PANDEMIA E RACISMO

PANDEMIA E RACISMO

Por Raimundo Calixto* 

A população preta é a que mais sofre com as pandemias e não seria diferente com a que está em curso no mundo (Covid-19) quando percebemos que cento e trinta e dois anos após o fim da escravidão no Brasil, ainda não temos a garantia de inclusão plena da sociedade nas políticas públicas, a visão do sub- julgo, o menosprezo, a opressão, as discriminações e as intolerâncias são muito fortes no nosso cotidiano.

Segundo os noticiários da imprensa, o Coronvírus chegou ao Brasil através da classe média e alta, na sua maioria composta por brancos, que realizavam muitas viagens internacionais. Inicialmente, estes noticiários passaram a ideia de ser um vírus democrático, ou seja, não escolheria quem infectar, o que de fato pode ser comprovado pela composição racial dos infectados no mundo e no Brasil, mas a pandemia com seus efeitos devastadores, ao longo do tempo revelou  algo diferente, um crescimento como pólvora, atingindo os bairros periféricos, os quilombos, os assentamentos, as comunidades indígenas, as áreas urbanas e rurais do interior do país, que predominantemente, com exceção dos indígenas, são majoritariamente ocupados pelos pretos e pardos, que vivem em condições muito precárias, pois, as políticas públicas de saúde, habitação, saneamento básico, educação, e segurança são tratadas com descaso pelos governantes.

Nessas comunidades além da população está sofrendo os efeitos da crise sanitária, vivem o aprofundamento das condições de sobrevivência provocado pelo agravamento das dificuldades financeiras, oriundas da política de isolamento social, forma mais eficiente encontrada pelas autoridades sanitárias, para conter a proliferação do vírus. Essas dificuldades poderiam ser em menor escala, se os governos Federal, estaduais e municipais adotassem medidas mais eficazes para proteger os trabalhadores e suas famílias dos impactos da crise econômica.

Além disso, o sistema capitalista que o Brasil adota, renega essa população a mais dura e cruel condição social, o sub-emprego e o desemprego e as péssimas condições de moradia são hegemonicamente frequentes, o que facilita a proliferação do vírus, e é nesse contexto que se visualiza o racismo institucional.

A política de segurança pública aplicada para essa parcela da população também merece destaque negativo, uma vez que as forças de segurança, atuam nessas comunidades como se estivessem em campos de batalhas entre o bem e o mau, onde a ordem é matar e exterminar promovendo verdadeiros genocídios. Dados estatísticos mostram que essa população continua sendo atacada ferozmente mesmo diante da pandemia, situações vividas nas periferias dos grandes centros e até nos interiores demonstram que quase nada mudou desde o dia 14 de maio de 1888.

Os números de infectados e mortos pelo Covid-19 no Brasil, escancaram o racismo no país, a exemplo, no Espirito Santo que é um estado que não tem uma população majoritariamente preta, o percentual de infectados entre brancos e negros fica em torno de 4% a mais para os negros e pardos e o número de mortos para essa população é de 18%, ou seja, morrem quatro vezes mais. Os números são ainda mais assustadores quando trata-se das mulheres negras, pois sobe de 18% para 24%, ou seja, seis vezes mais, segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde de Vitória – ES (Sesa).

Esses dados assombrosos alguém pode dizer que não são surpreendentes, pois 75% da população preta e parda do país estão classificados como pobres, enquanto 70% dos mais ricos são brancos, conforme dados do IBGE, porém, conclui-se que, quem mais sofre no país com os serviços públicos de saúde, habitação, educação, saneamento básico, educação, infraestrutura e segurança ineficientes, são os pretos e pardos, portanto, compreendemos que o pano de fundo da questão é o Racismo.

*Raimundo Calixto é formado em administração com ênfase em gestão de Negocio pela Unicenid (Faculdade de Ciências Gerenciais da Bahia) foi diretor do MNU (Movimento Negro Unificado) foi  um dos fundadores da UNEGRO (União de Negro Pela Igualdade), foi membro do grupo de Teatro Amador Vandré, na peça Somos Todos Iguais, Presidente Licenciado da Federação dos Trabalhadores Públicos Municipais do Estado da Bahia, ex secretário de Relações do Trabalho da CUT ( Central Única dos Trabalhadores) e pré candidato a Prefeito de Salvador pelo Coletivo Travessia – PSOL.

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