DEVEMOS ORGANIZAR A GREVE GERAL SANITÁRIA
Por Francisvaldo Mendes, presidente da FLCMF
A pandemia do CORONAVIRUS não é uma “gripezinha”, mas poderia ser uma referência ao que foi chamada Gripe Espanhola ou, segundo a OMS, a GRANDE GRIPE. Evidente que não se sabe, pode ser o predomínio da ignorância em todas as dimensões. Certamente ainda que é muito provável que tal afirmação seja produto do peso da arrogância e do sentimento de “to nem ai para a vida das outras pessoas”, com muitos impactos simbólicos e materiais no momento atual do tempo. Seja como for, as muitas evidências diferentes não se firmam como fatos, mesmo se levando em conta que muito provavelmente, as duas últimas possibilidades misturadas apresentam uma imagem simbólica dos principais personagens da triste “festa” que toma o mundo e o Brasil. Basta sentir e constatar um palco no qual as principais personagens desse evento desastroso são arrogância e ignorância em meio ao salão de mortes.
É importante conhecer e articular, na política atual, o significado real do impacto devastador da GRIPE ESPANHOLA, que nada de “gripezinha” representou. As enormes pancadas da pandemia no início do século XX foram na vida das pessoas e não na tal economia tão falada, situação pouco considerada nesse momento. Conhecer, estudar, pensar criticamente com repertórios e recursos no terreno da história não são práticas recorrentes no capitalismo e no momento atual diminuem a influência nas pessoas em escala mundial.
Cabe sim registrar o significado e a importância que há em falar da GRANDE GRIPE ou Gripe Espanhola. Trata-se dos ventos de destruição que tomaram o mundo no início do século passado, mais precisamente nos anos de 1918, 1919 e 1920, que empurrou cerca de 50 milhões de pessoas para a morte. Um mundo com aproximadamente 2 bilhões de habitantes viveu o impacto da doença em cerca de 500 milhões de seres humanos existentes na época. Ou seja, cerca de 25% da população existente naquele tempo. Tratam-se de números expressivos, tanto pela quantidade quanto pelas as razões de sua existência.
A quantidade de mortes, com o número alarmante de pessoas que sofreram a imposição da diminuição do tempo de vida na sociedade, é assustadora. Este devastador impacto no sentimento humano foi praticamente esquecido, principalmente no Brasil. O que ocorreu já apresentava condições absolutamente suficientes para criar uma intolerância com a organização do sistema e o modo de produção que se conceitua CAPITALISMO. Não vamos ver calados tratarem a economia como coisas e não como transformação da natureza e produção que só pessoas vivas podem realizar. Portanto, a economia que nos interessa é como as pessoas se relacionam entre si e com a natureza para manter suas vidas. E assim vendo vamos muito mal nos tempos atuais porque há de sobra a destruição da vida no globo terrestre, impulsionada pela política que predomina no Brasil e no mundo. E a problemática real para as pessoas está longe de ser as contabilidades de PIBs ou de quantidade de mercadorias que circulam no trágico mercado.
Ou seja, tratam-se de razões políticas, inclusive o que motivou, no início do século passado, a primeira grande guerra. Não se pode esquecer, o período daquela pandemia estava encostado no que foi conhecido como primeira guerra mundial, e justamente em novembro de 1918, tempo que se conhece como data de fim da guerra. Registra-se, “desconhecida” para a maioria das pessoas, principalmente em países como o Brasil, que os grupos sociais mais afetados, são impossibilitados pelo Estado e pela política que predomina no capitalismo, ao acesso do conhecimento real acumulado. Estes são também os grupos sociais impedidos de viver.
O Brasil viveu, no tempo da GRIPE ESPANHOLA, segundo as pesquisas, o impacto na vida de cerca de 100 mil pessoas ou mais. Na época a doença chegou em cerca de 0,5% do total da população. Era a época dos portos e não dos aeroportos e o foco, no início do século passado, foi em Recife, Salvador e Rio de Janeiro. A formação desigual que predominava na época e até hoje predomina no país, com desigualdades múltiplas que atingem até a distribuição da população no território físico nacional, fez com que em pouco tempo chegasse em São Paulo.
Ainda que seja importante, para pensar os efeitos da política e do peso negativo da ausência do conceito de seguridade em nossos arcos ideológicos, a gripe espanhola é pouco estudada, mesmo nas poucas organizações populares que mantem viva a chama da formação política dos sujeitos. Na vida o natural está só em viver e morrer, mas nada de natural há em como se vive, no tempo de vida e em como se morre; fatores que são imposições da política. E a política que predomina no mundo pelos agentes do capitalismo, sejam os burgueses ou seus articuladores ou propagandista, é devastadora para os mais empobrecidos materialmente.
O Brasil já ultrapassou dois milhões e meio de pessoas infectadas e noventa mil mortes. Estamos na escala de 1,5% de infecções e sabemos que as pessoas que moram em periferias e favelas, e a multidão que vive da venda de sua força de trabalho são os grupos sociais mais atingidos. Ou seja, o que a OMS batizou de grande gripe, a Gripe Espanhola, já perdeu seu lugar de maior destruição das vidas. Mas ainda que se trate no passado e no presente de gripes com efeitos biológicos contrários a vida, a razão para que isso ocorra como está tomando o mundo. E está se avolumando de forma brutal principalmente no decadente império dos Estados Unidos e na lamentável colônia Brasil, que juntos acumulam os principais números decrépitos desta assustadora pandemia. Segundo os mapas de mortes o mundo foi impactado com 667.084 pessoas que tiveram a vida ceifada até agora. Desse total, só EUA e Brasil juntos reúnem cerca de 250 mil, ou seja, esses dois países representam juntos mais de 37% das mortes. Mas essas são informações conhecidas, divulgadas, que pairam nas estatísticas de morte que, no tempo atual, sem guerra mundial, como ocorreu no passado, predominam em nosso tempo.
Para além das tristezas, dos piores sentimentos de medo e pessimismos, temos que nos unificar e fazer o tempo viver a potência da grande maioria que somos: todas as pessoas que vivem da venda da força de trabalho, ou seja, trabalhadoras e trabalhadores. As pessoas que constroem e sustentam a vida nesse mundo não podem observar passivamente que os ricaços, em países como EUA e Brasil, em plena pandemia, aumentam suas fortunas enquanto os empobrecidos pelo sistema são empurrados para a morte. Sabemos o caminho: taxar as grandes fortunas, garantir renda básica universal e organizar uma grande greve geral sanitária. Essas são as práticas exigidas no presente para defender a vida com solidariedade e participação ativa.
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