O POVO SEMPRE É MAIORIA E VAMOS ACUMULAR FORÇAS PARA O AMANHÃ!

O POVO SEMPRE É MAIORIA E VAMOS ACUMULAR FORÇAS PARA O AMANHÃ!

Por Francisvaldo Mendes, presidente da FLCMF

Nós somos maioria social no Brasil. Sobre isso não há dúvidas. Todas as pessoas que precisam viver da venda de sua força de trabalho, sejam as que conseguem ou as que não conseguem trabalho. Estejamos onde estivermos, nas várias áreas, sejam as que usam as canetas, os braços, os corpos, em cenas ou contracenas diárias, somos a grande maioria no mundo e, também, nesse país.

Somos mais que setenta porcento, se juntos estivermos na política e com o projeto unificado em mãos, não há o que ou quem nos impeça. Temos, sim, a potência criativa e o vetor simbólico de transformar para melhorar a vida. Mas o fardo do projeto político com ímpeto, força e inteligência transformadora do grupo social que compomos pesa agora, como em poucos momentos históricos, pela ausência. Temos, portanto, o grande desafio de fazer o projeto da nossa classe existir.

Vivemos, na cronologia do tempo, uma unificação entre o pior, mais conservador, autoritário e cultuador da ignorância neste governo federal, que o país já experimentou! Por outro lado, uma pandemia que surfa nessa onda tosca contra a vida e massacra com doenças e mortes os setores mais pauperizados da classe. Somos nós, sim, os principais alvos nesse momento destas balas intangíveis que matam e aterrorizam a vida. Na periferia, espalhada por todo o país, principalmente nas favelas, estão mulheres e homens, negras e negros, pessoas do norte e nordeste, pessoas indígenas de múltiplas etnias, as que trabalham para sobreviver. Somos esse povo todo que se espalha pela necessidade da venda da força de trabalho para a sobrevivência, somos números na sociedade do comércio, do consumo e do lucro forjada nos traços do capitalismo.

Segundo o IBGE, nos tempos atuais, somos mais de 211 milhões de brasileiras e brasileiros no país e cerca de 64% da população está entre as pessoas consideradas economicamente ativas, nós somos, pelo menos, aproximadamente, 135 milhões de pessoas. Na vasta e múltipla realidade do Brasil é necessário que registremos que, para o IBGE, aproximadamente 60% das pessoas que não podem se resumir a números, sobrevive em condições precarizadas de trabalho. Assim sendo, pode-se afirmar que estamos tratando de uma base social em potencial para construirmos um projeto político para assumir como maioria política no Brasil. Construindo assim acúmulo de forças políticas para as transformações socialistas ou que pavimentem o caminho de um projeto de esquerda.

Mas como o tempo atual é devastador, é preciso afirmar que todo movimento que denuncie os absurdos, as destruições institucionais e as práticas autoritárias do governo federal, com ênfase para o Fora Bolsonaro, são bem-vindos. Vivemos, sim, um momento de grande importância em que chuvas de democracia precisam cair sobre as pessoas e colocar um fim nos rompantes de autoritarismo do governo federal atual. Não há dúvidas que, para defender a vida e ter mais investimento em ciência, inteligência, saúde e educação, para fortalecer o enfrentamento da pandemia, salvar o Brasil deste governo é questão de grande importância. Portanto, movimentos como 70% e Estamos Juntos, nos dias de hoje, são bem-vindos e merecem apoio, porém é importante ressaltar que não são movimentos da classe trabalhadora, pois esse desafio persiste para nós. Mas são movimentos que defendem a democracia, seja a liberal ou popular, e se juntam na corrente contrária ao nazifascismo que sobressai na estética do governo federal e tem sua importância momentânea, mas não o que almejamos para enfrentar as formas de dominação, exploração e controle dos setores sociais explorados e oprimidos.

O presidente consegue unificar vários elementos negativos: a relação com o braço armado do crime, uma estética nazifascista, o alinhamento com o imperialismo decrépito dos EUA e a destruição das instituições que é falha, incompleta e ineficaz república brasileira construiu em mais de 100 anos. Não bastasse o patrimonialismo estrutural que toma as instituições, com forte carga estrutural no machismo e no racismo, o chefe do governo e do Estado, eleito no Brasil de hoje, acaba reproduzindo e ampliando a versão mais preconceituosa e atrasada da ideologia na formação social brasileira. É, sim, necessário retirar esse representante bonapartista do vácuo que abre espaço para o atraso das políticas e das relações sociais e do lugar que ocupa no centro do poder do Estado. Portanto, quem vier nessa estrada será bem-vindo e contará com nossa energia para as ações que são necessárias no tempo atual. Mas nossa dedicação ativista será para ampliar e instrumentalizar a organização e a consciência da classe trabalhadora.

Não se pode esquecer que o fascismo é um movimento que, ao contrário da democracia burguesa, pretende ANIQUILAR as organizações autônomas dos trabalhadores, interditando suas ações e impedindo-as de existir. O fascismo tem como principal objetivo impedir que as trabalhadoras e os trabalhadores deste país se organizem e disputem, na sociedade, os seus projetos. Na democracia burguesa coexistem projetos divergentes e antagônicos. No fascismo os projetos divergentes e antagônicos são exterminados e, portanto, as organizações autônomas dos trabalhadores na sociedade civil são aniquiladas e impedidas de existir. E, nesse rumo, o ingrediente que sustenta o movimento fascista é o ódio e ele é historicamente um movimento encabeçado, principalmente, por setores pequenos e médios da burguesia. Não se trata de um ódio individual (que todas as pessoas podem ter em algum momento, como um amor adoecido). É um ódio de classe, construído, organizado e partilhado coletivamente como o motor de sua tática política. Portanto, todos os movimentos que beirem a democratização e a defesa da democracia são bem-vindos nesse momento, aliados táticos que nos unificaremos na jornada por democracia e contra o autoritarismo exposto pelo governo central. Certamente temos que avançar para não sermos empurrados a posição de observadores em disputas eleitorais que coloquem na centralidade conservadores versos liberais. A classe trabalhadora precisa ocupar o Estado e garantir as frestas para acumular forças na superação do capitalismo

Mas nós, do vasto, múltiplo e potente setor que são as pessoas que vivem da venda da força de trabalho, temos o desafio de ir além. Muito importante é fazer crescer a organização, a formação, a consciência de classe e a potência para ações da luta democrática, em todos os seus aspectos e, principalmente, com o viés da classe trabalhadora. Inclusive para que a disputa da centralidade do Estado não fique restrita a uma arena de disputa entre conservadores e liberais. E para que possamos conquistar rachaduras que façam crescer, ao menos, o público no Estado, a participação política em escalas cada vez mais amplas e a dignidade da vida. Assim, abriremos veias para disputar o hoje e acumular forças para o amanhã.

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