LOUVADAS SEJAM TODAS AS CRIATURAS!

LOUVADAS SEJAM TODAS AS CRIATURAS!

Por Chico Alencar

No dia de São Francisco de Assis, que transvivenciou em 4 de outubro de 1226, o papa Francisco lançou nova encíclica, a “Fratelli tutti” – sobre a fraternidade universal e a amizade social. Na linha da “Laudato Sì”, sobre o cuidado da Casa Comum, Francisco de Roma inspira-se no de Assis. Despojado, condena a ganância de lucro do sistema capitalista e propõe uma outra sociedade, fundada na cooperação e na solidariedade. Onde ninguém seja descartado, invisibilizado, destituído de dignidade e direitos.

São Francisco viveu seus 43 anos em comunhão com a natureza, sabendo-se irmão de todas as coisas criadas. Seu Cântico das Criaturas (Canticum Solis, título do manuscrito mais antigo, considerado o fundador da literatura italiana) é um jubiloso reconhecimento da beleza da vida – da formiguinha do caminho às estrelas mais distantes. Somos parte desse pluriverso, não seus donos! Somos todos chamados a participar da “divina alegria da Criação” (escrevi um livro sobre isso: ‘Cântico das Criaturas, ecologia e juventude do mundo’ – Editora Vozes, 2000)

Francisco – inventor da recriação da cena do presépio, para celebrar o Natal – deixou esse mundo há 794 anos mas continua atualíssimo. E nos interpela, junto com sua amada Clara, sobre nosso modo de produzir, distribuir e consumir, injusto e tóxico, que devasta o planeta!

Dele disse Alceu de Amoroso Lima (1893-1983): “No meio de uma vida em que se perdera a memória das coisas simples, veio mostrar o sabor da luz do fogo, da água, do ar, do som, da palavra. No meio de uma sociedade áspera no ganho, veio mostrar a delícia de não possuir. No meio do furor de todas as violências, veio mostrar o milagre da paz e da fraternidade. No meio de uma era complicada, raciocinadora, cheia de hierarquias e preconceitos, veio mostrar a originalidade da natureza, a eloquência das resoluções intuitivas, a coragem de agir sem medo por uma causa mais alta que os mesquinhos interesses da terra. São Francisco de Assis revolucionou a história. Com a fé de uma criança, renovou a alma do mundo”.

“A melhor maneira de homenagear as pessoas a quem admiramos, e que partiram, é fazer o que elas fizeram”, recomendou o ‘Poverello’ de Assis.

Façamos assim, sejamos diligentes cuidadores da ameaçada Casa Comum, a Terra. E praticantes, desde já, de gestos que prenunciam uma nova sociedade, fraterna, justa, solidária. Além de defensores de políticas públicas que coloquem o cuidado da natureza e respeito às pessoas e ao trabalho em primeiro lugar. Na “Fratelli tutti”, o papa Francisco nos convoca: “sonhemos com uma única humanidade, como caminhantes da mesma carne humana, como filhos desta mesma terra que nos acolhe a todos, cada um com a riqueza de sua fé ou de suas convicções, cada um com sua própria voz, todos irmãos!”.

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