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  • Documentário “Chão de Fábrica” de Renato Tapajós estreia na próxima semana

    Documentário “Chão de Fábrica” de Renato Tapajós estreia na próxima semana

    Documentário “Chão de Fábrica” de Renato Tapajós estreia na próxima semana

    “Chão de Fábrica”, novo documentário dirigido por Renato Tapajós, tem seu lançamento marcado para o dia 21 de setembro, às 18:00, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

    Narrado pelo ator José de Abreu, o documentário é baseado na série de mesmo nome, feita para televisão em 13 episódios sobre a história do chamado Novo Sindicalismo brasileiro. A partir de uma linguagem clara e objetiva, o filme apresenta um panorama histórico sobre as lutas sindicais e políticas dos trabalhadores, fazendo uma ponte com o contexto histórico que o Brasil enfrenta nos dias atuais.

    Tendo em vista o ano de eleições, o intuito dos diretores é instrumentalizar os trabalhadores e trabalhadoras com uma visão crítica sobre a história do Novo Sindicalismo, e as reverberações que ele causou na política da época, e que se estendem até os dias de hoje.  Para isso, “Chão de Fábrica” será disponibilizado gratuitamente na web, e poderá ser exibido a data do lançamento nacional. O foco da equipe de produção do filme é a exibição em sindicatos, escolas, universidades e fábricas.

    O cineasta e escritor Renato Tapajós é uma das maiores referências do cinema documental do Brasil. Com sua obra, fez uma extensa cobertura sobre as ações da ditadura militar, os movimentos sociais, a luta armada e o sindicalismo nacionais, tendo recebido prêmios em festivais da Alemanha e Cuba. Em “Chão de Fábrica”, Tapajós aplica toda sua experiência de vida e apuro de linguagem para criar um documentário que é um instrumento de politização dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros.

    SINOPSE

    O filme Chão de Fábrica conta a história da luta dos trabalhadores brasileiros desde 1978 até os dias atuais, com enfoque no movimento sindical, naquilo que ficou conhecido como o Novo Sindicalismo. Realiza um voo sobre a história do país observando as políticas econômicas dos diferentes governos do período de forma crítica, clara e bem humorada, relacionado-as com a luta sindical. Chão de Fábrica é um filme sobre o trabalho e os trabalhadores do Brasil e um balanço sobre as alternativas atuais do movimento sindical.


    SERVIÇO DO LANÇAMENTO

    FILME “CHÃO DE FÁBRICA”
    Direção: Renato Tapajós / Hidalgo Romero
    Produção: Laboratório Cisco
    Documentário, longa metragem, 1h 30 min
    Data: 21 de setembro de 2018.
    Local: 3º andar do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC
    R. João Basso, 231 – Centro, São Bernardo do Campo – SP, 09721-100 /  (11) 4128-4200
    Horário: 18:00 | Gratuito

     

  • Lançamento da revista Socialismo e Liberdade com Sonia Guajajara

    Lançamento da revista Socialismo e Liberdade com Sonia Guajajara

    Lançamento da revista Socialismo e Liberdade com Sonia Guajajara

    Veja como foi o lançamento da 22ª edição da revista Socialismo e Liberdade da Fundação Lauro Campos, com Sonia Bone Guajajara na Casa Do Baixo Augusta, em São Paulo (SP).

  • “O capitalismo não foi criado para se preocupar com as pessoas”, Sonia Guajajara

    “O capitalismo não foi criado para se preocupar com as pessoas”, Sonia Guajajara

    “O capitalismo não foi criado para se preocupar com as pessoas”, Sonia Guajajara

    Entrevista concedida à Gilberto Maringoni e Valério Arcary

    Sonia Guajajara é uma das mais importantes lideranças indígenas e ambientais brasileiras e compõe com Guilherme Boulos a chapa do PSOL-PCB, em aliança com movimentos sociais, para a presidência da República. Dirigente da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), que congrega mais de 300 povos, origina-se dos Guajajaras/Tentehar que habitam as matas da Terra Indígena Arariboia no Maranhão. É a primeira vez na história do país que uma indígena integra uma chapa majoritária federal. É um feito carregado de significados políticos e simbólicos e sintetiza uma luta de cinco séculos contra a opressão colonial e de classe sobre nossos povos originários. Nesta entrevista, Sonia conta sua história de militância, a luta dos índios brasileiros e os projetos para governar o Brasil.


    Quem é: Maranhense (1974), com pais analfabetos, morou até os 15 anos em sua terra indígena, no município de Amarante, próximo a Imperatriz. Cursou o ensino médio em Minas gerais, com apoio da Funai. É graduada em Letras e Enfermagem e pós-graduada em Educação pela Universidade Estadual do Maranhão-UEMA.
    História: Sua militância começou em organizações de base da Igreja católica e na Coordenação das organizações e articulações dos povos indígenas no Maranhão-Coapima. Em seguida integrou a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira-Coiab e chegou à coordenação executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil-APIB. Esteve à frente de movimentos pela manutenção de direitos e de preservação ambiental. Tem atuação internacional junto ao Conselho de Direitos Humanos da ONU e já levou denúncias às Conferências Mundiais do Clima-COP de 2009 a 2017 e outros órgãos internacionais.

    FLC – Por que as pessoas devem votar no Guilherme e em você?

    Sonia GuajajaraVotam porque sofremos as mesmas opressões as quais o povo brasileiro é submetido. Uma indígena e um guerreiro da luta pela moradia expressam, em seu simbolismo, algo significativo: de um lado, uma mulher que denuncia com sua história as opressões dos modelos colonial, neocolonial e imperialista que ceifam a vida por meio da força do capitalismo. Através dos séculos essa força vem destruindo a nossa morada, a Mãe Terra. De outro lado, temos um lutador, um jovem que decidiu entregar a sua vida para superar as desigualdades e as injustiças que assistiu ao longo de sua trajetória. Essa aliança, entre o homem urbano e a mulher indígena das matas, expressa com força o novo modelo de desenvolvimento que deve imperar no Brasil. Superar o “entreguismo”, a má política e construir um novo modelo econômico contrário aos históricos modelos de sociedades industriais, consumistas e, ambientalmente, predatórios, é urgente e necessário. Dessa forma, acredito que só a nossa candidatura é capaz de apresentar uma plataforma como essa, assim como só a nossa geração é capaz de construí-la.

    “Estamos, pela primeira vez, disputando um processo eleitoral e em uma chapa presidencial. E não só uma liderança indígena, mas uma liderança indígena mulher”

    FLC – Há algum preconceito por você ser mulher ou indígena?

    Sonia GuajajaraDiretamente não, mas a gente percebe de forma indireta. Às vezes as pessoas demonstram surpresa: “nossa, uma indígena!” Porém, o que tenho ouvido mais frequentemente é o oposto: “que bom que tem uma indígena!”. Quando as pessoas me abordam é de forma positiva e acreditam que é isso mesmo, que tem de ter uma indígena ocupando esse espaço da política institucional. Estamos, pela primeira vez, disputando um processo eleitoral numa chapa presidencial formada não apenas por uma liderança indígena, mas uma liderança indígena mulher. Entretanto, nas redes sociais há uma demonstração absurda de ignorância e racismo.

    FLC – Como você chegou ao movimento indígena?

    Sonia GuajajaraSempre fui muito participante e muito atuante. Por eu ter uma curiosidade de tentar entender as coisas desde menina, as lideranças, os caciques, me chamavam para participar de reuniões. Nessa época eu já gostava muito de ler e de escrever. Eu sempre estava ali para registrar as discussões.

    FLC – Como foi a sua infância?

    Sonia GuajajaraSou do município de Amarante, onde está minha terra indígena, Arariboia. Fica perto de Imperatriz. Nasci no povoado Campo Formoso, uma pequena vila, que por ocasião da demarcação da terra indígena Arariboia ficou fora da área demarcada. Cresci entre o povoado e a aldeia e fiquei lá até os dez anos trabalhando com meu pai e minha mãe. Ele sempre trabalhou na roça e eu sempre o acompanhei plantando e colhendo arroz. Quem desejava estudar tinha de sair de lá para continuar o ginásio.

    Foto: Mídia Ninja

    FLC – Quando você se interessou pela política?

    Sonia GuajajaraAos dez anos, além de participar da vida nas aldeias, comecei a tomar parte de discussões na Igreja Católica. Ia muito ao interior, a cavalo ou a pé, falando com pessoas. Zezinho Bahiano era um grande líder na luta pela terra e pela reforma agrária e eu circulava com ele pelos interiores, articulando com pequenos produtores. Logo, fui estudar em Amarante e morei na casa de uma família, algo muito comum naquela época. A gente ficava na casa das pessoas como babá ou doméstica para estudar e ter um lugar para morar. Ninguém recebia salário, apenas casa e comida. Trabalhava o tempo todo. Hoje, sei que isso é considerado trabalho escravo, mas na época não. Aos 12 anos, eu cuidava de duas crianças e levantava muito cedo para fazer café da manhã. Foi na luta pela vida que compreendi a necessidade de superar as opressões, o machismo, as desigualdades e o preconceito. Acredito que essa longa história de opressão me deixou não apenas com uma forte consciência e desejo de lutar para superar, mas me deu dimensão do papel que eu deveria cumprir. Foi aí que percebi que minha missão não era apenas com a linhagem sanguínea, mas com o povo oprimido deste país, que tem em sua história a opressão iniciada com a morte de muitos indígenas há 518 anos.

    “Na campanha do Lula, em 1994, despertei para a formação política. Queria entender um pouco mais o funcionamento da sociedade, o sistema de opressor e oprimido, que já faziam parte de minha consciência, porém com poucos elementos para uma análise mais profunda”

    FLC – Você ficou em Amarante até que idade?

    Sonia Guajajara Saí aos 14 anos de idade. Carregava no íntimo um desejo enorme de estudar como se estivesse percebendo a necessidade de me preparar para algo maior. As meninas se casavam muito cedo e até hoje é assim. Ficar na roça como única atividade impossibilitaria minha missão e ter filho cedo também. Pensava em uma alternativa para sair. Aos 15 anos fui estudar no colégio interno Caio Martins, em Minas Gerais. A Funai fez uma parceria, achou importante mandar alguns indígenas para lá, e apontou meu nome. Cursei magistério. Fiquei lá com outro Guajajara chamado Ubiraci. Mais tarde, vários indígenas foram também. Fiquei de 1989 a 1991. Foi o início de uma nova etapa.

    FLC – E você já atuava publicamente?

    Sonia Guajajara Em 1993, eu me aproximei de Manoel da Conceição, histórico líder camponês maranhense. Minha irmã foi casada com o filho dele durante dez anos. Acompanhei todos os processos de mobilização. Na campanha do Lula, em 1994, despertei para a formação política. Ficaram mais nítidas as injustiças e as desigualdades. Queria entender um pouco mais o funcionamento da sociedade, o sistema de opressor e oprimido que já faziam parte de minha consciência, porém com poucos elementos para uma análise mais profunda. Assim, compreendi que para superar qualquer dificuldade teria que ser sem medo e com muito amor.

    Sonia em audiência pública na Câmara. Foto: Mídia Ninja

    FLC – Como você se vinculou ao movimento?

    Sonia Guajajara Em 1988, algumas lideranças indígenas lutaram para garantir nossos direitos na Constituição, mas não era ainda um movimento organizado. Naquele momento, criou-se uma articulação nacional entre o Conselho de Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Brasil-Capoibe. A partir de 1989, foram formadas a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira-Coiab e a Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do NE, MG e ES-Apoinme. Em 2001, passei a integrar o movimento ao participar de uma conferência nacional organizada com apoio do Conselho Indigenista Missionário – Cimi, que era para avaliar e pensar estratégias, após marcha dos 500 anos que aconteceu em 2000 em Porto Seguro, na Bahia.

    FLC – Houve alguma mudança na política indigenista a partir dos governos do PT?

    Sonia Guajajara Aconteceu uma maior participação no controle social, nos conselhos e na elaboração das políticas públicas. Tivemos mais acesso às políticas universais. Contudo, não houve avanço nos processos de demarcação de terra – o essencial para nós – como era esperado. Precisamos reconhecer que foi um governo importante para ampliar o orçamento nas políticas indigenistas – coisa que não temos em tempos de golpe – percebendo os limites que o governo do Lula e da Dilma possuíam por conta da aliança estabelecida para garantir a governabilidade.

    FLC – Se não houver um governo disposto a proteger os direitos históricos dos povos indígenas da Amazônia, o que vai acontecer?

    Sonia Guajajara Não são os povos indígenas da Amazônia, são os povos indígenas do Brasil. Se não houver um governo sensível às nossas pautas, vamos fazer o que fazemos há 518 anos: lutar, lutar e lutar por nossos territórios, por nossa ancestralidade e por nossa cultura. Somos filhos e herdeiros da luta e faremos do combate a nossa trincheira para a construção da verdadeira revolução social que este país necessita.

    FLC – Qual a relação do movimento indígena com a Igreja Católica e com o Cimi?

    Sonia Guajajara Por muito tempo, o Cimi teve o papel de protagonista na luta em defesa da causa indígena. O Cimi foi fundamental – juntamente com outros parceiros – para que nos últimos anos, chegássemos a conquistar maior autonomia e protagonismo na luta para decidir, realizar ações e atividades. O Cimi desempenha muito bem o papel da denúncia nacional e internacional e tem sistematizado bem a questão da violência contra os povos indígenas. De 2005 para cá, realizamos o acampamento Terra Livre, a maior mobilização indígena no Brasil. Lá no início, o Cimi era o principal associado dessa mobilização. Hoje, ampliamos leque de parceiros, e agora temos inúmeras entidades que se juntaram a nós. Somos protagonistas de nossas lutas.

    “Hoje, a gente tem os dois dos maiores aquíferos de água doce do mundo, o Guarani, no sul e sudeste, e o Alter do Chão, no norte. Há um início de negociação entre o governo Temer e grandes corporações, como Coca-cola e Nestlé, que querem comprar o aquífero Guarani”

    FLC – Belo Monte é símbolo de um projeto. A ideia é a seguinte: o progresso tem um custo inexorável do ponto de vista da destruição ambiental e a recompensa do progresso vale a pena. Vou ter luz em casa, produzida por uma fonte renovável, o que embeleza a ideia de que a destruição não é relevante. Qual sua opinião?

    Sonia Guajajara Acredito que Belo Monte é símbolo de uma concepção de desenvolvimento falida. Essa ideia de combater os problemas sociais produzindo uma sociedade fincada na industrialização e na utilização desarmônica dos recursos naturais, expressa no símbolo que é Belo Monte, coloca em xeque a perpetuação de toda forma de vida. É bom sempre lembrar: o guardião da vida é a Mãe Terra. Percebamos que se esse modelo gerasse promoção das igualdades permanentes não haveria pobreza na principal cidade atingida por Belo Monte. Vejamos a falsa afirmação de que Belo Monte foi construída para fazer chegar a luz na minha casa, na sua casa. Até porque Altamira/PA é a cidade com a energia mais cara do Brasil. Eu pergunto: cadê o combate às injustiças? É preciso lembrar que Altamira é a cidade mais violenta do país – segundo o mapa da violência em 2018 – e os paraenses pagam uma das contas de luz mais altas no país. Estive lá várias vezes, desde o início da obra até o término. Vi famílias mostrando o talão da conta de luz. Ganham meio salário mínimo, em alguns casos, e não conseguem compreender o alto preço da energia, mesmo morando no mesmo município produtor daquela energia, com a usina logo ali. Dilma fez questão de inaugurar Belo Monte para ser uma marca do seu governo. Nós lutamos contra aquilo, ao mesmo tempo em que estávamos contra o impeachment. Por mais que a gente tenha diferenças conjunturais e programáticas com o seu governo, entendíamos que o impeachment era um golpe. A gente sabe o que é ser justo e não apoiamos injustiças. Isso foi muito dolorido para nós. Portanto, o símbolo da inauguração e o símbolo da obra é o sinal de que temos diferenças, e deste lado impera a compreensão de que defendemos muito mais do que iniciativas paliativas para um povo, defendemos verdadeiramente a humanidade e dos demais seres viventes.

    Brasília, 2017: em defesa dos direitos indígenas. Foto: Mídia Ninja

    FLC – A situação dos indígenas piorou com o golpe?

    Sonia GuajajaraSim, um retrocesso incomparável. Isso se dá a partir da total paralisação das demarcações das terras, cortes no orçamento da Funai e nas políticas indigenistas, sem mencionar a crueldade das fortes matérias aprovadas no Congresso. Por mais que tenha havido redução dessas ações nos governos Lula e Dilma, agora – no governo ilegítimo de Temer – há uma decisão política de se impedir a demarcação das terras indígenas. O atual governo está revendo processos já concluídos e entregando cargos importantes da Funai e dos órgãos de promoção das políticas indigenistas para a bancada ruralista.

    FLC – Na questão da violência, houve mudança?

    Sonia Guajajara – Continua crescente. Primeiro, porque a falta de demarcações, por si só, já gera conflito. Em diversos relatórios e pesquisas percebe-se que há um número muito maior de problemas nas terras não regularizadas. Nos locais já demarcados, os conflitos se dão por falta de uma política de proteção que favorece as invasões e exploração ilegal dos recursos naturais. Em tempos de golpe, os fazendeiros e as multinacionais se sentem muito respaldados para esse enfrentamento. E por terem força no Congresso se acham os donos de tudo e acima da lei. Eles matam sem pudor, por terem certeza da impunidade. Vejam o caso da Samarco e da Vale, que seguem totalmente impunes. Pensam que basta pagarem uma compensação ou alguma coisa ali para quem foi atingido que tudo esteja restabelecido. Não há reparo possível! Esse caso, inclusive, tem que ser considerado como crime hediondo contra a humanidade.

    Foto: Mídia Ninja

    FLC – Existe uma articulação latino-americana dos povos indígenas?

    Sonia GuajajaraTem a Coica (Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica). É como se articulam os indígenas da Amazônia Legal, com nove países. Nós temos uma relação com a Aliança Mesoamericana de Povos e Bosques – AMPB, da América Central. Para além do continente, há a Aliança dos Povos Indígenas da Indonésia – Aman, a maior organização indígena da região.

    “Caso queira entender o que foi a colonização, você vai ler os livros de história, mas não encontra a nossa história nos livros, pois o que há é a versão do invasor. Hoje, muitos indígenas estão aparecendo como grandes historiadores, recuperando a história e escrevendo”

    FLC – Quem quiser conhecer mais profundamente a causa indígena, o que deve ler ou fazer?

    Sonia GuajajaraFalando por mim, eu não li. Eu vivi. Eu vivo. Não precisei ler nada para entender essa história. Se você quer entender o que foi a colonização, você vai ler os livros de história. Mas não encontra a nossa história nos livros, pois o que há é a versão do invasor, dos algozes, não apenas dos indígenas, mas do povo brasileiro. Hoje, felizmente, muitos indígenas estão aparecendo como grandes historiadores, recuperando a história e reescrevendo a narrativa dos primeiros povos do Brasil, ou seja, a verdadeira história de nossa nação. Se você quer saber o que foi a violência contra os povos indígenas na ditadura, a Comissão da Verdade trouxe vários números, inclusive constatou que mais de 8,5 mil deles foram mortos em todas as regiões do Brasil. Há outros trabalhos, por exemplo, o Instituto Socioambiental – ISA tem várias obras importantes. A cada dois anos, eles publicam Os povos indígenas no Brasil. Ali, se informa que temos 305 povos, 274 línguas faladas, e há a estimativa da existência de cem povos isolados. O ISA tem catalogado muito bem isso. O Cimi também tem publicações importantes que tratam do relatório da violência e o Instituto Internacional de Educação do Brasil – IEB traz publicações em relação à gestão ambiental dos povos indígenas, os projetos de gestão territorial espalhados em várias partes do Brasil, sobretudo, na Amazônia.

    Foto: Thallita Oshiro

    FLC – Há uma enorme campanha no mundo para nos convencer de que, apesar de tudo, a vida civilizada nunca foi tão boa. Essa visão defende que o capitalismo construiu uma ordem mundial que, apesar de todas as suas limitações, é a melhor possível. Qual é a sua opinião sobre o capitalismo?

    Sonia GuajajaraMinha visão do capitalismo é a pior possível. Acredito piamente que não vai servir aos princípios de manutenção dos seres vivos. Para nós, é muito claro: o capitalismo não foi criado para se preocupar com a vida das pessoas. O capitalismo se preocupa em promover a dominação da condição de ser humano e da natureza, por meio da utilização inclemente dos recursos naturais e da privatização da vida. As pessoas passam muito mais tempo em seus trabalhos, preocupadas com boletos e contas, do que com o direito de desfrutar de cultura, da convivência com suas famílias e amigos, isto é, não têm o mínimo de direito à liberdade. Essa ideia hegemônica de civilização e desenvolvimento aprisiona a vida das pessoas, porque promove a cultura da intolerância, do individualismo, além de combater os valores de solidariedade, fraternidade, justiça, respeito e coletividade. E isso fica mais nítido quando observamos o cotidiano social nas favelas, comunidades, aldeias e até mesmo no campo. Falta tudo: educação, saúde, moradia, saneamento básico etc. Promove-se uma ideia de comportamento que privilegia um padrão de vida sustentado num consumo insustentável, injusto e desigual, beneficiando apenas uma pequena parcela e excluindo a ampla maioria. Nesse sentido, é hora de superar essa perspectiva de “vida” que o capitalismo vende como sendo o “melhor dos mundos”. Acredito que a saída para isso está nas comunidades, nas favelas, nas aldeias indígenas, nos quilombos e nos campos. Esses territórios, apesar de toda exclusão que atravessam, são cheios de amor, de solidariedade, resistência e luta. É vivendo harmonicamente com o meio ambiente, respeitando a diversidade cultural, comportamental, sexual e promovendo o amor que se combate esse mal que ceifa vidas e sonhos. O capitalismo não segue o caminho da vida: segue o caminho da exploração e do acúmulo de riqueza em uma parcela privilegiada. Para quem serve essa exploração? Certamente, não é para a maioria do povo. Assim, precisamos pensar no bem-viver como uma ferramenta para conquistar a qualidade de vida e como fiador da manutenção da vida e das futuras gerações. Quem defende o capitalismo não defende a vida, mas promove, mesmo sem intenção, o fim da existência humana e joga a humanidade no caos das incertezas, no suicídio, no crime, na pobreza, na fome e na miséria.

    “Não há como se desconectar a luta indígena da vida na cidade. É por isso que a gente defende essa grande articulação entre os povos para podermos garantir as futuras gerações”

    FLC – A maioria do povo brasileiro é formada por trabalhadores que vivem nas cidades. É possível uma aliança entre os povos indígenas e o povo pobre das cidades?

    Sonia GuajajaraAcreditamos que essa aliança é possível e necessária. Tanto nós, indígenas, quanto a maioria dos povos das cidades compartilhamos do mesmo processo de opressão. Essa é uma aliança dos oprimidos em contraposição aos opressores. A gente precisa combater esse modelo de desenvolvimento que está aí que deixa milhões sem moradia, sem o direito à terra, sem educação, sem cultura, sem saúde, sem saneamento básico, à mercê do crime e da própria sorte. Não combater é perpetuar as desigualdades e os privilégios. Esse modelo que hoje libera os territórios para as grandes plantações de monocultura está cada vez mais expulsando as pessoas de lá para vir para as cidades, um espaço urbano limitado e que não suporta concentrar o número de pessoas que já existem nesses ambientes, quanto mais suportar os que pensam em migrar devido à profunda exclusão pelo que passam.

    FLC – Você acha que a candidatura Guilherme-Sonia expressa isso?

    Sonia GuajajaraTotalmente. Acredito que a nossa chapa não só expressa essa luta, mas ela é a única possibilidade para um modelo alternativo de desenvolvimento que vê na defesa do direito à vida, em harmonia com o planeta, uma saída para as opressões que acometem o povo mais pobre deste país. Temos essa convicção e essa certeza de que temos de combater as desigualdades sociais, respeitando e garantindo o direito das pessoas a partir das suas origens. Quem é do campo tem que ter a garantia, o espaço, a oportunidade para se desenvolver lá. Não estou dizendo que as pessoas não têm que sair para estudar. Saia quem quiser, mas que tenham o direito inclusive de estudar em seu próprio ambiente, e não em uma educação que seja distinta de sua necessidade e sua realidade.

    FLC – Você é socialista?

    Sonia GuajajaraSou uma guerreira de um exército que defende a vida, a harmonia entre ser humano e natureza. Sou uma guardiã da Mãe Terra, enquanto provedora e mantenedora da vida. Se isso for ser socialista, posso afirmar que sou ecossocialista.

    “O capitalismo não foi criado para se preocupar com as pessoas. O capitalismo se preocupa com o lucro. Quando se fala em “capitalismo verde”, o que pode significar? Na minha visão, é a mercantilização. O capitalismo não segue esse caminho da vida. A gente precisa pensar no bem-viver para preservação do meio ambiente e para as pessoas”

    FLC – O que é ser uma mulher e liderança indígena ecossocialista?

    Sonia Guajajara – Posso afirmar que é ser promotora da vida e anunciadora da felicidade por meio do amor entre os seres humanos e natureza. É viver todo dia fazendo enfrentamentos e lutas por igualdade de oportunidade para mulheres e homens e, principalmente, lutar contra o capitalismo, o machismo, o sexismo, a lgbtfobia, o racismo, o colonialismo, o ódio e as opressões que estão aí querendo ditar as regras para o país e para o mundo, colocando em xeque a existência da vida. A gente precisa fazer com que as pessoas olhem e aprendam com os povos indígenas, porque a própria história mostra ser possível ter essa relação harmoniosa com o meio ambiente sem destruí-lo. A arqueologia comprova a existência da presença indígena no Brasil há 15 mil anos. A própria vegetação nativa, com a biodiversidade que tem, não é somente fruto da natureza, mas também do manejo e da gestão que os indígenas fizeram durante esses milhares de anos. Essa riqueza da biodiversidade também é a diversidade do nosso modo de vida.

    Confira a 22ª edição da revista Socialismo e Liberdade:

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  • Ditadura nunca mais

    Ditadura nunca mais

    Ditadura Nunca Mais

    No dia 1º. de setembro, às 15h, ocorre no cursinho popular Ubuntu, polo Santos Dias, o evento Ditadura Nunca Mais. Capitão da reserva, companheiro de Carlos Lamarca na fuga do quartel de Quitaúna, o ex-guerrilheiro da Vanguarda Popular Revolucionária (VPN) Darcy Rodrigues falará sobre a origem ideológica do Golpe de 1964 e seus desdobramentos para a sociedade brasileira.

    Rodrigues foi preso no Vale da Ribeira e é um dos sobreviventes à ditadura devido à troca de 40 presos políticos pelo embaixador alemão Ehrenfried von Holleben, sequestrado pela VPN, em 1970. Viveu com a família em Cuba, tendo retornado ao Brasil dez anos depois, após a Lei da Anistia.

    A abertura do evento será feita pelo líder e referência na Igreja Católica de São Paulo em atuação social e defesa dos direitos humanos, o padre irlandês Jaime Crowe. O polo Santos Dias do Cursinho Ubuntu localiza-se na Paróquia dos Santos Mártires, no Jardim Ângela, local de trabalho de padre Jaime há 31 anos. Sua atuação junto a movimentos sociais e ao poder público foi um dos principais fatores para diminuir os índices de violência na região.

    Ditadura Nunca Mais é organizado pela Fundação Lauro Campos, que inicia discussões e debates em diferentes locais de São Paulo.

    A mediação da conversa com os estudantes será feita por Francisvaldo Mendes, presidente da Fundação Lauro Campos. “A importância de lembrar da ditadura militar no Brasil, e de todas as ditaduras que passaram no mundo, principalmente para a juventude, é saber que a participação popular, a participação das pessoas por mais conflituosa que seja, é a melhor forma de construir a política. Se você não participa, se algo é imposto, para a política e para a sociedade de uma maneira geral, é muito ruim para construção e crescimento da humanidade, propriamente dito. É importante ter estes eventos para que se possa construir de fato a re-memorização da história para que as pessoas saibam que o caminho é a democracia e não a ditadura”, destaca.

    Serviço

    Ditadura Nunca Mais
    Data e horário: 1º de setembro, sábado, às 15h.
    Local: Rua Luís Baldinato, 9 – Jardim Ângela – São Paulo – SP
    Cursinho Popular Ubuntu – Polo Santos Dias

  • Sônia Guajajara é destaque na revista Socialismo e Liberdade

    Sônia Guajajara é destaque na revista Socialismo e Liberdade

    Sônia Guajajara é destaque na revista
    Socialismo e Liberdade

    A Fundação Lauro Campos lançou a 22ª edição da revista Socialismo e Liberdade. Sonia Guajajara, candidata a co-presidência da República na chapa de Guilherme Boulos, é destaque na matéria de capa da revista. Em entrevista concedida a Gilberto Maringoni e Valério Arcary, Sonia fala da sua história e prega uma urgente união entre os povos do campo e da cidade para romper com o ciclo de concentração de renda e dilapidação do meio ambiente em curso no Brasil.

    A edição traz, ainda, um especial sobre Marielle Franco, vereadora do PSOL que foi brutalmente assassinada no dia 14 de março de 2018, no Rio de Janeiro. Com textos de Talíria Petrone, Débora Camilo, entre outros, o especial examina como a execução de Marielle escancarou a violência do Estado brasileiro contra negros, pobres, mulheres, lésbicas e todos que se encontram em vulnerabilidade na sociedade.

    A revista também traz uma análise de conjuntura sobre as dificuldades e opções para derrotar a direita, escrita pelo presidente da Fundação Lauro Campos, Francisvaldo Mendes, e pelo presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros; textos sobre a tentativa de entrega da Eletrobrás e da Embraer para o capital estrangeiro, uma análise de como enfrentar as Fake News sem cercear a liberdade de expressão, entre outros temas.

    Além da revista impressa, que será entregue gratuitamente nas eventos realizados pela Fundação Lauro Campos. As matérias dessa edição também estarão disponíveis no neste site, assim como a versão digital e completa da revista para download. Boa Leitura!

    Confira a 22ª edição da revista Socialismo e Liberdade:

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  • Estreia a Coleção APARTE da FLC

    Estreia a Coleção APARTE da FLC

    Estreia a Coleção APARTE da FLC

    Estreou, hoje, 13/08, pela Fundação Lauro Campos, a Coleção APARTE, uma série de vídeos com uma contribuição sobre temáticas sociais. É um conjunto de 18 temas, que trazem polêmicas e conteúdos relevantes. É um aparte do todo, uma parte em movimento.

    Parlamentarismo ou Presidencialismo?

    Convidado: RAFAEL MOREIRA Tema: SISTEMA DE GOVERNO Assunto do vídeo: PARLAMENTARISMO OU PRESIDENCIALISMO NO BRASIL. A Coleção APARTE é uma série de vídeos com uma contribuição sobre temáticas sociais. É um conjunto de 18 temas, que trazem polêmicas e conteúdos relevantes. É um aparte do todo, uma parte em movimento.

  • FLC participa da VII PlenaFUP

    FLC participa da VII PlenaFUP

    FLC participa da VII PlenaFUP

    A Fundação Lauro Campos participou da apresentação dos manifestos “Unidade para Reconstruir o Brasil” e “Por uma frente Parlamentar compromissada com a reconstrução e o desenvolvimento do Brasil” na VII Plenária Nacional da Federação Única dos Petroleiros (FUP), realizada ontem no Rio de Janeiro (RJ).

    No painel em que fez parte, o presidente da FLC, Francisvaldo Mendes, comentou sobre a preocupação das fundações dos partidos políticos progressistas em construir um projeto político de longo prazo para o Brasil. Após criar uma narrativa sobre a história das eleições no Brasil, desde a proibição de mulheres e negro serem impedidos de votar, passando pelo coronelismo e o voto de cabresto, Francisvaldo ressaltou o aumento da participação popular nos processos democráticos e a necessidade de ampliar da participação popular na política.

    “Quando a população busca acesso à política e quer participar dela, são criados mecanismos para isolar a população mais pobre e mesmo a classe média. Passamos por uma fase que a economia determinar os rumos políticos do país e, hoje, entramos numa fase em que a política tem que obedecer ao judiciário. Eles [a elite] determinam como a política tem de ser feita, de acordo com os interesses do grande capital, em especial o capital financeiro. Esse é o problema que vamos ter de enfrentar nesse período eleitoral que se aproxima”, explica Francisvaldo Mendes.

    Isabel Leandro, da Fundação Perseu Abramo, comentou que “os documentos expressam a convicção de que, apesar das adversidades, o Brasil tem plenas condições de superar a presente crise”, com a eleição de deputados, senadores que poderão protagonizar uma Frente Parlamentar em defesa do Brasil.

    Marco Costa, da Fundação Mauricio Grabois, falou sobre crise internacional do capitalismo, onde “a forma mais cômoda que é a financeirização e a venda da força de trabalho. Crise essa que a Argentina e Brasil estão vivendo com mais força agora” – explicou.

    “A preocupação das fundações é mostrar que é possível superar divergências e trabalhar nas convergências”, alerta Marcos Costa.

    Alexandre Navarro, da Fundação João Mangabeira, falou do manifesto para que os parlamentares consigam materializar as propostas contidas no documento. “Tomara que consigamos construir essa frente parlamentar que retome o compromisso com as pessoas desse país”, comentou Navarro.

    O manifesto tem o objetivo de desencadear um movimento que contribua para a eleição de um conjunto de parlamentares compromissados com a alternativa de um projeto nacional de desenvolvimento. Uma vez eleitos, esses deputados, deputadas, senadores, senadoras poderão protagonizar a constituição de uma Frente Parlamentar cujos integrantes terão como referência de atuação a defesa de um projeto pela reconstrução e o desenvolvimento do Brasil. Um projeto justo e avançado para a Nação e o povo irá contribuir para a eleição e a formação de uma forte frente progressista no parlamento brasileiro.

  • FLIPEI: Os Piratas da FLIP

    FLIPEI: Os Piratas da FLIP

    FLIPEI: Os Piratas da FLIP

    Adaptar-se ao subir e descer da maré talvez seja a melhor tradução do que representou a FliPEI – Festa Literária das Editoras Independentes para a 16a. FLIP – Feira Literária de Paraty, que  encerrou neste domingo, 29 de julho. Mover a estrutura para as pessoas assumirem seus locais de fala neste momento incerto de país foi a possibilidade e abertura aportadas. “Não estamos em terra firme, é isso é o que está acontecendo de uma forma geral na política”, disse o coreógrafo e escritor Wagner Schwartz ao participar com a filósofa Márcia Tiburi, agora pré-candidata ao governo estadual do Rio de Janeiro, da discussão “A criminalização e o controle dos corpos no neoliberalismo”.

    O artista acusado de pedofilia por estar nu mediante platéia, a líder feminista negra, a candidata indígena, as autoras negras, candidatos ativistas, a família de Marielle Franco, filósofos, sociólogos, economistas, psicanalistas, a programação do barco pirata apresentou muito do pensamento crítico brasileiro, e encantou pela criatividade que vem das bordas, da periferia, com os slams de poesia, campeonatos em que  competidores e jurados improvisam sobre realidades.
    Barco que sedia a Flipei (Festa Literária Pirata das Editoras Independentes)

    PSOL no barco

    A Fundação Lauro Campos esteve presente durante todos os dias da FliPEI, com a revista Socialismo e Liberdade, as camisetas “Do luta à Luta, Marielle presente”,  e apoio à programação.

    Na mesa de sexta-feira à noite, “O que os indígenas nos ensinam com 518 anos de resistência?”, Sônia Guajajara,  primeira mulher indígena candidata à co-presidência, junto com lideranças indígenas locais, falou sobre a necessidade de demarcação das terras dos povos originários e as muitas violências sofridas. Houve a denúncia de Ivanilde e Neusa Guaranis da violência em Paraty com o assassinato de indígenas, como há seis meses o do irmão de Neusa.

    Sônia Guajajara, pré-candidata a vice-presidente pelo PSOL, participa da FLIPEI, em Paraty (RJ).

    Guajajara lembrou da história deste país: “Venho lá do Maranhão, da terra Araribóia, nasci em 1974, mas como todo indigena representa seus ancestrais, minha luta de resistência ocorre desde 1500”. Destacou a necessidade de preservação das áreas de matas e floresta para a vida do planeta, que “a luta dos povos indígenas tem que ser compreendida pela sociedade como uma luta civilizatória.” E a necessidade de protagonismo que o momento exige: “Não é mais suficiente resistir, precisamos dar um passo a mais, precisamos ocupar os espaços de poder, ocupar as instituições. É responsabilidade nossa escrever uma nova história”. Também participaram da mesa o antropólogo Daniel Calazans e o historiador indigenista Benedito Prezia.

    Guilherme Boulos, pré-candidato a presidente pelo PSOL também participou da FLIPEI

    No sábado  pela manhã, Anielle Franco e Marcelo Freixo lembraram que no dia anterior, 27 de julho, Marielle Franco teria completado 39 anos. Anielle voltou a perguntar quem matou sua irmā, já são quatro meses e meio sem resposta. “Estamos entre a democracia e a barbárie.  O que está em jogo não é qualquer coisa”, disse Freixo, e destacou a importância da presença de Anielle ao se falar da violência no Rio de Janeiro.

    Freixo e Anielle juntamente com a cientista política Jaqueline Muniz, protagonizaram o debate “Rio colapsado: intervenção para quê?”. Falaram sobre as Unidades Pacificadoras, as várias etapas das intervenções militares no Rio, dados e fundamentos de um colapso anunciado. Freixo informou que em cinco meses de intervenção militar foram gastos R$ 3 bilhões, com aumento de 37% em conflitos armados e 80% de chacinas nas regiões mais pobres da cidade do Rio de Janeiro. “A intervenção não tem o menor sentido. Com muito menos dinheiro poderia ter sido feito um investimento mais eficiente em um serviço de inteligência para combater o crime sem violência para a população”.

    Jaqueline Muniz, aplaudida muitas vezes, soltou a verve: “Existe uma polícia do bem, que é a polícia de verdade, e uma polícia dos bens, que se chama milícia – e funciona dentro do próprio Estado”. Em uma aula sobre a construção do estado de violência, lembrou que são pretos,  pobres e favelados os que morrem nesta guerra juntamente com os policiais, que são do mesmo extrato social. “A metáfora da guerra serve para naturalizar a predação”.

    Guilherme Boulos esteve presente na mesa “A revolta da senzala no país da casa grande, com o Supremo, com tudo”, com o jurista Silvio Luiz de Almeida e a socióloga Sabrina Fernandes.

    Público acompanha a fala de Sônia Guajajara na FLIPEI
    A matemática Tatiana Roque, candidata a deputada federal pelo Rio de Janeiro, participou junto com Gregório Duduvier e Sabrina Fernandes da discussão “Democracia no divã: da ressaca da esquerda à Rebordosa da direita”, também no sábado à tarde.
    O vai e vem, sobe e desce do barco pirata, demonstra a real situação política que o país vive. E iniciativas como essa precisam ser valorizadas e apoiadas para que possamos sempre dizer o que pensamos, para lutarmos contra as ondas do acaso que tentam inviabilizar o avanço necessário do crescimento humano.

    Confira algumas fotos do evento:

  • Nota de Repúdio à perseguição de professores na UFABC

    Nota de Repúdio à perseguição de professores na UFABC

    Nota de Repúdio a perseguição de
    professores na UFABC

    A Fundação Lauro Campos se solidariza com os companheiros Gilberto Maringoni, Valter Pomar e Giorgio Romano que, desde ontem (24/7), sofrem uma verdadeira tentativa de criminalização e perseguição pela corregedoria da Universidade Federal do ABC (UFABC) por meio da abertura de uma comissão de sindicância para investigar a participação deles no evento de lançamento do livro “A Verdade Vencerá”, da editora Boitempo, realizado na universidade no dia 18 de abril. O livro traz uma longa entrevista com o ex-presidente Lula, realizada por Ivana Jinkings, Juca Kfouri, Gilberto Maringoni e Maria Inês Nassif.

    A universidade é o espaço onde temos mais possibilidade de desenvolver o pensamento crítico e de se criar o desenvolvimento autônomo do país. Sendo assim, é uma das instituições sem as quais não se poderá lançar bases históricas e materiais para a consolidação de um projeto soberano. E para isso, acreditamos que a universidade deve ser democrática e estar em estreito diálogo com os acontecimentos da conjuntura nacional e a necessidade de debate incessante.

    A perseguição aos professores, por meio de uma denúncia anônima, por conta do lançamento do livro de Lula, só denota o crescimento dos mecanismos de intolerância como produto do desmoronamento das instituições democráticas.

    Infelizmente, a tabua do direito que deveria ser o mecanismo de garantir a superação da brutalidade rumo a civilização humana apenas ter servido de instrumento de dominação e perseguição a capacidade da criação e critica que a consciência do ser humano e capaz de alcançar, devido ao rebaixamento do nível educacional do nosso país. Cabe a nós não retroceder.

    Contra a perseguição dos professores na UFABC.
    Por uma universidade democrática, livre e crítica.