Autor: Redação Lauro Campos

  • Edital de seleção de artistas – exposição Nova Arte-Política

    Edital de seleção de artistas – exposição Nova Arte-Política

     

    SOLAR CULTURAL da Fundação Lauro Campos

     

     

    ‘A Nova arte-política’

     

    Edital de seleção de obras SOLAR CULTURAL FLC.001/2017

     

    A Fundação Lauro Campos (FLC) torna público processo seletivo de obras/ações/proposições para integrar exposição de arte no espaço da sede da FLC, SP, nos termos deste edital:

     

    DO OBJETO

     

    Esta ação do projeto SOLAR CULTURAL almeja estimular a interação, a reflexão e novas práticas que tenham como motor a relação entre a arte e a política, e produzir contribuições estético-reflexivas e políticas a partir do ponto de vista do trabalho e do trabalhador criativo, frente aos ataques orquestrados por grupos e seus representantes – partidos, empresas, mídias e estrutura jurídico-policial – contra seus direitos, a partir do cenário projetado de crise na contemporaneidade.

     

    Este edital deseja coletar expressões visuais-imagéticas, conceituais, e simbólicas do cenário projetado de crise, e formular respostas para constituir o que desejamos designar “a nova arte política”, que seja coerente com a luta dos trabalhadores, pensando seus aspectos socioeconômicos, políticos, sociais, de desconstrução da representação e da luta direta dos que se encontram em condição de opressão: trabalhadores, negrxs, mulheres, homossexuais, transgêneros. Assim, o que queremos estimular é a reflexão e a criação de obras/ações/proposições, das quais o conteúdo e fundamentalmente a forma criativa comuniquem e se insiram no debate e na disputa de poder contemporânea, ampliando percepções e entendimentos do complexo processo social hoje, permeado por comportamentos de barbárie, de violência simbólica e real, de intolerância, e de danos aos direitos fundamentais de proteção e de promoção social. Contribuir, em última instância, para a edificação de resistências e contra-narrativas no combate contemporâneo, o que quer dizer, narrativas contra forças conservadoras da condição de desigualdade.

     

    Narrativas como as que sustentam vivenciarmos uma “profunda crise” são estimuladas e incentivadas diariamente pelos grandes meios de comunicação, a fim de justificar toda sorte de políticas de “austeridade”, de sabor neoliberal, para gerar pânico, medo e facilitar junto às pessoas a cessão de direitos, na perspectiva de um suposto ‘mal necessário’ ou um caminho inevitável para organizar a desordem legada ou a anomalia sistemicamente projetada pela ‘ordem e o progresso’.

     

    Na crise é difícil falar; a crise afeta nossas individualidades e nossa dicção. É como um lugar do descontrole onde não se pode etiquetar um nome e em que a sensação de mal-estar é dramaticamente colocada no âmbito coletivo, mas também no individual. Por isso reprojetar a relação intrínseca entre cultura e política é urgente, contra a falsa separação conservadora que insiste em reafirmar uma possível divisão entre essas esferas. Trata-se de entender e mostrar que toda manifestação cultural é política e toda manifestação política é cultural.

     

    Assim convocamos aos trabalhadorxs das artes e da cultura a propor novas formas e conceitos que reativem essa relação pulsante, muitas vezes esvaziada pelo sistema econômico e político das artes. Convidamos todxs a buscar conosco novas brechas, novos caminhos, novas formas de atuação e reflexão sobre a condição contemporânea opressiva, de resistência e de defesa de nossos direitos.

     

    A Fundação Lauro Campos é uma organização de pesquisas e estudos ligada ao Partido Socialismo e Liberdade, e tem uma relação direta com um programa de transformação social, com a construção do socialismo e com a democracia. Nesse sentido, as artes, a cultura e a reflexão estética são métodos para educação política e também para ampliar a compreensão do papel que a cultura tem para qualificar a prática política (ou mesmo para a compreensão da realidade social).

     

    A exposição, objetivo deste edital, se dará como um acontecimento no espaço/tempo onde será reunido na casa da Fundação Lauro Campos obras compreendidas como objetos e artefatos de “contra-poder”, e não como mercadorias fetichizadas comuns do sistema das artes. E se constituirá, fundamentalmente, como ponto de encontro, aparelho de resistência, trincheira de luta, aonde ações e proposições novas e inéditas serão agrupadas, explicadas e, principalmente, lançadas à sociedade.

     

    DA INSCRIÇÃO

    • A abertura do chamado se fará simultaneamente à abertura do projeto SOLAR CULTURAL da FLC no dia 7 de abril de 2017, 19h, e deve ficar aberta até início de junho de 2017 no site da instituição (ver cronograma)
    • As inscrições são gratuitas
    • As inscrições serão realizadas exclusivamente por meio da ficha eletrônica (passo 1). A ficha eletrônica deverá ser preenchida e submetida virtualmente, e está disponível no link https://goo.gl/forms/OOiOYrbRt7XzxNmj2
    • Podem se inscrever trabalhadores da cultura, artistas, coletivos do campo das artes visuais e afins em todo o território nacional
    • Poderão se inscrever pessoas de qualquer nacionalidade
    • Não poderão se inscrever proponentes diretamente ligados à Fundação Lauro Campos (diretores, funcionários, contratados)
    • Dúvidas podem ser enviadas para o e-mail ocupaflccultura@gmail.com

     

    DA DOCUMENTAÇÃO COMPLEMENTAR À INSCRIÇÃO

    Após preenchimento do formulário de inscrição on-line, o artista deverá enviar a seguinte documentação complementar (passo 2) para o endereço de e-mail ocupaflccultura@gmail.com

     

    A documentação deve ser enviada em um único e-mail. E-mails extras não serão considerados.

     

    • Fotos/imagens coloridas e em boa resolução (formatos jpeg e png) de ATÉ 10 obras de autoria do artista a serem submetidas para avaliação da curadoria. Estas obras devem estar disponíveis para exposição caso e quantas sejam selecionadas, e não poderão ser substituídas
    • Em caso de obras tridimensionais (objeto, escultura, instalação, novas mídias, etc.) é imprescindível apresentação de projeto expográfico (instruções quanto à organização espacial e gráfica no espaço expositivo);
    • Se fotos de trabalhos experimentais (que utilizem suportes, ações e materiais não usuais) deverão vir acompanhadas de ilustrações, esquemas e texto explicativo;
    • Se arquivos de audiovisual, deve ser enviado um link de acesso à obra on-line (youtube ou vimeo)

    Observação importante: As fotos devem estar numeradas e devem ser acompanhadas por uma lista das obras especificando “nome artístico”, título e data da obra, técnica utilizada e dimensões. Imagens das obras sem dados de identificação não serão selecionadas.

     

    DOS PRAZOS E CRONOGRAMA

    Etapa período
    Apresentação oficial do edital 7 de abril – 19h – na FLC
    Inscrição De 07.04. 2017, a partir das 19h, até dia 04.06.2017 até às 12:00 pm
    Resultado da avaliação de curadoria no site da FLC 12.06.2017 10:00 am
    Entrega física das obras pelos artistas para montagem De 13 a 17 .06.2017

    Das 13h às 18h na FLC
    OBS importante: Data limite de chegada física das obras enviadas por transportadora ou correios é 28.06.2017

    Abertura da exposição 30.06.2017 19h
    Período de visitação (ver programação de atividades no site) 01.07.2017 a 22.07.2017
    das 10 am às 6 pm
    Retirada das obras pelos artistas De 24 a 28 .07.2017

    Das 13h às 18h na FLC
    Inclusive das obras enviadas por transportadora

    Encerramento da consulta ao público de premiado I 20.07.2017 * 6 pm
    Anúncio presencial dos premiados e encerramento da exposição na FLC 22.07.2017 * 7 pm

     

    DA DIVULGAÇÃO

    A divulgação de todas as etapas da inscrição, da avaliação de curadoria, da premiação e da produção/comunicação geral da exposição será disponibilizada pelo site da Fundação Lauro Campos, na aba projetos -} “SOLAR CULTURAL”

     

    www.laurocampos.org.br

     

    Dúvidas e esclarecimentos deverão ser solicitados somente por este email ocupaflccultura@gmail.com

     

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    DO PROCESSO DE SELEÇÃO DAS OBRAS

     

    • É de responsabilidade da produção (RARO negócios criativos) verificar se a inscrição e a documentação enviada atende às exigências do regulamento, decidindo pelo deferimento ou não da inscrição
    • A comissão de curadoria escolherá o número de artistas selecionados para exposição, conforme possibilidades estruturais e orçamentárias
    • Será constituída uma comissão de curadoria, composta por três profissionais. A comissão curadora será composto por 1 representante interno da FLC, por 1 representante da produção/organização geral e um profissional externo convidado pela FLC com adequado conhecimento e formação na área de interesse
    • Os dados profissionais dos curadores designados estarão disponíveis no site da FLC
    • É recomendável submeter trabalhos com tamanhos menores: os trabalhos não poderão exceder uma área expositiva de 2,00 m (h) x 1,5 m de largura
    • Caberá à Comissão Curadora estabelecer o número de obras de cada artistas para a exposição
    • Serão aceitos trabalhos nas áreas de desenho, pintura, escultura, audiovisual, fotografia, técnicas mistas, mista em fotografia, instalação, proposições para panfletos, cartazes, memes, gifs, artes digitais, bordados e arte têxtil em geral, arte conceitual, e toda sorte de trabalho imagético-simbólico que nem imaginamos
    • A curadoria aceita propostas de intervenção urbana e ações performáticas para compor programação cultural da exposição

     

    DA ENTREGA, MONTAGEM e RETIRADA DAS OBRAS

    • As obras selecionadas deverão ser entregues no período descrito no cronograma, das 13h às 18h, na Fundação Lauro Campos – FLC, à Al. Barão de Limeira, nº 1400, C. Elíseos – São Paulo – SP
    • Para envio de obras fora de São Paulo, a data de postagem das obras deve ter data limite de postagem correspondente ao período de entrega das obras (ver cronograma), sob pena de invalidação da inscrição, com a seguinte identificação:

     

    CURADORIA FLC 001/2017 – I Exposição de Arte Contemporânea SOLAR CULTURAL

    Destinatário: Fundação Lauro Campos

    Endereço: Al. Barão de Limeira, nº 1400, C. Elíseos – São Paulo – SP  01202-002

     

    • As obras postadas devem chegar com antecedência mínima de dois dias da abertura da exposição (ver cronograma). A não entrega das obras dentro do prazo estabelecido incorrerá na não participação do artista na exposição
    • A produção não se responsabiliza pelo atraso na chegada das obras postadas ou enviadas por intermediários, nem por possíveis danos que podem acometer as obras no traslado
    • Custos relativos ao envio e retirada das obras são de inteira responsabilidade dx artista
    • As obras não serão cobertas por seguro, cabendo decisão do artista contratar ou não sua própria apólice para o período de transporte, montagem, exibição e retirada das obras
    • As obras serão conferidas no ato de entrega, na presença do artista ou de seu representante
    • O artista ou seu representante autorizado deverá assinar, no ato de entrega das obras, o 1. “Termo de responsabilidade técnica” e 2 “Termo de autorização para uso de imagens das obras de arte”, conforme exemplos anexos
    • A FLC disponibilizará o espaço para a realização da exposição e apoio para a montagem e pela desmontagem das obras, que ficarão sob responsabilidade da produção do evento
    • A FLC não é responsável pelo transporte, nem pelo envio, nem pela retirada das obras, o que fica ao encargo do artista
    • As obras devem ser retiradas pelos artistas ou responsável eleito (com procuração de cartório ou por transportadora) no período descrito no cronograma, das 13h às 18h, na Fundação Lauro Campos – FLC, inclusive as obras enviadas pelos Correios /transportadoras
    • A data da coleta e os dados da empresa contratada para transporte devem ser informados com no mínimo dois (2) dias úteis de antecedência à produção pelo e-mail ocupaflccultura@gmail.com ou telefone (11) 98441-7292
    • Findo o prazo, a FLC dará às obras o destino que julgar cabível

     

    DA PREMIAÇÃO

    O prêmio tem o objetivo de incentivar e reconhecer o trabalho dos trabalhadorxs da cultura.

     

    • Um artista escolhido pelo público será contemplado com um prêmio em dinheiro no valor de R$ 1.500,00 (um mil e quinhentos reais)
    • Um segundo artista escolhido pela curadoria será contemplado com um prêmio em dinheiro no valor de R$ 1.500,00 (um mil e quinhentos reais)
    • A produção deve organizar os dados de coleta da opinião do público, e entregá-los à comissão de curadoria com os respectivos formulários.
    • Não é excluída a possibilidade dos prêmios serem coincidentes se a opinião do público e da comissão de curadoria forem a mesma.
    • Cabe à comissão de curadoria anunciar os premiados.
    • A opinião do público será coletada presencialmente e cada visitante da exposição poderá se manifestar apenas uma vez.
    • O público será consultado durante o período  de visitação a partir de pequeno questionário, que será disponibilizado e aplicado ao público voluntariamente no período mencionado, incluso a abertura da exposição
    • O pagamento do prêmio será efetuado em data definida pela Fundação Lauro Campos no período de até 30 dias após o encerramento da exposição. A fundação entrará em contato com os premiados
    • O prêmio será pago somente mediante assinatura de termo de parceria entre a fundação e o artista premiado

     

    Todos os participantes da exposição no SOLAR CULTURAL terão direito à inserção no catálogo virtual, que poderá ser também impresso, conforme decisão da Fundação Lauro Campos, bem como de eventuais produtos/peças da exposição

     

    DOS DIREITOS AUTORAIS, DE IMAGEM E DOS QUE LHE FOREM CONEXOS

    • Os artistas são pessoalmente responsáveis pela originalidade e titularidade das obras, sendo de responsabilidade única, exclusiva e irrestrita do artista inscrito a observância e regularidade de toda e qualquer questão concernente a Direitos Autorais, Conexos e de Imagem relativos às obras encaminhadas à exposição e à documentação encaminhada para o processo de seleção
    • A Fundação Lauro Campos fica isenta de quaisquer responsabilidades, cível ou criminal, resultante de falsa imputação de autoria, titularidade ou originalidade das obras, eventualmente apuradas
    • Ficam cedidos à FLC todos os direitos de documentar e fazer uso das imagens, por meio de foto, vídeo, texto, site ou qualquer outro meio de registro e divulgação durante todas as etapas de realização da exposição, incluindo a montagem, a exposição, a desmontagem e o registro geral, além de toda e qualquer programação relacionada ao evento

     

    DAS DISPOSIÇÕES FINAIS

     

    • A curadoria é soberana e autônoma em suas decisões, das quais não caberão recursos
    • Ao se inscrever no presente Edital, o artista declara a inexistência de plágio das obras inscritas, bem como garante ter a autorização de terceiros que porventura tenham direitos conexos sobre a produção artística, se responsabilizando inclusive por eventuais reivindicações quanto ao uso não autorizado, indenizando a Fundação Lauro Campos, quando for o caso
    • Os selecionados ficam impedidos de modificar ou retirar as obras selecionadas até o término do processo expositivo, salvo sob expressa autorização da produção, e mediante justificativa
    • A Comissão poderá não aceitar obras que exijam cuidados especiais de segurança ou que ofereçam qualquer tipo de risco à segurança do público ou à integridade do espaço que abrigará a exposição
    • Equipamentos eletrônicos ou outros materiais necessários à montagem e exibição da obra são de inteira responsabilidade do artista, quem será também responsável por sua manutenção. A voltagem em São Paulo é de 110 volts
    • A organização poderá ajustar itens do edital a qualquer tempo, em caso de necessidade de adequação e sob condição de ampla divulgação aos inscritos
    • A não observância das normas deste edital poderá resultar em anular inscrição e participação do processo
    • Quaisquer outras questões omissas por este edital serão dirimidas pela Comissão Curadora/Organização SOLAR CULTURAL

     

    JULIANO MEDEIROS

    Presidente da Fundação Lauro Campos

    ANEXO I

     

    Termo de autorização para uso de imagens de cada obra de arte

     

    Autorizo a Fundação Lauro Campos a utilizar a reprodução da imagem da(s) obra(s) expostas por ocasião da I exposição coletiva SOLAR CULTURAL, no espaço sede da Fundação Lauro Campos – FLC, na cidade de São Paulo.

     

    2) A FLC obriga-se a:

    1. a) não utilizar a reprodução das obras para fins lucrativos;
    2. b) responder pelo pagamento de eventuais danos aos direitos autorais de acordo com a Lei 9.610/98, decorrentes da exploração comercial das imagens indicadas;
    3. c) ao utilizar imagem das obras em páginas de Internet, palestras, apresentação, seminários e eventos afins, mencionar a autoria e identificação correta da obra: autor, título, data criação da obra, técnica e dimensão.

     

    São Paulo,              de 2017.

     

    _________________________________________

    Nome/assinatura Artista

     

    ANEXO II

     

    Termo de Responsabilidade Técnica

     

    Eu, ____________________________________________________________ , inscrito no CPF____________________ e RG_____________________ domiciliado à  ____________________________________________________ na cidade de __________________ , Brasil, e acessível pelo e-mail/telefone _______________________________________________________ declaro que sou o(a) responsável técnico pelas obras de arte contemporânea enviadas à curadoria e passíveis de exposição na Fundação Lauro Campos. Declaro ainda que responderei sobre possíveis questionamentos de autenticidade, judiciais ou não.

     

    Declaro-me ciente de que está sob minha responsabilidade fazer cumprir as condições estabelecidas pela legislação sobre direitos autorais vigente no Brasil (LEI No 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998) e pelo Edital de seleção de obras SOLARCULTURAL FLC 001/2017 .

     

    São Paulo,___________________de 2017

     

    __________________________________________________________

    assinatura

  • Observatório Internacional, de 28 de março a 03 de abril de 2017

    Observatório Internacional, de 28 de março a 03 de abril de 2017

    Dos eventos a serem destacados nesta semana, começamos pelos EUA, onde Donald Trump eliminou a política ambiental mais contundente de seu antecessor Barack Obama. Por meio de uma ordem executiva, o atual presidente estadunidense retirou os limites à emissão dos poluentes, causando grande comoção no movimento ambientalista e na comunidade científica, que há décadas alertam para a poluição atmosférica como um dos fatores preponderantes no processo de mudança climática.
    Na América do Sul, a semana foi talvez a mais turbulenta do ano. Se no domingo passado os chilenos foram massivamente às ruas reivindicar o fim do sistema previdenciário mercantilizado e os dominicanos se mobilizaram para pedir indenizações da Odebrecht, ao longo da semana a Guiana Francesa paralisou durante três dias de Greve Geral, os argentinos marcaram presença uma vez mais nas ruas contra o austericídio de Macri, os venezuelanos e os paraguaios mergulharam numa crise institucional. Por fim, neste domingo (02/04), Lenin Moreno, candidato apoiado por Rafael Correa, derrotou o banqueiro Guillermo Lasso e será o próximo presidente do Equador.
    Do outro lado do Atlântico, os trâmites oficiais do Brexit foram finalmente iniciados para fria reação de Merkel e da Comunidade Europeia. Na França, o Partido Socialista se despedaça com pressões eleitorais à esquerda e à direita. Já na Grécia, o governo prepara-se para um quarto acordo com as instituições financeiras.
    Um resumo do que mais importante circulou no noticiário internacional pode ser conferido abaixo, na primeira edição do mês de abril do Clipping Internacional da Fundação Lauro Campos.

     

    Uma boa leitura!
    Charles Rosa

     

    NOTÍCIAS DA GRANDE IMPRENSA INTERNACIONAL

     

    TRUMP DESTRÓI POLÍTICA AMBIENTAL DOS EUA

     

    Decreto assinado por Trump na terça-feira (28/03) libera a mineração do carvão em terras que pertencem ao governo federal e autoriza a que as usinas de geração de energia, principalmente as que usam o carvão como combustível, não tenham mais limites na emissão de gases poluentes. A ordem executiva anula, portanto, aquilo que Barack Obama apontava como a principal medida ambiental de seus governos e coloca em xeque a permanência da principal potência econômica do mundo no Tratado do Clima em Paris.

     

     

    CRISE POLÍTICA NA VENEZUELA

     

    Na quinta-feira (30/03), o Tribunal Superior de Justiça (TSJ) assumiu as funções da Assembleia Nacional (AN), sob a alegação de que a casa legislativa estava em permanente estado de “desacato” – em 2015, três deputados impugnados pela Justiça foram incorporados ao Congresso, conferindo uma super-maioria à oposição de direita. A medida tomada pelo TSJ foi classificada como um golpe de estado pelos grupos contrários ao presidente Nicolas Maduro, que em vista da pressão interna e externa mediou um recuo neste sábado (01/04). Abaixo, colocamos três versões dos acontecimentos:

     

     

     

     

    EMENDA DE REELEIÇÃO NO PARAGUAI

     

    Na sexta-feira (31/03), o Senado paraguaio aprovou em sessão secreta a emenda que possibilita a reeleição de Horacio Cartes. A medida foi fruto de um acordo entre o Partido Colorado (direita governista) e a Frente Guasú (formação do ex-presidente Fernando Lugo, também beneficiado pela emenda). Protestos organizados pelo Partido Liberal Radical Autêntico (direita oposicionista) culminaram no incêndio do Congresso e na brutal repressão da polícia paraguaia, que assassinou um líder da Juventude Liberal na sede do seu partido e prendeu mais de 200 manifestantes. A votação da emenda na Câmara dos Deputados agendada para este sábado (01/04) foi adiada.

     

     

    VITÓRIA DE LENIN MORENO NO EQUADOR

     

    Com 96% das urnas apuradas até o fechamento desta edição, Lenin Moreno é o virtual presidente do Equador. O candidato apoiado por Rafael Correa venceu seu oponente liberal, Guillermo Lasso, por 51,1% a 48,9%. A formação do ex-banqueiro de Guayaquil irá contestar o resultado e pedir recontagem dos votos. Os votos da região costeira foram decisivos para o triunfo do correísmo, uma vez que na região serrana, no Oriente e nos Galápagos, a direita levou a melhor. Julian Assange, fundador do Wikileaks e exilado político na embaixada equatoriana de Londres, comemorou no Twitter a derrota de Lasso, o qual prometeu expulsar Assange do local caso vencesse.

     

     

    El Universo:

     

    PROTESTOS CONTRA O AJUSTE DE MACRI

     

    Milhares de argentinos voltaram às ruas na quinta-feira (30/03) para “dizer basta ao ajuste em frente à Casa Rosada. A direção do ato coube desta vez a uma ala da Central de Trabalhadores da Argentina (CTA). O protesto planejava originalmente uma paralisação nacional, mas a CTA optou apenas pela passeata, visto que se incorporou à greve nacional convocada pela majoritária Central Geral do Trabalho (CGT) para o próximo 6 de abril. Os organizadores estimaram cerca de 150 000 pessoas mobilizadas sob o lema “Por trabalho, educação e negociações paritárias livres”.

     

     

    INÍCIO FORMAL DO BREXIT

     

    Na quarta-feira (29/03), o Reino Unido entregou a carta de saída ao Conselho Europeu. O processo de ruptura deverá durar dois anos, após negociação com os 27 países euromembros. A primeira-ministra britânica, Theresa May, elaborou um discurso duro, no qual admite a hipótese de deixar as mesas de diálogos caso seus principais pontos não sejam atendidos. A estratégia do governo britânico é iniciar dois processos: um de divórcio e um sobre as futuras relações com a UE. Tal linha colide com a orientação da Alemanha que prefere conversar primeiro sobre a separação e, posteriormente, sobre os próximos acordos. Os cálculos europeus estimam uma dívida de 60 bilhões de euros do Reino Unido para com o bloco. Na terça-feira (28/03), a Escócia – onde 66% da população foi contrária ao Brexit – aprovou a realização de um novo referendo sobre a independência.

     

     

    CRISE NO PARTIDO SOCIALISTA FRANCÊS

     

    A crise da social-democracia francesa parece não ter fim. Nesta semana, Manuel Valls, a liderança da direita socialista, anunciou que votará em seu antigo correlegionário Emmanuel Macron, descumprindo a promessa escrita de apoiar o vencedor das primárias, Benoît Hamon. Enquanto isso, mais uma pesquisa indica que Jean-Luc Mélenchon (Frente de Esquerda) está ligeiramente à frente de Hamon nas pesquisas após o primeiro debate televisivo. Ainda nesta semana, Hamon convocou uma unidade com Mélenchon que respondeu com igual convocatória.

     

     

    GRÉCIA E NOVO EMPRÉSTIMO

     

    O governo grego prepara-se para uma nova rodada de negociações com os credores internacionais, com vistas a obter outro empréstimo. Enquanto a banca tenta impor um quarto pacote de privatizações e mudanças nas regras laborais, o governo de Alexis Tsipras procura um alívio da dívida já existente. Uma pesquisa divulgada neste sábado (01/04) revela que o apoio ao Syriza diminui a cada dia e se as eleições fossem hoje a direita neoliberal obteria 12 pontos percentuais a mais que a esquerda governante.

     

     

    PRISÃO DE EX-PRESIDENTA DA COREIA DO SUL

     

    Park Geun-hye, presidenta destituída em novembro de 2016, foi presa na quinta-feira (30/03), por escândalo de corrupção que ficou conhecido como “Rasputina”. Park confabulou com sua amiga Choi Soon-sil, apelidada como “Rasputina” por sua influência sobre ela, para criar uma rede que extorquia empresas em troca de favorecimentos por parte do governo. Entre essas empresas está o grupo Samsung, e por este motivo o presidente de fato da companhia, Lee Jae-yong, foi detido em 16 de fevereiro.

     

     

    SÍRIA, TURQUIA E REX TILLERSON

     

    Pela primeira vez desde a guerra civil na Síria, os EUA admitiram a permanência Bashar Al-Assad na liderança do país. O secretário de Estado de Trump, Rex Tillerson, declarou em coletiva de imprensa em Ancara que “os sírios devem decidir sobre o tema”. Antes disso, Tillerson encontrou-se com o presidente turco Recep Erdogan, que se queixou do apoio estadunidense às milícias curdas.

     

     

    PROTESTOS CONTRA JACOB ZUMA

     

    Na sexta-feira (31/03), milhares de sul-africanos foram às ruas protestar contra o presidente Jacob Zuma, horas depois de demitir o Ministro das Finanças Pravin Gordhan, agravando a divisão do partido governante CNA (Congresso Nacional Africano). Gordhan se transformou em símbolo de luta contra a corrupção por se negar a aprovar vários projetos suntuosos de Zuma que beneficiariam empresários próximos ao presidente.

     

     

    NOTÍCIAS E ARTIGOS DA ESQUERDA INTERNACIONAL

     

    O que acontece no Paraguai? O secretário de Relações Internacionais do Partido Movimento Alternativa ao Socialismo (P-MAS), Henrique Ferreira, relata o desenrolar da permanente crise política que assola o Paraguai.

     

     

    A crise institucional na Venezuela – Esta semana, a decisão do TSJ de assumir as funções do Congresso venezuelano provocou debates acalorados sobre a vigência do bolivarianismo como processo progressivo. Apresentamos a seguir duas interpretações à esquerda dos rumos que o governo de Maduro têm tomado. O primeiro é do Marea Socialista, organização venezuelana (proscrita eleitoralmente pelo atual regime) que reivindica o legado chavista se opondo às decisões de Maduro, alertando que suas medidas autoritárias abrem margem para uma ingerência externa. O segundo é do cientista político espanhol Juan Carlos Monedero (um dos fundadores do Podemos) em defesa do atual governo.

     

     

     

    Greve Geral na Guiana Francesa – Os trabalhadores da colônia francesa na América do Sul surpreenderam o mundo ao fazerem uma greve geral de três dias nesta semana. Sobre as suas reivindicações, o portal português Esquerda.Net produziu uma reportagem.

     

     

    Varoufakis, o desobediente – O ex-ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, lança o movimento DiEM25 com a plataforma de um New Deal europeu. Em entrevista para um jornal italiano, Varoufakis tece críticas ao atual governo grego e conclama todos os democratas do continente a impulsionar um projeto alternativo à austeridade.

     

     

    “As Feministas estão marcando o caminho” – O portal espanhol Viento Sur publica entrevista com Cinzia Arruzza, uma das organizadoras da Greve de Mulheres nos EUA e reconhecida escritora e ativista feminista marxista, a respeito do amplo significado dessas mobilizações.

     

    As contradições do capitalismo – Entrevista com o geógrafo marxista David Harvey sobre a pertinência de seu mais recente livro, “As 17 contradições e o fim do capitalismo”.

     

     

    O Capital: uma obra colossal para desmascarar um sistema completo de falsas percepções – Entrevista com o cientista político marxista Michael Heinrich sobre a gênese e desenvolvimento da principal obra marxiana que completa 150 anos neste ano.

     

     

    A falsa escolha da Europa – O eurodeputado espanhol Miguel Urban (PODEMOS) delineia as diretrizes de um Plano B para a Europa que derrote radicalmente a ascensão da xenofobia e dos nacional-populismos.

     

     

    Primavera Árabe pela ótica de uma argelina – A escritora e feminista argelina Wassyla Tamzaly oferece sua visão dos processos revolucionários desencadeados no Magreb a partir de 2011, bem como uma análise dos avanços e retrocessos da luta das mulheres nestes países.

     

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    Existe pena de morte no Brasil

    por Joselicio Junior *
    Infelizmente, não fiquei surpreendido com o desfecho do julgamento que absolveu, de forma unânime pelo júri popular, os 3 Policiais Militares acusados de matar um jovem que havia roubado uma moto na região do Butantã, zona oeste da capital paulista. Nem mesmo as imagens, amplamente divulgadas nas redes sociais e pela grande mídia, que mostra que o rapaz estava rendido e foi jogado pelo PM de cima do telhado da casa e em seguida executado por outros dois policiais, foi capaz de condenar os agentes do Estado.

    Esse caso exemplar é a prova concreta daquilo que o Deputado do PSOL Marcelo Freixo chama de pessoas matáveis, ou seja, dentro da estrutura social brasileira existem pessoas que sua morte não geram comoção, que são vistas como naturais, como permissíveis e muitas vezes até como necessárias para estabelecer a ordem social. Portanto, os agentes do estado responsáveis pela “segurança pública” estão legitimados por uma parcela da sociedade e pela grande mídia policialesca, a determinar quem deve ser preso e julgado e quem pode ser executado sumariamente.

    O que determina quem são os “matáveis” é a origem social e étnica, sendo assim, os jovens, negros, pobres e moradores das periferias são classificados dessa maneira. Diante da avalanche de noticiais entorno das operações de combate à corrupção, é impossível não fazer um paralelo, pois de um lado tem aqueles que falam que todo crime é crime, seja quem roubou um pão, ou quem roubou para enriquecer através da corrupção e deve ser punido igualmente, mas a realidade mostra grandes diferenças no tratamento.

    Como dissemos anteriormente a Polícia na sua ação ostensiva determina que são executados ou até mesmo encarcerados, a parcela encarcerada forma uma população de quase 700 mil pessoas, desses, 40% não tiveram nem o direito ao julgamento, ficando na condição de presos provisórios por longos anos, vivendo em condições degradantes, suscetíveis ao assédio das facções e muitas vezes sem o direito a ampla defesa por falta de recursos para contratação de advogados.

    Por outro lado, temos visto através de operações de combate a corrupção como a Lava Jato (que merece uma série de críticas que não cabe nesta análise), onde grandes empresários, servidores públicos e políticos estão sendo investigados e até mesmo presos, que por conta da sua condição social, acompanhamento de grandes escritórios de advocacia, processos de delação premiada, que reduz drasticamente as penas, essas pessoas acabam ficando muito menos tempo presas, ou pegam regimes alternativos como prisão domiciliar, semi aberto.

    Não quero defender a impunidade, nem muito menos um estado punitivista. Mais salta aos olhos os dois pesos e duas medidas do Estado brasileiro. Para os ricos o direito a ampla defesa, penas alternativas e para os pobres, particularmente para os negros, o Estado penal máximo, encarceramento e mortes sumárias, instituindo na prática a pena de morte em nosso país.

    Precisamos superar a ideia que a punição é o único remédio para nossas mazelas, precisamos inverte a lógica do estado social mínimo e o estado penal máximo, por isso é tão importante também somar fileiras na luta contra os ataques aos direitos sociais encabeças pelo governo golpista de Temer, com a Reforma Trabalhista e da Previdência, pois são face da mesma moeda de um Estado que legitima os matáveis.

    * Joselicio Junior, conhecido como Juninho, é jornalista, presidente estadual do PSOL – SP e militante do Círculo Palmarino, entidade do movimento negro.
  • Vídeo do lançamento da revista Socialismo & Liberdade: UM OLHAR FEMINISTA SOBRE A CONJUNTURA.

    Vídeo do lançamento da revista Socialismo & Liberdade: UM OLHAR FEMINISTA SOBRE A CONJUNTURA.

    Confira lançamento da edição 16 da revista Socialismo&Liberdade, toda escrita por mulheres. O evento de São Paulo, que ocorreu no dia 24/03/17, contou com o debate “Um olhar feminista sobre a conjuntura”, no qual participaram Carolina Peters (Fundação Lauro Campos), Albanise Pires (Secretária Nacional de Comunicação do PSOL) e Keka Bagno (Secretaria de Mulheres do PSOL-DF).

     

     

  • Observatório Internacional, de 19 a 26 de março de 2017

    Observatório Internacional, de 19 a 26 de março de 2017

    As rachaduras do governo Trump se ampliaram nesta semana. A base parlamentar do partido Republicano o abandonou na proposta de exterminar o “Obamacare”, impondo-lhe a sua maior derrota desde que tomou posse da Casa Branca. Contestado nas ruas por constantes mobilizações, Trump tem agora o desafio de recompor o próprio partido para fazer avançar uma reforma tributária, que privilegia os mais ricos e a indústria bélica, em detrimento das áreas sociais.
    Do outro lado do Atlântico, o atentado em frente ao Parlamento de Londres dominou as atenções, numa semana em que começou com o debate televisivo dos presidenciáveis na França e terminou com protestos na capital britânica contra o processo do Brexit. Manifestações, aliás, não faltaram ao redor do mundo: no domingo (19/03), os libaneses foram às ruas contra a corrupção, mesmo motivo que levou milhares de russos a se mobilizarem em Moscou neste final de semana; os chilenos marcaram presença nas avenidas de Santiago para pedir o fim do sistema previdenciário privado; já os argentinos deram uma demonstração de força colossal ao transbordar Buenos Aires num multitudinário ato em apoio aos professores paralisados há três semanas.
    Estas e outras notícias podem ser conferidas nesta edição do Clipping. Boa Leitura!
    Charles Rosa – Observatório Internacional

     

    NOTÍCIAS DA IMPRENSA INTERNACIONAL

     

    Primeira derrota legislativa de Trump

     

    O projeto que revogava a reforma do sistema de saúde público realizada por Obama foi retirado de pauta na sexta-feira (24/03), após as diversas facções dos Republicanos não chegarem a um acordo. Enquanto os ultraconservadores exigiam golpes mais duros à assistência médica, os moderados pretendiam uma projeto liberalizante “intermediário”. O recuo é interpretado como a maior derrota de Donald Trump até o momento, visto que uma das suas principais promessas de campanha foi o fim do Obamacare. A sensação de fragilidade de sua base parlamentar de apoio pode atrapalhar a aprovação da reforma tributária que arrocha outras pastas para concentrar recursos na Defesa, algo de grande interesse da parte da elite econômica que o acompanha.

     

     

    Protestos no Reino Unido contra o Brexit

     

    A quatro dias da primeira-ministra Theresa May iniciar o processo formal de secessão britânica em relação a União Europeia, milhares de ingleses compareceram às ruas de Londres neste sábado (25/03). Movidos pelo lema “Unidos pela Europa”, os adversários do Brexit contestaram a existência de um plano B para a economia do Reino Unido, conforme promessa dos que impulsionaram a campanha do Leave. O ato terminou em frente à Praça do Parlamento, onde esta semana 4 pessoas foram vítimas de um atentado terrorista cometido por um inglês de 52 anos. A tragédia interrompeu a sessão parlamentar escocesa que analisava a proposta do governo da Escócia de um novo referendo separatista.

     

     

    Primeiro debate presidencial na França

     

    A um mês das presidenciais, nas quais 40% dos eleitores ainda se encontram indecisos, os cinco candidatos mais cotados nas pesquisas se enfrentaram no primeiro debate televisivo (20/03). Segundo relatam os principais jornais europeus, Macron e Le Pen concentraram as atenções, num evento em que Fillon ficou apagado – bem como seus escândalos – e Melenchon e Hamon disputaram o mesmo espaço à esquerda. A ultra-direitista foi a mais atacada e a intolerância de suas propostas imigratórias foi o flanco mais constante dos duelos. Já Macron buscou reforçar a identidade centrista, apelando para uma “renovação” da política sem extremismos. Uma sondagem divulgada após o debate mostra que Le Pen e Macron ampliaram a vantagem para os outros candidatos.

     

     

    Repressão na Rússia

     

    Nos maiores protestos desde 2012, 8 mil opositores a Putin compareceram às ruas para protestar contra a corrupção e foram enquadrados na lei anti-protestos. O saldo foi de 500 detidos, segundo a polícia russa, dentre os quais o principal adversário de Putin no momento, o blogueiro Alexei Navalny que se postula como desafiante do mandatário russo nas presidenciais de 2018 – embora esteja impedido em decorrência de uma condenação por malversação dos recursos públicos, o que ele alega ser uma perseguição.

     

     

    Possível referendo europeu na Turquia

     

    Em discurso neste sábado (25/03), o presidente Recep Erdogan cogitou a hipótese de um futuro referendo no país para avaliar o interesse nacional em se somar a União Europeia, após 12 anos de negociações atrasadas e um contexto de distanciamento diplomático de Ancara com Bruxelas. No próximo 16 de abril, haverá um referendo constitucional que poderá outorgar mais poderes a Erdogan.

     

     

    Protestos no Líbano

     

    Beirute foi palco de manifestações no domingo passado (19/03) contra a corrupção e o aumento de impostos. Convocados por plataformas ativistas, descoladas dos principais partidos, os milhares de presentes reivindicaram o fim do nepotismo, um maior controle das contas públicas e melhores serviços públicos. Endividado, o Estado libanês se deteriora a cada ano e a população ressente cortes diários de eletrecidade e água, o que explica a chuva de garrafas plásticas com a qual foi recebido o primeiro-ministro Saad Hariri.

     

     

    Tensão em Gaza

     

    Na sexta-feira (24/03), um líder do Hamas foi assassinado por homens encapuzados. O movimento palestino acusou o Estado israelense pelo crime e em represália fechou a principal passagem da região, a primeira vez que isso acontece desde que o Hamas assumiu o controle do enclave litorâneo em 2007, submetido a bloqueio israelense e restrições da fronteira egípcia. No mesmo dia, um enviado da ONU havia denunciado Israel por ignorar a exigência de encerramento dos colonatos em território palestino.

     

     

    Maestrazo na Argentina contra Macri

     

    Na quarta-feira (22/03), centenas de milhares de argentinos argentinos foram às ruas de Buenos Aires em apoio aos professores que exigem aumentos salariais e o fim da mercantilização do ensino público promovida por Mauricio Macri. A forte paralisação nacional dos professores, que já perdura há três semanas sem qualquer sinal de negociação do governo, está sendo classificada como a maior em 30 anos

     

     

    Protestos no Chile contra a Previdência privada

     

    Santiago assistiu a uma enorme manifestação neste domingo (26/03) contra o sistema previdenciário implementado pela ditadura Pinochet em 1981 (as AFP- as Administradoras dos Fundos de Pensão). A convicção cristalizada na população é de que o regime privado de aposentadorias remunera benefícios menores que os valores prometidos.

     

     

    Reta final do segundo turno no Equador

     

    Falta uma semana para os equatorianos decidiram quem sucederá Rafael Correa e as pesquisas apontam empate técnico entre o oficialista Lenin Moreno e o opositor banqueiro Guillermo Lasso, com ligeira vantagem para Moreno. O grupo correísta conseguiu reverter nos últimos dias a tendência de alta de Lasso, que logrou conquistar mais eleitores dos candidatos derrotados no primeiro turno, na medida em que o governo se viu implicado nos tentáculos da Odebrecht. A campanha de Moreno promete manter os benefícios sociais implementados pelo governo de Rafael Corea, que alíás tem se jogado de cabeça na disputa, diferentemente do que aconteceu na primeira volta, quando teve uma presença mais discreta.

     

     

    NOTÍCIAS E ARTIGOS DE SITES DE ESQUERDA

     

    Bernie Sanders, o político mais respeitado nos EUA – Em artigo de opinião no The Guardian, Trevor Timm exibe os altos índices de aprovação à imagem de Bernie Sanders neste momento e a contraditória resistência do aparato democrata em aceitar a essência da mensagem que o progressivo movimento em torno de Sanders consegue passar a milhões de estadunidenses.

     

     

    A crise política na França e as eleições – O portal Sin Permiso preparou um dossier de três textos a respeito da conjuntura eleitoral francesa a um mês da realização do primeiro turno. O historiador Roger Martelli observa as fraturas do regime francês e o fracasso da esquerda em se postular como alternativa ao establishment. Por sua vez, o jornalista Rafael Poch analisa o desempenho dos presidenciáveis no primeiro debate televisivo. Por fim, o sociólogo Gerard Maugé demonstra a incorreção da ideia de que a classe trabalhadora em sua maioria é eleitora da Frente Nacional.

     

     

    Segundo turno no Equador: entre o continuísmo com problemas e o retrocesso neoliberal – Entrevista com o sociólogo belga François Houtart, residente em Quito há seis anos, sobre a conjuntura política no Equador. Houtart postula um voto defensivo em Lenin Moreno, sem deixar de tocar nos problemas do projeto correísta, principalmente na relação verticalizada e instrumentalizada com os movimentos sociais.

     

     

    Odebrecht na América Latina – O sociólogo Bernardo Correa, a partir do Peru, analisa a lógica de expansão das megaempreiteiras pela América Latina nas últimas décadas e apresenta a experiência da esquerda peruana na luta por radicalizar a pauta anti-corrupção.

     

     

    A esquerda latino-americana e a necessidade da crítica – Em entrevista para um jornal uruguaio, o sociólogo venezuelano Edgardo Lander reflete sobre a transição do governo Chávez para Maduro, bem como o agravamento dos problemas internos do bloco bolivariano que administra o país há quase duas décadas.

     

     

    60 anos de União Europeia e sua desagregação atual – G. Buster expõe as contradições do projeto neoliberal hegemônico no bloco europeu e interpreta as propostas da Comissão de Bruxelas para restaurar a estabilidade a longo prazo. Buster opina ainda sobre qual estratégia a esquerda europeia deve adotar para voltar a ser crível para amplas massas.

     

     

    Massacre no Iêmen – O jornalista espanhol Mark Aguirre relata in loco no Iêmen o massacre efetuado pelas tropas sauditas e a situação de crise humanitário no país mais pobre do Oriente Médio.

     

     

    Frente Ampla uruguaia e decreto anti-piquete – O governo de Tabaré Vázquez aprovou uma resolução que impede o bloqueio de estradas e piquetes para protestos gerou grande controvérsia no seio da Frente Ampla e as centrais sindicais uruguais já se comprometeram a resistir a este grave ataque ao direito sindical de se manifestar paralisando a produção.

     

     

    Crescente estado de guerra na Filipinas – Pierre Rousset alerta para a marcha reacionária patrocinada pelo governo de Rodrigo Duterte. As liberdades fundamentais estão sendo perseguidas no país, sob o pretexto da “guerra às drogas”.

     

     

    A História da Revolução de Fevereiro – O historiador Kevin Murphy reconstitui os acontecimentos e as circunstâncias que culminaram na derrubada do czar Nicolau II, na revolução democrática que sacudiu a Rússia há 100 anos.

     

     

  • O Programa?! Onde está o Programa?!

    O Programa?! Onde está o Programa?!

    por Juliano Medeiros *

     

    Na última semana, ao menos dois acontecimentos de grande repercussão reacenderam o debate sobre as eleições presidenciais de 2018 no âmbito das esquerdas. O primeiro foi o ato realizado pelo Partido dos Trabalhadores e movimentos sociais a ele ligados na cidade de Monteiro (PB). A repercussão da presença do ex-presidente Lula no ato e a disputa simbólica em torno da “paternidade” das obras de transposição do Rio São Francisco deram a tônica das discussões na mídia independente e nas redes sociais. O segundo acontecimento foi o impacto da operação Carne Fraca na opinião pública e a divisão que se verificou entre críticos e defensores da ação da Polícia Federal que revelou um escândalo de corrupção envolvendo agentes do Ministério da Agricultura e partidos políticos, promovendo discussões acaloradas que levantaram questões fundamentais para as relações entre o Estado e os setores produtivos.

    O impacto destes acontecimentos nas esquerdas, porém, foi contraditório. No primeiro caso, poucos foram os que questionaram os problemas envolvendo as obras da transposição e o que se viu, em geral, foi um “oba-oba” em torno da candidatura de Lula. Escassas críticas à controversa transposição, quase nenhuma voz lembrando a greve de fome de Dom Luís Cappio ou o vazamento da barragem de Sertânia, que desalojou 60 mil famílias, poucos questionamentos aos impactos ambientais da obra.

    No segundo caso, abriu-se um interessante debate sobre o lugar das esquerdas frente às principais cadeias produtivas do agronegócio e como estas impactam nossa economia. Alguns até descobriram que, na base do setor, uma imensa rede de pequenos agricultores alimenta parte dos médios e grandes frigoríficos e que, torcer por uma quebradeira geral, seria jogar milhares à própria sorte. Ao mesmo tempo, parece que outros, encantados pelo bonança do setor, não perceberam que os negócios dos “campeões nacionais”, queridinhos dos grandes partidos e largamente financiados pelo Estado, poderiam acabar num escândalo de corrupção de grandes proporções.

    Mas o que estes episódios e o comportamento contraditório demonstrado pelas esquerdas frente a eles demonstra? É fato que o debate sobre a sucessão presidencial ganha a agenda política do país dia a dia desde que a candidatura de Lula passou a ser uma hipótese concreta. O problema é que, com o nome do ex-presidente no circuito, não se discute o principal: o programa. É como se Lula bastasse para resolver os problemas do Brasil. A máxima da “saudade do meu ex” sintetiza o sentimento que tem sido estimulado em torno da imagem do ex-presidente. Mas todo mundo que já reatou um relacionamento com uma “ex” (ou um “ex”) sabe o trabalho que isso dá. E sabe também que – não raramente – a tentativa acaba em frustração.

    No caso da transposição do Rio São Francisco, a festa de campanha não deixou margem para uma reflexão crítica sobre a eficácia da obra ou sobre os investimentos que ainda serão necessários para construção das adutoras que levarão a água às cidades, muito menos sobre seus impactos ambientais ou os mecanismos de controle público necessários para evitar que a transposição sirva apenas ao grande agronegócio.

    No caso da Operação Carne Fraca ocorreu o contrário. Estando o ex-presidente fora dos holofotes, se produziu um rico debate no plano econômico. Com todos os excessos possíveis, ainda assim, o que vimos foi uma tentativa de interpretar os impactos da monopolização da economia brasileira, meios para reverte-la e – o mais relevante – formas concretas de combater a tendência de reprimarização de nossa economia, aprofundada nos últimos vinte anos pelos governos do PT e PSDB. É aqui que está a chave do futuro da esquerda brasileira: da capacidade de refletir sobre a realidade socioeconômica dependerá a possibilidade de formulação de um programa capaz de enfrentar os séculos de atraso e dependência a que estamos submetidos.

    O pré-candidato do PT já se movimenta para responder a essas questões. Reunido pelo Instituto Lula, um time de economistas começa a pensar um plano econômico para o Brasil pós-Temer, segundo atesta matéria veiculada pelo jornal Valor, na última segunda-feira. No radar dos economistas estão propostas como o alongamento e a renegociação das dívidas dos estados, municípios e mesmo das famílias; a retomada do crédito subsidiado a instituições financeiras como o BNDES, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal; condições facilitadas para a renegociação das dívidas do setor empresarial e uma ampliação do endividamento público (que saltou de 56% para 70,5% do PIB desde o início do ajuste fiscal iniciado por Dilma e aprofundado tragicamente por Michel Temer). São fórmulas repetidas por Lula em eventos públicos em todo o Brasil e não deixam de ser, a rigor, o esboço de um programa econômico.

    No mesmo dia, a Frente Brasil Popular, da qual fazem parte movimentos como MST, CUT e UNE, divulgou documento intitulado Plano Popular de Emergência, onde apresenta uma série de medidas urgentes para, segundo o texto, “restabelecer a ordem constitucional, enfrentar a crise econômica, salvar as conquistas históricas do povo trabalhador e defender a soberania nacional”. Sem se referir às eleições presidenciais de 2018 o plano apresenta medidas avançadas para a democratização do Estado, geração de emprego e renda, reforma agrária e agricultura familiar, reforma tributária, defesa e direitos sociais e trabalhistas, acesso à saúde, educação e moradia, além de ampliação dos direitos civis e política externa. Embora se apresente como uma plataforma emergencial, com claras limitações no plano macroeconômico, a iniciativa mostra uma sincera disposição de colocar, novamente, o boi à frente da carroça: não basta discutir nomes sem aprofundar imediatamente o debate programático.

    Particularmente, sou da opinião de que Lula, se não for condenado em segunda instância em uma das cinco ações penais que tramitam contra ele na Justiça Federal, dificilmente assumirá o programa defendido pelos movimentos que compõem Frente Brasil Popular, mais radicalizado do que aquele em discussão no Instituto Lula. Ao contrário, o petista tem optado por sinalizar que não implementará medidas “heterodoxas”. Nos relatos disponíveis até agora sobre os encontros promovidos por seu Instituto, não houve uma palavra sequer sobre a necessidade de anular o teto de gastos imposto pela Emenda Constitucional 95, a necessidade de uma maior tributação sobre o capital e o patrimônio ou uma reforma profunda do sistema da dívida. As menções sobre a necessidade de redução do custo da dívida através da diminuição da taxa de juros apareceram sempre subordinadas à dinâmica do superávit primário e mesmo temas aparentemente prosaicos, como a utilização das reservas brasileiras para o financiamento de obras de infraestrutura, não encontram consenso no time de economistas que discutem com o ex-presidente.

    Resumo da ópera: o debate em torno do apoio a Lula divide a esquerda, interdita o necessário balanço crítico sobre a experiência do PT à frente do governo federal e impede a formulação de um programa capaz de corrigir os erros do passado. Por isso, centrar as discussões sobre 2018 a partir da defesa de Lula, colocando o debate programático em segundo plano, pode até fazer sentido para os simpatizantes e partidários do ex-presidente, mas não é uma boa opção para o futuro da esquerda – que não pode e não deve ficar refém do xadrez político mais imediato. Precisamos estimular iniciativas que discutam a fundo um programa para o Brasil e, necessariamente, façam o balanço de erros cometidos no plano das políticas macroeconômicas. Espaços dessa natureza começam a tomar forma. Interditar esse necessário processo de reflexão seria um erro que a história não perdoaria.

    *Juliano Medeiros é Historiador, Presidente da Fundação Lauro Campos e Coordenador Político da Liderança do PSOL na Câmara dos Deputados.

    (artigo originalmente publicado na Revista Fórum – 24/03/17)

  • A falsidade da Falsa Consciência

    A falsidade da Falsa Consciência

    por Immanuel Wallerstein

    As pessoas nem sempre se comportam do jeito que pensamos que deveriam se comportar. Nós muitas vezes percebemos os outros se comportando de maneiras as quais pensamos ser contrárias ao seu interesse próprio. Isso parece louco ou tolo. Acusamos então essas pessoas de “falsa consciência”.

    O próprio termo foi inventado por Friedrich Engels no final do século XIX para explicar por que trabalhadores (ou ao menos alguns trabalhadores) não apoiavam os partidos operários nas urnas ou não apoiavam as greves chamadas por um sindicato. A resposta para Engels era que, por alguma razão, esses trabalhadores perceberam erroneamente seu auto-interesse, sofrendo de “falsa consciência”.

    O remédio era duplo: aqueles com o nível aprovado de “consciência de classe” deveriam procurar educar aqueles cuja “consciência de classe” era deficiente. Ao mesmo tempo, eles deveriam perseguir, tanto quanto possível, as ações políticas que são ditadas por indivíduos e organizações conscientes de classe.

    Esse modo de remédio tinha duas vantagens: primeiramente, justificava-se a legitimação de qualquer ação que as organizações com “consciência de classe” buscarem; em segundo lugar, permitia a elas ser condenscendentes com os acusados de “falsa consciência”.

    O conceito de “falsa consciência” (apesar do termo não ser utilizado hoje em dia) e o remédio sugerido têm seu paralelo na análise amplamente compartilhada que é feita atualmente pelos profissionais da educação sobre o comportamento de pessoas com menos educação. Um grande número de trabalhadores apoiou Donald Trump e as famigeradas organizações de extrema-direita (assim como grupos semelhantes em outros países apoiaram figuras similares a Trump). Muitos opositores bem-educados de Trump perceberam seu apoio por pessoas mais pobres como um falha irracional, já que Trump não tem a ver com o seu interesse.

    O remédio também é paralelo: eles procuram educar os apoiadores equivocados de Trump. Eles também continuam a impor sua própria solução para os problemas políticos contemporâneos, ignorando o fraco nível de apoio dos estratos mais baixos da população.  Seu escárnio, mal disfarçado, para os estratos mais pobres, os conforta em suas próprias ações. Eles ao menos não possuem uma falsa consciência.

    Eles compreendem o que o programa real de Trump é e compreendem que ele não é do interesse de ninguém, exceto de uma pequena minoria da população, o 1%. Paul Krugman expressa essa visão regularmente em sua coluna no The New York Times. Isso é o que Hillary Clinton quis dizer quando ela fez a declaração mal-intencionada sobre metade dos apoiadores de Trump terem vindo de uma “cesta de deploráveis”.

    Nunca ajuda ninguém a analisar o mundo real presumir que os outros não agem em seu próprio interesse. É muito mais útil tentar discernir como esses outros enxergam para si mesmo o que é seu próprio interesse. Por que os trabalhadores votam em partidos de direita (mesmo de extrema-direita)? Por que aqueles cujo padrão de vida tem diminuído ou que vivem em áreas rurais com fraca infraestrutura apoiam um homem e um programa baseado na diminuição dos impostos sobre as fortunas e na redução das redes de seguridade social para si próprios?

    Se alguém lê as declarações que eles fazem na internet ou em respostas às perguntas feitas pelos repórteres de notícias, a resposta parece clara, embora complexa. Eles sabem que os regimes liderados pelos presidentes mais tradicionalmente do Establishment dos últimos 20 anos têm lhe feito mal em termos de rendas e benefícios. Eles afirmam não ver razão para presumir que continuar as políticas anteriores melhorará sua situação. Eles pensam que não é irracional supor que sua situação pode melhorar com um candidato que promete governar de uma forma completamente diferente. Isso é tão inconcebível?

    Eles acreditam que as promessas ligeiramente redistributivas dos governos anteriores não os ajudaram em nada. Quando eles ouvem esses mesmos governos se vangloriarem (num exagero enorme) do progresso social que fizeram para ajudar “minorias” a serem melhor integradas aos programas de governo ou direitos sociais, é fácil entender que eles associam redistribuição e minorias, e então concluem que outros estão avançando às suas custas. Esta é uma conclusão muito errada a ser extraída, na minha visão e na visão da maioria daqueles que se opõem a Trump. Mas é melhor acreditar que um governo de Hillary Clinton serviria melhor a eles?

    Sobretudo, Trump os ouviu, ou ao menos fingiu ouvi-los. Clinton os desprezou. Eu não estou discutindo aqui que tipo de programa social a esquerda deveria oferecer agora, ou deveria ter oferecido durante a última eleição. Estou apenas sugerindo que a linguagem sobre a falsa consciência é uma forma de esconder de nós mesmos o fato de que todos buscam seu interesse pessoal, inclusive os “deploráveis”. Não temos o direito de ser condescendentes. Precisamos entender. Entender os motivos dos outros não significa legitimar seus motivos ou mesmo negociar com eles. Isso significa que devemos buscar a transformação social realisticamente sem culpar os outros por não nos apoiarem, argumentando que estão cometendo erros de julgamento.

    (15/03/2017)

    Fonte: http://iwallerstein.com/the-falsity-of-false-consciousness/  (Tradução: Charles Rosa, do Observatório Internacional da Fundação Lauro Campos)

  • Lula e as reformas

    Lula e as reformas

    por Marcio Rosa *

     

    Dois fatos marcaram a conjuntura política do país na última semana: as massivas manifestações do dia 15 contra a reforma da Previdência e a divulgação da segunda lista de Janot. Esses apontam para uma maior dificuldade do governo e retomada do protagonismo popular, dentro de um quadro de muita instabilidade, assim como mais dificuldade para a candidatura de Lula.

    O golpe foi levado a cabo para permitir a realização das reformas, em especial a reforma trabalhista e previdenciária. Depois de um momento de reorganização, as forças populares retomam o protagonismo e enfrentam o governo golpista e suas reformas. Grandes manifestações em diversos estados, amplas paralisações, inclusive dos transportes, fizeram do dia 15 um grande dia para a luta dos trabalhadores, um momento de força em uma conjuntura tão adversa.

    O ato em SP teve como um dos oradores o ex-presidente e candidato a candidato à Presidência da República, o Lula. Pouco depois de depor como réu na Operação Lava Jato e de receber o apoio de intelectuais e artistas à sua candidatura, foi falar em uma manifestação onde contava com grande apoio. Mas não empolgou, mesmo assim. Até porque era um ato de protesto, não um comício.

    A luta contra a reforma não pode ser instrumentalizada em favor de uma candidatura. Há, inclusive, muita contradição nessa defesa, pois Lula foi o primeiro a realizar uma reforma da previdência atacando o funcionalismo público e abrindo caminho para outros ataques aos direitos dos trabalhadores.

    A tática da esquerda para o próximo período não deve começar pelos nomes. O que precisamos é de um programa popular de combate à crise, onde os mais ricos paguem a conta, e que possa contribuir para um processo de reorganização da esquerda. O “programa” que Lula apresenta é insuficiente: já que está ruim com Temer, vamos voltar com Lula. Mas as condições são outras, e ele não diz como vai fazer em tempos de vacas magras, muito menos reconhece os limites de seu governo anterior.

    A candidatura de Lula, nesse momento, sequestra o futuro. Primeiro, porque a premissa de que ele é o único que pode vencer a direita é questionável. Tem muito apoio mas também muito telhado de vidro, e está sendo bombardeado faz tempo. Segundo porque sufoca a renovação e o debate sobre programa. Terceiro, porque não oferece muito mais que um programa liberal com preocupações sociais, agora em condições econômicas muito mais difíceis. Por fim, impede a crítica aos governos petistas e não reconhece os limites do reformismo de baixa intensidade.

    A ideia de uma reforma da Previdência pegou muito mal entre os trabalhadores. Mesmo com toda a imprensa fazendo propaganda a favor, a reforma é altamente impopular. É hora de intensificar as ações contrárias, sempre em amplo diálogo com a população. É a pauta do momento, onde devemos concentrar nossos melhores esforços.

    Ao mesmo tempo a Operação Lava Jato se intensifica com a divulgação da lista de Janot. Há um terremoto de grandes proporções na política nacional. Para os socialistas, cabe pedir a mais ampla investigação para todos os envolvidos, mesmo que nesse caso específico se reconheça a seletividade da OLJ.

    A lista de Janot implica nomes do PT, em especial o ex-presidente Lula. Pode ser um caminho para impedir que ele se candidate. Mas também acerta o governo golpista, com diversos denunciados ocupando ministérios centrais, assim como os presidentes da Câmara e do Senado. Pode inclusive contribuir para diminuir o ímpeto do governo em fazer reformas que retiram direitos.

    O cenário de dificuldade é agravado pela situação econômica difícil e pelos ajustes recessivos. A carestia e a dificuldade vão se ampliar com a queda do emprego e da renda. Os trabalhadores não podem pagar pela crise. Medidas como a taxação de grandes fortunas, reforma tributária e diminuição dos juros reais são alternativas à ortodoxia neoliberal que quebrou diversos países e puniu os trabalhadores.

    O foco da luta política no próximo período deve ser barrar as reformas, onde há ampla unidade e fragilidades do governo golpista. Em paralelo, atuar no processo de reorganização da esquerda e de construção coletiva de uma plataforma dos trabalhadores para superar a crise. A candidatura de Lula, nesse sentido, só atrapalha.

     

    * Marcio Rosa é sociólogo e diretor da Fundação Lauro Campos

  • Observatório Internacional, de 11 a 18 de março de 2017

    Observatório Internacional, de 11 a 18 de março de 2017

    As eleições holandesas foram o acontecimento de maior repercussão na imprensa internacional nesta semana. A derrota do ultradireitista Geert Wilders, que buscava ser o Trump holandês, produziu uma mistura de alívio (visto que as pesquisas lhe colocavam com chances reais de vitória) e ao mesmo tempo de preocupação, posto que o candidato vitorioso, o atual premiê liberal Mark Rutte, deslocou seu discurso para a direita a fim de manter seu partido na liderança do governo. O fato é que tanto os defensores da União Europeia quanto as forças pró-imigração celebraram o malogro de Wilders.

    Por outro lado, o mundo ainda assistiu na última semana ao encontro repleto de tensão entre Trump e Merkel, a condenação de Artur Mas pela construção do referendo independentista em 2015, a batalha por uma nova consulta de independência da Escócia, o bombardeio de Israel na Síria, a convocação de novas eleições presidenciais na Coreia do Sul, os escândalos no governo Abe no Japão, o protesto de curdos na Alemanha contra Erdogan, o desarmamento do grupo separatista basco ETA e a convocatória de greve geral contra Macri.
    Esta edição do Clipping traz estes assuntos mais nove artigos escritos por diferentes vertentes da esquerda mundial.
    A todos uma boa leitura e até a próxima edição.

     

    Charles Rosa – Observatório Internacional

     

    ELEIÇÕES NA HOLANDA
    No 15 de março, os holandeses foram às urnas. Os resultados foram a vitória do atual premiê liberal Mark Rutte (21%), com menos votos que a vez anterior (25%), a derrota acachapante da direita nacional-populista, representada por Geert Wilders (13%) cujas pesquisas apontavam um apoio bem maior de 24-26%, o encolhimento impressionante do Partido Trabalhista (de 24% para 5%) e a ascensão vertiginosa da Esquerda Verde (de 2% para 9%). O debate das últimas semanas esteve centrado na questão imigratória e um partido dos imigrantes turcos (DENIK) conseguiu eleger seus três primeiros representantes no Parlamento e cravar 7,5% dos votos na capital Amsterdã.

     

    ENCONTRO MERKEL E TRUMP
    A chanceler alemã foi a Washington visitar a Casa Branca. A cena mais repercutida de seu encontro com Trump foi a recusa deste de lhe apertar a mão perante os fotógrafos. Além desse incidente simbólico, na pauta da reunião esteve a garantia alemã de manter o apoio a OTAN, as dívidas militares da Alemanha, o problema dos refugiados e a espionagem de chefes de estado promovida durante o governo Obama.

     

    CONDENAÇÃO DE ARTUR MAS
    O Tribunal Superior de Justiça da Catalunha condenou o ex-presidente do governo catalão Artur Mas a dois anos de inelegibilidade pela realização de um referendo pela independência catalã em relação ao Estado espanhol. A medida é vista como um sinal de alerta para o atual presidente da Catalunha, Carles Puigdemont, que já anunciou um novo referendo para setembro próximo, a contragosto do primeiro-ministro espanhol Mariano Rajoy. Neste domingo, milhares saíram às ruas da Catalunha defender o processo independentista.

     

    DESARMAMENTO DO ETA
    O grupo separatista basco ETA anunciou na sexta-feira (17 de março) seu desarmamento unilateral e incondicional a partir de 8 de abril e inclusive irá revelar os esconderijos de seu arsenal para as autoridades. O exército independentista, extremamente fragilizado nos últimos anos, adotou a medida de acelerar a entrega de armas, depois que a Espanha e a França se recusaram a um processo de negociação. Além disso, uma parte da esquerda nacionalista basca já pressionava o grupo a abandonar a tática armada, com vistas a fortalecer o movimento político de massas na região.

     

    ESCÓCIA
    Impulsionado pelo Brexit, cresce uma tendência política na Escócia favorável à realização de um novo referendo de independência. A premiê escocesa Nicola Sturgeon vem concedendo uma série de declarações nas últimas semanas se posicionando pelo direito dos escoceses decidirem se querem continuar a fazer parte da União Europeia ou permanecer no Reino Unido cada vez mais isolado. Theresa May, primeira-ministra britânica, em contrapartida trabalha para inviabilizar as condições de um novo pleito de ruptura.

     

    PROTESTOS CONTRA ERDOGAN NA ALEMANHA
    Frankfurt foi palco neste fim de semana de uma manifestação de milhares de curdos contra Recep Erdogan, mandatário turco. O ato reivindicou a liberdade da principal liderança do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), Abdullah Oculan, e denunciou as medidas arbitrárias de Erdogan. O governo turco comentou o protesto, criticando a permissão concedida pelo Estado alemão aos curdos. O protesto ocorreu em meio ao acirramento das tensões diplomáticas entre o governo turco e líderes europeus. Na segunda-feira, o presidente turco acusou a chanceler federal alemã, Angela Merkel, de “apoiar terroristas”. A Turquia tem criticado o país por oferecer refúgio a militantes da causa curda.

     

    CONFLITO NA SÍRIA
    Aviões israelenses atacaram vários alvos da Síria na madrugada da sexta-feira (17/03) e, em resposta, teve um abatido pelo Exército Sírio no enfrentamento mais sério entre os dois países desde 2011. Alguns analistas internacionais veem a recente interferência de Israel, como uma movimentação visando diminuir o espaço de influência de seu estado rival Irã na região.

     

    NOVAS ELEIÇÕES NA COREIA DO SUL
    9 de maio será o dia em que os sul-coreanos irão às urnas escolher o sucessor da presidenta cassada Park Geun-hye, destituída após a revelação de um grande esquema de corrupção no interior do seu governo em conluio com algumas das maiores empresas do

     

    JAPÃO
    O primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, está enfrentando escândalos em duas frentes devido a dúvidas sobre seus laços com uma escola nacionalista envolvida em uma compra suspeita de um terreno e a clamores pela renúncia de sua ministra da Defesa. Os reveses na sua imagem vêm justamente num momento em que o Japão tenta renegociar acordos comerciais com os EUA e a burguesia japonesa pressiona Abe a acelerar as “reformas estruturais” para maximizar a produtividade japonesa.

     

    GREVE GERAL NA ARGENTINA EM 6 DE ABRIL
    A maior central sindical argentina, CGT, foi pressionada a convocar a primeira greve geral contra o governo Macri depois da forte paralisação ocorrida em 7 de março. A data escolhida foi o próximo 6 de abril e os macristas já tentam descafeinar as mobilizações deste dia, oferecendo alguns pactos para o triunvirato peronista que dirige a CGT.

     

    CASO ODEBRECHT NA COLÔMBIA
    O chefe de campanha de Juan Manuel Santos em 2014, Roberto Prieto, confessou na terça-feira (14 de março) que pelo menos 440 mil dólares da campanha veio de origens irregulares da Odebrecht, obrigando Santos a pedir desculpas em rede nacional. O escândalo atinge o governo Santos em sua reta final.

     

    ARTIGOS E NOTÍCIAS DA ESQUERDA INTERNACIONAL

    1- Balanço das eleições holandesas – O jornalista Romaric Godin interpreta o fracasso de Geert Wilders no 15 de março, o castigo à coalizão governante e principalmente o encolhimento do Partido Trabalhista.

    Viento Sur: http://vientosur.info/spip. php?article12362

    2- A revolução ultraliberal prometida por Macron – A jornalista Laura Raim destrincha a essência das propostas liberalizantes de Emmanuel Macron, hoje favorito a vencer as eleições presidenciais francesas.
    3- A vitória de Trump e a profunda crise do capitalismo – Nicole M. Aschoof, uma das editoras da Jacobin Magazine, enxerga os pontos de contato entre a emergência de Trump nos EUA e a agonia prolongada do consenso neoliberal que presidiu as relações geopolíticas e econômicas nas últimas décadas.
    4-Corrupção da Odebrecht na Colômbia – O cientista político Juan Javier Capera Figueroa comenta a inserção corrupta da megaempreiteira brasileira no sistema político colombiano.
    5- Referendo na Turquia – O analista político Esen Uslu anota as motivações que levam Erdogan a apostar tudo num referendo (em 16 de abril) que lhe garanta a permanência no poder e observa as dificuldades do AKP em consolidar a autocracia de Erdogan.
    6- O ajuste de Macri e a ebulição social na Argentina – O economista Claudio Katz combina o exame econômico do atual desajuste neoliberal argentino e a rebelião das bases sindicais que pressionam as centrais a se confrontarem com Macri.
    7- O impeachment da presidenta Park – O coordenador do Fórum Internacional na Coreia, Won Yongsu, nos apresenta sua perspectiva sobre a vitória do movimento das velas que logrou derrubar o governo corrupto de Park Geun-Hye.
    8- G20: Protecionismo econômico e acordo pelo clima excluídos da declaração final – Pressão norte americana no encontro dos representantes das vinte maiores economias mundiais exclui condenação ao protecionismo econômico e apoio ao Acordo de Paris sobre alterações climáticas.
    9- Angolanas marcham contra a criminalização do aborto – “No dia 23 será a votação final da proposta de proibição total do aborto no novo Código Penal angolano. Mulheres marcharam hoje na capital sob o lema “chega de mulheres mortas por abortos clandestinos”.”