O AUXÍLIO EMERGENCIAL QUE NÃO SUSTENTA A VIDA DIGNAMENTE:

O AUXÍLIO EMERGENCIAL QUE NÃO SUSTENTA A VIDA DIGNAMENTE

Por Francisvaldo Mendes, presidente da FLCMF

Essa semana foi mais uma das que marcam a vida, pois desde o dia 2 de abril desse ano, com o início dos efeitos da pandemia no Brasil, o Congresso Nacional aprovou a lei 13.982 que garante o auxílio emergencial. Mesmo quando a presidência da república falava em 200 reais, vindo do Congresso se chegou a 600 reais graças a pressão dos partidos de oposição, em especial o PSOL. Mas os três meses que estão na lei passaram e agora, o AUXÍLIO EMERGENCIAL, que quase acabou, será de 300 reais.

O salário mínimo no Brasil é hoje de 1.045 reais, enquanto o DIEESE comprova, por meio de seus estudos, que deveria ser de 4.420,11. Isso, pasmem, o salário mínimo que as pessoas recebem para viver é menos que ¼ do salário mínimo necessário. Isso seria suficiente para mostrar que a vida da grande maioria das pessoas que existem no Brasil pouco importa para os “donos do poder”.

O salário mínimo atual, esse que é um quarto do salário mínimo necessário, passa a ser também 3,5 vezes maior que o auxílio emergencial de 300 reais. E que se registre e não se deixe passar ou esquecer, quem recebe o salário mínimo, teve a sorte de uma carteira assinada ou quaisquer contratos de trabalho, não tem direito aos 300 reais. Isso é só um auxílio, não é perene, está longe do necessário, apenas uma emergência e nada significa a necessária renda básica universal e incondicional, essa sim com ar de perene, que por nós, trabalhadoras e trabalhadores, precisa ser conquistada.

E tudo isso ocorreu em um período que a semana anterior já havia ampliado o peso do sistema nas nossas vidas e criado ainda mais confusões na cabeça das pessoas. Nas semanas anteriores o que se viveu foram complicações contraditórias que apontam para o fim da vida e não para a continuidade, muito menos com dignidade.

O judiciário, o parlamento e o executivo apareceram no foco principal das câmeras da vida como protagonistas ou antagonistas sociais. As notícias variadas sobre os principais espaços de poder do Estado podem causar confusões ou apresentar suspiros de melhores tempos. Afinal, o senado aprovou consensualmente o FUNDEB, o STF firmou posição que o presidente não pode vigiar e punir os servidores, o TSE decidiu que tempo de TV e fundo eleitoral deve ser proporcional para candidaturas negras a partir das próximas eleições (não nessa de 2020); a confusão do público e privado ampliou na cabeça de brasileiras e brasileiros com a notícia de que a esposa do presidente recebeu grande escala de dinheiro de Queiroz. Enquanto isso tudo ocorre, a pandemia continua e os especialistas de saúde afirmam que o fardo está se a vacina vai funcionar e não quando funcionará. Ou seja, ainda não há previsão de fim e, tudo indica, vacina só para meados do ano que vem. Esse é o tempo que vivemos.

Momento oportuno para aprender, pois, cabe fazer diferente para conquistar a vida roubada. Um dos aprendizados no tempo atual muito necessário está na mitologia grega, que pode ajudar com a diferença entre Chronos e Kairos, já que há a sensação de amargor no próprio tempo. Mas os desafios colocados exigem que, como sujeitos, sejamos capaz de construir a oportunidade no tempo e a intensidade necessária para que nós, os ´possíveis sujeitos das mudanças, sejamos capazes de transformar o tempo contínuo.

Nós, pessoas que vivemos da venda da força de trabalho, com as múltiplas opressões de gênero e raça, para além da opressão da exploração do trabalho, temos o grande desafio de criar as frestas oportunas no tempo. Para isso, de um lado precisamos apostar na mais saudável e empática convivência entre todos os nós que vivemos da venda da força de trabalho e só isso temos para sustentar a vida. Por outro lado, construir a mais profunda unidade com força para ultrapassar as barreiras de impedimento para a mais profunda dignidade humana. Grandes desafios, mas não se pode fugir, esse é o tempo.

Os poderosos do Brasil, na raia da ideologia populista que nos tomou de uma forma destrutiva, apostando em dependência e nos empurrando para objetos e criando barreiras para que não sejamos os sujeitos que podemos ser, continuam com suas malversações. No tempo atual somos empurrados para a morte em vida ou a morte do próprio corpo para deixar de existir. É hora da vida tomar o lugar da morte em todas as dimensões. Não se pode conviver com os acontecimentos como se fossem naturais e não basta cobranças ou denuncias sem saber e construir o que fazer. Precisamos assumir o papel de quem pensa e faz e para isso, ousamos repetir, se faz necessário formação, organização e ação.

Precisamos levantar a cabeça e investir em formação, organização e ações qualificadas que possam garantir a vida e com dignidade. Esse é mais do que sempre foi, o momento de conquista uma renda básica incondicional e universal para todas as pessoas. A maioria sentirá o vento do viver com ações que apontem para reforçar o papel do sujeito e tenha no conhecimento o instrumento de mudança das pessoas para garantir a existência. Por isso é hora das ações, com solidariedade, compromisso e superação da bagunça de ordem que nos toma neste tempo impregnado de tristeza. Vamos fazer do tempo a intensa força de transformação para a vida existir e melhor do que até hoje existe em nossos corpos. Vamos transformar e garantir conquistas para viver melhor.

 

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