OLIMPÍADAS: DISPUTA E SOLIDARIEDADE!
Por Francisvaldo Mendes
A vida é uma constante disputa pela sobrevivência, um percurso onde predomina o medo, a destruição, a ganância, o genocídio e a expectativa do tempo de vida, ou do sentido da própria vida que faz o pessimismo predominar em cada dificuldade que a vida apresenta. Do outro lado, as pessoas também têm sentimento absolutamente distinto que ativa o companheirismo, a disposição de ajudar, a solidariedade, a torcida pelo sucesso, criando energia para a sobrevivência. Essa dicotomia é a essência da nossa condição dentro desse modelo de sociedade, sendo nas olimpíadas, principalmente em 2021, essa percepção constante, apesar do conceito apontar para interesses do sistema capitalista como direcionam os organizadores dos jogos, à qual, devemos estar atentos e críticos, valorizando a competição harmoniosa da disputa solidária.
A busca pelas vitórias sempre é o mote apontado nas disputas esportivas, e mensagens otimistas são passadas, com a demonstração de superação entre os competidores e muitas vezes com a colaboração coletiva. Mas, por traz das olimpíadas estão os interesses de marcas esportivas, de mega empresas e de atomização do próprio sistema capitalista. No entanto, nas olimpíadas de 2021 cuja presença do vírus que mata, a Covid-19, outras mensagens surgiram.
Seja na apreensão de disputa sem o calor do público que participa ativamente de cada momento jogado, seja no esforço que cada atleta fez para sua participação nas olimpíadas, ou seja, no esforço pessoal que alguns atletas fizeram dentro da adversidade deste momento, muitas vezes sem nenhuma ajuda do governo de seu país.
No Brasil, principalmente essas olimpíadas marcaram muito mais o amor dos atletas por esse país tão grande e lindo, do que pela irresponsabilidade desse governo que acabou com o ministério dos esporte: não investiu sequer em apoio mínimo aos atletas e sequer comemorou qualquer vitória dos atletas brasileiros.
Mas indo além do esporte e pensando as influências sócio-históricas que marcam a formação social do capitalismo no Brasil, que impõe a ideologia das pessoas se enxergando como mercadoria, já nasce uma crítica no meio esportivo que visa quebrar o tabu de que os atletas não podem se manifestar politicamente como fez a norte americana, Raven Saunders, que no pódio cruzou os braços acima da cabeça, contra toda forma de opressão, demonstra que todos temos que lutar em todos os espaços que ocupamos.
O gesto de rebeldia, deve ser reconhecido e valorizado, pois as pessoas e atletas não são mercadoria, cuja desenvoltura do raciocínio não exista, devemos sim valorizar a capacidade de desenvolvimento intelectual dos atletas que se dispõem a representar sua nação enquanto participante de um mundo desigual e desumano cuja diferença social e causada pela forma de desenvolvimento imposto pelo sistema de exploração capitalista mundial e não por religiões, credos ou as características particulares das pessoas. Somos todos seres humanos, dignos de reconhecimento e valorização do ser e da vida.
Assim, vale destacar, o ocorrido na disputa do Salto em altura, envolvendo um atleta da Itália e do Qatar dividiram o primeiro lugar no pódio com a medalha de ouro, por decisão dos dois, ambos demonstraram que o “espírito de Ubuntu” possui marcas e sinais no mundo que atravessam todas as “nações”.
A questão é mesmo quem ganha e quem perde no domínio intolerante e asfixiante do sistema de disputa do capital. A ideia de que para ganhar alguém precisa perder e que para dividir precisa crescer são visões que formam base ideológicas fundamentais para o capitalismo ter ao seu lado quem mais perde materialmente. E as contradições se ampliam, pois, quem ganha espaço de criação, motivação, inventividade, para fazer a vida viver é também o grupo social que sofre o maior impacto da proibição de viver e das impossibilidades dos direitos materiais. Enquanto nem a mercadoria do dinheiro está disponível para ser trocado em moradia, comida, transporte e venda de força de trabalho, o capitalismo amplia em lucros absurdos. Esse movimento cria ambientes nos quais as pessoas consideram que oprimir, dominar, controlar criam mais condições de viver. Mas não, não criam! Ao contrário, ampliam as condições de dominação dos poucos que controlam o mundo e as nações.
Não há dúvidas, portanto, que estejam as pessoas em quaisquer locais existentes no mundo, o lugar que as divide é mesmo o do poder e do viver. Enquanto uma pequena minoria se apossa do poder e possui seus “capitães” para fazer o poder massacrar a vida e ampliar o lucro, a grande maioria vivem o impacto da exploração e diminuição do tempo de vida. Nesse mundo, onde não há a pessoa sozinha, a questão está na criação de ambientes que a convivência sejam predominantes e tenham energia para todos os locais.
Portanto, para nós, que compomos o grupo social que precisa vender a força de trabalho para ter mercadoria que possibilite o viver, e que politicamente é quem quer um mundo democrático, justo e qualificado, só cabe divulgar os sinais de solidariedade e vitória. É uma vitória quanto o que a outra pessoa ganha chega para nós como vitória e não como derrota.
Nessa estrada das olimpíadas, precisa-se demonstrar cada passo favorável à vida em um período no qual as políticas de diminuição de vida predominam.
Afinal, nos tempos atuais, são impostas as mortes de mais de um milhão de pessoas no mundo, e mais de quinhentos e cinquenta mil no Brasil. Nessa condição que faz guerras aparecerem como presente o todo tempo e criando mais e mais medos diferentes para viver, cabe sim saber se aproveitar de todos os exemplos de conquistas que pulsam a vida.
No nosso caso, pessoas brasileiras, que vivemos a imposição de um genocida que só faz ampliar as péssimas condições materiais: sem casa para morar, sem comida para comer, sem vacina para poder ter esperança de viver. Essas condições atuais, impostas predominantemente nas políticas do Brasil, são as piores, pois forçam a ampliação do medo, o que para sucumbir com a vida é fundamental.
E, nesse contexto lamentável das condições humanas, não podemos deixar passar momento que divulga solidariedade, companheirismo, colaboração humana e vitórias sem derrotas. As olimpíadas demonstram uma disputa para elevar as condições e não um estado de guerra para eliminações constante. Nesse momento pelo qual passamos isso é fundamental. Então nós temos que agarrar todas as vitórias simbólicas e materiais para dizer que coletivamente vamos ganhar. Para além disso podemos afirmar que nosso otimismo da vontade traz em todas as personagens das olimpíadas, da Fadinha à Rebeca, sinais de que sairemos vencedores na vida. Construindo a organização coletiva, a formação, a atuação, aprendendo com a diversidade que nos amplia, assim sempre sairemos vencedoras e vencedores no viver.
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