Autor: Redação Lauro Campos

  • A nossa educação educa? FLCMF lança segundo livro da Coleção Cadernos do Povo

    A nossa educação educa? FLCMF lança segundo livro da Coleção Cadernos do Povo

    A nossa educação educa? FLCMF lança
    segundo livro da Coleção Cadernos do Povo

    Escrito por Chico Alencar, historiador, professor e ex-deputado federal pelo PSOL do Rio de Janeiro, este livreto faz parte da coleção Cadernos do Povo, que a Fundação Lauro Campos Marielle Franco, do Partido Socialismo e Liberdade, tem a honra de produzir e editar.  O título da coleção faz referência a uma outra, publicada entre 1962 e 1964, “Cadernos do Povo Brasileiro”, durante o governo do presidente João Goulart. Naquele Brasil ávido por mudanças, por reformas estruturais, de base, a educação popular tinha enorme importância. A iniciativa foi dos editores Ênio Silveira (1925-1996) e Álvaro Vieira Pinto (1909-1987), através de uma parceria entre a Editora Civilização Brasileira, o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) e o Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC da UNE).

    Aqui tratamos de Educação, que é relação, que é humanização, que é o meio pelo qual nos constituímos como seres humanos. Educação que é comunicação, fala, palavra dita, entendida, escrita. O processo educativo, que se dá antes da escola e também nela, existe em todas as sociedades humanas. Os sistemas de ensino, no estágio atual do capitalismo brasileiro, viraram mercadoria, em grande parte. Isso tende a se agravar, pois há movimento forte para se tirar da Constituição o artigo 212, que obriga a União investir ao menos 18% da receita de impostos na Educação Pública Básica. Também se pretende retirar dos Estados e Municípios a obrigação de apresentação aplicar o mínimo de 25% no setor.

    Educação e oferta de ensino escolar não são favores dos governantes. Remuneração digna para quem leciona também não. Com essa importante percepção, ainda que tardia, os sindicatos que mais cresceram, nos últimos 30 anos, foram os dos profissionais de Educação. Não para defender apenas interesses corporativos, mas para lutar por um ensino público, gratuito, democrático e de qualidade, sem discriminações. Sem ele o Brasil não evolui e a desigualdade social não diminui. Esse livreto é uma pequena contribuição para que compreendamos melhor que educar é descentrar: “quem de dentro de si não sai vai morrer sem amar ninguém”, cantou Vinicius de Moraes (1913-1980). E para que possamos entender o ensino como meio de  libertação coletiva, de descoberta contínua do gosto de viver solidariamente.

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  • FLCMF fecha parceria com Observatório da Violência Policial e Direitos Humanos – OVP-DH

    FLCMF fecha parceria com Observatório da Violência Policial e Direitos Humanos – OVP-DH

    FLCMF fecha parceria com
    Observatório da Violência Policial
    e Direitos Humanos – OVP-DH

    A Fundação Lauro Campos e Marielle Franco firmou uma parceria com o Observatório da Violência Policial e Direitos Humanos para manutenção e ampliação de um sistema de mapeamento e cadastramento da violência policial no Brasil.

    Esse sistema, que terá um canal anônimo de denúncias, tem metodologia científica aplicada por vários profissionais para sistematizar e analisar os dados sobre as diversas violências cometidas por parte dos agentes do Estado. Com isso, a FLCMF tenta contribuir contra a barbaridade cometida em Paraisópolis (SP) que matou nove jovens.

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  • Mulher, raça e classe: FLCMF abre inscrições para curso de verão em São Paulo

    Mulher, raça e classe: FLCMF abre inscrições para curso de verão em São Paulo

    Mulher, raça e classe: FLCMF abre
    inscrições para curso de verão em São Paulo

    A Fundação Lauro Campos e Marielle Franco (FLCMF) abriu inscrições para o curso presencial de verão “Mulher, raça e classe”, que será realizado entre os dias 5 e 8 de fevereiro de 2020, em São Paulo (SP). O objetivo do curso é auxiliar as (os) militante do PSOL na perspectiva de construir uma alternativa concreta para consolidação de formadores políticos de caráter feminista, anticapitalista e ecossocialista. A ideia do curso é fornecer uma base sólida da teoria marxista para a discutir e entender o tema específico das mulheres, das raças e classes.

    A ideia é criar um espaço de estudo, de pesquisa da realidade social e de reflexão sobre os temas tendo como base o material preparatório “Manifesto do Feminismo para os 99%”, de Tithi Bhattacharya, Cinzia Arruzza e Susan Ferguson (Boitempo Editorial, 2019), sendo enviado aos inscritos antecipadamente. As atividades do curso se alternarão entre teóricas e práticas, com modo de contar com espaços mais dinâmicos de apropriação e elaboração coletiva dos temas.

    Para participar do curso, a (o) participante deverá construir com uma taxa de inscrição de R$10,00 (dez reais).

     

  • Líderes sociais debatem estratégias políticas para o RJ

    Líderes sociais debatem estratégias políticas para o RJ

    Líderes sociais debatem estratégias políticas para o RJ

    No dia 30 de outubro, representantes de organizações sociais de base, ativistas sociais e políticos se reuniram no auditório do Corecon, no centro da cidade do Rio de Janeiro, para o encontro “Estratégias Políticas Inovadoras e a situação do Rio de Janeiro“. 

    Da primeira mesa de discussão,  “Contexto da América Latina, brasileiro e a atual situação do Rio de Janeiro“, participaram o presidente da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, Francisvaldo Mendes, o diretor do Asuntos del Sur, Matías Biachi, e a diretora do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), Rita Correa Brandão, com moderação de Caru Schwingel, pesquisadora parceira da FLCMF e membro do Conselho Estratégico de Asuntos del Sul. Buscou-se identificar situações semelhantes na atual situação política das esquerdas na América Latina, Brasil e Rio de Janeiro.

    Para Matías Bianchi, mediante o contexto das eleições e retrocessos da América Latina dos últimos anos, processos inovadores não podem estar desatrelados do fortalecimento dos partidos políticos. “Os partidos na América Latina necessitam de uma maior capilaridade social,  confiança política e politizar assuntos que não estão politizados, como o meio ambiente, as questões de gênero e as novas tecnologias”. 

    Francisvaldo Mendes apresentou as características de um país governado por uma direita neoliberal. Destacou questões como a perda da soberania nacional, a perda dos direitos dos trabalhadores com as reformas trabalhista e da previdência, a situação da Petrobras e do “negócio” petróleo, o aumento da violência policial e da impunidade de foma geral. Sobre o processo eleitoral passado, um dos pontos destacados por Francisvaldo Mendes foi o uso das redes sociais pela equipe de Jair Bolsonaro como mecanismo de influência das pessoas.

    Rita Correa Brandão falou sobre a necessidade de “novas formas de fazer política e diferentes maneiras de reunir as pessoas para ter uma maior participação política”. Apresentou projetos do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas em seus 38 anos de atuação principalmente nas comunidades do Rio de Janeiro.

    Ainda pela manhã, a diretora do Projeto SISA, Cora Ruiz Tena, e a Coordenadora de Incidência Territorial de Asuntos del Sur, Sofía Castro Mariel, apresentaram o Método SISA, uma ferramenta elaborada com mulheres de nove países da América Latina para projetos de incidência política com perspectiva feminista. A oficina aplicou a dinâmica SuperSISA que visa gerar soluções criativas e inovadoras para as dificuldades enfrentadas pelas mulheres cotidianamente pelo fato de serem mulheres.

    Integrada à oficina, realizou-se uma roda de conversa quando várias mulheres representantes de organizações sociais e instituições políticas apresentaram suas atuações, os trabalhos que realizam nos territórios e começaram a pensar em possibilidades de diálogo com o Método Sisa para fortalecer seus projetos.

    Com a emotividade de quem dedica sua vida à luta e ao empoderamento feminino, Roberta Eugênio, pesquisadora do Instituto Alziras, apresentou o panorama de participação das mulheres na política no Rio de Janeiro e país. Falou sobre a pesquisa Perfil das Prefeitas no Brasil (2017-2020) que mapeou as 649 prefeitas eleitas em 2016 e ouviu 45% delas. “As mulheres à frente das prefeituras acumulam experiência na política em sua trajetória, têm mais anos de estudo do que os prefeitos homens e superam enormes desafios em municípios pequenos e sem recursos”. Discutiu-se sobre o fato de muitas mulheres políticas serem filhas ou casadas com políticos homens. 

    Bárbara Aires, do Fórum de Articulação estadual de Travestis e Transexuais do Estado do Rio de Janeiro, apresentou a realidade das violências não tão evidentes contra as mulheres trans e travestis. “Na saúde pública, as mulheres trans não são assistidas pela saúde da mulher e tampouco pela saúde do homem. Ficam completamente desassistidas, sem acesso – e com a idade piora ainda mais”. Falou sobre a necessidade do avanço dos direitos sociais e da importância de campanhas como a do exame de próstata  para uma população com expectativa de vida de 35 anos. 

    A Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), movimento político ​feminista  anti-capitalista, anti-racista, anti-patriarcal com 25 anos de atuação no país, esteve representado por uma de suas lideranças no Rio de Janeiro , a feminista Tânia Lopes Muri. A coordenadora da AMBRio apresentou os temas importantes, que alicerçam as lutas do movimento, como os direitos sexuais reprodutivos,  contra a criminalização das mulheres e pela legalização do aborto, o combate a todas as formas de violência contra a mulher, a divisão sexual do trabalho, a justiça socioambiental. Falou sobre ações, incentivos e formação política para mais mulheres ocuparem espaços de poder: “Há uma representação ínfima de mulheres dentro dos espaços de poder, seja no nível federal, no Congresso, nas assembleias estaduais ou nas câmaras municipais de todo o país”. Tânia Lopes fez uma breve descrição das ações do AMB no país e no Rio de Janeiro nesses últimos anos. “A articulação têm lançado mão de estratégias criativas para enfrentar e dar visibilidade aos retrocessos, que as conquistas, de até então, nas políticas públicas e legislação para as mulheres, vem sofrendo”.​ Falou sobre parcerias com movimentos no Brasil e América Latina, sem perder de vista a importância da ação local, destacando as ações feitas pelos Movimento de Mulheres de Cabo Frio e da Região dos Lagos. 

    A pesquisadora Iara Amora enfatizou a importância da escuta e das trocas de saberes nos processos de formação feminista. “É preciso reconhecermos e valorizarmos os saberes e experiências locais de cada mulher”. Mestranda em Políticas Públicas e Direitos Humanos, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, pesquisa sobre a luta das mulheres por creches públicas e destaca a importância de avanços legais que garantam os direitos das mulheres. Com o aumento dos casos de feminicídio, violência e o incetivo à cultura da desvalorização de ações feministas nesse último ano, chamou a atenção para a necessidade de projetos de lei, de avanços legais. “As casas legislativas têm sido mais uma trincheira de batalha contra os conservadorismos e retiradas dos direitos das mulheres. Embora ainda falte avançarmos muito, é muito representativo a ocupação desses espaços por mulheres, em especial mulheres negras, – e a atuação de parlamentares feministas”, disse.

    Iara Amora integra a equipe de gênero da deputada estadual Mônica Francisco, que também esteve presente com as assessoras Rogéria Peixinho e Lana de Holanda, esta a primeira transexual a conquistar o direito de usar o nome social no crachá da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Rogéria Peixinho, por sua vez, lembrou que várias das mulheres que hoje atuam com gênero nas equipes das deputadas Mônica Francisco, Dani Monteiro e Renata Souza trabalharam com Marielle Franco. “Avançar reconhecendo a história dos movimentos, das pessoas que foram e são sementes, como Marielle”.  

           


    Pela tarde, a Roda de Conversa “Experiências de ativistas – ações possíveis no Rio” demonstrou a tradição social e política de resistência e resiliência da cidade do Rio de Janeiro. Organizações com décadas de história e atuação emocionaram nas vozes e relatos de seus representantes.

    David Amen, do Instituto Raízes em Movimento, que atua no Complexo do Alemão, falou sobre os jovens que formaram e formam nesses 18 anos do Raizes, sobre a estratégia de comunicação que adotam no território e para fora dele. “O Raízes em Movimento busca facilitar a participação dos atores locais como protagonistas de ações para o desenvolvimento humano, social e cultural”. Comunicação, empreendedorismo, ações sociais, visibilidade para as questões cotidianas das e dos cidadãos das 13 favelas/comunidades do Complexo do Alemão são parte de suas ações, porém, David Amen ressalta que a prioridade no momento é “manter-se vivo”, em função do aumento da violência nas periferias do Rio de Janeiro, principalmente a policial. Destaca também que a estratégia de comunicação é interna e com os parceiros da mídia independente, já que “não há como dialogar com os meios de comunicação hegemônicos”, devido ao etnocentrismo, à falta de compreensão da visão do outro, daquele que é diferente. 

    Anàpuàka Muniz Tupinambá, comunicador indígena de Rádio Yandê e coordenador de Yby Festival, falou sobre a dificuldade de ser sustentável quando se faz comunicação de base. Há seis anos, junto com uma sócia tupinambá e um baniwa, criaram a primeira web rádio indígena do país. “Nosso objetivo é difundir a cultura indígena através da ótica tradicional, com a velocidade e alcance da internet”. Sem anunciantes ou patrocinadores, buscam a sustentabilidade por meio de cursos, consultorias, palestras, formação de outros comunicadores indígenas. Com a proposta do primeiro Festival de Música Indígena do país. o Yby, buscam ampliar um ecossistema da produção indígena, mostrando exemplos, colocando pessoas em contato para que, através da música e da arte, possibilidades se apresentem. Anàpuàka Tupinambá desenvolveu a proposta de etnomídia indígena como estratégia para o reconhecimento, a visibilidade dos direitos, o respeito para notícias, para o resgate cultural e, principalmente, como forma de quebrar antigos estereótipos ou preconceitos historicamente difundidos pelos meios de comunicação.

    Daniela Moura, coordenadora do Maré de Notícias, apresentou matérias e a missão do veículo digital: “reportar o cotidiano da Maré, o dia-a-dia das e dos 140 mil moradores da Maré, pessoas que vivem num conjunto de 16 favelas, é a nossa proposta”. O Maré de Notícias Online é o meio jornalístico da Redes da Maré, organização da sociedade civil criada em 1997, para produzir conhecimento, elaborar projetos e ações que garantam políticas públicas efetivas na defesa do direitos dos moradores do complexo. A parceria com a imprensa hegemônica ou fazer circular conteúdos do Maré de Notícias nos grandes veículos, tem sido uma das estratégias do equipe de jornalismo. Também Daniela Moura destacou o fato de jornalistas da periferia, negras e negros, que começaram sua vida profissional no Maré de Notícias hoje estarem trabalhando na grande mídia, diversificando as redações e o olhar para os acontecimentos. 

    A jornalista responsável pela Agência Narra da Maré, Elena Wesley, apresentou o resultado do projeto Agência de Narrativas de Periferias do Observatório de Favelas. “A Narra é uma  agência de jornalismo composta por jovens repórteres das favelas cariocas. Damos serviço e informações para nossas comunidades desde nosso ponto de vista”. A jovem coordenadora relembra que a criatividade, o empreendedorismo, a solidadriedade mediante adversidades e violência traz a perspectiva defendida pelos intelectuais da Maré, de que a favela não é e nunca foi falta, mas sim favela é potência, é criatividade, é construção e luta social. “Muitas situações vividas na periferia, na favela, os grandes veículos nem percebem. A Narra conta a história de nossa perspectiva, da vivência de quem ali cresceu e conhece os problemas e potencialidades do entorno”. Outro aspecto destacado foi o preconceito e estereótipos criados pela mídia em relação aos moradores das comunidades. “O favelado consegue falar de qualquer assunto a partir da sua própria perspectiva. As pessoas estranham o diferente, não o reconhecem, e criam estereótipos nocivos. A Narra conta histórias da região metropolitana, da Baixada à Niterói, passando pelas favelas e subúrbios do Rio de Janeiro, em direção à Maré dos moradores, de pessoas, não de estereótipos”. 

    Uma das principais lideranças da Greve dos Garis que impactou o Rio nos carnavais dos anos 2014 e 2015,  Célio Viana, também esteve nesta roda de conversa. O movimento autônomo foi contra o empregador e o sindicato e valorizou o trabalhador assalariado insatisfeito com as condições, atuou na auto-estima dos profissionais e levou à estruturação do Círculo Laranja. “O Círculo Laranja é uma iniciativa cidadã, construída pelos garis, que tem como ponto central o debate do lixo e do meio ambiente. Nosso lema é ‘Andamos, Perguntando e Mandamos, Obedecendo’”.  O líder social falou sobre como o Círculo Laranja se estruturou, deixando de ser um movimento somente dos garis ao tratar o problema do lixo de forma mais ampla, incorporando todos os que se preocupam com o ambiente no qual vivem. “Gari é um agente de saúde ambiental”, afirma Célio Viana. Ao fazer uma análise da situação atual e retrocessos políticos do Rio de Janeiro, a porta-voz do Círculo Laranja, Luiette Ornellas, disse ser fundamental não apenas se pensar e atuar no política nos anos eleitorais. “Não basta fazer política apenas nas eleições ou na campanha salarial, é preciso se envolver de maneira contínua.  Uma das formas contínuas de fazer política é pela cultura”. Por isso que o Círculo Laranja atuou na construção do 1o. Viradão Cultural Suburbano, evento totalmente colaborativo ocorrido em 09 e 1o de novembro com 36 horas de duração em 19 bairros suburbanos da cidade do Rio de Janeiro. “Mesmo que as instituições não nos ouçam, que o poder público não nos dê ouvidos, nós existimos, estamos presente, organizados, produzindo cultura. Somos uma multiplicidade de singularidades que desde sempre produziu cultura. Principalmente o subúrbio, que sempre foi criatividade, construção, acolhimento, alegria e amor. Precisamos seguir com esta ideia para avançarmos”, afirmou Luiette Ornellas. 

    As Brigadas Populares, movimento militante, popular, de massas, “uma organização socialista, classista, feminista, antirracista, anti-imperialista, anti-punitivista e nacionalista-revolucionária” que atua em apoio às ocupações urbanas nos grandes centros, esteve representada pelas coordenadoras Kelly da Silva e Luciane Galdina. “É máquina mesmo de moer negro”, afirmou a coordenadora da Ocupação Moisés Luciane Galdina ao relatar como o governador do Rio de Janeiro, do helicóptero chamado pelos moradores de “Caveirão”  entra nas favelas atirando a esmo para o alto. “E a polícia também entra assim, atirando, como outras pessoas aqui já disseram. Matando vários inocentes, a maior parte é tudo estudante, crianças. E na maioria das vezes não é para prender bandidos, é para caçar”.  Moradoras da Ocupação Moisés, na Rua do Riachuelo, na Lapa, centro do Rio, as militantes falaram sobre as abordagens policiais e a forma como as 50 famílias de moradores são tratadas pelo poder público. “A força policial dizia ser uma ocupação promovida por tráfico de drogas e coisas ilícitas. Recentemente, tivemos uma audiência em que a juíza afirmou ter tido uma ideia discriminatória a partir dos autos, e que agora, ao conhecer as famílias, via que não era nada daquilo. Vamos ter uma solução pacífica”, disse a coordenadora das Brigadas Populares do Rio de Janeiro, Kelly da Silva. As duas lideranças, junto com o advogado, foram intimidadas e ameaçadas pelos policiais em várias ocasiões. Porém dizem que a escolha do nome da ocupação é para lembrar a luta por direito à moradia. “Moisés é quem levou o povo para a sua terra. Referência bíblica que reafirma o direito da população à sua própria terra, direito à sua casa, a um pedacinho do chão”. 

    Mônica Cunha, Coordenadora da Comissão de Direitos Humanos da ALERJ (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e líder do Movimento Moleque, referência por sua luta por direitos para adolescentes que estão no sistema socioeducativo e para seus familiares, encerrou as falas da roda de conversa da tarde. O Movimento Moleque foi fundado por um grupo de mães que no dia 10 de dezembro de 2003 foram na unidade do sistema socioeducativo Padre Severino, no Rio de Janeiro, vestidas de preto e viradas de costas para a porta da instituição, reivindicar pelos direitos de seus filhos. Dois anos antes, o filho do meio de Mônica Cunha, Rafael, havia sido preso por participar de um roubo. “Quando cheguei à delegacia, meu filho estava algemado e sujo, como se o tivessem arrastado pelo chão. Eu fiquei desesperada”. Ouviu também que havia “parido bandido”, então, começou a ler o Estatuto da Criança e do Adolescente e a buscar os direitos dos menores infratores. Com seus 16 anos de luta em busca de estratégias de enfrentamento à violência e para a aplicação de medidas efetivamente socioeducativas, a ativista emocionou ao apresentar os retrocessos pelos quais estado e cidade do Rio  de Janeiro vêm passando, principalmente nesse último ano. Destacou as lutas comuns, o que une os movimentos sociais nas mais distintas comunidades do Rio de Janeiro, como o racismo explícito e estrutural. ” O Moleque busca estar em todos os locais e de todas as formas onde a informação e o debate a respeito do jovem em conflito com a lei e o sistema sócio-educativo possam contribuir para a transformação desta realidade. Busca-se promover a formação dos familiares, para que outros pais e mães, através de cursos de capacitação e oficinas, possam se engajar ainda mais nessa luta”. A luta e atuação direta do movimento é contra a redução da maioridade penal, contra a revista vexatória nas visitas de familiares e a favor dos direitos humanos e dos direitos dos adolescentes infratores e de seus familiares.

    Os organizações parcerias do Asuntos del Sur, Instituto de Governo Aberto (IGA) e Cidadania Inteligente, estiveram presentes no evento. Vanessa Meneguetti e Laila Bellix, coordenadoras do IGA, apresentaram suas trajetórias e atuação junto às Prefeituras das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro e ações ao Governo Federal. Ana Carolina Lourenço e Maria Luisa Freire, do Cidadania Inteligente, deram suporte às discussões que perpassam esta organização que atua há mais de 10 anos em 14 países da América Latina.

    “Estratégias Políticas Inovadoras e a situação do Rio de Janeiro“, que ocorreu no dia 30 de outubro, no auditório do Corecon, na cidade do Rio de Janeiro, foi um dos dois eventos abertos que compuseram a Jornada da Certificação em Inovação Política. Esta, proposta como forma de reunir os bolsistas e participantes da formação em Inovação Política com os tutores e facilitadores das equipes de Asuntos del Sur e da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco. O outro encontro ocorreu em São Paulo, no dia 02 de novembro.

           
  • Luiza Erundina: “O sonho é um negócio muito forte”

    Luiza Erundina: “O sonho é um negócio muito forte”

    Luiza Erundina: “O sonho é
    um negócio muito forte”

    Luíza Erundina de Sousa tornou-se personagem de destaque na vida pública brasileira ao ser a primeira mulher a assumir a prefeitura de São Paulo, em 1988. A passagem pela administração provocou uma reviravolta na ideia de como a esquerda deve governar. “A gente não assumiu para aceitar os limites vigentes; fomos lá para inverter prioridades”, relata Erundina numa tarde chuvosa de agosto, em seu escritório na zona sul paulistana.

    Sua gestão foi marcada por enfrentamentos com a grande imprensa e com os grandes interesses na cidade. “Sobrevivemos por contar com sólido apoio popular”, completa.

    Luíza Erundina está na política há mais de seis décadas. Assumiu o primeiro cargo público aos 24 anos, no impulso de uma militância com a Igreja católica. Era a diretora de Educação e Cultura da Prefeitura Mu-nicipal de Campina Grande. De lá para cá, não parou mais. Filiada ao PSOL desde 2016, essa paraibana de Uiraúna cumpre o sexto mandato como deputada federal com dedicação admirável. “Eu não me casei, não tenho marido, não tenho filho, não tenho nada. Eu me doei para a política. E por quê? Porque acredito na história!”, enfatiza.

    O melhor, em se tratando de Luíza Erundina, é deixar que fale por si mesma.

    Por Gilberto Maringoni, Francisvaldo Mendes, Bernadete Menezes, Mario Augusto de Azeredo

    Como a senhora ver a situação atual?
    Com muita preocupação e ao mesmo tempo indignação. Bolsonaro não reúne condições mínimas necessárias, nem do ponto de vista da capacidade política, nem no que tange a qualidades pessoais exigidas para o exercício do cargo de presidente da República. E o mais grave é que ele não tem o menor compromisso com a democracia. Não há nada que nos faça esperar de Bolsonaro alguma coisa, além do vazio de ideias, o que, aliás, foi marca registrada durante a campanha eleitoral.

    A agenda do país está marcada por denúncias de escândalos que envolveriam os filhos e integrantes do governo. O governo Bolsonaro conspira contra o interesse da sociedade ao produzir um sem-número de crises, enquanto milhões de brasileiras e brasileiros não têm a garantia dos direitos fundamentais, como o direito ao trabalho, por exemplo. Enquanto a sociedade é distraída com postagens no Twitter da família presidencial, aos poucos vai se sedimentando, sem grandes contestações, ideias de extrema direita que inspiram um projeto de poder que tenta se impor pelo medo, pela violência e pela intimidação. Além disso, temos uma administração obcecada por estabelecer o controle moral das pessoas, enfraquecer os mecanismos de luta social, alienar o patrimônio público e as riquezas nacionais, reduzir os gastos sociais, desarticular os órgãos e ações de proteção ambiental e fragilizar ainda mais as minorias sociais, como indígenas, quilombolas, mulheres, negros e homossexuais. Jair Bolsonaro tornou-se o demolidor de tudo aquilo que o povo brasileiro construiu ao longo da história. Não vai deixar pedra sobre pedra, se não reagirmos rápido e à altura para defendermos o patrimônio público.


    A primeira prefeita de São Paulo

    Luíza Erundina de Sousa, 84, é uma das mais emblemáticas personalidades públicas do PSOL. Sua trajetória mescla-se com as lutas sociais e políticas brasileiras, desde 1958. Sétima dos dez filhos do artesão de selas e arreios de couro, Antônio Evangelista de Sousa e de Enedina de Sousa Carvalho, Erundina começou a trabalhar ainda criança, vendendo bolos e doces produzidos pela mãe.

    A vida militante começou na prefeitura de Campina Grande, onde foi Secretária Municipal de Educação e Cultura, em fins dos anos 1950, atuando mais tarde com as Ligas Camponesas, de Francisco Julião. Opôs-se claramente ao golpe de 1964.

    Formada em Serviço Social pela Universidade Federal da Paraíba, mudou-se para São Paulo em 1971. Na cidade, trabalhou na Secretaria de Bem-estar Social da prefeitura, com migrantes nordestinos da periferia. Logo, vinculou-se a movimentos por moradia, tornando-se liderança destacada.
    Erundina foi fundadora do PT, em 1980. Elegeu-se vereadora dois anos depois e deputada estadual em 1986. O ponto alto da vida política se deu entre 1989-93, quando conquistou a prefeitura de São Paulo. Seria ainda ministra da Administração Federal, por poucos meses, em 1993 (governo Itamar Franco).

    Em 1997 deixaria o PT, vinculando-se ao PSB, pelo qual se elegeu deputada federal em 1998. Em 2016 trocaria a legenda pelo PSOL.


    Qual sua avaliação sobre a economia?
    Em relação às perspectivas de crescimento econômico, o futuro do país parece fadado ao fracasso total. O índice de desemprego atinge mais de 13 milhões de pessoas e o subemprego já é o maior desde que teve início a série histórica, em 2012. Isso significa que 1 em cada 4 brasileiros aptos a trabalhar está fora do mercado de trabalho. A reação de Bolsonaro a esse quadro alarmante foi debochar e desacreditar as informações do IBGE, dizendo que “a metodologia de cálculo da taxa de desemprego no País não mede a realidade”. Há claros sinais de que o governo Bolsonaro pretende avançar na agenda de redução do custo do trabalho que se dará, não só pelo achatamento dos salários, mas também por meio da desregulamentação do mercado de trabalho.

    Em um discurso na USP, no ano passado, a senhora disse ter vivido a ditadura do Getúlio, na infância, e, já na vida adulta, conheceu a ditadura de 1964. A situação atual se compara a qual delas? É possível fazer essa comparação?
    Não, acho que não. As coisas aconteceram de uma fase histórica para outra sem que houvesse ruptura alguma. Não há rupturas. As classes dominantes se acertam e resolvem as diferenças. Isso vale para a época da libertação dos escravos, a mudança da República, Getúlio Vargas, a ditadura de 1964 etc. Veja o governo Lula. O ministério dele era dos que detinham o poder na ditadura. É muito triste. A gente perde um pouco a perspectiva de mudança no nosso tempo, embora considere que o projeto que nos inspira é o sonho maior de uma sociedade verdadeiramente democrática, civilizada, igualitária, justa, com um nível de relação em que a natureza humana seja a referência principal como elemento de igualdade, de dignidade e de direitos.

    Bolsonaro não reúne condições mínimas necessárias para o exercício do cargo de presidente da República. E o mais grave é que ele não tem o menor compromisso com a democracia. Não há nada que nos faça esperar de Bolsonaro alguma coisa, além do vazio de ideias

    A situação atual é desafiadora por termos um governo aparentemente sem lógica. Há um projeto ultraliberal e um moralismo ideológico de extrema direita. Ele perde apoio social aceleradamente, mas segue forte. Como se explica o fato de um deputado apagado e conhecido apenas por ideias extremistas chegar à presidência da República?
    A realidade maior é muito anterior a ele. Desde 2013, a meu ver, a jornada daquele movimento de massa com mais de um milhão de pessoas na rua durante o mês inteiro já era uma sinalização de que estava havendo uma virada da realidade política, da realidade social, e da realidade na dimensão plural. E isso estava gestando um governo e um presidente com as características dele.

    Na sua opinião, não houve uma frustração em relação à segunda eleição da ex-presidenta Dilma, em que ela prometera emprego e desenvolvimento e ao assumir o governo, aplica um programa ultraliberal? Essa frustração não criou uma aversão à política e abriu espaço para um candidato como Bolsonaro?
    É verdade. Mas o que mais pegou para chegar a esse resultado é a questão moral, a da corrupção. O que mais frustrou, no meu ponto de vista, foi a ideia da maioria de que qualquer um podia roubar, menos o PT. Acho que a questão moral tem um apelo muito forte nas camadas populares. Começou com o mensalão, em que ficou evidente que o PT pôs a mão.

    Por que o PT não podia ser corrupto?
    Pelo critério de que alguém de esquerda não poderia não ser ético e honesto. Esse é um valor popular importante, forte, embora, para nós, não seja o principal – a corrupção é efeito, não é causa. E, para o povo brasileiro, a questão da ética é muito importante. O PT é um pouco udenista nesse sentido. A origem cristã do PT, nas comunidades eclesiais de base, a força da igreja, a Teologia da Libertação… Muitos de nós vínhamos de lá. Portanto, têm uma marca importante na nossa cultura, na nossa origem, esses valores cristãos. Alguns são bons, outros nem tanto, mas, sem dúvidas, na questão da honestidade, não roubar, não tirar do pobre, não tirar do público é um valor fundamental.

    A primeira Constituição republicana, de 1891, estabelece o Estado laico. Nós estamos regredindo quase 130 anos nesse aspecto. Como a senhora ver o peso que as igrejas pentecostais passaram a ter na política?
    Vamos pegar a história do Brasil, sobretudo, considerando a minha origem de classe. A religião foi sempre forte na política. O coronelismo, o poder, a disputa pelo poder, a conquista do poder e o exercício dele tinham como sustentação a religião. E era a religião católica, não a protestante. É verdade que, com as transformações da Teologia da Libertação e a renovação de certo setor da igreja, as coisas não se davam nos termos em que aconteciam tradicionalmente lá no nordeste.

    Mas por que agora temos os evangélicos? Primeiro, o fenômeno dos evangélicos floresce nas camadas mais pobres, mais desassistidas, menos informadas, com menos acesso à educação. Além disso, eles têm uma metodologia e uma pedagogia muito forte. Atraem as pessoas e as reconhecem, criando um ambiente de elevação da autoestima. Aprende-se a ler a bíblia, a usar a bíblia. Há a música, o canto e a promessa da prosperidade. Se você faz isso para Deus, você vai ser próspero. O projeto político dos evangélicos começou a partir do momento em que eles buscaram eleger um vereador. Tal vereador neste ano, no próximo mais tantos e no próximo um deputado. Eles têm um projeto de poder que foi se construindo ao longo do tempo de forma consolidada, consistente, planejada e hoje tem um cara deles dirigindo o país. É um projeto de poder.

    O índice de desemprego atinge mais de 13 milhões de pessoas e o subemprego já é o maior desde que teve início a série histórica, em 2012. Isso significa que 1 em cada 4 brasileiros aptos a trabalhar está fora do mercado de trabalho. A reação de Bolsonaro a esse quadro alarmante foi debochar e desacreditar as informações do IBGE

    Em 1930, houve um golpe e uma mudança de regime. Em 1964, também houve golpe e uma mudança de regime. Em 2016, houve golpe, mas não uma mudança. Tivemos a eleição de um presidente de extrema direita, mas sem mudança de regime. Formalmente, estamos em um regime constitucional. Não é uma anomalia estarmos em uma democracia que não é uma democracia?

    Nunca tivemos democracia plena. A democracia representativa se exercita até num período como o de agora, mas a democracia participativa, direta, sem a qual não há soberania popular, não. O artigo 14 da Constituição, que estabelece os mecanismos de democracia direta e participativa, nunca foi regulamentado devidamente.

    O governo Lula era a grande esperança de alargar essa democracia. Como a senhora avalia o período de 2003 a 2016?
    O projeto de Lula para presidente da República foi, a meu ver, muito pessoal. Era o PT disputando para o Lula ser presidente sem um compromisso mais concreto, mais público e mais assumido de que seria outro projeto. A preocupação era de que, elegendo o Lula, se teria completado o projeto do PT. Tanto é que as sucessivas eleições – Lula na segunda vez e Dilma na primeira e segunda vezes -, nunca foram realizadas a partir de uma avaliação de que os governos teriam que completar seu projeto, que se supunha ser aquele que deu origem ao PT. Aquele era o projeto de se promoverem as reformas. O PT não fez nenhuma reforma estrutural importante. Nenhuma. A estrutura de poder do Estado brasileiro e as relações com a sociedade civil não se alteraram essencialmente. Portanto, foi um governo progressista, popular, mais aberto ao diálogo, mas não um diálogo que atentasse para a soberania do interlocutor. A grande dívida histórica que o governo do PT deixou para a democracia brasileira é que desperdiçaram toda a popularidade, o prestígio e toda a força política que o partido tinha para promover as reformas pelas quais existia, ou existe, o PT.

    A senhora não acha que houve uma melhoria do padrão de vida ao longo dos governos petistas?
    Isso aconteceu diante de uma conjuntura internacional que favoreceu muito o Brasil. Mas distribuição de renda real nunca foi feita. O que se fez foi transferência de renda. O Bolsa Família e esses programas todos são políticas compensatórias. Você mandou para o Bolsa Família bilhões e bilhões durante vários anos e isso, de uma certa forma, dinamizou a economia local, o poder local. Mas tanto não emancipou esses setores que, logo que esse programa foi reduzido no peso e na importância, as pessoas voltaram a uma situação até pior. Não se mexeu na estrutura tributária e se fizeram reformas regressivas da Previdência.

    Por que a Dilma foi derrubada e o Lula foi preso, se eram governos que, segundo a senhora, não realizaram reformas progressistas?
    Porque era um governo de conciliação de classes. O próprio Lula costumava dizer que quem mais ganhou no governo dele foram os pobres e os banqueiros. Ele não mexeu muito nos interesses da classe dominante. Acontece que isso tem limites. Os banqueiros não poderiam continuar ganhando tanto e, ao mesmo tempo, os pobres serem atendidos naquilo que é básico e fundamental. Portanto, houve um tempo, até pela crise econômica, que fez com que esse modelo já não pudesse mais oferecer aquilo que prometia e que, de uma certa forma, atendia aos interesses daqueles cujos interesses sempre foram garantidos.

    O projeto político dos evangélicos começou a partir do momento em que eles buscaram eleger um vereador. Tal vereador neste ano, no próximo mais tantos e no próximo um deputado. Eles têm um projeto de poder que foi se construindo ao longo do tempo de forma consistente

    Tivemos 13 anos de governos do PT e a sociedade parece ter se despolitizado. Isso aconteceu? Não lhe parece contraditório?
    Sim, despolitizada. A gente tinha secretaria para tudo no PT. E eles impulsionavam a disputa na sociedade. Por exemplo, a política da educação. Tinha um setor do partido que elaborava a política da educação, e a militância ligada à educação militava no movimento de educação, interagindo dos dois lados. A política de educação que o partido elaborava por meio daquele coletivo era alimentada pela militância que, por sua vez, também se alimentava disso para levar posições aos movimentos. Ela influenciava o movimento politicamente, teoricamente, conceitualmente.
    Portanto, havia uma imersão real, porque a gente veio de lá. A gente não foi para lá depois que teve o PT. A gente estava lá antes do PT. Então, nossa origem no movimento, na luta concreta, de uma certa forma, contribuiu para o PT ser aquilo que ele era no início.

    O PT a atacou em duas oportunidades, pelo menos. Na primeira, quando a senhora foi para o governo Itamar, em 1994. Na outra, quando foi candidata à Prefeitura de São Paulo, em 2004, quando o vice era Michel Temer. O que acha dessas críticas?
    Em relação ao Itamar Franco, a participação do PT foi determinante para derrubar o Collor. Por que o PT se recusou a ajudar o governo Itamar? Ele não tinha tanta legitimidade, não tinha partido nem condição pessoal que pudesse dar uma estabilidade para garantir que a outra eleição pudesse ocorrer. Havia um risco grande de instabilidade. Por que o PT não foi ajudar? Por um cálculo eleitoreiro. “Nós derrubamos o Collor. O Lula perdeu para o Collor. Na próxima, será o Lula”. Só que faltavam mais de dois anos. O PT deveria ter tido a responsabilidade de ajudar o governo e o país, mas não fez assim. Era um momento delicado da vida nacional e pensaram que se fossem ajudar o Itamar isso poderia comprometer a eleição do Lula.

    Hoje a senhora reafirma essa posição?
    Não tenha a menor dúvida. Eu estava saindo da Prefeitura de São Paulo com uma equipe excepcional. Apesar das dificuldades e da oposição do governo do estado, começando com o Quércia [1987-91] e depois com o Fleury [1991-95], do governo federal, com Sarney [1985-91] e Collor [1990-92], e da Câmara Municipal durante os quatro anos de minha gestão, além do Tribunal de Contas, acho que nós acertamos muito mais do que erramos. Aprendi muito e saí com outro entendimento político, de ação política, e tinha a compreensão de que, inclusive, nosso governo havia participado da luta pelo impeachment do Collor.

    Em determinada ocasião, a senhora convocou a militância e os movimentos sociais para se concentrarem na Câmara Municipal, algo que nenhum outro governo do PT fez. Como foi esse episódio?
    A Câmara queria cassar o mandato porque o Tribunal de Contas recomendou rejeição das minhas contas. Até ali, o Tribunal tinha mais de 30 anos e nunca havia rejeitado conta de prefeito algum. Nós éramos minoritários na Câmara Municipal. Aí tentaram cassar meu mandato.

    Essa experiência de estar no Executivo, sofrer uma ameaça, convocar o movimento social para defender a administração nunca se repetiu do lado do PT. Por quê?
    Isso aconteceu a todo momento no nosso governo. Por que nós sobrevivemos com minoria durante quatro anos na Câmara? Por que nós sobrevivemos a um Tribunal de Contas que era um instrumento político contra o nosso governo? Por que nós sobrevivemos ao Partido dos Trabalhadores contra o nosso governo? Todo mês, a direção municipal se reunia, fazia o balanço do governo e punha na imprensa antes de falar com a prefeita, que era do partido. Só existe uma explicação para ter sobrevivido durante todo esse tempo. Foi o apoio popular real, e sem aparelhamento de movimento algum. Nós não trouxemos nenhuma liderança para o governo pelo simples fato de ser liderança de um movimento.

    A proposta de Lula para a presidência da República foi, a meu ver, muito pessoal. Era o PT disputando para o Lula ser chefe do Executivo sem um compromisso mais concreto, mais público e mais assumido de que seria outro projeto de país

    E outra coisa: essa prática de chamar o apoio popular não se fez apenas naquele momento, naquela situação com a Câmara. Quando entrei, os governos federal e estadual fecharam as torneiras de financiamentos. Na época, havia o Banespa, que arrecadava alguns tributos do município. E havia dívidas que a prefeitura tinha com o Banco do Brasil e com a Caixa Econômica. Eles fecharam a torneira enquanto não pagássemos dívidas de governos passados, que eles nunca cobraram! O presidente da Caixa não quis me receber. Eu coloquei, na frente da Câmara Municipal, um caminhão, e fui para cima dele com os movimentos. Naquele tempo, não tinha internet, mas o presidente da Caixa Econômica me mandou um telegrama, me chamando para conversar. Até ali ele não aceitava a audiência comigo, para eu poder colocar a situação da prefeitura. Eles iam inviabilizar o governo desde o primeiro momento.

    A senhora não aceitou os limites daquela institucionalidade vigente?
    A gente não foi lá para aceitar. A gente foi com uma proposta que se caracterizava por dois eixos. Primeiro, fazer um governo com inversão de prioridades: governar para a maioria e, ao mesmo tempo, cuidar da cidade, daquilo que é importante para manter a cidade com condições de vida para todo mundo. Porém, no investimento público, a meta era priorizar a periferia e as políticas sociais. Isso nós cumprimos do primeiro ao último dia. O chamado orçamento participativo era real. E era um orçamento feito regionalmente. A população definia as prioridades e era razoável na compreensão de que não dava para fazer tudo. Eles tinham instrumentos e informações, além de assessoria para acompanhar a execução orçamentária. Portanto, foi uma mudança. Acho que o governo correspondeu à origem, ao partido de esquerda não tanto por ter sido honesto, porque isso é o mínimo, e nem também pelas realizações. Um governo, mesmo que não seja de esquerda, mas que seja inteligente e capaz, pode atender, prioritariamente, a população. O que diferenciou nosso governo foi a mudança de cultura do que é ser governo.

    O PSOL é a única alternativa de esquerda que existe, de fato, no Brasil. Não sei até quando. Não sei se, quando chegar ao poder como o PT chegou, o partido vai mudar. Mas a alternativa atual é o PSOL, com todos os defeitos que tem, com todas as brigas que temos

    Seu secretariado era composto por nomes de peso, como Lúcio Gregori, Marilena Chauí, Ermínia Maricato, Paulo Freire, Amir Khair, Paul Singer, Coronel Silvestre e outros.

    Por isso, lastimo o que não aconteceu no governo Lula. Com Dilma não, porque nunca tive expectativa com ela. Mas os dois governos Lula, com o carisma, a popularidade e a capacidade que tinha com a massa, ele poderia ter feito tudo o que quisesse no primeiro governo. Mas ele conciliou. Nunca mexeu uma vírgula no marco legal das comunicações. Eles criticam a Globo e companhia, mas não fizeram nada. Trabalhei nessa área desde o primeiro mandato.

    E como responder ao ataque relacionado à aliança com Michel Temer?
    Veja, naquele tempo eu estava no PSB – após ter saído do PT – e o presidente do partido era o Miguel Arraes. O Quércia conversou com Arraes. Surgiu daí a negociação para que o Temer abrisse mão se ele ficasse como vice. Foi uma articulação nesse nível. Eu faria da mesma forma.

    A esquerda parece ter retirado do horizonte de reivindicações coisas básicas, brandidas nos anos 1980, como emprego, salário, renda e comida. A esquerda que no governo praticou ajuste fiscal e austeridade não perdeu a sensibilidade às dores do povo?
    Quando foi que o povo realmente protagonizou uma luta social e política real? Foi, primeiro, do lado da Igreja. É ela que organiza, que está junto todo dia lá na paróquia, como acontece hoje nos meios evangélicos. Aí veio junto a Teologia da Libertação e, ao mesmo tempo, o PT organizando politicamente a população. Os núcleos do PT tinham vida real. Eu militei nos núcleos por local de moradia, por categoria profissional. Ali era um núcleo real de vida política. E, ao mesmo tempo, organizava a população na defesa dos direitos sociais, humanos, de cidadania. Os movimentos eram fortes. Começa pelo movimento contra a carestia, depois pelo direito à creche. Era outra luta por posto de saúde, por coleta de lixo na periferia, pela canalização dó córrego que enchia a casa dos pobres de cocô quando havia enchente.

    O PT não fez nenhuma reforma estrutural importante. As engrenagens de poder do Estado brasileiro e suas relações com a sociedade civil não se alteraram. A grande dívida histórica que o governo do PT deixou para a democracia brasileira é que desperdiçaram toda a popularidade, o prestígio e toda a força política que o partido tinha para promover as reformas, que eram sua razão de existir

    Enfim, a ação dos movimentos sociais populares em torno de certas medidas veio com uma organização. A base da Teologia da Libertação, o apelo pela fé, pela religiosidade e, ao mesmo tempo, um partido político nascendo dessa origem, mas trazendo o componente da política numa linha de reconhecimento de direitos, de organizar o povo davam o tom há 30 ou 40 anos. Eu me lembro que, antes do PT e dessa ação completa ligada a esses setores, os movimentos populares não permitiam que se falasse em política. Não permitia se usassem politicamente os movimentos. Em vez de você politizar a luta, era neutralizar a luta sem que tivesse política no meio. Isso foi uma evolução no processo de ajudar a população a se conscientizar sobre a condição de sujeitos de direitos, da força dela quando se organiza. Isso veio muito ligado ao PT, politizando a partir da população pobre se organizando por meio da Igreja progressista. Por isso, tem uma marca forte do PT. Mas o PT tinha uma pluralidade enorme de tendências. Não é só tendência da disputa interna de poder do partido. É de concepção de vida. Tinha os cristãos que estavam lá, os trotskistas que vieram do exílio, os leninistas que também vieram. Enfim, o PT era um amálgama de experiências políticas das mais diversas compreensões, misturado com os que estavam chegando do exílio e os que estavam começando aqui.

    Por que nós sobrevivemos com minoria durante quatro anos na Câmara? Por que nós sobrevivemos a um Tribunal de Contas que era um instrumento político contra o nosso governo? Por que nós sobrevivemos ao Partido dos Trabalhadores contra o nosso governo? Foi por causa do apoio popular real

    O que a move hoje para seguir essa militância de forma tão intensa, com viagens, reuniões e participações em atividades que fogem da rotina?
    Primeiro, a responsabilidade de ter um mandato que não é meu. Eu tenho que dar conta disso. Tenho 84 anos e este é meu último mandato. Eu poderia pensar que, por ser meu último, poderia fazer de qualquer jeito. Eu não me casei, não tenho marido, não tenho filho, não tenho nada. Eu me doei à política, e não na política por ela mesma. E por quê? Porque eu acredito na história! O sonho me alimenta desde que me dei conta, precocemente, das coisas como elas são, de que elas precisam mudar e de que eu preciso contribuir com a mudança. Isso me acompanhou a vida toda, assim como a consciência de que dei a minha vida com muita alegria, com muita felicidade. Não vejo sacrifício algum, faria tudo de novo. Não vou ver as mudanças que almejo no meu tempo de vida. Não sei em qual geração essa transformação vai ocorrer, pois eu penso na perspectiva do tempo da história. A história não se mede só por anos, mas por décadas, séculos, milênios. E o sonho só vai se tornar real, se ele for capaz de sustentar o ânimo da gente, a alegria da gente, a disposição da gente de fazer política para além do nosso tempo.

    Acho que nosso governo em São Paulo correspondeu à sua origem de esquerda não tanto por ter sido honesto, porque isso é o mínimo a ser feito, e nem também pelas realizações. O que diferenciou nosso governo foi a mudança de cultura do que é ser governo no Brasil

    Como a senhora vê o PSOL?
    É a única alternativa de esquerda que existe, de fato, no Brasil. Não sei até quando. Não sei se, quando chegar ao poder, como o PT chegou, o partido não vai mudar. Mas a alternativa atual é o PSOL, com todos os defeitos que tem, com todas as brigas que temos. O sentimento que tenho com nós do PSOL é aquele que eu sentia na origem do PT. A essência, a substância mais forte que faz com que o PSOL seja reconhecido, apesar do tamanho dele e da pouca eficácia da nossa ação, é o sonho. O sonho é um negócio muito forte.

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  • Relatório Observatório da Democracia – Outubro/2019

    Relatório Observatório da Democracia – Outubro/2019

    Relatório Observatório da Democracia – Outubro/2019

    O Observatório da Democracia destaca, neste relatório de outubro, o avanço da desregulamentação da economia e privatização das empresas públicas que estão levando à desestruturação da indústria nacional e aumento da miséria no país. Também alerta para o aumento da escalada autoritária, a partir de medidas na área da educação, comunicação e nas ameaças contra o Estado Democrático de Direito.

    A Fundação Leonel Brizola – Alberto Pasqualini destaca o cenário de ideologização na Educação com o lançamento do Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares e a escalada autoritária e entreguista do governo Bolsonaro. Leia mais

    Ainda sobre os ataques à democracia e à liberdade de expressão, a Fundação Maurício Grabois destacou as ameaças que o presidente Jair Bolsonaro continua fazendo a veículos de comunicação e as declarações criminosas do seu filho, deputado Eduardo Bolsonaro, reivindicado a reedição do Ato Institucional nº 5 para conter mobilizações sociais. Leia mais

    Analisando a relação entre os poderes Executivo e Legislativo, a Fundação da Ordem Social destaca as tensões entre o governo e a bancada do PSL, que rachou o partido do presidente da República e desencadeou uma onda de alterações nas representações partidárias na Câmara, inclusiva a troca da liderança do partido, que passou a ser exercida pelo filho do presidente, Eduardo Bolsonaro. Leia mais

     Na política econômica o governo segue a agenda de redução de gastos públicos e desregulamentação que atacam direitos trabalhistas e sociais. É este o alerta do relatório da Fundação Perseu Abramo, que traz dados sobre o aumento do endividamento das famílias, estagnação da renda e da inadimplência. Aponta para as iniciativa de facilitação da regularização fundiária, redução dos desembolsos do BNDES e o projeto de liberalização cambial. Leia mais

    A política privatista do orienta a agenda econômica do governo Bolsonaro foi analisada pelas Fundação Maurício Grabois e pela Fundação Lauro Campos e Marielle Franco.

    A Fundação Maurício Grabois destacou a 16ª rodada de licitações de blocos exploratórios de petróleo e gás. Dos 36 blocos ofertados, apenas 12 foram arrematados, mostrando as dificuldades de atração de investimentos. O relatório destacou a privatização da Eletrobras, que já vem sofrendo enxugamento e desestruturação, teve o Projeto de Lei para sua privatização encaminhado pelo governo ao Congresso Nacional. Leia mais

    O Plano de Privatizações, que colocou em processo de privatização 22 empresas, anunciado pelo governo federal em setembro foi objeto de análise do relatório da Fundação Lauro Campos Marielle Franco. Destaca que, além das privatizações houve uma queda dos investimentos nas empresas e redução de funcionários. Leia mais

    A Fundação João Mangabeira chama a atenção para os retrocessos nas políticas de Ciência e Tecnologia no país, que passam por um processo acelerado de desmonte. As declarações da possível unificação da Capes com o CNPq gera instabilidade para todo o campo de pesquisa nacional e aponta para um cenário de desfinanciamento do setor que pode ser ainda mais grave. Leia mais

    Índice dos relatórios

    Fundação João Mangabeira – Ciência e Tecnologia

    Fundação Lauro Campos e Marielle Franco – Mundo do Trabalho

    Fundação Leonel Brizola-Alberto Pasqualini – Soberania

    Fundação Maurício Grabois – Privatização Democracia

    Fundação da Ordem Social – Relação entre os poderes Executivo e Legislativo

    Fundação Perseu Abramo – Gestão da Política Econômica

  • Escuta-te no lugar de fala?

    Escuta-te no lugar de fala?

    Escuta-te no lugar de fala?

    Por Ceila Santos*

    Sábado, 2 de novembro, feriado dos Mortos. Detalhe: sol na medida para ficar de bobeira com pernas para o ar ou jogar conversa no boteco. É importante destacar este contexto pra dizer que foi, neste dia, que comecei a atender o pedido da Malu, minha filha de 15 anos, que deseja conhecer a política.

    São tantas perguntas, que pulsa a curiosidade dela dentro de mim, que eu tenho despertado a escuta e fechado os olhos. E, foi assim, que cheguei naquela rua arborizada do Campos Elíseos. Feliz por iniciar nossa jornada juntas num encontro, que reunia brasileiras, cariocas e latino-americanas com um objetivo claro: sinergia.

    Eu não tinha aceso em mim que a Fundação Lauro Campos e Marielle Franco era entidade pública do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e viver essa surpresa no decorrer do encontro foi um presente recebido das amizades que o idealismo político me proporcionou.

    É desse lugar de fala que começo a tecer contigo a reflexão que o Encontro Estratégias Políticas Inovadoras para as Eleições de 2020 proporcionou na minha vida, de 45 anos – pisei no palco ativista, pela primeira vez, em 2011, representando o movimento Parto do Princípio, na Conferência das Mulheres. Ou seja, oito aninhos, apenas. É uma infância, sem dúvida. Vivida com muita intensidade. Fui conselheira de Distrito do Conselho Participativo, delegada regional do Fórum das Mulheres e me envolvi com ANEP Brasil como representante da Educação Pré-Natal nos grupos de trabalho da Rede Nossa São Paulo.

    Não recebi o ativismo de herança familiar, escolar ou juvenil. Nasci ativista aos 38. Fui uma das mulheres que tomei consciência do lugar do corpo feminino na sala obstétrica. Antes, eu sabia de muita coisa que devia ser feita sobre as questões de Gênero, mas não fazia. Saber fazer e não fazer é o mesmo que não saber. Ao fazer, aprendi outro ditado: fazer sem poder é doença.

    Falo, hoje, de um lugar que reconhece a importância do saber e do poder pra ser ativista e, deste lugar, eu acredito fielmente em encontros. Ainda mais quando eles trazem o objetivo de reconhecer ações e estratégias
    inovadoras. 

    Ouvir as vozes de Letícia Maria, Aline, Thaís, Jô, Alejandra, Valesca, Vanessa foi escutar e reconhecer o meu processo. Um acalanto perceber suas soluções, desejos, sonhos e ideais na fala das outras, mas também um furacão ao reconhecer as diferenças na forma de expressar e lidar com a sabedoria do poder. Nenhuma delas representa a minha história nem consciência. É dolorido reconhecer isso: nenhuma me representa! Mas
    todas falam com algo que já vivi, ou experimentei. É, por isso, que pergunto: escuta-te no lugar de fala?



    Eu não tenho dúvida da luta pelo lugar da mulher na sociedade e, de tantas outras lutas, que me vinculo pela consciência ou pela história, mas me remoo por dentro quando reconheço a complexidade do lugar de fala quando desejamos uma estratégia que represente o novo, seja a jovem de 15 anos que anseia pela política, a mãe que foi cortada pela violência obstétrica ou as lideranças que movem as dores locais da sua comunidade.

    Quando digo que a voz de quem fala não me representa não significa que não me toca. A fala da Jô Pereira, representante da Ciclocidade, bateu em mim da cabeça aos pés, fez meu corpo vibrar com a autenticidade que ela
    transmite no lugar de mulher, negra e periférica. Me tocou e ainda ressoa, nos meus olhos, bem claro a diferença, daquilo que nos separa: a pele. A cor da pele. Sou branca, filha de brancas, neta de brancas, bisneta de mulato e
    índia.

    Não carrego a visibilidade da luta na minha pele. Ouço a fala de quem legitima meu desejo de justiça e, nesta escuta, sinto-me tão diferente de quem carrega a visibilidade da luta que torno-me quase incapaz de usufruir o direito pela justiça.

    É dessa complexidade que reconheço o caminho do novo. Não se trata de um lugar de fala, apenas. Nem só de escuta. O diálogo da complexidade de quem sonha junto exige uma abertura que vai muito além da representatividade ou pertencimento.

    É um lugar de interesse de pessoa para a pessoa. Um lugar de atenção e respiro. Um lugar de domínio das emoções e das brincadeiras. É um lugar que exige de nós não só lembrar das forças das heroínas latino-americanas, exemplos do Hemisfério Sul – como ensina as mulheres, que apresentaram o Método SISA, uma ferramenta para processos de inovação criativos com enfoque feminista – mas de reconhecer que essas forças devem ser  aplicadas, às vezes, dentro de nós com nós mesmas para nascer fora,
    o novo.

    Pois, naquela tarde de sábado, os desejos foram ditos. Nós sabemos o novo que desejamos: Transparência para abrir o governo, como trouxe Vanessa Meneguetti, do Instituto do Governo Aberto. Co-deputar pra quem já fazia essa função dentro de saraus e no Capão, como sintetizou Fernando Ferrari, da Bancada Ativista, trazendo estatísticas e números para retratar sua trajetória ativista. 

    Ser jovem porque existe um Nós, como contaram Valesca, Pedro, Saulo e Agnes, da Rede Popular de Cursinhos Ubuntu, deixando claro a importância do coletivo e do pertencimento, nesta fase da vida, para seguir em frente na transformação da periferia.

    Sinergia é uma busca. Não é conhecida. Quando me pergunto o que escuto de mim na fala das mulheres que sonham com a equidade de gênero, eu reconheço o desafio e compreendo nossas inabilidades de cuidar de quem cuida, ou deseja cuidar, das dores do mundo, como apresentou Evelyn Gomes neste lindo dia de sábado.

    E compreendo que o diálogo, carrega padrões que perpetuam a inabilidade do saber e do poder, e, por isso, ele é tão árduo, necessário e deve ser o caminho para o futuro.
    Obrigada a todas e todos pelo encontro!

    *Ceila Santos é jornalista, gestora cultural, facilitadora de grupos e de círculos de mulheres.


    O evento Estratégias Políticas Inovadoras para as Eleições de 2020 ocorreu no dia 02 de novembro, na sede da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, em São Paulo.

  • Petrobras: energia em desintegração

    Petrobras: energia em desintegração

    Petrobras: energia em desintegração

    Processo de desinvestimento, venda de refinarias, sistema de distribuição e transportes causam grandes prejuízos à Petrobras e inviabilizam autossuficiência brasileira em petróleo. Governo favorece transnacionais do setor

    Por Raquel Oliveira Sousa

    A Petrobras em sua página oficial da internet se define como uma “empresa integrada de energia que evolui com a sociedade, gera alto valor e tem capacidade técnica única”. Está presente “nos segmentos de exploração e produção, refino, comercialização, transporte, petroquímica, distribuição de derivados, gás natural, energia elétrica, gás-química e biocombustíveis.”.

    O Plano de Desinvestimento da Petrobras tem levado ao desmonte da estatal, com a saída do setor petroquímico, de biocombustíveis, de gás natural, de transporte e, por fim, com a entrega de 60% do parque de refino

    Porém, o Plano de Desinvestimento, em especial após o golpe de 2016, tem levado à desintegração da estatal, com a saída do setor petroquímico, de biocombustíveis, de gás natural, de transporte e, por fim, com a entrega de 60% do parque de refino.

    Essa privatização fatiada está transformando a Petrobras numa empresa desintegrada e que tem por consequência a perda da soberania energética do país.

    Negócios lesivos ao país

    Esse Plano de Desinvestimento, codinome para privatização, sofre de três problemas que o tornam imensamente lesivo ao Brasil:

    a) Todas as vendas estão sendo realizadas sem licitação, por meio de convites com compradores escolhidos a dedo e de forma obscura.

    b) O preço total é vil, o que salta aos olhos pela apreciação de poucos dados como se demonstrará.

    c) Implica sério ataque à soberania nacional ao presentear o capital estrangeiro com o controle de toda a malha de transporte de gás do país, a produção de fertilizantes, 60% do parque de refino, a distribuição de gás de cozinha e de uso industrial, termelétricas, o maior polo integrado de resinas de poliéster das Américas, o Complexo Petroquímico de Suape, e com as imensas reservas de óleo e gás do Pré-sal.

    A premissa do Plano de Desinvestimento é a saída da Petrobras de áreas ditas “não estratégicas”, para levantar recursos a serem utilizados na atividade principal, a extração de petróleo, em especial da área do Pré-Sal.
    Mas a venda do campo de Carcará e das gigantes concessões de Lapa e Iara, todos na bacia de Santos, demonstra que o Plano de Desinvestimento é uma grande fraude e foi urdido contra a própria Petrobras e o Brasil.

    Pré-sal a preço de banana

    Carcará é um dos maiores campos de petróleo do país, considerado uma das joias da coroa do Pré-sal, capaz de gerar enormes lucros. Um total de 66% do campo foi vendido para a norueguesa Equinor por irrisórios U$ 2,5 bilhões. Os outros 34% do campo pertencem a Queiroz Galvão e Barra Energia.

    A privatização fatiada está transformando a Petrobras de uma empresa integrada de energia em uma empresa desintegrada e que tem por consequência a perda da soberania energética do país

    Mesmo considerando a pior estimativa de reservas de Carcará – 700 milhões de barris – o valor que a Equinor pagará é irrisório. Façamos as contas: US$ 2,5 bilhões divididos por 66% de 700 milhões de barris = US$ 5,41 por barril.

    Mesmo considerando a pior estimativa de reservas de Carcará – 700 milhões de barris – o valor que a Equinor pagará por 66% do campo pertencentes a Petrobras (34% do campo pertencia a Queiroz Galvão e Barra Energia) por barril é irrisório.

    Mas a negociata é ainda mais daninha: as reservas de Carcará chegam a dois bilhões de barris, como informa a Federação Brasileira de Geólogos com base em dados da própria Petrobras. Então, cada barril de óleo foi vendido por cerca de U$ 2!

    Ou seja, quatro vezes menos que os U$ 8,51 por barril que a Petrobras pagou ao governo no contrato de concessão onerosa, firmado em setembro de 2010, para explorar e extrair cinco bilhões de barris do Pré-sal.

    Negociata de igual magnitude ocorreu na venda de 35% do Campo de Lapa e de 22,5% da Participação da Petrobras na Concessão de Iara.

    O campo de Lapa é um dos maiores do Brasil, com reservas provadas de 1,6 bilhões de barris de petróleo e 39 bilhões de metros cúbicos de gás.

    A concessão de Iara contém oito campos de petróleo (Berbigão, Norte de Berbigão, Sul de Berbigão, Sururu, Norte de Sururu, Sul de Sururu, Atapu e Oeste de Atapu), com a fabulosa quantidade de 5 bilhões de barris de petróleo de alta qualidade.

    Essa imensa riqueza foi presenteada à empresa francesa Total por irrisórios US$ 2,225 bilhões, e destes, apenas U$ 1,675 bilhão à vista.

    No meio dessa negociata, a Total também foi presenteada com 50% da participação da Petrobras na Termobahia, empresa que controla duas usinas termelétricas:

    a) A moderna usina Celso Furtado, uma planta industrial integrada à refinaria Landulpho Alves, de Mataripe (RLAM), com capacidade nominal instalada de 185,89 MW de energia elétrica e 396 toneladas por hora de vapor.

    b) A moderna usina Rômulo de Almeida, uma planta industrial integrada ao polo petroquímico de Camaçari, com capacidade instalada de 138 MW de energia elétrica e 42 toneladas por hora de vapor, em ciclo combinado.

    Essas vendas ocorreram por meio da nebulosa e tenebrosa “parceria” com a Total, mundialmente consagrada por corrupção de agentes políticos:

    a) Nos EUA, a Total assinou acordo de leniência reconhecendo a prática de suborno e corrupção ativa e pagou multa de US$ 245 Milhões por ter destinado propina a políticos iranianos com o objetivo de obter a concessão de South Pars, o maior campo de gás do mundo.

    b) Na França, a Total foi condenada a pagar multa de US$ 825.000 por corromper funcionários do governo do Iraque.

    c) Na Itália, altos executivos da Total foram presos por subornar políticos italianos, para obter a concessão do campo de petróleo de Basilicata, maior campo de petróleo terrestre da Europa.

    A entrega da NTS e da TAG

    A descoberta do Pré-sal elevou o Brasil à posição de grande produtor mundial de óleo e gás. Isso só foi possível devido a Petrobras.
    A existência da Petrobras como empresa integrada de energia também é requisito essencial para realizar o processo de exploração e produção do Pré-sal de forma de eficiente.

    O discurso governamental de se acabar com o monopólio do transporte de gás natural no país é uma verdadeira falácia, pois apenas transferiu o monopólio da Petrobras para dois grandes grupos privados estrangeiros

    Aqui vale a história do tesouro numa ilha distante e deserta: ele só tem valor se puder ser transportado da ilha para o continente.

    O óleo e gás do Pré-sal são o tesouro. A Nova Transportadora do Sudeste (NTS) é o barco.

    A Petrobras tinha o tesouro e o barco nas mãos. Vendeu o barco e agora depende do barqueiro para escoar toda a produção do Pré-sal das plataformas para o continente.

    A NTS é uma empresa 100% construída com dinheiro público, que controla uma imensa rede de dutos de gás natural, pelos quais o gás produzido nos campos de petróleo de alto mar na bacia de Campos e na bacia de Santos é transportado para o continente e distribuído.

    Os dados publicados no “Manual da Assembleia Geral”, distribuído aos acionistas mostram que:

    Essa rede de dutos está pronta e funcional e opera com lucratividade imensa, que atinge cerca de 85% do faturamento. Ela apresenta as seguintes características:

    a) De 2013 a 2015 o lucro bruto da NTS foi de R$ 8,369 bilhões.

    b) A projeção dos lucros da NTS até 2028 é de R$ 49 bilhões.
    Esse gigantesco patrimônio foi doado pelo valor equivalente a cinco anos do lucro da NTS, ou seja: o feliz comprador pagou cerca de R$ 17 Bilhões e tem lucro garantido de R$ 49 bilhões.

    A isso se soma a catastrófica cláusula “ship-or-pay”: a Petrobras assume o compromisso de pagar um valor mínimo de aluguel pela utilização dos dutos de gás da NTS, mesmo que não utilize toda a quantidade de gás prevista. Dessa cláusula resulta que a Petrobras pagará aos novos donos da NTS o valor anual mínimo de quase R$ 3 bilhões.

    Na prática, a Petrobras fornecerá ao comprador o dinheiro para pagar as próximas parcelas. A venda da NTS representou imenso prejuízo à Petrobras, comprovado pelo Relatório ao Mercado Financeiro (RMF) – do 2º trimestre de 2017.

    O item 6 das informações adicionais do RMF contabiliza os ganhos apurados na venda da NTS.

    No mesmo item 6 do RMF destaca que, por outro lado, houve um aumento de 63% das despesas de vendas em relação ao trimestre anterior e que esse aumento é decorrente de:

    Despesas de vendas de R$ 3.889 milhões 64% superior ao 1T-2017 (R$ 2.390 milhões) devido ao aumento dos gastos logísticos em função do pagamento de tarifas a terceiros pela utilização dos gasodutos, a partir da venda da NTS (R$ 1.010 milhões)

    Vendas irresponsáveis

    Aproximadamente, um sexto do valor recebido pela venda da NTS foi gasto com o aluguel dos próprios gasodutos em apenas um trimestre: todo o valor recebido pela venda da NTS terá sido pago em aluguéis em apenas 18 meses.

    Mesmo ciente dos prejuízos obtidos com a venda da NTS, o governo e a direção da Petrobras resolveram vender outra importantíssima subsidiária a TAG.

    Assim, como a NTS a TAG é uma empresa 100% construída com dinheiro público, que controla uma imensa rede de dutos de gás natural, por dos quais se transporta todo o Gás produzido no Norte e Nordeste do País. Isso representa cerca de 47% da extensão de gasodutos no Brasil e 26% do total de capacidade de transporte de gás natural do país.

    A venda ocorreu nos mesmos moldes da NTS, com a cláusula “ship-or-pay”. A TAG produziu um lucro líquido de R$ 7 bilhões em 2016 e foi vendida para a ENGIE por 33 bilhões de reais, ou seja, por menos de cinco anos de lucro!

    O resultado da venda da NTS e da TAG é que toda a malha de gás do país está hoje sob o controle da Brookfield (um fundo de investimentos estrangeiros) e do grupo francês de energia Engie.

    O discurso governamental de se acabar com o monopólio do transporte de gás natural no país é uma verdadeira falácia, pois apenas transferiu o monopólio da Petrobras para dois grandes grupos privados estrangeiros.

    A falácia do acordo com o CADE

    A Petrobras firmou um termo de compromisso de cessação de prática com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), órgão do Ministério da Justiça que busca fiscalizar, prevenir e apurar abusos do poder econômico. Nesse acordo se obrigou a vender oito refinarias.

    A Petrobras não era obrigada a assinar qualquer termo de compromisso com o CADE, pois não cometeu ou está cometendo qualquer infração à concorrência ou abuso do poder econômico.

    Desde a Emenda Constitucional 09/95, que quebrou o monopólio estatal do petróleo, qualquer ente privado pode atuar na atividade de refino no país, conforme o artigo 53 da Lei do Petróleo.

    A Petrobras detém a quase totalidade das refinarias do país. Desde a quebra do monopólio, praticamente nenhum ente privado quis arcar com os vultuosos custos para a construção de novas refinarias.

    Assim, não cabe ao CADE exigir que a Petrobras presenteie a iniciativa privada com as refinarias construídas com dinheiro público, sob o pretexto de prática abusiva ou monopolista.

    Da mesma forma o CADE não pode exigir que a Petrobras efetue vendas sem licitação. Mas é isso exatamente o que consta do tal termo de compromisso: que a venda das refinarias seguirá a inconstitucional sistemática de desinvestimentos e o inconstitucional Decreto nº 9.188/17, burlando as regras da Lei das Estatais (Lei nº 13.303/16) pela qual qualquer venda de ativos deve obrigatoriamente ser feita por licitação.

    Para burlar a lei e vender as refinarias sem licitação, a Petrobras:

    a) Criará uma empresa e para ela transferir os ativos (refinarias, terminais e o conjunto de oleodutos que interligam a refinaria e os terminais).

    b) Em seguida alienará 100% da participação na empresa criada, buscando se beneficiar da decisão proferida pelo STF na ADI 5624, de que para alienação de controle acionário, não se exige licitação, mas apenas procedimento concorrencial.

    Ora, a Lei nº 9478/97 (Lei do Petróleo) autorizou a Petrobras a constituir empresas subsidiárias, apenas e tão somente para o “estrito cumprimento de atividades de seu objeto social que integrem a indústria do petróleo.” (Art. 64)

    Então é inconteste o desvio de finalidade, que “se verifica quando o agente pratica o ato visando a fim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência.” (Artigo, 2º, “e”, da Lei 4717/65)

    Tentativa de recolonização

    A Petrobras cumpriu papel fundamental para garantir a soberania energética do país.

    Realizou altos investimentos no descobrimento e possui a tecnologia necessária para a exploração de novas e imensas reservas de óleo e gás no Pré-sal e em águas ultraprofundas, levando o país à autossuficiência na produção de petróleo.

    A Petrobras detém a quase totalidade das refinarias do país. Desde a quebra do monopólio, praticamente nenhum ente privado quis arcar com os vultuosos custos para a construção de novas refinarias

    Também investiu, de forma insuficiente é verdade, na construção de refinarias para garantir que o país não ficasse totalmente dependente das empresas estrangeiras para obter combustíveis (gasolina, diesel) e derivados.

    Também fez altos investimentos na obtenção de formas alternativas de geração de energia com a construção de termelétricas, de unidades industriais para a produção de biodiesel.

    Como empresa integrada de energia, também promoveu o aproveitamento eficiente de toda a matéria prima na indústria petroquímica e de fertilizantes, bem como construindo uma imensa infraestrutura para aproveitamento de circulação de matéria prima e produtos finais.

    Em resumo, teve papel fundamental no processo de industrialização do país ao fornecer energia e matéria-prima para os mais diversos setores da indústria.

    Por óbvio o processo de desintegração da Petrobras, tem o efeito reverso: a perda da soberania energética e do processo de industrialização, vez que deixa nas mãos do capital internacional a decisão sobre o que o país irá produzir, o quanto dessa produção será voltada para o mercado interno e, consequentemente, o que o país será obrigado a importar.

    No caso das refinarias, por exemplo, vem sendo implementada uma política de sucateamento e redução da capacidade de refino para obrigar o país a importar cada vez mais combustível e derivados a preços regulados pelo mercado internacional, cujo resultado é o preço exorbitante nas bombas.

    A venda das refinarias vai aumentar ainda mais a nossa dependência das importações. Já se perguntaram por que Esso, Shell e outras, nunca quiseram construir uma refinaria no Brasil?

    Barrar o processo de privatização da Petrobras é essencial para que o Brasil possa gerar emprego e renda e garantir combustível e gás de cozinha a preços baixos aos trabalhadores

    A resposta é simples: elas lucram muito mais explorando e extraindo petróleo bruto do país, refinando esse óleo nos países de origem e depois exportando os produtos para cá.

    É a mesma lógica do Brasil colônia em pleno século XXI: exporta-se matéria prima e importa-se produto manufaturado.

    Barrar o processo de privatização da Petrobras é essencial para que o Brasil possa gerar emprego e renda e garantir combustível e gás de cozinha a preços baixos aos trabalhadores.

    *Raquel Sousa é historiadora formada pela Unesp e advogada do movimento sindical, em especial da categoria petroleira, na qual atua há 12 anos.

    BAIXE AQUI A REVISTA N.26 COMPLETA

  • Luiz Gê, Tio Hô e um  bang-bang inesquecível

    Luiz Gê, Tio Hô e um bang-bang inesquecível

    Luiz Gê, Tio Hô e um
    bang-bang inesquecível

    Página de um dos maiores quadrinhistas brasileiros marca 50 anos da morte do comandante da Revolução Vietnamita

    Da Redação

    Luiz Geraldo Ferrari Martins, 68, é um dos melhores quadrinhistas brasileiros de todos os tempos. Transita por linguagens visuais variadas com o vigor de um ginasta olímpico. Luiz Gê é formado em arquitetura pela FAU-USP. Rodou pelo que há de melhor na imprensa brasileira e publicou em algumas das principais revistas de quadrinhos do mundo.

    Gê lançou em livro duas coletâneas de histórias curtas, Quadrinhos em fúria (1984) e Território de bravos (1993). Seu clímax estético foi atingido em Fragmentos completos (1992), novela visual de 80 páginas sobre os cem anos da avenida Paulista (lançada em livro há sete anos).

    Os quadrinhos da página seguinte são uma homenagem a um dos maiores gênios políticos-militares da História. Trata-se de Nguyễn Sinh Cung, aliás Ho Chi Min (1890-1969). Comandando por décadas um partido e uma frente revolucionários, ele provou ser possível um país miserável impor uma derrota humilhante à maior potência planetária. Tio Ho, como é carinhosamente chamado por gerações de insurgentes, nos deixou há exatos 50 anos, em 2 de setembro de 1969. A vitória do Vietnã estava em sua reta final.

    Luiz Gê desenhou a página em 1976, logo após a comemoração do bicentenário da independência dos Estados Unidos. Para juntar tudo, Gê recorre ao sucesso de Roberto Carlos, “História de um homem mau” (1965), versão livre de “Ol’ man mose”, de Louis Armstrong. Na página seguinte, Luiz Gê, voz, guitarra e pena certeira!

    Acima e no pé da página, quadrinhos de “Fragmentos completos”, história sobre os 100 anos da avenida Paulista, publicada em 1992 e lançada em livro em 2012

    À esquerda, abertura de “Tubarões voadores” (1984), quadrinho que virou música de Arrigo Barnabé. Acima, “Ano Santo, Ano da Mulher”, de 1975


    Tio Hô e um bang-bang inesquecível