de saúde, sem planejamento adequado e direcionado para a produção contínua e abusiva do lucro.

Não é, portanto, somente na falta de leitos e hospitais apenas que se pode mirar a situação das pessoas para o enfrentamento do COVID-19. O investimento em saúde é o investimento real em vida, que garante que o sistema imunológico esteja ativo, forte, disposto para enfrentar todas as mazelas de um modelo de sociedade profundamente poluído em todos os níveis e dimensões. Qualquer orçamento do Estado, com o mínimo de caracterização pública, precisa dar prioridade no investimento em saneamento e em todas as condições, não naturais, para que as pessoas vivam com saúde.

Certamente que isso envolve condições dignas para vender a força de trabalho, para morar, para se transportar, para se alimentar, para se higienizar, enfim, para tudo que é necessário para viver. O senso de 2010 já indicava que praticamente 7 milhões de famílias no Brasil não possuem onde morar. Não é possível que os Governos olhem para essa realidade exposta e finjam que nada está ocorrendo, valorizando apenas o “tal mercado”. Isso demonstra a necessidade imediata de questionarmos e mudarmos este modelo de sociedade amparada somente no dinheiro e no lucro, para a infelicidade da grande maioria de pessoas. E o Brasil piorou de situação com esse governo federal.

O COVID-19 expõe de forma inequívoca e violenta a realidade que toma a situação de vida das pessoas. A periferia, em todo o país, principalmente as favelas, amarga a triste e lamentável condição, nada humana, sem água potável, sem saneamento e condições para a vida. E o sofrimento é ainda pior neste momento, em que a falta de condições básicas de vida quando a doença acelera a morte. A mesma população que já, há anos, enfrenta as maiores filas para nos hospitais. Na sociedade brasileira quem não tem um plano de saúde, muitas vezes, não consegue ser atendido por médicos e profissionais que possam cuidar do corpo para superação das doenças. E a motivação dessas doenças nada de natural possui, são as condições de vida, que fazem com que o corpo padeça dessa forma monstruosa entre as pessoas com menos recursos materiais. Essa realidade pode e deve ser transformada onde um novo modelo de vida deve ser concebido. contra a ideologia individualista que empurram as pessoas para pensar e agir por si e para si, sem qualquer senso e motivação coletiva.

Tanto a organização econômica do lucro, fortalecida pelo advento do capitalismo, mais rapidamente desastroso no capitalismo tardio do Brasil, mas também os Governos que são, em sua maioria, eleitos, precisam ser transformados. Há, portanto, soluções. Mas tais soluções exigem conhecimento, formação, organização, ação coletiva, solidariedade, e determinação de enfrentar os poderosos de plantão e marchar contra o caminho predominante da governabilidade. O Governo Federal, com a irresponsabilidade que lhe é peculiar, age negativamente, investe contra a vida das pessoas, aposta em ignorância, mentiras, individualismo e doenças. Ou seja, investe na exploração da doença em todas as dimensões. É isso que predomina no Estado brasileiro hoje.

O COVID-19 deixa essa realidade evidente para quem quer ver, mas precisa ser derrotado com um movimento amplo, potente e criativo de solidariedade ativa. Nossos desafios estão estampados: criar condições para que tenhamos forças para mudar quem controla e organiza o Estado; ampliar a potência coletiva para que seja possível o enfrentamento ao modelo de sociedade consumista e derrotar o capitalismo; superar a organização da economia atual para uma economia que favoreça a vida.

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