A viagem do presidente, com
muita propaganda e pouco resultado!
Francisvaldo Mendes
Presidente da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco
O presidente eleito viajou para Israel no dia 31 de março. Na imprensa muita propaganda e pouco questionamento sobre uma solução para o desemprego que assola os brasileiros. Um presidente de um país pode e deve viajar para discutir políticas com outros presidentes de outros países. Isso não está em questão. Mas o que essa viagem trará de concreto?
O que está em questão é a propaganda massificada de mais uma viagem que não tem conclusões objetivas. Muito menos conclusões que contribuam para a população brasileira melhorar suas vidas. E vale lembrar que a imensa maioria da população brasileira vive da venda da sua força de trabalho e depende disso para sobreviver e de salários, com direitos, para uma vida melhor. Mas isso não está na “agenda’ do atual presidente, infelizmente.
Mas está em sua agenda aparecer em redes sociais, dando publicidade a sua própria imagem e, pior, nessa viagem, com uma arma em mãos. Levando-se em consideração que há um conflito armado árabe-israelense, com uma guerra que alterna condições e se mantém, desde o fim da década de 40 do século passado. Isso é um recado, no mínimo, questionável.
Parece que o presidente esquece ainda que, em seu próprio país, há aumento do número de jovens, pobres, negros que morrem todos os dias por arma de fogo. Ou esquece ou não se importa, o que é mais provável. Mas a propaganda deixa evidencias ainda piores, pois, afirma, como presidente, que o problema não são as armas, mas sim os indivíduos. Transforma em um contexto individual aquilo que é social, histórico e deve ser tratado como um grave problema pelas instituições.
Na sua postagem em redes sociais, o presidente afirma que “o que torna uma arma nociva dependente 100% de quem a possui”. Ou seja, não precisa regulações, legislações, limites de uso de armas entre as pessoas, pois, são as pessoas que as usarão para o bem ou para o mal! Um presidente afirmar isso é gravíssimo, pois, a própria agenda liberal, mesmo com todo viés autoritário, ancorado em tirania, sustenta-se em leis e constituições. E sempre vai aparecer que o direito à vida é fundamental, mas para que assim seja, não se pode chegar a esse ponto de individualismo, que chega a ser imbecilizado.
Não temos um mundo de indivíduos, que ao decidir e comandar a sua própria vida decidem por elas. Essa ideologia liberal, ainda que tenha grande presença na vida das pessoas, é uma falácia por completo. As armas existem por conta de uma indústria que produz lucros absurdos com as guerras, as mortes, as chacinas e assassinatos em massa. Há regulações, e essas são do mercado para saber quem pode ter, e como se pode ter uma arma e como o Estado opera frente a isso, como regulador do próprio mercado ou como órgão que pode, ao menos, garantir que as pessoas não sejam assassinadas.
Um presidente não pode “lavar as mãos” e deixar para as pessoas decidirem sobre esse a segurança das pessoas e da sociedade, não por acaso nem se manifestou sobre o massacre na escola de Suzano em SP. Muito pelo contrário, precisa intervir a favor da vida das pessoas. Um governo sério não deve fazer propaganda própria de sua imagem apostando e incentivando o uso de armas regido pelo senso individual de cada pessoa.
Devemos cobrar que em cada viagem em conversa com outros presidentes venham soluções para melhorar a vida das pessoas de seu próprio país. Mas nesse caso é mais que isso, a cobrança precisa ser que as viagens apresentem soluções em favor da vida, quando claramente elas aparecem contra nossas vidas e principalmente contra a vida da população pobre desse país. Pior que a mensagem enviada a população, em uma viagem para um território tão importante que envolve Palestina e Israel, são propagandas e divulgação de uma ideologia favorável à guerra e ao confronto armado. Assim sendo, cabe sim, todas as pessoas se posicionarem e dizer que futuro esperar de um presidente com esse nível de consciência e comportamento.
Deixe um comentário