GOLPE: OBJETO DE DESEJO DO ATUAL PRESIDENTE BRASILEIRO
Por Francisvaldo Mendes . Presidente da FLCMF
Março passou novamente, no último dia ressoa a lembrança dolorosa do Golpe Militar no Brasil. Foi no dia 31 de março de 1964 que o poder do Estado mostrou a maior face de terror, medo e culto à tirania. Um golpe de Estado, dirigido pelos militares, tomava o contorno do poder em nome dos civis. A liberdade que envolve as pessoas, foi devidamente acorrentada com uma organização de poder militar, que faz todo o tipo de totalitarismo. E, lamentavelmente, o atual presidente do Brasil, eleito pela maioria das pessoas, possui o desejo de consumo do golpe em sua gestão. Mais que isso, organiza uma ditadura diferente, impondo uma política genocida, haja visto a quantidade de mortes do período atual que superou, em muito, os tempos sombrios dos militares.
Agora, em 2021, fazem 57 anos do golpe militar, sem que nada exista para comemorar. Muito pelo contrário, foram 21 anos de totalitarismo, torturas e mortes. Direitos humanos não existiam, mas nos tempos atuais também padecem aos interesses individualistas e escusos que orientam o governo central. No lugar de torturas corporais, desaparecimentos sem rotas, exílios sem sentidos, execuções com o máximo da violência letal, as pessoas vivem outra forma de ditadura neste ano do século XXI. Mortes, medo, impedimentos, punições, doenças, fome, proibições, perseguições com base na lei de segurança nacional, tomam as pessoas atualmente. O desejo de golpe, que existe na presidência, mistura-se a um modelo de ditadura que tira mais vidas que se poderia imaginar. As mentiras combinadas com a pior das ideologias, buscam fazer a festa totalitária do que foram os tempos sombrios do passado impondo mais terror no tempo atual. Não por menos, o atual presidente conseguiu autorização para comemoração do golpe militar.
Passar por essa fase em que o necrocapitalismo toma a existência e a necropolítica orienta a organização do poder é um golpe duro demais para viver. Não se pode falar de civilização nesse tempo e todas as possibilidades de disputa de projetos políticos parecem perecer na disputa para assegurar a vida das pessoas. E ainda que existam rasgos incontroláveis, com morte de alguns ricos que roubaram o comum e de alguns membros da organização do poder que não respeitam a força do vírus ampliada pelas suas próprias ações irresponsáveis, a grande maioria das pessoas, nos mais de 300 mil óbitos, são das periferias e dos setores populares das cidades.
O sentimento de submissão pesa como sempre em tempos como este. Um país colonizado que não se livra das marcas da colonização cruel, se dispõe seguir modelos de colonização nos tempos atuais por seus sujeitos dominantes. O que foi no início a Europa, principalmente Portugal, desde o século passado até os dias atuais, padece no imperialismo decrépito dos Estados Unidos da América. E para isso se exagera nas impropriedades das falácias, pois, quando o totalitarismo se faz com o apoio aberto das armas, como no passado, ou quando se faz no apoio do discurso armamentista e feroz como os tempos de hoje, arte, cultura, liberdade e criatividade são impulsos que se tornam inimigos dos donos do poder e de seus organizadores pelo Estado.
Quaisquer ilustrações cínicas servem como apoio para se fingir mudanças e alterações da política desastrosa. O presidente faz sua festa de clubes do poder tentando abraçar ainda mais o militarismo e movimentando as mesmas peças do seu jogo de xadrez destrutivo. Vale destacar que, mesmo sendo aparentemente obvio para os “donos do poder”, que as chamadas forças militares são para defender a nação que se diz existir ou produzir a guerra contra outras nações. Por sua vez, a organização do poder em movimento no Brasil aposta em uma força armada que possa ampliar medo, controle e opressões contra seu próprio povo.
Com as portas abertas para o vírus e com as notícias diárias de recorde de mortes, brasileiras e brasileiros, a grande maioria empobrecida pelo sistema, padecem na tristeza e na descrença. Eis um cenário que muito interessa a ignorância que sobressai para a população sobre as garantias do poder. Nega-se a ciência, nega-se o acúmulo dos conhecimentos ancestrais, nega-se as condições materiais para viver, nega-se a história e o totalitarismo é imposto em uma máscara cruel de democracia que nos falta.
Mas o que ocorre, nada natural é. Há sujeitos que impõe as condições atuais. Assim como há sujeitos que podem acumular forças para romper com toda essa ordem “necrogenocida” imposta. De um lado se força mostrar que nem como “exército de reserva” para a venda da força de trabalho serve as pessoas que podem ser cruelmente descartadas do viver. Do outro lado, essas pessoas, uma multidão criativa e poderosa com consciência e unidade, não pode apenas sentir os impactos mais duros da vida. Precisamos, todas e todos nós, reagir e lutar.
Para a multidão que precisa vender a força de trabalho para viver é tempo de um grito de liberdade e superação. Tempos incandescentes para fazer com que a unidade tenha propósito e se amplie na defesa da vida avançando para a radicalização da democracia. Radicalizar com condições de viver, saúde, moradia, educação, cultura e liberdade, é mais do que necessário conclamar aos sujeitos que fazem e podem fazer a diferença – mulheres e homens que vivem da venda da força do trabalho e podem abraçar o trabalho criativo em todas as dimensões, e a política é uma delas. Para isso a vida é mais que necessária, para que corpos sejam diferentes atores de uma unidade potente e que conquiste a dignidade.
Tirar o presidente atual, mudar as pessoas que organizam o poder, ter mais de nós em todos os espaços da política e do conhecimento, são ações que sempre foram necessárias. Nos dias atuais, no entanto, tais ações são imprescindíveis para superar a atual política em curso e impedir a ampliação e continuidade das mortes. Vamos então ampliar a vida, com formação, organização e ação, construindo um programa de libertação política do povo, sem nos iludirmos com as eleições, pois somente o fazer, para além de sonhar, construirá a transformação na diversidade humana pelo viver melhor.
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