O PESO DAS CONTRADIÇOES NA DEMOCRACIA
Por Francisvaldo Mendes, presidente da FLCMF
O tempo atual no Brasil mistura o medo, a ignorância, as mentiras e as atrocidades. A cada dia um novo ataque surpreende o ambiente nacional com mais de 240 mil óbitos. Lamentável desprezo pela vida em ondas crescente de eliminação das pessoas praticado por esse presidente genocida que atua para os poderosos. E para esses, a maioria das pessoas são desnecessárias ou desprezíveis. Nesse contexto assombroso há a discussão sobre os poderes jurídicos legais – executivo – legislativo – jurídico – em um ataque causado por um deputado federal que obteve 31.789 votos na última eleição, a mesma que elegeu o presidente genocida e, registre-se, eleitos pelo mesmo partido.
A mesma pessoa que hoje unifica STF contrário as suas ações que disseminam mentiras, crueldades e opressões, rasgou a placa da Marielle Franco e espalhou fake news a gosto sobre COVID. Suas práticas contra a vida estão sendo relevadas e dessa vez, sua defesa do AI-5 em vídeo, tão inapropriadas como defender fascismo, nazismo, racismo, exploração e opressão para todas as vias da vida, unificou o STF. O ambiente de organização que deve imputar a reprimenda definitiva é a Câmara Federal, devido a sua provocação cínica que se esconde na liberdade de expressão, subvertendo e afrontando o “Estado de direito”.
Importante salientar que uma pessoa eleita para a corte federal de deputados teria mais responsabilidade que todas as demais pessoas comuns, algo que está distante de ser conhecido e vivido nos dias de hoje, ainda mais com um presidente que debocha das mortes. Nesse quadro que morre mais pessoas que em períodos deflagrados de guerra e o genocídio à vida parece tão natural quanto a água potável inexistente, questões como essas ganham dimensões mais amplas que costumeiramente aparecem aos sentidos.
Estamos no século XXI, ou seja, há muito já passamos pelo século XVIII quando surgiu o advento do iluminismo. Tais práticas autoritárias exercidas como naturais, que se evidenciam nesta atitude absurda do deputado Daniel Silveira, permeiam o Governo Federal. Nessa escalada da ignorância que vivemos chama atenção que a cultura e a educação não estejam nas guias frontais para o enriquecimento intelectual das pessoas.
O conhecimento é fundamental na vida das pessoas, inclusive para que se possa saber sobre os atos ditadores e autoritários como o AI-5. A cultura educacional fomenta o estudo e o conhecimento organizado para a vida, o que contribuiria para encontrar ações coletivas que poderiam amenizar a agonia e a angústia que vivemos hoje. Assim, tenderia a não haver defensores, nem nas mesas de bares, para descaso com a morte que predomina na formação social brasileira.
Nessa fase em que o necrocapitalismo e a necropolítica nadam de braçada, atos que desrespeitam a dignidade humana, como esse que foi condenado pelo STF, precisam trazer energia para os sentidos. É sim necessário o investimento no conhecimento em todos os aspectos e, certamente, viverá melhor quem conhecer mais. Em uma situação como atual que não viver parece normal, mesmo sem ser, abre-se uma estrada para genocídios dos mais absurdos como existente em governos e organizações políticas das mais autoritárias. Para além de defender o Estado de Direito tão falado e divulgado sem muitas explicações, deve-se também defender o Estado da Vida. Afinal o Estado que predomina, e é lamentavelmente conhecido pela maioria das pessoas, principalmente na periferia é o Estado da Morte.
Que os espasmos das contradições existentes possam trazer questões para reflexão e, por essa razão em si, debater as circunstancias da prisão e importante, pois, prisão não é ambiente de mudança, e punição não é prática para estabelecer o bem viver. Mas se deve lembrar que punir, vigiar e condenar é algo que o Estado mais faz e se dispõe fazer.
Devemos querer do Estado a garantia a vida com vacina para todas as pessoas, renda básica, auxilio emergencial. Para além de discutir Estado de Direito, papel dos “poderes” legais e as variações da legalidade, devemos avançar contra a defesa das várias faces das ditaduras e as práticas que provocam a discriminação, os preconceitos e o autoritarismo mais cortante, que emana em uma sociedade na qual o racismo e o machismo possuem seus elos estruturais e institucionais. Superar essa ordem capitalista que nos é imposta é um grande desafio para a liberdade e para a vida que construímos na história do povo trabalhador. Para nós, fica o compromisso com a formação, organização, mobilização e ação para aprofundar a democratização em todos os níveis e dimensões humanas.
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