É HORA DE VIRAR O JOGO: UM FOLÊGO EM DEFESA DA VIDA
Por Francisvaldo Mendes, presidente da FLCMF
O debate sobre dívidas, orçamentos, gastos e investimentos é muito mais que um movimento institucional. Do ponto de vista político, inclusive, nos setores organizados, na sociedade civil e mesmo no Estado, precisam predominar os elementos que assumem e deixam óbvias as disputas para virar o jogo da desigualdade em nossa sociedade. O que está em questão é mesmo fazer com que a vida seja superior e mais importante que qualquer influência mórbida, entre os quais o poder do capital e a organização do lucro que predominam. Nós, brasileiras e brasileiros, trabalhadoras e trabalhadores, precisamos dar uma virada nos rumos do país. Significa ter a vida como elemento central na política e nas ações do Estado no lugar do “mercado”, que organiza o Estado, assim como governantes e a grande maioria de “representantes” parlamentares.
Nesse sentido, a campanha É HORA DE VIRAR O JOGO é uma grande contribuição e acumula fôlego para que a vida predomine e a dignidade humana possa existir. A iniciativa da AUDITORIA CIDADÃ DA DIVIDA, tem por objetivo “mostrar a necessidade de mobilizar a sociedade para modificar o modelo econômico atual, o qual tem produzido escassez, miséria e atraso, que não combinam com a abundância que existe em nosso país”. Devemos superar os modelos de exploração, racismo, machismo e escravidão para tornar comum a coisa pública com acesso para todas as pessoas. A campanha chega para colaborar com as ações que precisamos construir e implementar para mudar o Brasil.
A campanha tem como desafio enfrentar, com mobilização ampla na sociedade, a lamentável escolha do Estado e dos poderosos de privilegiar os bancos nacionais e internacionais. Assim a campanha contribui para enfrentar o que é imposto para a grande maioria das pessoas: o lucro acima da vida. E nesse momento que as pessoas padecem por uma política que não garante água, saneamento, saúde e cuidado de todas as pessoas, o vírus da COVID se alastra entre as pessoas, principalmente as mais exploradas e oprimidas.
A chamada atual da campanha é contrária a PEC 32 que transforma o Estado em um espiral privado sem controle com formas de contratos precarizados. Por um lado, essa postura do Governo Central atua para enfraquecer as formas de organização dos trabalhadores no Estado, por outro lado, atua para precarizar as condições de viver, ou seja, gastar menos com qualquer coisa que seja a favor das pessoas. Essa PEC é um golpe duro na grande maioria das pessoas, que são as que mais precisam de Serviços do Estado, assim como um golpe duro nos trabalhadores também que padecem com a venda da força de trabalho para além da exploração. Não é possível que o Estado e o Governo Central apostem na morte dessa forma, ampliando o necrocapitalismo e a necropolítica em todos os aspectos. Agora com a porta aberta para a morte, com o vírus empurrando a vida ladeira abaixo, os organizadores do poder atuam para que diminua mesmo as pessoas que precisam do Estado e o Estado consolide cada vez mais seu vigor de investidor e organizador do lucro.
O orçamento de 2019 já foi evidente sobre isso, com uma política que aposta em ampliar exploração, precarização, morte e controles dos corpos. Com um total de orçamento executado com o valor de 2,711 trilhões de reais, foram doados para os gastos com juros e amortização da dívida 1,3038 trilhões, ou seja, 38,27% de todo o orçamento. Políticas como taxar as grande riquezas, estabelecer a renda básica incondicional e universal, não passam nem longe das políticas que predominam no Estado. Mas, pior ainda, é necessário fazer movimentos, nas ruas e nas redes, para ter vacina seja garantida para todas as pessoas e assegurar o mínimo de dignidade com o básico para a sobrevivência.
Esse orçamento executado no pré-covid, já demonstrava o conjunto das políticas comprometidas com o lucro, com o grande capital, com a privatização da coisa pública e com a morte. No mesmo momento que 38,71% são gastos com os bancos, o Estado investiu 0,32% em transporte; 0,12% em gestão ambiental; 0,23% em ciência e tecnologia; 0,02% em urbanismo; 0,03% em direitos e cidadania; 0,03% em cultura; 0,02% em saneamento. Nos percentuais dos números muito já é dito sobre a política que predomina no Estado, pois se trata de ações contra as a grande maioria das pessoas e da utilização do Estado para enriquecer estruturalmente ainda mais algumas famílias encasteladas na estrutura do poder e que se apropriaram do comun.
Não haverá vida, não haverá democracia, sem o investimento no Bem Viver, na diminuição radical do abismo social na nossa sociedade. Nesse sentido, não se pode seguir como normal a existente de tais ações políticas, predominantes no tempo atual, que fazem da vida massacrada, desapropriada e condenada para fazer com que o lucro e as concentrações de riquezas se ampliarem.
Não há dúvidas, precisamos virar esse jogo para o hoje e para que exista amanhã. Devermos, nas várias cidades brasileiras, gritar e atuar para a VIRADA. A campanha da AUDITORIA CIDADÃ DA DÍVIDA é mais um desse sopros que agregam ar para a democracia e para de defesa da vida e da dignidade humana. Todos esses sopros precisam ser apoiados, ampliados, fortalecidos em uma unidade que faça crescer a inteligência coletiva em favor da vida. É isso que está em questão no momento atual para suplantar o horizonte de lucro e o capitalismo, trata-se de um desafio que se colocada cada vez mais atual. Para avançar como vencedor, a multidão de explorados e exploradas precisa romper com todos os elos de dominação, virar e jogo e mostrar que nosso mundo deve se fazer com a vida acima de quaisquer moedas, qualquer poder, qualquer lucro, esteja onde estiver. O que queremos é viver e com dignidade plena. Portanto, avançar em direitos, democratização, participação, nas conquistas sociais que nos façam potentes.
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