A VIDA NÃO É MERCADORIA E AS PESSOAS NÃO SÃO COISAS

A VIDA NÃO É MERCADORIA
E AS PESSOAS NÃO SÃO COISAS

Por Francisvaldo Mendes, presidente da FLCMF

O coronavirus está tirando o pano da cabeça da medusa e podemos virar pedra a qualquer momento, acimentados por doenças e mortes. Mas não se enganem, a cabeça da medusa estava exposta e os problemas que aparecem hoje não chegam por responsabilidade do COVID, mas por responsabilidade da política e da organização do sistema no mundo, conhecido como capitalismo. O impacto dos países colonizados e de capitalismo tardio com a doença é desastroso, pelas conquências para a vida ou pelo roubo da vida que a doença causa, principalmente pela política implementada.

As notícias são alarmantes certamente, pois, o país do império decadente, os EUA, possui o maior índice de óbitos na pandemia; mais de 126 mil pessoas já morreram. O Brasil está na fila em segundo lugar com mais de 60 mil mortes. E ainda que vírus mate e não exista corredor ou atleta que possa se esquivar, as razões da morte são pela política implementadas nestes países antes da situação de pandemia, o que infelizmente foi agravado. Há de sobra exemplos empíricos para demonstrar a lamentável situação que nos toma nos dias de hoje.

Nesse cenário monstruoso, com o mercado vivendo interrupções totais ou parciais, o impacto mais pesado cai sobre as cabeças de quem trabalha na condição de pequeno ou micro empresário ou mesmo como vendedores da força de trabalho. A mercadoria onde impacta maior paralisação é sim a diretamente ligada aos corpos com consequência drástica para as pessoas empobrecidas materialmente pelo sistema. E neste caso, tanto as pessoas que são trabalhadoras quanto as que vivem do belo nome inventado para terceirização ou precarização – microempreendedores – sentem o maior peso do impacto violento de um Estado que não investe na vida.

Segundo o SEBRAE, as micro e pequenas empresas representam 99,1% do total de empreendimentos registrados. Isso significa mais de 12 milhões de negócios, entre os quais 8,3 milhões são de MEI – microempreendedores individuais. E são esses tais de pequenos negócios – belo nome para o capitalismo seguir a exploração de várias formas no século XXI – os geradores de mais 52% de empregos existentes no Brasil. Ou seja, a grande maioria das pessoas do país passam pelo mal estar do desgoverno que aprofunda e multiplica as doenças existentes na vida.

Segundo o SEBRE haverá recessão desenfreada e os países mais ricos do mundo tomarão conta dos mais pobres ou com menor poder financeiro, ampliando o imperialismo e os efeitos das colonizações massacrantes das vidas. O Brasil está entre o grupo de países que se estima grande número de caso de falências concentradas nos tais micros, pequenos e médios “negócios”. Mas a vida não é uma mercadoria e não pode ser restringida a um mercado de negócios onde vende quem tem e compra quem pode.

O SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às micro e pequenas empresas – demonstra, em suas últimas pesquisas e levantamentos, que cerca de 600 mil micros e pequenas empresas fecharam as portas e 9 milhões de funcionários foram demitidos neste período que o país vive a pandemia. Se diz que isso ocorre em razão dos efeitos econômicos da pandemia do novo coronavírus. Mas não é verdade, isso ocorre pela política econômica imposta pelos governos autoritários que colocam o lucro acima da vida. Com a situação atual os efeitos empíricos negativos das políticas desastrosas só ampliam o impacto e o alcance.

O levantamento do SEBRAE realizado entre os dias 3 e 7 de abril, que envolveu microempreendedores individuais, micro empresas e empresas de pequeno porte, acessou 6.080 empreendimentos e as notícias são desastrosas. Nem os empréstimos, todos que são feitos com juros abusivos, estão acontecendo. Mais de 59% já tiveram os pedidos de ajuda, em forma de empréstimos, negados e mais de 29% ainda aguardam uma resposta, que tende ser negativa. Isso significa portas fechadas, demissões, vidas mais fragilizadas. A ideologia mentirosa e irresponsável de que as pessoas que individualmente correm atrás resolvem suas vidas cai por terra na pior situação.

É fácil lembrar da onda de ataques contra bolsa família e os diversos auxílios de vida. Muitos desses ataques que foram facilmente acolhidos por esse importante grupo social, com frases do senso comum desrespeitosas às pessoas, como “não se pode dar o peixe, se tem que ensinar a pescar” ou “aumento de vagabundos que ganham sem trabalhar”, retorna violentamente contra a vida. Há filas e filas para os 600 reais que o Estado disponibiliza para os mais empobrecidos, inclusive recheadas de micro e pequenos empresários. Em tempos de fake news as mentiras são mesmo aterrorizantes pois facilmente, com ajuda do desconhecimento e da ignorância, tornam-se verdades que empurram para a morte.

Então vai mais uma conclamação, um alerta e uma atenção solidária: vamos unificar em defesa da democracia e da vida. A inteligência coletiva é a saída possível para superar o Estado em sua organização decadente e, sem dúvidas, a solidariedade é uma condição humana indispensável para manter e ampliar a vida. Vamos avançar em estudos, formação, organização e ações que mostrem a força da multidão que somos e quanto nós, que do trabalho vivemos, somos seres vivos importantes e não mercadorias como produto exposto em mercado de trocas. Não é o mercado do capitalismo a salvação e sim a unidade das pessoas para um grande mar de vida se impondo contra o lucro.

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *