Autor: Redação Lauro Campos

  • O discurso de Dilma e o fim da era da conciliação

    O discurso de Dilma e o fim da era da conciliação

    Luiz Araújo*
    Juliano Medeiros**

     

         Esta semana o Senado Federal deve concluir o processo de impeachment de Dilma Rousseff. Com isso, pela primeira vez desde o fim da Ditadura Militar, o Brasil terá um governo ilegítimo, fruto de um golpe parlamentar. O PSOL nunca fez parte das gestões de Lula e Dilma. Desde sua fundação, nosso partido sempre esteve na oposição aos governos petistas, exatamente por não concordar com as alianças feitas pelo PT para garantir a famigerada “governabilidade” e com os rumos de sua política econômica. Por isso, nunca tivemos cargos ou ministérios nos governos petistas. Apesar disso, nos engajamos firmemente na luta contra o golpe, já que consideramos inadmissível apoiar a deposição de uma presidenta legitimamente eleita sem a comprovação de crime de responsabilidade ou manter-se alheio à luta política que se trava no país.

         Ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, Dilma não foi afastada pela corrupção em seu governo. Ela foi afastada por decretos e medidas fiscais (as tais “pedaladas”) que foram promovidas por todos os ex-presidentes e por inúmeros governadores. Por isso o governo Temer é ilegítimo: ele é produto de um impeachment realizado sem a comprovação de crime de responsabilidade. E por que o golpe foi promovido agora? Porque o mercado exige a implementação de medidas “impopulares” que nunca teriam apoia da maioria da população nas eleições, como a privatização da saúde e da educação, o fim das políticas sociais ou uma reforma da previdência que retirará direitos das mulheres. O golpe, portanto, é uma iniciativa do mercado e seus parceiros no Congresso Nacional, partidos corruptos que não têm nenhum compromisso com os direitos sociais. Por isso o PSOL disse não ao golpe e defende, com o afastamento definitivo de Dilma, o impeachment do corrupto Temer e a convocação de eleições presidenciais, como prevê a Constituição Federal, para devolver ao povo o direito de decidir.

    O discurso de Dilma

         O discurso de Dilma, na manhã desta segunda-feira, foi o mais altivo e corajoso realizado por ela desde sua posse como presidente da República, em 2011. Infelizmente, foi tarde demais. Sua opção por fazer uma denúncia do golpe em curso, ao invés de tentar “convencer” os senadores supostamente indecisos, foi correta. Podemos dizer, com a intervenção feita por Dilma esta manhã, que o ciclo da conciliação chegou ao fim no Brasil. É claro que muitos partidos e lideranças não compreenderão esse marco e seguirão buscando alianças com os partidos que promoveram o golpe. Basta dizer que o PT, por exemplo, compôs alianças com partidos golpistas em mais de mil municípios brasileiros para as eleições municipais deste ano.

         Se Dilma tivesse assumido a postura que assumiu esta manhã no Senado desde o início de seu segundo mandato, talvez o golpe não tivesse se consumado. Se não tivesse cedido às pressões do mercado implementando um duríssimo ajuste fiscal que retirou direitos e aprofundou a recessão, não teria minado o que restava de apoio juntos às camadas populares. Se não tivesse entregado sete ministérios ao PMDB no começo deste ano, talvez parte da população não teria visto a luta em torno do impeachment como uma briga dos “de cima”. Se não tivesse buscado um acordo com Eduardo Cunha para evitar o processo contra si na Câmara dos Deputados, talvez o corrupto peemedebista tivesse iniciado o impeachment sem que o desgaste do governo Dilma agisse a seu favor. Mas a história “contrafactual” – isto é, aquela que se escreve com os fatos que não ocorreram – não pode explicar a realidade. Embora por vias trágicas, o fim da era de conciliação abre novas perspectivas e desafios para os setores democráticos, progressistas e de esquerda.

         Evidentemente, o impeachment vai produzir enormes retrocessos. Sem a presença de uma oposição parlamentar e social substantiva ao governo Temer, ele poderá promover facilmente a retirada de direitos. Afinal é para isso que o golpe foi promovido. Por isso é preciso construir um novo polo social e político de esquerda que negue radicalmente a conciliação com os poderosos de sempre. Uma das lições destes 13 anos de governos petistas é que projetos reformistas só podem prosperar em contextos de expansão econômica: é a chamada política do “ganha-ganha”, em que as classes populares e as elites econômicas são beneficiados simultaneamente pelo crescimento da economia. Em contextos de recessão, no entanto, a disputa pelo fundo público amplia a polarização e radicaliza os conflitos de classe, como temos visto na Venezuela, onde a lógica da conciliação não foi o caminho adotado por Hugo Chávez.

    Nossos desafios

         Por isso, a destituição de Dilma e seu discurso na manhã desta segunda-feira marcam o fim deste ciclo de conciliação. A esquerda que surgirá dos escombros da crise petista deverá negar peremptoriamente a dependência em relação às classes dominantes. Deverá ser uma esquerda independente, combativa e plural. Hoje, o polo mais dinâmico desse processo de reorganização, que se iniciou com a crise do mensalão, em 2005, e ganhou fôlego com os primeiros protestos de junho de 2013, é o PSOL. Esse processo, no entanto, não se dará sem contradições. A figura de Lula, por exemplo, continua sendo o mais poderoso símbolo em favor da política de conciliação de classes. Ele segue tendo, seja por sua força carismática, seja pelos avanços sociais promovidos em seu governo, uma grande influência entre setores sociais fundamentais para este processo de reorganização. Por isso, construir uma alternativa independente nas eleições presidenciais em 2018 é uma necessidade incontornável.

         Até lá, os setores sociais que lutaram contra o golpe deverão manter a frente única que se formou nos últimos meses. Essa frente, cuja principal expressão é a articulação em torno da Frente Povo Sem Medo, terá como tarefa principal o combate às medidas antipopulares do governo Temer. Esse enfrentamento começa na luta contra as propostas de congelamento dos salários e investimentos públicos e da reforma da previdência. Do resultado deste embate dependerá o ritmo e o sentido geral do processo de reorganização da esquerda. O PSOL estará na linha de frente desta luta, contribuindo com sua atuação parlamentar e nos movimentos sociais para derrotar Temer e construir uma nova síntese política capaz de fortalecer um projeto socialista, democrático e popular para o Brasil.

    *Luiz Araújo é presidente nacional do PSOL.
    **Juliano Medeiros é presidente da Fundação Lauro Campos.

  • Lançamento do livro “Um partido necessário: 10 anos de PSOL” em Natal-RN

    A Fundação Lauro Campos, conjuntamente com o PSOL-RN, promovem o lançamento do livro “Um partido necessário: 10 anos de PSOL”, organizado por Juliano Medeiros e Israel Dutra. Venha participar!

     

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    Quando: 03/09/2016 às 19h00
    Onde: Sindicato dos Bancários : Av. Deodoro da Fonseca, 419, Bairro Petrópolis – Natal – RN.

  • Fundação Lauro Campos promove debate no Fórum Social Mundial

    Fundação Lauro Campos promove debate no Fórum Social Mundial

    A Fundação Lauro Campos promoveu no último dia 11 de agosto o painel “The new latinamerican situation” (A nova situação latinoamericana), durante o Fórum Social Mundial, em Montreal, no Canadá. O evento, que integrava a programação oficial do Fórum, contou com a participação de ativistas de vários países, como Equador, Argentina, Estados Unidos, Canadá, Bélgica, Venezuela, dentre outros.

    Na mesa do debate estiveram presentes Pablo Solon, ex-ministro plenipotenciário do governo de Evo Morales, na Bolívia, Richard Arce, deputado da Frente Ampla na Assembléia Nacional do Peru e Charles Lenchner, dirigente da campanha do pré-candidato democrata Bernie Sanders, nos Estados Unidos. Além deles, participaram representando a Fundação Lauro Campos os companheiros Pedro Fuentes, coordenador do Observatório Internacional da Fundação, e Juliano Medeiros, diretor-presidente da entidade.

    No debate, cada um dos integrantes da mesa destacou aspectos particulares da realidade de seus países. Pablo Solon abordou as contradições advindos do processo de crescimento econômico da Bolívia nos últimos anos e os inconvenientes que o modelo extrativista traz consigo, especialmente no caso boliviano. Richar Arce, deputado recém-eleito pela Frente Ampla após a extraordinária campanha presidencial de Veronika Mendoza (terceira colocada, com 18% dos votos), abordou a situação política de seu país a partir do processo e reorganização da esquerda peruana neste ano. Para ele, uma esquerda “renovada” deve saber construir uma agenda política a partir das mobilizações de todos os excluídos. Charles Lenchner, dirigente da campanha de Bernie Sanders, o senador que enfrentou Hilary Clinton nas primárias do Partido Democrata com uma plataforma claramente anticapitalista, mencionou as discussões acerca da criação de um partido independente que busque romper a histórica polarização entre democratas e republicanos. Além deles, estava confirmada a presença da ex-ministra do meio ambiente do governo de Hugo Chavez, Ana Elisa Osório, que não pode vir ao Canadá depois que o país negou a emissão de seu visto, o que foi objeto de protesto de vários participantes.

    Os representantes da Fundação Lauro Campos foram ouvidos atentamente pelo público. Pedro Fuentes, coordenador do Observatório Internacional da entidade, apresentou as características gerais do que ele considera “o fim de um ciclo” na América Latina. Esse ciclo teria sido caracterizado por governos anti-imperialistas e reformistas de diferentes características, e seu fim se expressa na crise que estes projetos vivem hoje, com a derrota do kirschnerismo na Argentina, o impeachment de Dilma no Brasil e as dificuldades do governo Maduro, na Venezuela. Já o presidente da Fundação Lauro Campos, Juliano Medeiros, concentrou sua análise nas consequências do golpe no Brasil e as características gerais do governo de Michel Temer. Para ele, o golpe tem por objetivo “colocar em marcha uma agenda ultraliberal que busca garantir as condições para um novo ciclo de valorização do capital no Brasil, destruindo direitos sociais e instrumentos de proteção aos povos indígenas e ao meio-ambiente”. Após a exposição dos debatedores, vários participantes pediram a palavra para fazer perguntas. O debate contou com a tradução de Alejandra Zaga, militante peruana do partido Québec Solidaire, e foi realizado na Universidade de Quebéc.

    Durante o Fórum Social Mundial os representantes da Fundação Lauro Campos ainda participaram do Fórum Parlamentar Mundial e distribuíram o Guia do Golpe para Estrangeiros, editada pela entidade em quatro idiomas (francês, inglês, espanhol e português), e que foi um sucesso entre os participantes do FSM.

  • Pela esquerda, de olhos abertos

    Pela esquerda, de olhos abertos

    por Cid Benjamin *

        Sou de esquerda. E desconfio de quem diz não existir mais esquerda e direita. Enquanto houver desigualdades sociais, haverá quem lute para eliminá-las. E haverá quem diga que elas são naturais. Os primeiros são de esquerda; os outros, de direita. Quando discuto política, me preocupo em sensibilizar quem não pensa como eu. Não me seduz falar para quem pensa igual. E assim como tento levar outras pessoas à reflexão sobre minhas razões, trato de ter a cabeça aberta.

        Essas preocupações estão presentes num livro que lancei recentemente, ‘Reflexões rebeldes’, com artigos variados. A maior parte combate teses sustentadas pela direita. Mas outros criticam posições equivocadas defendidas por gente de esquerda.

        As posições do presidente interino, Michel Temer, são duramente criticadas. A maioria retira direitos dos trabalhadores e favorece ainda mais quem já é favorecido. É o caso da “modernização” das leis trabalhistas, que cortam direitos previstos na CLT.

        Os cortes de recursos para as áreas sociais também não podem ser aceitos. Vão piorar a qualidade dos serviços públicos, prejudicando os mais pobres.

        Mas há teses defendidas por gente de esquerda que são criticadas no livro. Um exemplo: a tarifa zero nos transportes. Em 2013 o povo foi para as ruas por não aceitar o aumento das tarifas, sentido no bolso. Mas, se não se abrir a caixa-preta das empresas de ônibus, a implantação da tarifa zero fará com que as prefeituras reajustem o valor pago aos empresários sem que a população se dê conta. E, sabemos, há prefeitos muito dóceis no trato com os empresários de transporte. O do Rio, por exemplo. Basta ver que, aqui, a prefeitura calcula o valor das tarifas a partir das informações de receita e despesa que recebe dos empresários. Ela não fiscaliza esses números. Tudo é em confiança. Mas, pelo menos, quando há um reajuste, a população fica sabendo. Isso não acontecerá com tarifa zero.

        Este é um exemplo de como nem tudo o que é apoiado pelo movimento popular deve ser encampado acriticamente. Há outros exemplos. É preciso manter o compromisso com os mais pobres, mas não se deixar levar por aparências que significam um tiro no pé. Chamar a atenção para isso é um dos objetivos do ‘Reflexões rebeldes’.

    * Cid Benjamin é jornalista

    (Texto originalmente publicado no jornal O Dia – 16/08/2016)

  • O legado revolucionário de Fidel Castro

    O legado revolucionário de Fidel Castro

    por Juliano Medeiros*

     

       Fidel Castro não é apenas o principal líder de uma das mais extraordinárias páginas da história universal – a Revolução Cubana – ou o longevo líder de um povo que resiste há quase sete décadas às investidas do imperialismo contra sua liberdade. Fidel é o símbolo de um tempo: o tempo em que homens e mulheres enfrentavam corajosamente a morte em busca da liberdade, como fizeram antes dele Martí e Bolívar, como fizeram depois dele milhares de revolucionários em todo o mundo. Mas Fidel é também um homem do nosso tempo. O século XXI é pródigo naquilo que as enciclopédias antigamente chamavam de “vultos da humanidade”. E Fidel é um dos poucos nomes da envergadura de nomes como Lenin, Mao Tsé Tung, Ho Chi Min, Mandela e Gandhi, que chegaram aos dias de hoje.

       Neste 13 de agosto Fidel Castro completa 90 anos. E diante desta data extraordinária para qualquer ser humano, estive pensando, nos últimos dias, que tipo celebração a data mereceria. Já li muito sobre Fidel e aprendi a admirá-lo desde meus primeiros dias de militância política. Mas se tratando do líder cubano, sempre há formas de nos surpreender. Buscando algumas declarações recentes de Fidel, me deparei com seu breve discurso na sessão de encerramento do VII Congresso do Partido Comunista de Cuba. Nele, do alto de seus quase 90 anos, Fidel reafirma seu compromisso histórico com o socialismo, a revolução e a luta contra as opressões. Quantos chegaram a essa altura da vida sem renegar tais compromissos? Quantos não teriam deixado se levar pelo caminho fácil da conciliação? Quantos não teriam se curvado ante as promessas do inimigo?

       Em seu discurso, Fidel lembrou o lugar da história na luta pela transformação. Citou os exemplos dos pais da luta contra o imperialismo em Cuba: Maceo, Gómez e Martí. Com eles Fidel conclamou a revolução cubana a “melhorar com a máxima lealdade e força unida”. Citou, ainda, Lenin. E afirmou que seria inimaginável ver a obra do grande revolucionário de outubro ultrajada setenta anos depois, numa referência à restauração capitalista na Rússia no início dos anos 90. Mais do que isso, disse que “não devem transcorrer outros 70 anos para que ocorra outro evento como a Revolução Russa, para que a humanidade tenha outro exemplo de uma grande Revolução Social”, numa clara exortação à revolução como direito inalienável dos povos, tal como defendera em 1953 durante sua defesa no tribunal que o processara pelo fracassado assalto ao Quartel Moncada.

       Mas seu discurso não foi uma ode ao passado. Fidel dispensou uma atenção especial ao presente e ao futuro. Ele mencionou a necessidade da humanidade repensar sua relação com a natureza, sem a qual todos estaremos condenados à aniquilação. Peguntou Fidel: “como alimentar os milhares de milhões de seres humanos cujas realidades inevitavelmente colidem com os limites para a água e os recursos naturais que necessitam?” Ora, do alto de seus 90 anos, o líder da revolução cubana não deixa de adicionar preocupações a seu repertório.

       Estas palavras demonstram a grandeza de Fidel, que segue reafirmando sua fé na humanidade, na revolução e no marxismo. Por isso considero Fidel Castro um exemplo de revolucionário: nunca cedeu às tentações do voluntarismo ou da conciliação, como fizeram muitos outros líderes políticos de seu tempo; manteve a unidade do povo e da revolução através do exemplo revolucionário; apoiou a luta dos oprimidos em todos os continentes, mesmo sendo Cuba uma pobre ilha que teve que reorganizar completamente seu sistema econômico depois da revolução; apostou na transformação cultural do povo para construir o que Guevara chamou de “o novo homem e a nova mulher”; não se curvou jamais aos ditames do imperialismo e seus aliados; lutou pela paz mundial sem abrir mão da defesa ao direito inalienável dos povos à insurgência contra seus governos; construiu um modelo socialista que, apesar de suas limitações, alcançou conquistas inimagináveis. É claro que Fidel não é perfeito e, como qualquer líder político, cometeu seus erros. Mas até nisso ele é diferente de outros revolucionários: a autocrítica é uma de suas marcas mais impressionantes, que o diferencia não só de outros líderes mundiais, mas da maioria dos seres humanos.

       Ser “castrista” no século XXI, portanto, não significa defender a tomada do poder por uma pequena guerrilha mal equipada e inexperiente, mas cheia de disposição revolucionária e idealismo. Ser castrista significa, ao contrário, compartilhar dos valores da solidariedade internacional, da paz mundial, da luta pela construção de uma cultura de fraternidade. Ser castrista é acreditar na revolução como um processo historicamente possível, é ser radicalmente anti-imperialista, é buscar uma visão crítica dos demais processos revolucionários sem julgá-los. Ser castrista é reconhecer que o processo iniciado por Fidel e seus camaradas em Cuba é parte de um movimento continental que ainda não se concluiu historicamente e do qual todos os socialistas latino-americanos fazem parte, gostem ou não.

       Como escreveu Florestan Fernandes, pela passagem do 25º aniversário do triunfo revolucionário liderado pelos homens e mulheres do Movimento 26 de Julho: “A revolução cubana desvenda o futuro da América Latina. Uma nova civilização já começou a ser criada, em uma sociedade nova e por homens novos, libertos das servidões do colonialismo e do neocolonialismo. O que está em jogo não é mais o que se imaginou, na década de sessenta, ser a ‘via cubana’ para a revolução e o socialismo – a guerrilha. Após vinte e cinco anos de vitória e aprofundamento da revolução, Cuba dá uma lição de humildade, de firmeza e de determinação, inclusive que a revolução possui vários caminhos na América Latina. (…) Ela é um dos países socialistas mais autênticos e o único que imprimiu vida estuante própria ao princípio da liberdade igualitária”. Não por acaso o artigo de Florestan Fernandes levou o título de 25 anos de castrismo. A extraordinária obra a qual o grande sociólogo brasileiro se refere não é mérito de Fidel Castro, mas de todo o povo cubano. No entanto, ela dificilmente teria chegado tão longe sem a determinação, a firmeza e o compromisso revolucionário de Fidel Castro. Por isso ele é, sem sombra de dúvidas, o maior revolucionário americano do século XX e merece todas as homenagens na passagem de seus 90 anos.

     

    *Presidente da Fundação Lauro Campos e dirigente do PSOL.

  • Guia do golpe no Brasil para estrangeiros

    Guia do golpe no Brasil para estrangeiros

    A publicação lançada pela Fundação Lauro Campos tem como foco explicar aos estrangeiros o processo em andamento do golpe no Brasil, suas causas, atores envolvidos e consequências imediatas. Nele, há dez perguntas e respostas que explicam o atual processo político em curso e as razões pelas quais é fundamental denunciá-lo aqui e no exterior.

     

    O caderno em formato de revista foi produzido nos idiomas inglês, francês e espanhol, além do português.

     

    A Guide to the Coup in Brazil for Foreigners (english/français/español/português)

     

     

  • O colapso ético

    O colapso ético

    por Roberto Amaral

    Estamos em face do colapso do sistema partidário, atingido pela inautenticidade, falência representativa e absoluta renúncia a qualquer ordem de opção ideológica ou programática.

    Nada menos do que 117 deputados federais respondem a inquéritos, alguns de natureza penal, outros por compra de votos, quase todos acusados de corrupção.

    Por seu turno, e coroando o escândalo que só não é visto por quem não quer, mais de uma dezena de senadores são alvos de processos de natureza vária, desde delitos eleitorais a crimes comuns.

    Um deles, então líder do governo, foi preso em pleno exercício do mandato, o que denota tanto o caráter da composição da câmara alta quanto sua pusilanimidade.

    Seu ainda presidente sobrevive toureando os processos que lhe move o Ministério Público, alguns já acatados pelo Supremo Tribunal Federal.

    Esse quadro, que sugere um colapso ético, que revela a iminente tragédia política, se reproduz, como fractal, por todo o país, nos parlamentos estaduais e nos municipais, indicando os riscos que ameaçam a mambembe democracia representativa de nossos tristes dias, infectada pelo vírus letal da ilegitimidade, que mais a distancia da soberania popular.

    O deputado Eduardo Cunha, afastado do mandato parlamentar por inédita ordem do STF e presentemente aguardando a inevitável cassação de seu mandato (não obstante a solidariedade cúmplice de seus correligionários), é réu em processos da mais vária natureza.

    Do inefável ex-presidente da Câmara dos Deputados pode-se dizer que se trata de profissional, com rica folha corrida, figura icônica da nova ordem política brasileira, esta que aos trancos e barrancos nos governa, violando a ordem constitucional e ferindo tudo o que se assemelhe a hora e dignidade.

    Dessa ordem política de hoje, mesquinha e pobre, pedestre, aflora o nanismo de personagens da linhagem de Michel Temer, Jair Bolsonaro, Ronaldo Caiado, Eliseu Padilha, Romero Jucá, Geddel Vieira Lima …, nossos governantes de hoje, e, dentre outros, esse lamentável Waldir Maranhão, ora retornado ao ostracismo, cuja alçada à presidência interina da Câmara dos Deputados por si só é a mais contundente demonstração da falência de um Parlamento que não se dá a respeito.

    A sobrevida parlamentar de Cunha, por sinal, deriva diretamente de sua condição como líder do ‘Centrão’, o valhacouto que o elegeu e o sustenta ainda, depois de abrir, por mesquinharia, o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

    Nesse ‘Centrão’ se reúnem – e dele partem para o assalto à República – o que há de pior do fisiologismo e do assistencialismo, o pior da representação do agronegócio, dos grileiros e dos latifundiários assassinos de índios e quilombolas, o pior do fundamentalismo neopentecostal, o pior das bancadas dos empreiteiros, o pior do lobby dos sonegadores de impostos financiados pelas FIESPs da vida.

    O pior do atraso. O ‘Centrão’, recuperado por Temer e hoje majoritário, é certeza de restauração do passado.

    A questão grave, crucial, o caruncho que está a construir nossa tragédia institucional, é que somos hoje governados por essa horda dos piores, senhores de baraço e cutelo dos três poderes da República.

    Esse condomínio de interesses pérfidos reúne algo mais que a maioria absoluta do Congresso Nacional e, assim, liderado ideologicamente pelo atraso, apoiado pela grande mídia, dispõe das condições objetivas para promover a restauração conservadora, a ressurreição do Brasil arcaico, dependente, oligárquico, reacionário.

    Essa coalizão – resultado do encontro do pior da base de Dilma Rousseff com o pior da oposição ao seu governo e ao lulismo – tem no Palácio do Planalto de hoje o comando do processo (e aí atuam de braços dados Legislativo, Executivo e Judiciário) de retomada do atraso que lembra os piores momentos da ditadura militar, com o agravante do entreguismo e do sentimento antinacional, de que não podem ser acusados os militares.

    A disfunção institucional, porém, é profunda, é estrutural, e sua gravidade independe das figuras e figurinhas que compõem nosso cenário político.

    Estamos em face do colapso do sistema partidário, atingido pela inautenticidade, falência representativa e absoluta renúncia a qualquer ordem de opção ideológica ou programática.

    Proliferando graças à irresponsabilidade da dupla STF-TSE, os partidos, na sua maioria – e relembremos sempre as exceções oferecidas pelos partidos de esquerda, em que pese sua crise coletiva – nada mais são hoje que meras siglas, ‘sopas de letrinhas’ sem significado, quase todos transformados em projetos empresariais que se beneficiam do fundo partidário e vendem tempo de televisão no processo eleitoral, além de apoios no Congresso a cada votação do interesse do Governo ou dos lobbies, chantageando a ambos.

    Por fora dos partidos formais, corroendo-os, ultrapassando-os, desmoralizando-os, agem os ‘partidos reais’, as bancadas interpartidárias, como as mais notórias, as bancadas do boi, da bola, da bíblia e a dos bancos, a bancada dos donos de emissoras de radio e tevê, e, até, as bancadas sérias, como a da saúde e a dos educadores, dentre outras, mas significando sempre o fracasso organizacional e programático e doutrinário dos partidos.

    O chamado ‘presidencialismo de coalizão’ vive seus estertores, após haver levado o governo Dilma à debacle política conhecida.

    A necessidade de reforma profunda, estrutural, aquilo que Darcy Ribeiro chamaria ainda hoje de “passar o Brasil a limpo”, é porém, tarefa do Congresso que temos, o grande beneficiário de todas essas mazelas.

    O que fazer? Sem respostas objetivas, mas apenas sonhos, resta-nos crer que a exaustão política, aguçando a crise, levará esse Congresso, ou o que se instalar em seu lugar em 2019 (se assim chegarmos até lá), a, pressionado pelo clamor das ruas, finalmente realizar as reformas sem as quais poderá estar escrevendo seu necrológio.

    A eleição na Câmara dos Deputados

    A disputa pela sucessão de Cunha-Maranhão (retrato de corpo inteiro da degenerescência que invade todo o organismo político brasileiro) travou-se entre um representante do ‘Centrão’ profundo e um líder orgânico da direita, vitorioso.

    Em seu discurso, ao assumir a Presidência da Câmara, o representante do DEM, ex-PFL, ex-Arena, um dos líderes do golpismo em curso, agradeceu a todos os que o apoiaram, agradeceu ao interino Temer que por ele tanto batalhou, mas, significativamente, agradeceu também ao PT e ao PCdoB.

    Uma vez mais e desta feita mais imperdoavelmente do que nunca, a esquerda parlamentar revelou-se incapaz de interpretar corretamente a realidade e assim, falha em estratégia, terminou por renunciar ao papel de sujeito, imobilizada por uma falsa dúvida hamletiana entre as vias pragmática e programática, sem saber que nenhuma opção é em si boa ou má, pois o que as qualifica são as circunstâncias.

    Por fim, e por tudo isso, a esquerda ficou sem papel, nem marcou a posição política necessária nem interferiu no processo eleitoral, e ainda ficou devendo aos seus militantes uma explicação por, já lançada a candidatura de Luiza Erundina, haver ora optado por apoiar o candidato do PMDB, desidratado por seu correligionário Temer, ora por lançar mais uma anticandidatura.

    Ao fim e ao cabo, com nossas dúvidas, nossas vacilações, nossos erros de avaliação, nossa ausência de estratégias, nosso apego às táticas como fatos isolados, a eleição do deputado Rodrigo Maia como presidente-tampão representou mais uma vitória da direita brasileira, passo importante na implementação de sua restauração conservadora, ansiada e frustrada ao longo de nada menos que quatro eleições presidenciais!

    O próximo pilar político será, tudo o indica, fincado em agosto, quando da decisão sobre o impeachment no Senado Federal.

    Fica a velha lição: quem não aprende com a experiência está condenado a repetir seus erros.

    (Fonte: http://ramaral.org/?p=13980)

  • “Por que gritamos Golpe?”, Boitempo lança livro com apoio da Fundação Lauro Campos

    “Por que gritamos Golpe?”, Boitempo lança livro com apoio da Fundação Lauro Campos

    A Editora Boitempo, com apoio da Fundação Lauro Campos e da FETEC-CUT/CN, lança em julho de 2016 a coletânea Por que gritamos Golpe? – Para entender o impeachment e a crise política no Brasil, pela coleção Tinta Vermelha. O evento na cidade de São Paulo ocorrerá na sexta-feira, 15 de julho, às 18h00 na Quadra dos Bancários (Rua Tabatinguera, 192).

    Confira o evento no Facebook: https://www.facebook.com/events/1651239881866628/

    Somando-se ao debate público sobre a crise política no Brasil, a obra proporciona ao leitor diversas análises sobre a dinâmica do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, dentro de uma perspectiva multidisciplinar e de esquerda. Os textos que compõem a coletânea são inéditos e buscam desenhar uma genealogia da crise política, entender as ameaças que se colocam à democracia e aos direitos conquistados pela Constituição de 1988 e apontar caminhos de superação de nossos impasses políticos. São trinta autores (a lista completa segue abaixo), entre pesquisadores, professores, ativistas, representantes de movimentos sociais, jornalistas e figuras políticas.

    Por que gritamos Golpe? conta ainda com epígrafe de Paulo Arantes, textos de capa de Boaventura de Sousa Santos e Luiza Erundina e com charges de Laerte Coutinho, que representam nossa realidade pelo viés do humor, escracham valores alegados pelos conspiradores e revelam outra narrativa e outra comunicação. Ao lado das fotos cedidas e selecionadas pelo coletivo Mídia NINJA, que cobre em tempo real as manifestações que pululam em todo o país, colaboram para montar o cenário do golpe ponto a ponto, passo a passo.

    Trate-se do quinto título da coleção Tinta Vermelha, que aborda sob perspectivas variadas temas atuais, dando sequência às coletâneas Occupy: movimentos de protesto que tomaram as ruas (2012), Cidades rebeldes: Passe livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil (2013), Brasil em jogo: o que fica da Copa e das Olimpíadas? (2014) e Bala Perdida: a violência policial no Brasil e os desafios para sua superação (2015).

    Os autores: André Singer (cientista político, professor da USP), Armando Boito Jr. (cientista político, professor da Unicamp), Ciro Gomes (ex-ministro da Integração Nacional), Djamila Ribeiro (secretária-adjunta da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo), Eduardo Fagnani (economista e professor da Unicamp), Esther Solano (professora de relações internacionais da Unifesp), Gilberto Maringoni (professor de relações internacionais da UFABC), Graça Costa (CUT), Guilherme Boulos (dirigente do MTST), Jandira Feghali (deputada federal), Juca Ferreira (sociólogo e Ministro da Cultura afastado), Leda Maria Paulani (economista, professora da FEA/USP), Lira Alli (Levante Popular da Juventude), Luis Felipe Miguel (cientista político, professor da UnB), Luiz Bernardo Pericás (historiador, professor da USP), Marcelo Semer (juiz de direito), Márcio Moretto (professor de sistema de informação da EACH/USP), Marilena Chaui (filósofa e professora aposentada da FFLCH/USP), Marina Amaral (jornalista e cofundadora da agência Pública), Mauro Lopes (jornalista, membro do coletivo Jornalistas Livres), Michael Löwy (filósofo e sociólogo, pesquisador no Centre National de la Recherche Scientifique/França), Murilo Cleto (historiador e colunista da Revista Fórum), Pablo Ortellado (professor de gestão de políticas públicas na EACH-USP), Renan Quinalha (advogado, pesquisador e ativista de direitos humanos), Roberto Requião (senador), Ruy Braga (sociólogo, professor da USP), Tamires Gomes Sampaio (vice-presidente da UNE) e Vítor Guimarães (dirigente do MTST).

    SUMÁRIO

    EpígrafePaulo Arantes
    Para o filósofo Paulo Arantes, chamar de “golpe” o atual estado de coisas da crise política brasileira é uma forma otimista de encarar o que se passa. Aquilo que se avizinha parece novo e sombrio.

    Prólogo – O desmonte do Estado, Graça Costa
    Para a sindicalista Graça Costa, o golpe de 2016 é contra o povo trabalhador e solicita a resistência de todos que sonham em viver num país desenvolvido com justiça social.

    Apresentação – O golpe que tem vergonha de ser chamado de golpe, Ivana Jinkings

    Parte 1 – Os antecedentes do golpe

    A nova classe trabalhadora brasileira e a ascensão do conservadorismo, Marilena Chaui 
    A filósofa Marilena Chaui analisa as divisões políticas que atravessam a nova classe trabalhadora e como se revelam nas manifestações de 2016.

    Os atores e o enredo da crise política, Armando Boito Jr.
    O cientista político Armando Boito radiografa os antecedentes do golpe e a crise da frente neodesenvolvimentista.

    A democracia na encruzilhada, Luis Felipe Miguel 
    O cientista social Luis Felipe Miguel discorre sobre as diferentes perspectivas na disputa pelo conceito de democracia em meio ao golpe de 2016.

    Por que o golpe acontece?, Ciro Gomes 
    O ex-governador do Ceará dispara contra os erros do governo Dilma e os três pulsos que levaram ao golpe: a banda podre da política, a rifa dos direitos sociais pelo pagamento da dívida pública e a ameaça da soberania nacional.

    O triunfo da antipolítica, Murilo Cleto 
    O historiador Murilo Cleto discute o imaginário ocidental sobre o espaço público, a instrumentalização da política pela moral e as práticas discursivas que alimentaram o horror à política no Brasil.

    Jabuti não sobe em árvore: como o MBL se tornou líder das manifestações pelo impeachment, Marina Amaral 
    A jornalista Marina Amaral segue os passos da nova direita latino-americana.

    O fim do lulismo, Ruy Braga 
    Para o sociólogo Ruy Braga, a crise política brasileira decorre da radicalização das contradições do modelo político do lulismo, baseado nas tentativas de conciliação entre as classes sociais.

    Parte 2 – O golpe ponto a ponto

    Da tragédia à farsa: o golpe de 2016 no Brasil, Michael Löwy
    Em um retrospecto dos governos de esquerda na América Latina do século XXI, o filósofo e sociólogo Michael Löwy reflete sobre o Estado de exceção como regra e a democracia como exceção.

    Ponte para o abismo, Leda Maria Paulani 
    A economista Leda Maria Paulani analisa as políticas econômicas brasileiras desde os anos 1990, discutindo os acertos e erros dos governos petistas em meio à perspectiva de um resgate pleno do neoliberalismo no país.

    Rumo à direita na política externa, Gilberto Maringoni 
    Professor de relações internacionais da UFABC, Gilberto Maringoni discute a agenda regressiva posta em prática pelo governo interino e o mito da neutralidade ideológica de políticas de Estado.

    Previdência social: reformar ou destruir?, Eduardo Fagnani 
    Para o economista Eduardo Fagnani, por trás das propostas de reforma da previdência se oculta a mais feroz disputa por recursos públicos de nosso país.

    Para mudar o Brasil, Roberto Requião
    Para o senador Roberto Requião (PMDB-PR), falta – tanto ao governo afastado, quanto ao interino – uma proposta que una o país em torno dos interesses populares e nacionais.

    Os semeadores da discórdia: a questão agrária na encruzilhada, Luiz Bernardo Pericás 
    O historiador Luiz Bernardo Pericás analisa os retrocessos postos em prática pelo governo interino, alinhados com os ruralistas em torno do documento “Pauta positiva biênio 2016/2017”.

    Ruptura institucional e desconstrução do modelo democrático: o papel do Judiciário, Marcelo Semer
    O juiz de Direito Marcelo Semer desmascara as perversões que se combinaram nos episódios que fizeram a narrativa jurídica do impedimento.

    Cultura e resistência, Juca Ferreira
    O Ministro da Cultura afastado Juca Ferreira aponta para a novidade representada pela diversidade dos setores da sociedade que defenderam a manutenção do MinC pelo governo interino, reforçando a indissociável relação entre cultura e democracia.

    As quatro famílias que decidiram derrubar um governo democrático, Mauro Lopes
    O jornalista livre Mauro Lopes traça paralelos entre 1964 e 2016 e discute a imprensa internacional, as técnicas jornalísticas, as relações entre governo e mídia e a contranarrativa da outra imprensa.

    Avalanche de retrocessos: uma perspectiva feminista negra sobre o impeachment, Djamila Ribeiro
    Para o além das arbitrariedades do processo, a secretária-adjunta dos Direitos Humanos da cidade de São Paulo escancara o impedimento da presidenta como mais uma ameaça à vida da população já historicamente discriminada.

    “Em nome de Deus e da família”: um golpe contra a diversidade, Renan Quinalha 
    O advogado e ativista de direitos humanos Renan Quinalha denuncia o retrocesso em direitos civis e políticos para os setores mais vulneráveis da sociedade brasileira representado pelo golpe, com ênfase para as ameaças à comunidade LGBT.

    Resistir ao golpe, reinventar os caminhos da esquerda, Guilherme Boulos e Vítor Guimarães
    Os militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto e da Frente Povo Sem Medo explicam o rompimento do pacto que conciliou interesses e a necessidade de um novo projeto de desenvolvimento.

    A luta por uma educação emancipadora e de qualidade, Tamires Gomes Sampaio
    A União Nacional dos Estudantes denuncia o golpe como interrupção de um projeto que ampliou o acesso ao ensino e ameaçou a estrutura colonialista do país.

    Parte 3 – O futuro do golpe

    Por uma frente ampla, democrática e republicana, André Singer
    O cientista político André Singer, estudioso do lulismo, busca indicar caminhos para a organização de uma frente única da esquerda, em defesa da democracia, tendo em vista a superação dos impasses atenuados pela crise política brasileira.

    A ilegitimidade do governo Temer, Jandira Feghali
    Deputada federal pelo PCdoB do Rio de Janeiro, Jandira Feghali fala sobre as imoralidades escancaradas de um golpe que se fez para barrar a Operação Lava-Jato.

    Uma sociedade polarizada?, Pablo Ortellado, Esther Solano e Márcio Moretto
    Coordenadores das principais pesquisas que perfilaram os manifestantes anti e pró-impeachment, os professores da USP e Unifesp questionam a polarização “coxinhas-petralhas” como divisor social do país.

    É golpe e estamos em luta!, Lira Alli 
    A mobilização do Levante Popular da Juventude para a destruição de privilégios e a reinvenção do sistema político no Brasil.

     

    (Fonte: site da editora Boitempo)

     

     

  • Observatório Internacional, de 29 de junho a 06 de julho de 2016

    Observatório Internacional, de 29 de junho a 06 de julho de 2016

    Nesta edição do Clipping Semanal preparado pelo Observatório Internacional da Fundação Lauro Campos repercutimos: os ecos do Brexit e do relatório Chilcot nos partidos ingleses, as tratativas para a formação de um governo na Espanha, a corrida presidencial nos Estados Unidos, o realinhamento tático do Estado Islâmico, as mobilizações classistas e juvenis na América Latina, a crise política na Venezuela, a greve geral no Zimbábue, a vitória democrática dos ativistas angolanos, as manobras geopolíticas da Turquia e o prenúncio de uma nova etapa de protestos em Hong Kong.
    Saudações internacionalistas aos companheiros do PSOL.
     
    DESDOBRAMENTOS DO BREXIT
    Disputa interna pelas lideranças dos partidos após resultado do referendo na Grã-Bretanha

    Após os resultados do referendo que definiu pela saída da Grã-Bretanha da União Europeia, os dois principais partidos estão em ebulição. O principal motivo é a possibilidade de antecipação de eleições gerais e a escolha dos nomes que representariam os blocos numa nova disputa.
    No Partido Trabalhista, o líder Jeremy Corbyn passou por uma tentativa de golpe da ala mais moderada, que aprovou uma moção de “desconfiança” entre os deputados do partido, numa pressão aberta pela renúncia de Corbyn, além de já acumularem mais de 60 renúncias aos cargos de liderança dos trabalhistas na Câmara. Dentre os argumentos levantados, estão a repulsa da ala moderada à sua posição abertamente marxista, bem como acusações de antisemitismo alavancada pela declaração “Nossos amigos judeus são tão responsáveis pelas ações de Israel ou do governo Netanyahu quanto nossos amigos muçulmanos são pelos atos de variadas organizações ou autodenominados estados islâmicos”

    O atual líder do Labour, que foi eleito principalmente pelo voto da base sindical do partido e da juventude, conquistando 60% dos votos, aposta neste apoio e mantém sua posição. O ato em apoio a Corbyn reuniu milhares, e as filiações ao Labour Party e ao Momentum (movimento social que construiu a campanha de Corbyn) tiveram aumento expressivo – as filiações a Momentum chegaram a dobrar de 6 para 12 mil.
    LINK:http://www.theguardian.com/
    Já no Partido Conservador, a disputa é pelo sucessor do atual primeiro-ministro, David Cameron, que anunciou sua renúncia no dia da apuração do referendo, após a posição que defendeu, pela permanência na UE, ser derrotada. Os candidatos cotados são afavorita Ministra do Interior Theresa May, o ministro da Justiça Michael Gove (que até pouco tempo apoiava o nome de Boris Johnson, o qual se retirou da disputa após escândalo de e-mails vazados) e a Secretária de Energia Andrea Leadsom.

    http://www.theguardian.com/

    A disputa pela liderança também chegou ao partido de extrema-direita UKIP. Nigel Farage, líder que ficou conhecido, juntamente com o Tory Boris Johnson, um dos principais defensores do voto pela saída da UE, renunciou ao seu cargo na liderança do UKIP. O nome mais cotado para substituí-lo é o de seu único deputado, Douglas Carswell.

    LINK: http://www.bbc.com/news/uk-

    O acordo para o Brexit
    Além da polêmica em torno da escolha dos próximos representantes dos partidos, o destaque fica para a indefinição acerca do Artigo 50 do Tratado de Lisboa, o qual trata especificamente do protocolo de saída voluntário da União Europeia.
    “O artigo 50 afirma que ‘Qualquer estado-membro pode decidir retirar-se da união em acordo com seus próprios requisitos constitucionais’
    Ele especifica que o país que se retire deve notificar o Conselho Europeu da sua intenção, negociar uma cordo sobre sua retirada e estabelecer bases legais para uma futura relação com a UE. Já para a UE, o acordo precisa de uma maioria qualificada de estados-membros e consentimento do parlamento Europeu”
    “Em seu discurso de renúncia, David Cameron deixou claro que não estava com pressa para apertar o botão. “A negociação com a União Europeia terá de começar com um novo primeiro-ministro e eu acho que é certo que este novo primeiro-ministro tome a decisão sobre quando acionar o artigo 50 e iniciar o processo formal e legal de deixar a UE”, ele disse.
    Assim, ele fez um favor para quem se esforçou para derrubá-lo – Boris Johnson e Michael Gove. Ambos argumentaram que não deve haver pressa para puxar o gatilho: isso iria iniciar o cronômetro, colocando a Grã-Bretanha em desvantagem na negociação em um momento em que sua classe política está em desordem.
    Mas há forte pressão para fazer a bola rolar. Ukip não vê razão para o atraso, com o líder do partido Nigel Farage apelando por uma ação “assim que for humanamente possível”. Talvez mais importante, os líderes europeus, frustrados, irritados e extremamente decepcionados com o êxodo auto-imposto da Grã-Bretanha, querem as questões resolvidas de forma inteligente para haver um mínimo de incerteza e evitar que o contágio da saída se espalhe.”
     

    Na Escócia, a expressiva votação pela permanência na UE levou a primeira-ministra Nicola Sturgeon à Bruxelas defender a permanência a despeito da saída do Reino Unido.

    LINK: http://www.theguardian.com/politics/2016/jun/29/nicola-sturgeon-scotland-plea-eu-leaders-sympathy-little-hope

    Relatório oficial sobre Guerra do Iraque denuncia arbitrariedades de Blair; Corbyn faz pedido de desculpas oficial em nome do Partido Trabalhista.
    O relatório Chilcot, iniciado em 2009 pelo governo britânico, concluiu que o país avançou para a guerra no Iraque antes de estarem esgotadas as vias pacíficas e sem provas da existência de armas de destruição massiva.
     

    Tony Blair, primeiro-ministro que decidiu apoiar a invasão estadunidense do Iraque em 2003, é o principal denunciado no relatório. Oito meses antes do início da guerra, o premiê do Partido Trabalhista escreveu à George W Bush prometendo apoio incondicional (“I will be with you, whatever”).

    LINKS: https://www.theguardian.com/

    Em um duro discurso contrário à ala belicista do Partido Trabalhista ocorrido numa atividade de Momentum, Jeremy Corbyn faz pedido oficial de desculpas em nome de seu partido ao povo iraquiano, às famílias dos soldados britânicos e à população de seu país. O crescente apoio à sua manutenção como liderança no partido levou Angela Eagle, sua principal desafiante e apoiadora da entrada da Grã-Bretanha na Guerra do Iraque, a abrir mão de disputar contra ele.
    Veja aqui entrevista de Tariq Ali sobre as revelações do Relatório Chilcot: http://www.esquerda.net/
    FRANÇA
    Hollande e Valls escapam de moção de censura e forçam reforma trabalhista
    Na segunda votação da matéria na Assembleia Nacional, a esquerda parlamentar francesa ficou a dois votos de obter a moção de censura ao governo de Hollande e Manuel Valls, depois de utilizarem o artigo 49.3 que atropela as decisões do Legislativo. É nítido que o governo já não tem a maioria absoluta da Assembleia, visto que parte do Partido Socialista está descontente com as manobras antidemocráticas do Executivo.
    O projeto da reforma trabalhista segue agora para apreciação do Senado que espera votar em definitivo no dia 20 de julho.
    Os sindicatos têm organizado passeatas multitudinárias nas últimas semanas para resistir à reforma. O risco de desmobilização nas férias de verão tem levado a preparação de um novo ascenso de lutas no mês de setembro, quando o país em tese costuma ter suas atividades econômicas normalizadas. “Nós voltaremos com tudo em setembro” prometeu Phillipe Martinez, dirigente da CGT.
     
    ÁUSTRIA
    Problemas na contagem de votos fez Corte Constitucional anular segundo turno das eleições presidenciais que dariam vitória a partido de extrema-direita
     
    “Durante a primeira rodada de votação, Norbert Hofer, o candidato do Partido da Liberdade (FPÖ) garantiu mais de 30 por cento dos votos, expulsando dois partidos históricos da Áustria do governo (os social-democratas, SPÖ e o conservador ÖVP) [2]. A sequência foi um segundo turno presidencial entre Hofer e Alexander van der Bellen, um independente cuja campanha foi apoiada pelo Partido Verde.”
    “FPÖ é um partido com raízes no passado nazista da Áustria. Seu primeiro líder era um ex-oficial da SS, e seus membros do núcleo consistiram em camadas da sociedade austríaca que não foram de-nazificadas depois da guerra.”
    “Esta é uma combinação que está sendo perseguida por partidos como o UKIP que se afirmam anti-establishment, ao reivindicar a herança nacional a partir dessas elites que eles mesmos pretendem se opor. Como vimos a partir do Brexit, isto tem permitido a expressão popular de eleitores rurais conservadores alinhados com os eleitores urbanos em áreas que têm baixos níveis de investimento ou habilidades. Uma vitória fascista na Áustria seria o maior passo em frente até à data no desenvolvimento dessas tendências.”
     
    ESPANHA
    Negociações para formar o governo
    A formação de um governo na Espanha, após as eleições de 26 de junho, segue em marcha lenta. O PSOE está dividido quanto a permitir um governo de Rajoy e do Partido Popular, que por sua vez fracassam em conquistar aliados regionais ou ao centro.
    Já o PSOE rechaçou a proposta de Pablo Iglesias de tentarem um acordo de “esquerdas”, análogo ao que ocorreu em Portugal.
    EUA
    Com a vantagem de Clinton sobre Sanders, milhares de ativistas discutem como dar consequência à “revolução política” que empolgou progressistas em todo o país

    “O que acontece no dia 28 de julho, quando Clinton ganhar a nomeação, deixando para aqueles que apoiaram um socialista democrático escolher entre uma democrata corporativa pró-austeridade e um xenófobo de extrema-direita? Como podem os ativistas e voluntários de Sanders continuar a propor às pessoas inspiradas por sua mensagem algo para fazer e acreditar?
    Aceitar a derrota e retirar-se da política eleitoral seria desastroso. Desnecessário dizer que os movimentos nunca devem comprometer toda a sua energia com a disputa eleitoral, compreendida por muito tempo – e com razão – como um cemitério de insurgência popular. Mas a campanha Sanders começou a corroer a divisão de meio século de tempo entre ativistas e os corredores do poder.”
    LINK: 
    https://www.jacobinmag.
    MÉXICO
    Professores prosseguem luta contra Peña Nieto: nova onda de protestos em Oaxaca
    Rodovias dos estados mexicanos Oaxaca e Chiapas continuam bloqueadas por professores A reforma educativa proposta por Peña Nieto que aprofunda a privatização do ensino mexicano desagrada amplos setores da sociedade mexicano.
    Sem sucesso, governo lança ultimatos atrás de ultimatos para que os professores retornem às salas de aula e desbloqueiem as vias públicas. A Secretaria do Governo não abre negociações e dezenas de estradas permanecem ocupadas. A Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação anunciou uma greve indefinida a partir de 5 de julho.
    Segundo o La Jornada, 40 prefeitos assinaram uma nota em apoio à luta dos professores, contra a repressão do governo e pela abertura de diálogo.
    Confira trecho de reportagem feita pelo jornal espanhol Público sobre que vem acontecendo no México:
    Os professores protestam contra uma reforma que veem como primeiro passo para a privatização. O Executivo tem respondido com violência, atirando com firmeza contra as organizações sociais o que já provocou várias mortes nos enfrentamentos. Os professores levam numerosos bloqueios de estradas e reivindicam a auto-organização cidadã”.
    ARGENTINA
    Austeridade de Macri afunda economia argentina na recessão e amplia pobreza
    Levantamento do Centro de Economia Política Argentina e o Instituto de Economia Popular realizado entre a população de urbana da Grande Buenos Aires apontou que a indigência cresceu de 5,7% (novembro de 2015) para 7,9% (abril de 2016), enquanto a pobreza saltou de 19,8% (nov. 15) para 33,3% (abr. 16). Em seis meses, o poder aquisitivo despencou 28%.
    O impacto da desvalorização nos preços da cesta básica total conjugado com um estacamento dos salários no mesmo período teve um efeito negativo no poder aquisitivo dos salários médios” alerta o informe.
    A política de ajuste com transferência de renda de setores assalariados para grupos de poder econômico foi central para explicar a piora econômica e o retrocesso da qualidade de vida de amplos segmentos da população” conforme reportagem do Página 12.
    Organizações sociais marcham contra tarifazo
    Em pleno inverno, os boletos de gás e energia têm causado surpresa e indignação na classe trabalhadora argentina. Aumentos sucessivos das tarifas ditadas pelo governo Macri, mês após mês, tornam cada vez mais insuportável viver com um mínimo de dignidade no país. As organizações sociais buscam oferecer resistência ao ajuste macrista, intensificando a presença nas ruas pelo fim do tarifazo.
    Em reportagem do site El País, Alejandro Bodart, representante do MST-Nueva Izquierda observou: “Rechaçamos os tarifazos impagáveis do governo macrista e também as privatizações que são a maior corrupção sistêmica que persiste desde o menemismo. Para o povo trabalhador não há “revolução da alegria”, mas ajuste. Já apresentei um projeto de amparo contra a subida das passagens de coletivos e trens. Tão logo o governo portenho decrete o aumento do bilhete do metrô, apresentarei outro projeto.” 
     
    BOLÍVIA
    COB paralisam regiões da Bolívia por três dias e obrigam Evo a abrir diálogo
    O fechamento da empresa estatal de têxteis Enatex provocou a demissão de 900 funcionários no primeiro semestre de 2016. Os fortes protestos operários em La Paz, Cochabamba e Potosí levaram o presidente Evo Morales a instalar uma mesa de negociação com a Central Obrera Boliviana (COB), a qual ameaça uma greve geral indefinida caso o governo não recue e continue a postergar a agenda dos trabalhadores.
    Como resultado de uma reunião realizada ontem, a Central Obrera Boliviana (COB) decidiu rechaçar a proposta governamental de que 180 trabalhadores da extinta Empresa Nacional de Têxteis (Enatex) entrem num regime laboral transitório e exige que sejam ampliados sob a Lei Geral do Trabalho ao serem re-contratados pelo Serviço Nacional de Têxteis (Senatex).”
    Os três dias de paralisação (29 jun., 30 jun., 1 jul.) foram marcados por bastante repressão, dezenas de manifestantes presos e um gravemente ferido a bala em Cochabamba.
    LINK:
    Conforme assinala a socióloga Maria Teresa Zegada:
    “”Este último conflito da Central Obrera Boliviana (COB) mostra uma sorte de “regeneração” de um dos atores que foi protagonista principal da sociedade civil boliviana desde sua conformação, em 1952. Esta última greve escalonada logrou paralisar alguns departamentos do país, mobilizar altas autoridades do Governo, como o próprio vice-presidente, e impor um cenário de negociação a seus intrelocutores. Em geral, o papel da COB durante os primeiros governos de Evo Morales este muito pouco claro. Desde os primeiros meses, sua presença foi marginal, tanto nas decisões como nos cenários de protesto, que só alcançaram um ponto alto entre os anos 2010 e 2012.”
    CHILE
    140 estudantes são presos em marcha contra reforma educativa de Bachelet
    Em Santiago, marcha convocada pela Confederação dos Estudantes do Chile (Confech) terminou com a intervenção dos carabineros: 140 estudantes foram detidos de maneira violenta, dentro os quais dezenas de menores de idade.
    Os estudantes insistem no fato de que a reforma educativa apresentada pelo Governo do Chile mantém uma lógica de mercado e dá carta branca ao lucro na educação universitária, além de descumprir com a promessa de gratuidade universal prometida pelo governo.”
    VENEZUELA
    Crise política não cessa e população sofre no dia a dia
    A queda de braço entre governo e oposição de direita está longe de um desfecho. Enquanto a MUD tenta recolher assinaturas suficientes para a realização do referendo, Nicolás Maduro eleva o tom com o presidente da Assembleia Nacional, o direitista Ramos Allup, chamando-lhe de “covarde”, que algumas semanas antes havia dito que quem “tem legitimidade para pautar a agenda na Venezuela é a oposição”.
    Dentro do chavismo, o espaço dos descontentes com Maduro amplia, na medida em que a população padece com o caos econômico instalado no país. O general aposentado Cliver Alcalá defendeu recentemente a renúncia de Maduro e a entrada do vice Aristóbulo Istúriz, conhecido por ser um articulador experiente.
    Outros, dentro do chamado chavismo crítico exigem retificação ao governo e perguntam-se qual acordo Maduro e Shannon fizeram em seu aperto de mãos. Dentro do arco bolivariano concretizam-se descolamentos do governo através de uma Plataforma do Povo em Luta e do Chavismo Crítico, onde convergem sindicatos, coletivos, Marea Socialista e o Partido Socialismo y Libertad (PSL).
    Em sua plataforma expõem nove pontos: plano de emergência alimentar e sanitária, aumento geral dos salários, fim das demissões em empresas públicas e privadas; revogação de leis e normas que restringem o direito de greve e manifestação auditoria pública das empresas importadoras, reforma agrária democrática, anulação do Decreto do Arco Minerador, rescisão dos contratos no setor petroleiro; moratório do pagamento da dívida externa.”
     
    ANGOLA
    Presos políticos são libertados após um ano
    Supremo Tribunal de Angola determinou que os 17 ativistas detidos em junho de 2015 fossem libertados. A decisão vem depois de muita pressão internacional para que a ditadura de José Eduardo dos Santos colocasse um fim nessa prisão arbitrária de jovens que se reuniam em Luanda para debater política.
    ZIMBÁBUE
    Greve geral paralisa Zimbábue
    O país no sul da África atravessa uma grave crise financeira. Professores, enfermeiros, soldados e médicos estão sem receber há um mês. Robert Mugabe, à frente da presidência desde 1980, não pode mais emitir mais moeda, desde que adotou o dólar em 2009. A escassez de cédulas piora as condições de vida das classes populares. As suspeitas de corrupção e de esbanjamento de dinheiro público nas altas esferas do poder contribuem para que o povo perca a paciência e o medo da repressão. Em fevereiro deste ano, Mugabe gastou 1 milhão de dólares para comemorar seu 92 º aniversário.
    A greve geral em 6 de julho, convocada pelos ativistas sindicais, foi uma das mais fortes no país desde que Mugabe assumiu o governo.
    TURQUIA E RÚSSIA
    Moscou e Ancara se reaproximam
    Matéria do El País destaca o restabelecimento da interlocução entre Putin e Erdogan, um ano após o abatimento do caça russo pelas forças armadas da Turquia. A crise da UE incentiva essa parceria. A Turquia busca potências aliadas para dinamizar sua economia, ao passo que a Rússia tem interesse em investir no gasoduto turco. No conflito sírio, essa reaproximação poderia significar uma trégua de Ancara em relação a Assad.
     
    ESTADO ISLÂMICO (ISIS)
    Perda de território altera tática do ISIS
    A perda de quase a metade de seus domínios no Iraque e o recuo de suas posições na Síria ocasionou uma mudança de tática para o Estado Islâmico. Seus porta-vozes têm conclamado que seus seguidores façam ataques letais e descentralizados onde for possível. Atentados explosivos recentes no Iraque, Bangladesh, Turquia, Líbano, Iêmen vitimaram mais de 300 pessoas, o que corrobora tal tese defendida por diferentes analistas internacionais e pelo Departamento de Estado dos EUA.
    Como aponta uma reportagem do El País, “já são 60 as nações que se somaram à guerra internacional contra o ISIS, sem por isso ter muita clareza da natureza do inimigo com o qual se defrontam. Seja com lobos solitários como o do ataque de Orlando (EUA), seja com grupos jihadistas locais como Jamaat al Muahidin em Dacca (Bangladesh) seja com redes filiadas estrangeiras em Istambul (Turquia), ISIS diversifica tanto sua logística como estratégia. “Os lobos solitários seguem sendo o maior desafio para os serviços de inteligência na luta contra o terrorismo. São mais difíceis de monitorar que as redes assentadas, como na Turquia, as quais levam anos seguindo-lhes a pista”, aponta Maya Yahia, diretora do Centro Carnegie de Beirut. “A via militar não é, em absoluto, a solução para derrotar o ISIS. Enquanto prevalecerem as causas pelas quais se alistam em suas fileiras milhares de jovens frustrados, sujeitos a governos repressivos, a um vazio de legitimidade política e religiosa, ou ao deficiente sistema educativo entre outros, o ISIS seguirá existindo. E caso seja expulso fisicamente do Iraque ou da Síria, outro ISIS sob outra forma virá a ocupar seu lugar”, adverte Yahia.
    HONG KONG
    Milhares vão às ruas protestar contra as autoridades chineses
    No 19 º aniversário de retorno de Hong Kong para a soberania chinesa, dezenas de milhares marcharam por mais democracia e pela saída do chefe de governo Leung Chiun-Ying, alinhado com as políticas de Pequim. O estranho desaparecimento de cinco livreiros, especializados em trabalhos críticos em relação à cúpula do Partido Comunista, aguçou a indignação dos setores que reivindicam a total independência da cidade.
    A chamada “Revolução dos Guarda-Chuvas” ocorrida em 2014 gerou a criação de diversos coletivos e partidos que advogam a autodeterminação de Hong Kong. A tese de “um país, dois sistemas” perde cada vez mais apoio junto à população da cidade.
    As eleições legislativas em setembro poderão ser um bom barômetro se os localistas não passam de grupos marginais na sociedade, como propagam os porta-vozes da China.
    LINK: