A nossa luta coletiva vencerá. Não deixemos nos abater em tempos sombrios!
Por Francisvaldo Mendes de Souza, presidente da Fundação Lauro Campos
Vivemos mais de 20 anos de ditadura militar e, possivelmente, sentir o peso de todo aporte autoritário bate muito duro em todos nós. O pior que dessa vez o caminho foi a via democrática: a estrada do voto dando legitimidade por meio da escolha da maioria. Assim, a dor dessa realidade ganha maior profundidade. A democracia que existe não é para maioria, sabe-se bem disso, pois só os ricos desfrutam do bom e do melhor na sociedade, no entanto ela se apresenta para todas as pessoas, com a ideia ilusória de igualdade ou de merecimento entre todas. Contudo, é preciso compreender que o voto não é a única veia de realização democrática, apesar de ser relevante. A participação popular é de igual importância, diariamente, seja na fiscalização e nos questionamentos ao poder instituído.
No último dia 28, um domingo, vimos a maioria das pessoas escolher, por “via democrática” o retorno da política tradicional das oligarquias atrasadas e veremos, no dia a dia, em futuro próximo suas consequências. Trata-se mais do que política ultrapassada, é o aumento da concentração das decisões políticas em pequenos grupos com interesses puramente privados acima dos interesses públicos. São as já conhecidas ações com novos nomes, que poderão vir com a imposição do silêncio e do medo, tentando a legitimação para retirar ainda mais direitos das pessoas que trabalham. Poderá haver controle, perseguições e ameaças em todos os aspectos e sentidos. Aquilo que se conhece como neoliberalismo na sua máxima potência, para ampliar lucros e controlar a ferro e fogo as pessoas que atuam por liberdade, conquistas e direitos.
Claro que há responsáveis, sempre há. Nesse caso não há dúvidas que a oligarquia financeira fez um grande acordo com o setor político dominante no país. Os candidatos tradicionais com compromissos com tais setores, internacionais e nacionais, não emplacaram, e o aventureiro foi a solução encontrada pelos poderosos do sistema. Abre-se, assim, uma nova fase da ideologia dominante sobre o povo, quem viverá as mais duras consequências econômicas. Todas as pessoas que questionam o centro do poder, sejam indígenas, negras, nordestinas, militantes, sindicalistas, ativistas sociais e que possuem uma lente crítica sobre o mundo e atuam para que ele seja mais humano, mais democrático e com mais dignidade poderão viver o peso da violência institucional, mesmo que disfarçada por meio das milícias.
Nessa hora devemos clamar pelo coletivo que será capaz de produzir a solidariedade, na defesa para continuar a vida, para a sobrevivência da mente e dos corpos, para a saúde em busca de ações qualificadas em nome de uma verdadeira democracia, com mais liberdade e mais direitos. A ideologia dominante forçará o individualismo, o salve-se quem puder e apostará que o temor predomine individualmente tentando empurrar cada pessoa para os ventos do medo, das doenças, da angústia, da ansiedade e do desespero.
Vamos construir os ventos em outra direção. Ventos coletivos, de solidariedade, com mais organização, mais formação, ampliando para mobilizações conscientes e eficazes. Nessa direção que aqueles que querem ver o outro feliz devem seguir, e não estará só. Será na coletividade, com estudo, organização de base, companheirismo e fortalecimento das características pessoais que se dará a construção de alternativas. Faz-se necessário o cuidado um do outro para suportarmos a situação atual com sabedoria e acumular forças para superar esse momento histórico. Acredite!
Ninguém estará só e não é o individualismo, tão divulgado e propagandeado pelo liberalismo, que fará cada um de nós vencedor desse processo. Essa é a hora do coletivo e vamos ser capazes de enfrentar os desmandos que a ideologia vencedora momentaneamente nos impõe. Vamos apoiar cada camarada no enfrentamento a desesperança que predomina na sociedade; vamos nos apoiar defendendo o valor da democracia, da liberdade e dos nossos direitos. Vamos unificados, juntos, toda a militância e com cuidado mútuo para nossa ação na construção de uma sociedade fraterna, justa e com liberdade. Essa é a hora do coletivo bradar seu som mais alto e apontar para soluções que ampliem nossas vidas, com mais dignidade humana, altivez e a alegria do nosso povo.
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