Autor: Redação Lauro Campos

  • Dia 14 de março marca atos em homenagem à Marielle Franco

    Dia 14 de março marca atos em homenagem à Marielle Franco

    Dia 14 de março marca atos
    em homenagem à Marielle Franco

    Dia 14 de março marca os dois anos do assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes. No estado do Rio de Janeiro, a data tornou-se oficialmente o “Dia Marielle Franco – dia de luta contra o genocídio da mulher negra”.

    Os atos estão sendo convocados pelo PSOL e por movimentos feministas. Os grupos também prometem protestar em favor da ordem democrática e contra a “escalada autoritária da extrema direita”.

    A falta de esclarecimento total sobre o crime contra a vereadora causa indignação nas redes. O Ministério Público do Rio enxerga “motivação política” na execução, mas ainda não denunciou quem seriam os mandantes do crime. Estão presos o sargento reformado da Polícia Militar Ronnie Lessa, que teria sido autor dos tiros, e o ex-PM Elcio Vieira de Queiroz, acusado de dirigir o carro em que Lessa estava.

  • As mulheres do mundo contra a barbárie capitalista

    As mulheres do mundo contra a barbárie capitalista

    As mulheres do mundo
    contra a barbárie capitalista

    Para Berna Menezes, “o Brasil se transformou em um
    verdadeiro inferno para a vida das mulheres”

    Por Berna Menezes*

    O Dia Internacional da Mulher nasceu da luta por direitos políticos, sociais e trabalhistas iguais. Este ano não será diferente. Nossa luta se expandiu e diante da catástrofe que o capitalismo nos está impondo em todo o mundo, mulheres tem protagonizado o que ficou conhecida como a Primavera Feminista. Um onda internacional de lutas encabeçada por mulheres em gigantescos protestos nas principais cidades do mundo.

    O Brasil se transformou em um verdadeiro inferno para a vida das mulheres. Com um presidente machista e homofóbico, que estimula o armamento e a violência. O feminicídio aumentou com índices alarmantes, nos tornamos um dos países que mais mata mulheres. O drama do desemprego recai em primeiro lugar sobre nós mulheres. Os cortes nas verbas para saúde, educação e segurança também nos atinge em cheio, pois a “responsabilidade” com o cuidado com a família recai em quase sua totalidade, sobre os ombros das mulheres. Mesmo com tripla jornada de trabalho reconhecida socialmente, aumentaram a idade para nossa aposentadoria. Esses dados se tornam mais escandalosos quando se trata de mulheres negras e periféricas.

    As catástrofes climáticas não são obra da natureza, são decisões políticas e tem enorme impacto, novamente sobre mulheres e crianças que perdem tudo e ficam desabrigadas, sem nenhum amparo do Estado. Nas recentes inundações em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, são as mulheres chorando por perder o que juntaram em uma vida e terão que começar do nada.

    Portanto, dia 8 no Brasil não será diferente. Iremos às ruas lutar contra este governo. Alguns fatos em fevereiro, jogaram Bolsonaro no isolamento. O assassinato do miliciano Adriano e as implicações da família do presidente, a poderosa greve dos petroleiros que contou com ampla solidariedade social e a verdadeira surra no Carnaval de Norte a Sul do país, com blocos gritando Fora Bolsonaro! Além do poderoso desfile da Mangueira e da São Clemente.

    Como uma fera ferida, ele ameaça fechamento do regime com ataques ao Congresso Nacional e STF, chamando sua tropa para as ruas no dia 15 de março. Alguém já disse: “ele pode muito, mas não pode tudo!” A resposta vai começar com o 8M, continuará com a exigência de justiça para Marielle e Anderson dia 14 deste mês, onde vamos exigir: quem são os mandantes deste assassinato que chamou a atenção do mundo! Também vamos unificar trabalhadores da educação, centrais e partidos políticos no dia 18 de março, contra a Reforma Administrativa e por Democracia!

    *Berna Menezes é da Executiva Nacional do PSOL e Direção da FASUBRA e da Assurgs

  • FLCMF abre curso on-line “Mulher, Raça e Classe”

    FLCMF abre curso on-line “Mulher, Raça e Classe”

    FLCMF abre curso on-line
    “Mulher, Raça e Classe”

    A Fundação Lauro Campos e Marielle Franco (FLCMF) abriu o curso on-line  “Mulher, raça e classe”, na plataforma de cursos da FLCMF. O objetivo do curso é auxiliar as (os) militante do PSOL na perspectiva de construir uma alternativa concreta para consolidação de formadores políticos de caráter feminista, anticapitalista e ecossocialista. A ideia do curso é fornecer uma base sólida da teoria marxista para a discutir e entender o tema específico das mulheres, das raças e classes.

    COMECE AGORA!

    A ideia do curso é criar um espaço de estudo, de pesquisa da realidade social e de reflexão sobre os temas tendo como base o material preparatório “Manifesto do Feminismo para os 99%”, de Tithi Bhattacharya, Cinzia Arruzza e Susan Ferguson (Boitempo Editorial, 2019), sendo enviado aos inscritos antecipadamente. As atividades do curso se alternarão entre teóricas e práticas, com modo de contar com espaços mais dinâmicos de apropriação e elaboração coletiva dos temas.

  • Presidente da FLCMF recebe Gustavo Nardi do PSOL-Frutal

    Presidente da FLCMF recebe Gustavo Nardi do PSOL-Frutal

    Presidente da FLCMF recebe
    Gustavo Nardi do PSOL-Frutal

    A Fundação Lauro Campos e Marielle Franco recebeu do filiado Gustavo Nardi do municipal do PSOL da cidade de Frutal que fica no estado de Minas Gerais e uma grande produtora de abacaxi, cana e grãos.

    O militante do PSOL Gustavo Nardi atua na cidade construindo projetos de inclusão social e apoio ao esporte, com projeto que trabalho o treinamento de goleiros para os times para que possam incentivar e estimular os jovens a construir seu objetivo através do esporte. Gustavo Nardi e advogado, procurador municipal e gosta de atuar politicamente na construção de um projeto alternativo a exploração que vivemos nessa sociedade capitalista e desumana.

    O PSOL de Frutal em sido referencia na construção de uma politica alternativa na cidade e contesta as grandes oligarquias locais sendo importante na construção de uma politica na defesa dos direitos humanos e dos despossuídos na cidade. Gustavo destacou a importância do trabalho feito pelo presidente municipal do partido, Osvaldo Lucas, que tem construído o partido coletivamente e graças a esse trabalho já elegeu dois vereadores contra a politica tradicional, o que acarretou perseguições e injustiças dos oportunistas de plantão.

    Gustavo destaca que somente a luta consciente e coletiva e capas de fazer a transformação social e que esta cheio de energia para construir um PSOL de todos e todas e uma Frutal melhor para todos. O presidente da FLCMF, Francisvaldo Mendes, destaca a importância da participação de pessoas com boas ideias e com vontade de realizar a transformação social esta disposto a construir o PSOL e divulgar as ideias e debates através da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco.

  • AMOR, COM AMOR SE PAGA – MARIA ARAGÃO: 110 ANOS

    AMOR, COM AMOR SE PAGA – MARIA ARAGÃO: 110 ANOS

    AMOR, COM AMOR SE PAGA – MARIA ARAGÃO: 110 ANOS

    Por Franklin Douglas*

    Há 110 anos nascia Maria José de Camargo Aragão: no dia 10 de fevereiro de 1910, em Engenho Central – atual município de Pindaré Mirim (MA).

    A moçada dos dias de hoje, os novos médicos, a juventude antifa da atualidade, os coletivos e grupos de meninas feministas e negras talvez pouco conheçam da história dessa maranhense, salvo que ela empresta seu nome a uma praça que fica na Beira-Mar, no Centro de São Luís.

    Maria esteve à frente de seu tempo. Por isso, sua mensagem ecoa até os dias de hoje. Tornou-se símbolo síntese de muitas lutas, por suas opções e pelo que a vida lhe reservou.

    Era negra, tal qual cerca de 74% da população do estado: mais de 5 milhões de maranhenses, conforme estimativa do IBGE (2019). Era mulher, como mais da metade de população maranhense, mais de 3 milhões de mulheres. O que não lhe garantiu vida fácil. Ao contrário, sofreu todo tipo de adversidade e preconceitos. Maria seria dessas que Euclides da Cunha muito bem poderia chamar de uma sertaneja forte.

    A força para enfrentar a vida veio de seu pai, descendente de africanos, e de sua mãe que, mesmo analfabeta, fez questão de enviar os sete filhos para a capital para estudar. Maria era a terceira, dentre os sete.

    Mulher… estudar… em plena década de 1930… era muita coisa para uma jovem negra do interior do Maranhão. Mas Maria era do tamanho de suas utopias. Pobre, sem livros – por exemplo, estudava Geografia no horário do recreio, no atlas fixado na parede da sala – realizou o desejo de sua mãe, de vê-la “doutora”, formada no curso Normal (o que lhe propiciaria ser professora), mas Maria sonhava ser outro tipo de doutora. Maria queria ser médica. Muita ousadia! E fez também um supletivo para o curso ginasial, para poder prestar vestibular. Em 1934, aos 24 anos, Maria passou para o vestibular para Medicina, no Rio de Janeiro. Era uma de cinco mulheres da turma. Uma de três maranhenses, junto com Antônio Dino e Carneiro Belfort.

    Maria fez medicina não para enriquecer, mas para ajudar ao próximo. Sobreviveu de seu consultório até os 60 anos, quando, só então, obteve seu primeiro emprego público no Maranhão, como médica. Dizia: “Falo mal do governo [José Sarney, 1966-1969], critico o governo, boto no jornal o que ele é e depois vou lá pedir emprego? […] Não tenho cara para isso!” (Antonio Francisco, “Maria Aragão: a razão de uma vida”, 1992, p. 196). Fora nomeada por Antonio Dino, que assumira o governo, como vice, quando José Sarney se afastou do cargo de governador para concorrer à eleição de Senador, em 1970.

    Ela orgulhava-se de dizer: “Minha clientela era constituída pelos desesperados dos bairros, que não tinham condições de pagar uma consulta. […] Foi tratando de gente pobre, sem nada na vida, que fiz meu nome como médica, e como boa médica” (idem p. 171).

    No Rio de Janeiro, em 1945, Maria tomou conhecimento de Luís Carlos Prestes pela primeira vez, no Comício dos 100 mil. Viu alguém que se dizia comunista, algo que Maria não sabia o que significava: “Que diabo é ser comunista? […] só pode ser coisa muito séria, porque ele [Prestes] só falou […] nos problemas do povo. E quem fala em povo, fala em miséria, fala em fome, fala em todas essas coisas que eu sempre soube. Decidi: vou entrar para o partido desse homem” (ibidem, p. 80).

    Não foi Prestes que tornou Maria comunista. A dureza da vida, as desigualdades pelas quais passou, o enfrentamento ao preconceito, a condição feminina/negra e a personalidade destemida forjaram Maria José Camargo Aragão como lutadora pela sociedade justa, igualitária, pela emancipação humana.

    Maria é símbolo da resistência de seu tempo. Exemplo para vários outros tempos, sobretudo para o atual, que também requer muita resistência, e no qual devemos reafirmar o exemplo de Maria Aragão, pois a razão da vida dela não era individualista, mas coletiva: “[…] sempre fiz o que quis, sem ninguém me apontar o dedo para dizer “vai!” […] Quando eu era jovem, não havia movimento organizado, mas eu achava que as mulheres tinham de ser como eu era, dona de minha vida”.

    Maria foi dona de si e de todos nós, gerações passadas, atual e futuras, porque nos amou como seres humanos.
    “Um dia me perguntaram por que, sendo comunista as pessoas gostavam de mim, eu dizia [inspirada no livro escrito por um escritor tcheco enquanto aguardava a execução pelos nazistas]: amor, com amor se paga, eu amo as pessoas!” (p. 221).

    *Franklin Douglas – professor e doutor em Políticas Públicas. E-mail: franklin.artigos@gmail.com

  • Projeto Rebeliões Populares da FLCMF lança a Revolta dos Malês em Salvador

    Projeto Rebeliões Populares da FLCMF lança a Revolta dos Malês em Salvador

    Projeto Rebeliões Populares da FLCMF
    lança a Revolta dos Malês em Salvador

    Durante as primeiras décadas do século XIX várias rebeliões de escravizados explodiram na província da Bahia. Dentre elas esta a importante Revolta dos Malês, de maioria muçulmana, contra a escravidão e a imposição da religião católica, que ocorreu em Salvador, em janeiro de 1835. Nessa época, a cidade de Salvador tinha cerca de metade de sua população composta por negros escravizados ou libertos, das mais variadas culturas e procedências africanas, dentre as quais a islâmica, como os haussas e os nagôs. Foram eles que protagonizaram a rebelião, conhecida como dos “malê”, pois este termo designava os negros muçulmanos, que sabiam ler e escrever o árabe.

    É sobre essa história que o livro “Malês 1835 – Negra Utopia”, de idealização da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, trata. Lançado no Rio de Janeiro, o livro tem a autoria do professor Fabio Nogueira, docente da UNEB e doutor pela USP. Para o presidente da FLCMF, Francisvaldo Mendes, o livro possui um significado muito importante para a conjuntura atual, assim como para relembrar as revoltas contra a escravização e em busca da liberdade. “Até pouco tempo atrás, a Revolta dos Malês nem nos livros de história estava. Ela era conhecida como parte das “Revoltas Provinciais” ou “Revoltas Regenciais”, assim como a Farroupilha, a Sabinada, a Balaiada e a Cabanagem. Porém, o resgate da história da Revolta dos Malês é ainda mais imprescindível para nosso momento atual, pois ela nos mostra como a luta pela liberdade, em todos os seus sentidos e significados, é possível e tem exemplos muito importantes na história do nosso país”.

    A Fundação foi representada no lançamento pelo presidente do Conselho Curador Luiz Arnaldo que foi um dos idealizadores das coleções que a Fundação esta publicando, tais como, Coleção Rebeliões Populares, Educação Popular, Coleção APARTE etc. A Fundação Lauro Campos e Marielle Franco tem cumprido um papel fundamentar em disseminar um debate coletivo, amplo e plural e constrói uma nova cultura de debate politico com todos os segmentos da sociedade e do partido.

  • Presidente da FLCMF visita diretório municipal do PSOL em Itabuna (BA)

    Presidente da FLCMF visita diretório municipal do PSOL em Itabuna (BA)

    Presidente da FLCMF visita diretório
    municipal do PSOL em Itabuna (BA)

    O presidente da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, Francisvaldo Mendes, visitou o Diretório Municipal do PSOL de Itabuna, no sul do estado da Bahia. Durante a visita, Francisvaldo Mendes e os membros do diretório conversaram sobre a situação política local e a construção partidária que os itabunenses vem desenvolvendo no município. O destaque é o trabalho com a população mais carente e explorada na cidade que enfrenta os descasos da administração local e a falta de compromisso do poder público com a população mais pobre de Itabuna.

    Francisvaldo Mendes conheceu o trabalho do presidente municipal José Ademaques dos Santos, conhecido como professor Max, Geógrafo de formação, especialista em cultura afro brasileira e mestre em cultura popular. Max possui um amplo trabalho na defesa da educação, do esporte, na cultura da cidade e defende uma Itabuna inclusiva para todos e todas os moradores da cidade.

    O Professor Max é um lutador das causas populares em Itabuna e região e tem atuado em conjunto com outras cidades na construção de um PSOL independente da elite local e da região em que mora. “Fiquei muito feliz com o que encontrei em Itabuna, um PSOL atuante nas comunidades carentes e popular, destaca Francisvaldo, e ressalta “o trabalho que o professor Max e os demais militantes do partido fazem, aqui, é de grande importância para o desenvolvimento de um país mais justo e uma Bahia que se preocupe com o seu povo”. O papel da fundação do PSOL é desenvolver projetos em consonância com a realidade de cada local para construirmos um PSOL popular e classista.

    Todos os presentes receberam e gostaram da Revista Socialismo e Liberdade, edição 27 de produção e elaboração da própria fundação, como meio de auxiliar ainda mais o debate sobre a atual situação política vivida no pais.

  • Cinco falácias anticomunistas e a conjuntura brasileira

    Cinco falácias anticomunistas e a conjuntura brasileira

    Cinco falácias anticomunistas
    e a conjuntura brasileira

    O artigo “Elogiar ditadores é a melhor maneira de a esquerda continuar perdendo”, de autoria de Tatiana Dias e Rafael Moro Dias publicado no portal “The Intercept Brasil” (TIB) no dia 22/01/2020 causou polêmica instantânea. Neste é realizada uma “crítica” às personalidades da esquerda brasileira que homenagearam publicamente Lênin (Vladimir Ilyich Ulianov),  na ocasião dos 96 anos de sua morte. Além disso, percorre temas da conjuntura brasileira e procura orientar o “caminho” da esquerda brasileira. Belas intenções. Proponho apenas um exame lógico do artigo, usando o recurso relativo a coerência de ideias e destaco aqui cinco falácias extraídas das diversas incongruências presentes. 

    Por Pedro Otoni

    1° FALÁCIA – ENVENENANDO O POÇO

    Pressuposto: Lênin liderou uma revolução comunista, logo é um ditador.

    O artigo parte da premissa que Lênin foi um ditador e por isso identifica como um erro as homenagens que recebeu de setores do PSOL e de uma de suas parlamentares.

    O artigo não apresenta nenhum argumento que explique o suposto caráter ditatorial de Lênin. Os autores resumem-se ao óbvio, Lênin foi um líder comunista, dirigente da Revolução de 1917, primeiro governante da União Soviética. Sim, o óbvio e nada mais é dito ou explicado. Como se o fato de ser comunista, ser um líder de uma revolução popular bem sucedida e ser dirigente de um estado proletário são argumentos suficientes para qualificar alguém como ditador. 

    O artigo publicado no TIB procura envenenar o poço: se é comunista e chega ao poder é ditador. 

    Sugiro a leitura do livro “Os dez dias que abalaram o mundo”, do jornalista estadunidense John Reed, ele mostra o processo pelo qual o poder de estado sai das mãos da oligarquia russa e é agarrado pelas assembleias de trabalhadores (os sovietes).

    Esta falácia é repetida em relação ao governo venezuelano: o artigo rotula contundentemente o governo Maduro de ditadura. Quais elementos podem confirmar o caráter ditatorial do governo venezuelano? Tempo de governo? Maduro está há 7 anos como presidente, e Ângela Merkel está há 14 anos como primeira-ministra da Alemanha. Poderia ser esta chamada de ditadora? Tanto Merkel quanto Maduro são submetidos ao sistema eleitoral de seus respectivos países; por que a diferença de tratamento? Será que é pela repressão à oposição golpista de Juan Guaidó? Qual repressão? Guaidó anda livre pelo mundo e faz discurso em Davos, enquanto isso Julian Assange, jornalista que abriu a caixa de pandora dos segredos de Estado das grandes potências,  está preso em Londres. Seria a Inglaterra uma ditadura? Qual é realmente o problema de demonstrar solidariedade a um governo que tem lutado por sua soberania frente ao gigante norte-americano?

    Por que os vetores de análise de regimes políticos e governos mudam de maneira discricionária? A quem serve tal método?

    2° FALÁCIA – O ESPANTALHO

    Pressuposto: Jones Manoel afirma que ocorre contingencialmente mortes em processos revolucionários, logo ele é a favor de fuzilar famílias, matar milhões de fome, torturar, assassinar indiscriminadamente e promover o terror. 

    Repare que o historiador pernambucano apenas foi rigoroso com a própria profissão e expôs a possibilidade forte de que em revoluções, mortes de ambos os lados do conflito possam ocorrer. Ele usou a palavra “contingência”, e a mesma está devidamente empregada. Em bom português – mas também na dimensão filosófica -, contingente é o caráter de algo que pode acontecer de maneira incidental e que não necessariamente deva acontecer fatalmente. Não é, portanto, uma condição necessária, mas uma possibilidade factível. Então o que está de errado?

    Jones Manoel não  afirmou a necessidade de mortes, muito menos com as qualidades, quantidades, formas de uso e detalhes indicados pelos autores da crítica. Isso é uma tentativa de desqualificação e distorção de um argumento, e nada mais; é a falácia do espantalho.

    A ocorrência e forma de fortes em processos revolucionários são determinados pela situação concreta do conflito e não por um método generalizável. Os Romanov foram executados durante a ofensiva do Exército Branco (pró-monarquia absolutista) contra o governo soviético: este foi o contexto dos fatos. A Revolução Francesa guilhotinou os Bourbons no contexto do forte movimento de restauração apoiado pelas monarquias européias contra a República Burguesa. 

    Já Pu Yi (o último imperador chinês) e os representantes da Dinastia Qing na China não foram executados por Sun Yat-sen (fundador da República da China em 1912), e viveram para serem fantoches dos japoneses no estado artificial de Manchukuo (1934-1945), instalado na Manchúria (território chinês) pelo Império do Japão. Este serviu de cabeça de ponte para as tropas nipônicas empreenderem o processo de conquista da China, uma política imperialista de terra arrasada, como ilustra tragicamente o episódio do “Estupro de Nanquim” (1937) onde os japoneses promovem o massacre dos homens chineses e o estupro de milhares de mulheres chinesas, estas metodicamente distribuídas pelo governo japonês em centenas de centros de “mulheres de conforto militar”, outro nome dado para bordéis estatais administrados por Tóquio. Após ser preso em 1945 por tropas soviéticas e algum tempo depois enviado para já liberta República Popular da China, Pu Yi, imperador que preferiu ser usado pelo inimigo contra seu povo, também não foi executado pelo governo revolucionário de Mao Tsé Tung, e viveu como jardineiro, posteriormente se tornou bibliotecário e morreu de causas naturais em 1967.

    Este são exemplos de circunstâncias diferentes criam medidas diferentes. A generalização proposta pelo artigo em tela vai contra o exercício do jornalismo profissional.

    3° FALÁCIA – FALSA CAUSALIDADE

    Pressuposto: Defender o comunismo alimenta o anticomunismo.

    O artigo diz que se o fato de parte da esquerda defender ideias, teorias ou proposta de caráter socialista ou comunista irá oferecer munição para o bolsonarismo. Ou seja, se nos escondermos, nos pintarmos de outras cores, apresentarmos um discurso moderado, iremos ter chance de derrotar o fascismo. Se ficarmos menos radicais não seremos atacados ou pelo menos o povo irá apoiar-nos. Logo a relação de causalidade é: “quanto mais formos comunistas, mais ‘eles’ serão fascistas”. “A culpa do surgimento do bolsonarismo é a existência do comunismo”: creio que Bolsonaro acredite nisso, mas alguém em sã consciência, com o mínimo de compreensão das relações causais poderia endossar tal nexo?

    O bolsonarismo é um fenômeno multifatorial, com duas dimensões importantes: na dimensão doméstica, a falência da direita “tradicional” em estabelecer uma agenda com aderência de massas e garantia de viabilidade eleitoral e, na dimensão externa, a estratégia de desestabilização promovida pelos EUA com o intuito de condicionar geopoliticamente os BRICS, subordinar a América Latina e controlar os recursos estratégicos regionais – no caso do Brasil, o petróleo. Nada disso tem absolutamente a ver com o comunismo.

    O anticomunismo de Bolsonaro é funcional para o projeto dele, mas o anticomunismo dentro do setores chamados “progressistas” serve a quem? Bolsonaro não parará de atacar a esquerda se esta abdicar da cor vermelha, deixar de apoiar os povos em resistência ao imperialismo ou recuar da crítica à injustiça social brasileira para compor de maneira rebaixada com o centro político. Ele ganhará terreno com sua minoria, não desprezível, mais ainda sim uma minoria de apoiadores como revelam as pesquisas. 

    Isso não significa que acredito que a atual situação da esquerda é positiva. Claro que não, estamos na defensiva. Temos estratégias de combate ao fascismo consistentes? Também creio que não, e cada organização age com as luzes que tem.  Agora, propor uma narrativa ao “centro” para acumular forças é um erro primário: o chamado Centro político reduziu drasticamente sua capacidade eleitoral nas últimas eleições, ao contrário da própria esquerda, que aumentou presença no parlamento, ainda que permaneça como minoria.

    A polarização arrasou o Centro político eleitoralmente, que agora tem conduzido a agenda econômica da extrema-direita neoliberal. As contradições entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional não possuem o caráter antagônico, mas de colaboração competitiva. A colaboração se dá em uma intersecção que tem principalmente a agenda econômica como base, e a competição é a diferença de interesses que se movimentam de maneira mais difusa, com pautas relacionadas ao controle social, coercitivo-repressivo ou ideológico.

    Então qual seria a possibilidade de composição com o Centro, sem necessariamente fortalecer a agenda localizada na intersecção deste com o fascismo? A resposta com alguma coerência, mesmo que pouco realista, seria procurar fustigar a intersecção, transformá-la indigesta para, pelo menos, parte do Centro. Parte esta composta por aqueles que sabem que no final, se a agenda de Paulo Guedes for atendida em sua integralidade, o Centro passará a não existir. Que mediação centrista será possível depois da decomposição da capacidade estatal brasileira?

    O artigo de Tatiana Dias e Rafael Moro Dias acusam de ingenuidade a esquerda brasileira. Mesmo que a esquerda seja sim ingênua, não o é pelas razões apresentadas por estes dois jornalistas.

    4° FALÁCIA – POST HOC

    Pressuposto: A radicalidade da esquerda fortalece as posições do fascismo.

    “Quando parte da esquerda ou centro-esquerda que tem visibilidade e cargos públicos usa esses pressupostos para defender o extremismo, ela alimenta a polarização.Com isso, fortalece a narrativa que criminaliza e desumaniza a esquerda como um todo, beneficiando mais uma vez o bolsonarismo e a extrema-direita que se alimenta disso.” diz o artigo do TIB.

    Primeiro, qual parte da esquerda ou centro-esquerda está defendendo o extremismo? Tal afirmação está sustentada no ar. A característica da esquerda brasileira, desafortunadamente, é a moderação ao extremo, principalmente quando a relacionamos com a radical desigualdade presente no país, um verdadeiro regime de apartheid social.

    Os autores do artigo, defendem a extração dos poucos dentes da banguela esquerda brasileira. Transformá-la definitivamente na esquerda sem dentes, “tolerada exclusivamente por ser inofensiva”. Quando não houver mais dentes, não haverá mais perigo e, segundo os jornalistas do TIB, o bolsonarismo não criminalizará ou desumanizará mais a esquerda.

    É falaciosa a suposta sucessão de fatos proposta pelos jornalistas do TIB. Não importa a aparência da esquerda: ela será sempre alvo do fascismo. Não há indícios de que a moderação da esquerda acalmará os 30% de brasileiros que apoiam Bolsonaro; esta minoria tomou posições muito extremas para mudarem rapidamente de comportamento. Só há uma setor social que os fascistas brasileiros odeiam mais que a esquerda: os pobres. A polarização política não pode ser compreendida na sua integralidade sem este elemento.  

    A polarização não é uma situação que possamos controlar unilateralmente. Ela é uma resultante de diversos vetores. No plano conjuntural é resultante das opções dos múltiplos atores do jogo político; não jogamos sozinhos. No plano estrutural, do padrão de distribuição de riqueza e poder entre as classes e setores de classe.

    O que é possível ser feito é estabelecer uma tática que procure condicionar a situação e objetive alterar os termos da polarização na dimensão conjuntural e manobrar para que esta incida na estrutura. Por exemplo, concentrar os esforços materiais e narrativos na denúncia da piora das condições de vida do povo, buscando uma polaridade que se expresse de um lado por uma maioria de pessoas que estão perdendo direitos, salário e capacidade de manutenção da vida e do outro lado por uma minoria que apoia o governo, e que não dá a mínima para o que se passa com o andar de baixo.

    Mas esta alteração não é instantânea, pode demorar mais do que um ciclo eleitoral, não há um caminho curto e sem perigos contra o fascismo. Quem sustenta o contrário são os ingênuos ou  demagogos.

    5° FALÁCIA: NON SEQUITUR

    Pressuposto: “Tudo o que eles querem é uma razão para nos jogarem ao extremo e minarem qualquer chance de aliança ou debate – e eles estão conseguindo. Estamos em uma guerra de narrativas e, se não agirmos estrategicamente agora, vamos inevitavelmente continuar perdendo”, diz o artigo do TIB. 

    Os fascistas não precisam de razão para agirem como fascistas. Eles agem e estão agindo conforme seus objetivos, não são condicionados pela ausência de motivos que justifiquem suas ações.  Não há explicação razoável nestes termos.

    A esquerda não foi jogada ao extremo, está no mesmo lugar que sempre esteve desde 1988, seja isso certo ou errado. Quem foi para o extremo foi a direita, foi o rentismo, foi a casa grande brasileira. 

    O artigo afirma que há uma guerra de narrativas; sim, é verdade. No entanto, é preciso completar que esta é componente de dois conflitos muito maiores, um conflito geopolítico e um conflito estrutural de classes. A narrativa é importante, porém não suficiente para uma vitória contra o fascismo. As décadas de 30 e 40 do século XX demonstram isso. A ascensão do fascismo no Brasil não é algo isolado, é parte de um fenômeno mundial.  Para agir estrategicamente é necessário ler a situação de uma maneira mais ampla e não pela superfície, sua parte visível, que por vezes é meticulosamente produzida pelo adversário para induzir ao erro, o que chamamos de diversionismo.

    ENFIM…

    Nenhuma atividade está isenta de posição política, e não se deve cobrar isenção ou neutralidade sobre qualquer trabalho. Assim como o juíz e os promotores envolvidos na Operação Lava-Jato foram postos a nu em seu ardil, ao extrapolarem os parâmetros constitucionais de sua atuação (graças ao TIB), também o jornalismo rompe com seu caráter profissional na medida que abstêm da análise objetiva do mundo.

    Pedro Otoni, cientista Político e Especialista em Economia Política. Fundador das Brigadas Populares. Membro da direção nacional da Intersindical – Central da Classe Trabalhadora.
  • Bolsonaro e o grande capital no rastro das queimadas amazônicas

    Bolsonaro e o grande capital no rastro das queimadas amazônicas

    Bolsonaro e o grande capital
    no rastro das queimadas amazônicas

    Se a devastação ambiental não for detida, a maior floresta tropical do mundo pode chegar a um ponto de não-retorno em seu processo de extinção. A busca do lucro sem freios coloca em risco não apenas a biodiversidade, mas populações inteiras que dependem de rios e matas para existirem

    Por Priscilla Cardoso Rodrigues & Mônica Xavier de Medeiros

    Na tarde do dia 19 de agosto de 2019, o céu da cidade de São Paulo escureceu. O encontro de uma frente fria com nuvens de queimadas vindas da floresta amazônica formou um fenômeno que fez a tarde virar noite. Com isso, as queimadas na Amazônia ganharam visibilidade na imprensa, fazendo com que o mundo inteiro voltasse os olhos para a maior floresta tropical. Ela comporta um terço de toda a biodiversidade, forma a principal reserva de carbono e representa quase metade de todas as florestas tropicais remanescentes da Terra.

    A Amazônia começou a queimar com a articulação das atividades madeireira e pecuária: desmatava-se a floresta, retirava-se toda a madeira de valor e, finalmente, vinha o fogo a preparar a terra para a formação de pastos

    Tais fatores, entretanto, não impedem que o Brasil também seja um dos maiores emissores planetários de gases de efeito estufa por desmatamento, sendo responsável pela derrubada de mais de 2 milhões de hectares anuais de florestas somente na Amazônia.

    A sanha exploratória

    O desmatamento na Amazônia brasileira começou a crescer após a implementação de projetos econômicos e de infraestrutura realizados pela ditadura civil-militar (décadas de 1960-70), que colocou o “desenvolvimento econômico” da região amazônica na ordem do dia. O lema “integrar para não entregar”, engendrado a partir da lógica de Segurança Nacional, via a região como um imenso vazio demográfico, presa fácil aos grupos guerrilheiros que lutavam nos países fronteiriços.

    Milhares de plantas e animais que compõem a rica biodiversidade amazônica estão sob ameaça de extinção devido às queimadas e os efeitos do desmatamento para o aquecimento global têm atingido toda a humanidade

    Para “salvar” a Amazônia, a ditadura organizou a abertura da Floresta à exploração predatória por meio da promoção do crescimento populacional, da migração, invasão e ocupação de territórios indígenas, e da expansão do latifúndio e do subsídio aos projetos ligados à pecuária, extração de madeira, mineração, construção de hidrelétricas e estradas.

    A Amazônia começou a queimar com a articulação das atividades madeireira e pecuária: desmatava-se a floresta, retirava-se toda a madeira de valor e, finalmente, vinha o fogo a preparar a terra para a formação de pastos.

    Agronegócio e grandes projetos

    Adotando o agronegócio como a principal fonte de riquezas do Brasil, mesmo após a democratização, nas décadas de 1980-90, os diversos governos que se seguiram nada fizeram para mudar a política para a Amazônia. Até mesmo durante os 13 anos de governos petistas, os chamados “grandes projetos” continuaram sendo implementados, tendo a hidrelétrica de Belo Monte, construída no governo Dilma Rousseff, como marca indelével da submissão da natureza às ordens do capital. A floresta amazônica continuou sendo mercantilizada, enquanto os modos de vida e trabalho dos moradores foram sistematicamente alijados.

    Mais especificamente em relação às queimadas, desde 2009, cidades amazônicas como Manaus e Rio Branco têm o cotidiano afetado por nuvens de fumaça que transformam o dia em noite. Em 2015, formou-se um corredor de fumaça gigantesco que ia da região do baixo-Amazonas – no estado de mesmo nome – até o Pará. Esse corredor de fumaça era tão grande que podia ser detectado por satélites.
    Aeroportos fechados por falta de visibilidade e as pessoas da região lotam os postos de saúde devido a problemas respiratórios. Um estudo de 2017 demonstrou que a fumaça das queimadas na Amazônia causa danos ao material genético e morte das células pulmonares, podendo os efeitos se estenderem por toda a América do Sul. Além disso, milhares de plantas e animais que compõem a rica biodiversidade amazônica estão sob ameaça de extinção devido às queimadas e os efeitos do desmatamento para o aquecimento global têm atingido toda a humanidade.

    O que mudou com Bolsonaro?

    O governo Bolsonaro representou um salto de qualidade na mercantilização da Floresta Amazônica. Setores da burguesia ligados ao agronegócio, à mineração e ao capital internacional ocuparam cargos-chave no aparelho de Estado que deveriam elaborar políticas públicas de proteção ambiental, demarcação de terras indígenas e quilombolas, reforma agrária e apoio à agricultura familiar e, inclusive, programas de prevenção e combate às queimadas. Isso levou ao enfraquecimento de políticas e de órgãos estatais fundamentais para a defesa da Floresta – como o Ministério do Meio Ambiente, IBAMA, ICMBIO, FUNAI, INCRA – e de programas como o Prev-Fogo.

    Se isso não fosse o suficiente para colocar a Floresta em risco, o discurso anti-índígena e antiambientalista de Bolsonaro deu força a atividades criminosas realizadas por agropecuaristas, grileiros, madeireiros e garimpeiros. Sentindo-se poderosos ao verem o presidente como aliado, e na certeza da impunidade em relação aos crimes ambientais, fazendeiros do sudoeste do Pará promoveram o “Dia do Fogo” em agosto, que consistiu na organização criminosa de incêndios florestais na região por meio de convocação feita por meio de mensagens de WhatsApp. Como resultado, de acordo com o INPE, as queimadas na Amazônia aumentaram 196% naquele mês, comparadas ao mesmo mês do ano passado.

    Desmatamento recorde

    O desmatamento aumentou exponencialmente no governo Bolsonaro e isso foi fundamental para a ampliação dos focos de incêndio na Amazônia e em todo o Brasil. A nota técnica do Instituto de Pesquisa Ambiental na Amazônia (IPAM), divulgada em agosto de 2019, revelou que a estiagem deste ano pode ser considerada suave, portanto, não se pode apontar a falta de umidade como principal causa das queimadas. A nota técnica também concluiu que os dez municípios da Amazônia que tiveram as maiores taxas de desmatamento foram justamente aqueles que apresentaram mais focos de incêndio, o que revela que “a concentração de incêndios florestais em áreas recém-desmatadas e com estiagem branda, representa um forte indicativo do caráter intencional dos incêndios: limpeza das áreas recém-desmatadas”.

    Os povos da floresta

    Quilombolas, indígenas, ribeirinhos e trabalhadores rurais amazônicos têm maneiras próprias de conviver com a floresta. Os rios, lagos, terras, árvores são dimensões de sociabilidade, na qual plantas, animais e seres humanos formam uma rede bastante frágil de relações das espécies entre si e com o meio ambiente, de cujo equilíbrio dependem o clima, a qualidade da água, o solo, a reciclagem de nutrientes e demais serviços ecossistêmicos fornecidos por esse bioma.

    Entretanto, desde o golpe de 2016 e, de forma mais acentuada, desde o início do governo Bolsonaro, esse equilíbrio tem sido ameaçado em decorrência do avanço do agronegócio e da mineração em larga escala sobre os territórios desses povos tradicionais, especialmente dos povos indígenas. Além de o Presidente retirar a proteção governamental das áreas protegidas da Amazônia (terras indígenas e unidades de conservação), também tem feito pronunciamentos propondo a abertura dessas áreas para a produção capitalista, provocando aumento dos casos de queimadas, ocupação e garimpo ilegal, bem como a desestruturação dos modos de vida e trabalho desses povos.

    Golpe na reforma agrária

    No mesmo sentido, a reforma agrária também sofreu um duro golpe com a aprovação da Lei nº 13.465/2017 (apelidada Lei da Grilagem), que legalizou a mercantilização de terras, transformando-as em ativo comercial, tendo adotado, como principais medidas, a antecipação da emancipação dos assentamentos para que os lotes estivessem disponíveis mais cedo para a venda no mercado de terras e a legalização da grilagem. Soma-se a isso a ampliação para 2.500 hectares o limite de regularização de terras públicas devolutas no âmbito do programa Terra Legal na Amazônia.

    Desde o golpe de 2016 e, de forma mais acentuada, desde o início do governo Bolsonaro, o equilíbrio ecológico tem sido ameaçado em decorrência do avanço do agronegócio e da mineração em larga escala

    O grande problema é que, como qualquer outro ecossistema, a Amazônia também tem um ponto limite que, se ultrapassado, impedirá para sempre a recuperação: “Muitos cientistas temem que a floresta inicie um processo irreversível em direção a savanas se o desmatamento atingir 40% do território. As implicações dessa transformação para o aquecimento global, ciclos hidrológicos e biodiversidade seriam catastróficas”.

    Portanto, só conseguiremos entender melhor o contexto do aumento das queimadas – que chamou a atenção do mundo ao escurecer o céu de São Paulo no meio da tarde – e os reais efeitos desses fenômenos para os brasileiros e para toda a humanidade – se compreendermos que ele se encontra inserido num contexto mais amplo de desestruturação de direitos territoriais e ambientais duramente conquistados pelos movimentos sociais desde a queda da ditadura civil-militar. Tais direitos têm sido, por décadas, as principais armas dos povos amazônicos para a proteção e defesa da floresta, dos territórios ancestrais e da sobrevivência física e cultural.

    Leia a revista n. 27 na íntegra!

     

    Priscilla Cardoso Rodrigues é graduada e mestre em Direito pela Universidade Estadual Paulista/UNESP; doutoranda em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra/FDUC; professora do Instituto de Ciências Jurídicas e do Instituto Insikiran de Formação Superior Indígena da Universidade Federal de Roraima/UFRR; e investigadora do Instituto Jurídico da FDUC.

     

     

    Mônica Xavier de Medeiros é doutora em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de SP–PUC/SP; e professora do curso de Licenciatura em História da Universidade do Estado do Amazonas/UEA.

     

     

     

    1. LAURANCE, William F. et al. The Future of the Brazilian Amazon. Science, v. 291, p. 438-439, Jan. 2001.
    2. STEVENS, Caleb; WINTERBOTTOM, Robert; SPRINGER, Jenny; REYTAR, Katie. Securing Rights, Combating Climate Change: How Strengthening Community Forest Rights Mitigates Climate Change. Washington, DC: World Resources Institute, 2014
    3. FOLHA DE SÃO PAULO. Fumaça de queimadas encobre Manaus (AM). 30/09/2009; O GLOBO. Nuvem de Fumaça cobre Manaus. https://oglobo.globo.com/brasil/nuvem-de-fumaca-cobre-manaus-3121078. Publicado em 30/09/2009. Acesso em 02/11/2019; Manaus amanhece com fumaça. https://www.terra.com.br/noticias/brasil/cidades/manaus-amanhece-com-fumaca-de-queimadas. Publicado em 02/10/2009. Acesso 02/11/2019;
    4. Desmatamento e queimadas voltam a aumentar na Amazônia. Publicado em 26/11/2015. https://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/blog-do-planeta/noticia/2015/11/desmatamento-e-queimadas-voltam-aumentar-na-amazonia.html. Acesso em 02/11/2019;
    5. ALVES, Nilmara de Oliveira et al. Biomass burning in the Amazon region causes DNA damage and cell death in human lung cells. Scientific Reports, v. 7, artigo n. 10937, Set. 2017.
    6. DÍAZ Sandra; SETTELE, Josef; BRONDÍZIO, Eduardo. Summary for policymakers of the global assessment report on biodiversity and ecosystem services: unedited advance version. Paris: IPBES, 2019.
    7. Nesse sentido, ver o Banco de Dados de Queimadas, do Programa Queimadas do INPE. Disponível em: <http://queimadas.dgi.inpe.br/queimadas/bdqueimadas/>. Ver também: G1. Agosto tem o maior número de focos de queimadas na Amazônia dos últimos 9 anos, segundo o Inpe. Publicado em 01/09/2019. Disponível em: <https://g1.globo.com/natureza/noticia/2019/09/01/agosto-tem-o-maior-numero-de-focos-de-queimadas-na-amazonia-dos-ultimos-9-anos-segundo-o-inpe.ghtml > Acesso em 15/11/2019.
    8. Entre janeiro e setembro de 2019, o INPE identificou mais de 90 mil focos de incêndio em todo o território nacional, um aumento de 71% em relação ao mesmo período do ano passado. Nesse sentido ver dados do Programa Queimadas do INPE (Disponível em: <http://queimadas.dgi.inpe.br/queimadas/portal>).
    9. Entre janeiro e setembro de 2019, o INPE identificou mais de 90 mil focos de incêndio em todo o território nacional, um aumento de 71% em relação ao mesmo período do ano passado. Nesse sentido ver dados do Programa Queimadas do INPE (Disponível em: <http://queimadas.dgi.inpe.br/queimadas/portal>).
    10. VERÍSSIMO, Adalberto et al (org). Áreas protegidas na Amazônia brasileira: avanços e desafios. Belém: Imazon; São Paulo: ISA, 2011. p. 14.