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  • Álbum de Fotos: Seminário “A cidade que queremos: os desafios dos mandatos do PSOL”

    Álbum de Fotos: Seminário “A cidade que queremos: os desafios dos mandatos do PSOL”

    Álbum de Fotos: Seminário “A cidade que queremos: os desafios dos mandatos do PSOL”

    Fotos de Tuane Fernandes

     

    Acesse o álbum e veja as fotos em alta qualidade:

    https://www.flickr.com/photos/149030709@N03/albums/72157672677167944

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  • Seminário “A cidade que queremos: os desafios dos mandatos do PSOL”

    Seminário “A cidade que queremos: os desafios dos mandatos do PSOL”

         A Fundação Lauro Campos sediará, nos dias 5 e 6 de novembro, o seminário “A cidade que queremos: os desafios dos mandatos do PSOL”. A inédita iniciativa reunirá os vereadores e vereadoras eleitas ou reeleitas no pleito de 2016 em todo o país, e se constituirá como um momento privilegiado para discutir os desafios do partido na luta contra o governo Temer, trocar experiências entre os diferentes parlamentares com suas distintas vivências e discutir  atuação dos novos parlamentares e prefeitos.

         Nos dois dias da atividade, serão debatidos a conjuntura nacional, os programas municipais do PSOL como também os desafios colocados frente ao cenário político atual. Haverá espaços para que os eleitos possam discutir questões comuns. Mais de quarenta vereadores de todo o país já confirmaram presença, além de parlamentares como Chico Alencar, Edmilson Rodrigues, Glauber Braga, Ivan Valente, Luciana Genro, Luiza Erundina, Raul Marcelo entre outros.  A abertura do evento será feita pelo presidente nacional do partido, Luiz Araújo, e pelo presidente da Fundação Lauro Campos, Juliano Medeiros.

        Para Juliano, “o seminário será um importante momento para discutir os desafios dos mandatos do PSOL diante do processo de reorganização da esquerda brasileira. Além disso, servirá para trocar experiências e enriquecer as possibilidades de atuação de nossos vereadores em defesa da ampliação de direitos contra qualquer retrocesso”. A atividade, que é uma realização conjunta da Fundação Lauro Campos com a Direção Nacional do PSOL, acontecerá na sede da Fundação, na cidade de São Paulo.

         Confira abaixo a programação do evento:

     

    Sábado (05/11)

     

    9h00

    Abertura: Luiz Araújo, presidente nacional do PSOL, e Juliano Medeiros, presidente da Fundação Lauro Campos

     

    10h00

    Mesa sobre conjuntura

    . Edilson Silva, deputado estadual-PE e candidato à prefeitura de Recife

    . Guilherme Boulos, coordenador nacional do MTST

    . Ivan Valente, deputado federal-SP

    . Laura Carvalho, economista e professora da FEA-USP

    Mediação: Juliano Medeiros, presidente da Fundação Lauro Campos

     

    14h-16h00

    Mesa: PSOL e a luta por uma cidade das pessoas

    . Edmilson Rodrigues, deputado federal-PA e candidato à prefeitura de Belém

    . Luciana Genro, candidata à prefeitura de Porto Alegre

    . Marcelo Freixo, deputado estadual-RJ e candidato à prefeitura do Rio de Janeiro

    . Raul Marcelo, deputado estadual-SP e candidato à prefeitura de Sorocaba

    . Juninho, presidente estadual do PSOL-SP e candidato à prefeitura de Embu das Artes

    Mediação: Márcio Rosa, diretor da Fundação Lauro Campos

     

    17h00-19h00

    Divisão em 5 grupos de discussão, sob o tema “desafios do parlamentar do PSOL”

     

    19h00-20h00

    Espaço livre de discussão

     

    20h00-22h00

    Confraternização

     

    Domingo (06/11)

     

    9h00-12h00

    Apresentação das discussões dos grupos e debate com os parlamentares do PSOL

    . Chico Alencar, deputado federal-RJ

    . Glauber Braga, deputado federal-RJ

    . Luiza Erundina, deputada federal-SP e candidata à prefeitura de São Paulo

    Mediação: Gilberto Maringoni, diretor da Fundação Lauro Campos

     

    12h30 – Encerramento 

     

     

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  • Um partido necessário 10 anos de PSOL

    Um partido necessário 10 anos de PSOL

    Uma breve trajetória de um partido que mais cresce na esquerda brasileira, suas conquistas e desafios analisados por diferentes olhares.

    Organizado por Juliano Medeiros e Israel Dutra, o livro traz diversos artigos que narram a trajetória do Partido Socialismo e Liberdade escritos por alguns daqueles que ajudaram a construí-lo durante esse período. Escrevem na obra Luciana Genro (prefácio), Juliano Medeiros (Por uma história do PSOL), Babá (A decadência do PT e o surgimento do PSOL), Chico Alencar (O porvir do PSOL), Afrânio Boppré (A alegria do amanhã), Milton Temer (Parece que foi ontem), Edmilson Rodrigues (Utopia renascida: o PSOL como desafio e promessa), Edilson Silva e Albanise Pires (Socialismo com Liberdade: eis o convite desafiador do PSOL), Roberto Robaina (Breve Balanço dos anos de legalização do PSOL), Ivan Valente (A disputa do espaço à esquerda), Gilberto Maringoni (Dez ano adiante), Luiz Araújo (Um partido para um novo ciclo da esquerda no Brasil) e Lincoln Secco (Epílogo).

    A obra, publicada em 2016, pode ser conferida na íntegra abaixo ou ser adquirida na sede da Fundação Lauro Campos em São Paulo.

     

     

     

  • Síntese dos debates do Ciclo “Se a Cidade fosse Nossa”

    Síntese dos debates do Ciclo “Se a Cidade fosse Nossa”

         A fundação Lauro Campos, em parceria com diretórios estaduais e municipais do PSOL, realizou uma série de eventos buscando contribuir com a discussão programática do partido e ajudar na apresentação de propostas visando as eleições municipais de 2016.

         Foram dez atividades realizadas em oito cidades brasileiras, que contou com a participação de pesquisadores, estudiosos e militantes dos eixos temáticos escolhidos para o aprofundamento da discussão. Rio de Janeiro, Curitiba, Nova Iguaçu, Fortaleza, Salvador, Recife, Belém e São Paulo sediaram atividades.  

         Confira a síntese de cada discussão realizada pelo Ciclo “Se a Cidade fosse Nossa”:

     

     

     

    Cidades do negócio vs. cidades rebeldes

    Local: Rio de Janeiro – RJ

    Participantes: David Harvey (geógrafo), Juliano Medeiros (presidente da FLC) e Edmilson Rodrigues (deputado federal – PA)

         Tivemos a oportunidade de apoiar o diretório carioca do partido, recebendo o  professor David Harvey, figura destacada do pensamento marxista e mais importante  geógrafo da atualidade. Em duas conferências mais uma aula pública, mostrou como a cidade é o espaço privilegiado de reprodução ampliada do capital, e destacou como os movimentos sociais estão procurando outras formas de organização e articulação para enfrentar a cidade dos negócios.

         O capitalismo em crise tenta resolver seus problemas através do avanço sobre as cidades para transformá-las em ativos financeiros. É a lógica de que a cidade não deve servir para as pessoas, mas para os negócios.

         Há uma enorme irracionalidade do capitalismo e na política. Como lembrou, em tom de brincadeira:  “dizem que nós, marxistas, somos insanos. Insanos são os capitalistas, que defendem esse modelo de cidade feita para especular, e não um modelo decente para as pessoas morarem com dignidade”.

         E continuou: “a solução não é abandonar o processo político, mas reconstruir o sistema. Precisamos de uma revolução política. Nos dizem que a única solução para as nossas dificuldades é mais capitalismo. A verdadeira resposta é nada de capitalismo. Na esquerda, a base tem que ser popular e estar no centro do processo político.”

     

    Tema 1: Saúde

    Local: Curitiba – PR

    Participantes: Bernardo Pilotto (setorial de saúde do PSOL), Lidia Cardieri (socióloga) e Melissa Pereira (Fiocruz)

         A saúde é um dos principais problemas dos municípios e dos cidadãos. A constituição federal estabelece que é competência do município a atenção básica e os serviços locais (em parceria com o estado e a união), o estabelecimento de uma política municipal de saúde, que invista ao menos 15% do orçamento local, e os laboratórios de exames e hemocentros. É muita coisa e os recursos são poucos.

         As restrições financeiras e as imposições da lei de responsabilidade fiscal têm trazido dificuldades adicionais. As administrações em geral, independente da orientação ideológica do partido, tem apostado em formatos de terceirização de serviços e de gestão, precarizando as condições de trabalho e retirando o caráter público do serviço. Para o PSOL, a ideia é fortalecer o SUS e a saúde pública, gratuita e de qualidade, bem como apostar na valorização do profissional, sabendo que sua dedicação e competência podem fazer a diferença.

         Como ressaltou Bernardo Pilotto, “é muito importante que o PSOL construa programas de governo na área de saúde antenados com as lutas de nosso povo nessa área, defendendo a ampliação e desprivatização do SUS. Na gestão municipal, é possível fazer muitas políticas de prevenção e promoção da saúde e é nessa área que devemos ter foco.” A própria melhora das condições de vida da população, com investimentos em saneamento básico, melhorias no transporte público e mais opções de lazer podem ser encarados como política de prevenção.

         Além disso, destacamos um assunto dentro da atenção básica: a saúde mental (junto da política de drogas), onde o município tem papel proeminente. Trata-se de debate com crescente relevância da sociedade e que traz a discussão sobre cuidado e o acolhimento. Aqui, o PSOL reafirma seu compromisso com a luta antimanicomial e com as práticas de redução de danos enquanto diretrizes para nossas políticas locais, focando sua atenção no estabelecimento e qualificação dos CAPS.

    Propostas

    • Ampliar os serviços do SUS e combater a privatização da saúde buscando rever os contratos de serviços e gestão
    • Melhorar as condições de trabalho e salários dos servidores
    • Foco na saúde básica, com fortalecimento das equipes de saúde da família
    • Políticas de prevenção e de informação
    • Construção, ampliação e melhorias dos CAPSs
    • Políticas sobre drogas de inclusão social e redução de danos.

     

    Tema 2: Segurança e direitos humanos

    Local: Curitiba – PR

    Participantes: Juninho (presidente do PSOL-SP e membro do Círculo Palmarino) e Orlando Zaccone (delegado e membro da Leap – Law Enforcement Against Prohibition).

         O desafio para o PSOL é estabelecer uma política de governo baseada no mais amplo respeito aos direitos humanos e no combate à todas as formas de opressão. Essas questões, como apontado pelo Juninho, estão relacionadas à questões estruturais que marcam a sociedade brasileira: a profunda desigualdade social, a cidadania restrita e a violência como forma de controle: “a manutenção desses privilégios de acumulação de riqueza e essa cidadania restrita se mantém através da violência”.

         Essa formação social leva a uma atuação do estado  baseada no controle social, dentro da lógica do combate ao inimigo, do punitivismo penal, da gentrificação e da exclusão social. Ressaltou Orlando Zaccone: “então, a questão da cidadania que o Juninho trouxe mostra que a Declaração Universal dos Direitos Humanos não contemplou essa distinção entre cidadão humano e não cidadão inimigo. O inimigo hoje não é o cidadão, ele é construído dessa forma, pelo discurso: ´direitos humanos para humanos direitos´. E esse nosso cidadão é construído como inimigo, e diversas fatores vão ser contemplados nessa não cidadania, nessa construção de inimigo. E o tráfico de drogas hoje é a grande construção que se faz dessa figura mítica do inimigo que perde toda proteção do ambiente social”.

         A política de segurança do PSOL precisa encarar a discussão da segurança e da violência como produto da desigualdade social: “a violência não será combatida com mais aparato e com mais violência, mas sim a partir de uma dinâmica de desenvolvimento real, de distribuição de riqueza, de desenvolvimento social”, reforçou Juninho.

    Propostas:

    • Políticas de proteção aos direitos humanos e combate às opressões
    • Pelo fim do caráter atual “militarizado” das Guardas Civis Metropolitanas e reforço da atuação comunitária
    • Foco em políticas de revitalização dos espaços e de combate à desigualdade

     

    Tema 3: Poder local nas periferias e no interior

    Local: Nova Iguaçu – RJ

    Participantes: Carlos Vainer (urbanista), Sandra Quintela, Glauber Braga (deputado federal – RJ), José Cláudio Souza Alves (sociólogo/UFRRJ), Josemar Carvalho (geógrafo/São Gonçalo-RJ), Leci Carvalho (pedagoga e presidenta do PSOL-Nova Iguaçu,), Cid Benjamin (jornalista) e Álvaro Neiva (presidente do diretório estadual do Rio de Janeiro)

         As políticas públicas não podem se resumir às capitais. Mesmo quando pensamos nelas, é decisivo incorporar as regiões metropolitanas no debate, porque para as pessoas as fronteiras entre os municípios muitas vezes representam impedimentos e dificuldades. Para Carlos Vainer é preciso superar as divisões baseadas em municípios, muitas vezes incorporadas pelos próprios partidos que têm viés contra-hegemônico. “Sou a favor do comitê metropolitano. Nós queremos os impostos da Barra da Tijuca sendo aplicados em Nilópolis (…) O poder é a capacidade de articular escalas, sejam elas globais, nacionais ou locais”, afirmou Vainer.

         O programa do PSOL é construído em parceria com os movimentos sociais. Sandra Quintela, economista do PACS (Políticas Alternativa para o Cone Sul), lembrando seus vínculos com a Baixada, citou exemplos de embates como os comitês em Nova Iguaçu contra a ALCA, pescadores da Zona Oeste do Rio contra a TKCSA, Comitês Populares denunciando as políticas de exclusão relacionada à Copa e às Olimpíadas. Para Sandra, “o debate sobre poder local não pode abrir mão de fazer as disputas de classe, afinal, o capital é global”.

         Fechando a primeira parte do debate, o deputado federal Glauber Braga (PSOL/Nova Friburgo-RJ) falou sobre as relações entre institucionalidade e resistência nas ruas.  “Somos o partido que toda sexta-feira está em praça pública no Centro do Rio. Temos que construir os programas e prestar contas nas praças, não para negar o poder representativo que hoje existe, mas por entender que ele não dá conta de um projeto de ruptura”, afirmou Glauber.

       Na parte da tarde o debate contou com a participação dos professores José Cláudio Souza Alves (sociólogo/UFRRJ), Josemar Carvalho (geógrafo/São Gonçalo), e Leci Carvalho (pedagoga e presidenta do PSOL-Nova Iguaçu,); do jornalista Cid Benjamin.e do presidente estadual do PSOL-RJ, Álvaro Neiva. Em pauta, as particularidades da militância na Baixada e na periferia em geral, os problemas na segurança e no serviço público e os desafios da luta institucional, entre outros temas.

    Propostas:

    • Políticas integradas para Região Metropolitana – mobilidade urbana, segurança pública, saneamento básico, saúde etc
    • Criação de comitês metropolitanos e de laços entre os governos e os cidadãos dessas regiões

     

    Tema 4: Cidades Negras

    Local: Salvador-BA

    Participantes: Samuel Vida (UFBA), Linesh Ramos (professora) e Dennis Oliveira (USP)

         Para o PSOL o racismo é parte estrutural da formação social do país e da luta de classes. Como destacou o professor Dennis de Oliveira,  o “racismo é a ideologia que vai definir quem tem e quem não tem patrimônio e renda; o racismo que define quem é e quem não é cidadão e é o racismo que define quem é o autor e quem é a vítima da violência. Ele vai ser o elemento que vai justificar essa clivagem que acontece pela lógica do Estado brasileiro”.

         Do ponto de vista da gestão do Estado e das políticas públicas, enfrentar o tema do racismo institucional é decisivo para uma gestão que quer combater o racismo estrutural. Para Samuel Vida, “falar de racismo institucional é tentar entender como esses mecanismos operam de formas distintas e com várias roupagens, podendo ocorrer, inclusive, em espaços governados e administrados por pessoas negras”.

         Da mesma forma, destacamos a importância de abordar esse tema de forma intersetorial, com conexões com a questão das mulheres em especial: “o empoderamento das mulheres negras é fundamental à luta democrática. O racismo atua no sentido de manter a faxina ética. Não existe socialismo e liberdade se não tivermos o fim do racismo”, afirmou Linesh Ramos.

         Para o PSOL a temática do combate ao racismo não pode se resumir às ações de uma pasta específica, devendo estar presente em todas as ações institucionais e políticas públicas, além das políticas específicas.

    Propostas:

    • combate ao racismo institucional
    • combate à violência contra o jovem periférico
    • combate à violência contra a mulher negra

     

    Tema 5: Comunicação

    Local: Fortaleza-CE

    Participantes: Aldenor Jr. (ex secretário de comunicação de Belém), Roger Pires (coletivo Nigéria) e Helena Martins (coletivo Intervozes)

         Segundo a Unesco “todas as pessoas têm o direito de produzir, receber e fazer circular informações”. Essa concepção é mais do que garantir a liberdade de expressão, é pensar em formas e políticas que garantam a todas as pessoas o direito de acessar, produzir e difundir informações e cultura. Esse direito, no entanto, é negado pelo alto grau de concentração da propriedade dos meios de comunicação, inclusive em âmbito municipal (donos de rádios e jornais locais são ligados ao poder econômico).

         Junto dos movimentos sociais, é preciso pensar outras formas de comunicação e de identidade visual. Para Roger Pires, a comunicação no âmbito municipal reflete a segregação existente na própria cidade: a representação dos centros é hegemônica, enquanto que as periferias não se apresentam representadas nos grandes veículos: “qual é o Ceará que nós vemos na televisão?”, questionou.

         Mais do que as políticas específicas de comunicação, é preciso ter uma linha de atuação militante, que contribua para a organização popular e faça o enfrentamento com o pensamento e as forças hegemônicas, na direção da ampliação da participação popular. Assim, a comunicação precisa ser feita “a partir do olhar ‘dos de baixo’, como uma ferramenta para educar, para organizar e para politizar o povo”.

    Propostas:

    • wi fi livre e incentivo à produção popular
    • incentivo à distribuição e circulação da produção popular
    • incentivo à comunicação popular, jornais de bairro, rádios comunitárias, produção local
    • comunicação militante com engajamento social

     

    Tema 6: Meio ambiente

    Local: Fortaleza – CE

    Participantes: Márcio Astrini (Greenpeace) e Alexandre Araújo (PBMC – Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas)

         Pensar em outro modelo de desenvolvimento, sustentável e que respeite todas as formas de vida. O Ecossocialismo, ou qualquer outro nome que se queira dar para uma alternativa para além do capitalismo, precisa ser um projeto que supere o capital em dois aspectos: o da desigualdade social e o do colapso ambiental que promove.

          É importante romper com a dicotomia Homem versus Natureza, e compreender que a humanidade é parte integrante da natureza. O planeta Terra deve ser visto como um único organismo com um metabolismo próprio. Entretanto, a ação do homem no planeta, forçada pela atual forma de exploração devastadora, acaba por desequilibrar este metabolismo, comprometendo a sobrevivência de todas as espécies.

         A tarefa que cabe é a de adequar a exploração do planeta com as reais necessidades da humanidade, o que é incompatível com o atual sistema capitalista, uma vez que a superexploração dos recursos naturais, com o aumento da produção de dejetos, contaminação do meio-ambiente e destruição de biomas, se torna cada vez mais aceleradas na busca da produção de capital e sua consequente hiperconcentração. É mais do que urgente se buscar soluções de baixo custo e alta rentabilidade para o conjunto da sociedade, na construção de uma cadeia produtiva baseada na economia criativa e solidária.

    Propostas:

    • Eficiência no gerenciamento dos dejetos
    • Estímulo a soluções criativas de produção com baixo impacto ambiental e alto retorno social
    • Vigilância rigorosa do uso de agrotóxicos e fertilizantes químicos
    • Incentivo a nova matrizes energéticas, como o programa de instalação de placas solares em equipamentos públicos
    • Estímulo à criação de cadeias de produção e circulação de mercadorias, orientadas pela perspectiva da economia solidária

     

    Tema 7: Moradia e mobilidade

    Local: Recife-PE

    Participantes: Lucio Gregori (ex-secretário governo municipal de São Paulo, na gestão de Luiza Erundina), Socorro Leite (ONG Habitat), Leonardo Cisneros (Ocupe Estelita) e Vitor Guimarães (MTST)

         A cidade tem sido alvo do capital para se tornar espaço de valorização, produzindo desigualdades e exclusão social. O direito à cidade foi abordado em torno dos temas da moradia e da mobilidade urbana.

         Socorro Leite, diretora executiva da ONG Habitat para a Humanidade Brasil, destacou  que “o direito à moradia não está à frente da política pública”. Apresentou também uma série de propostas para a inversão das prioridades nesse tema, como a ocupação de imóveis ociosos, recursos locais para moradia, planejamento para a cidade, proteção nas ZEIS, regularização da posse, diversificação soluções habitacionais e, em especial, a participação popular.


         Já Vitor Guimarães, da coordenação nacional do MTST, destacou que “não existe programa habitacional, existe um projeto econômico, pois a crise urbana é um projeto político. Quem é dono da terra é dono da cidade. O Minha Casa Minha Vida não questiona a especulação imobiliária”. Concluiu chamando à luta e à organização popular, destacando que um programa de esquerda deve enfrentar a questão do valor da terra, ampliar e regulamentar o estatuto das cidades e estabelecer comitês democráticos de mediação de conflitos.


         Para falar de mobilidade, o engenheiro Lucio Gregori, que foi secretário de transporte da gestão Luiza Erundina na cidade de São Paulo, apontou que “a luta de classes é no chão das cidades, mais que nas fábricas”. Lembrando que a mobilidade é questão transversal, destacou também a participação popular e concluiu dizendo que “se a cidade fosse nossa a mobilidade seria de todos”.


        Por fim, Leonardo Cisneros, Professor UFRPE e ativista dos Direitos Urbanos – Recife e do Ocupe Estelita, lembrou que “mobilidade é problema político, cujas soluções expressam visões sobre o modelo de cidade. É a democracia direta do capital, que articula investimentos públicos com os interesses privados”. Assim, a questão da transparência e das prioridades é central, garantindo ao povo a capacidade de decidir e não apenas participar de conferências e consultas esvaziadas de poder.

    Propostas:

    • inversão das prioridades. Ocupação de imóveis ociosos, recursos locais para moradia, planejamento para a cidade, proteção nas ZEIS, regularização da posse, diversificação soluções habitacionais e, em especial, a participação popular.
    • enfrentar a questão do valor da terra, ampliar e regulamentar o estatuto das cidades e estabelecer comitês democráticos de mediação de conflitos.
    • transparência e das prioridades é central, garantindo ao povo a capacidade de decidir e não apenas participar de conferências e consultas esvaziadas de poder

     

    Tema 8: Participação popular

    Local: Belém-PA

    Participantes:  Edmilson Rodrigues (deputado federal-PA), Juliano Ximenes (urbanista) e Jurandir Novaes (urbanista)

         A radicalização da democracia, a participação da sociedade e a construção do poder popular são as principais marcas da proposta de governo do PSOL, ao lado da ideia de inversão de prioridades. Somente  com o povo tendo voz ativa nas decisões do governo é que seus interesses serão atendidos. A crise política e o governo golpista de Michel Temer reforçam essa importância, propondo um formato de governo totalmente oposto ao ministério de homens brancos e ricos de Temer.


         Juliano Ximenes falou sobre a importância de se instituir um ativismo comunitário no Brasil como uma medida para melhorar os mecanismos de controle político utilizados pela população. “Tais processos conferem força e diminuem os conflitos da população. O ativismo é um processo necessário e deve estar integrado às políticas para democratizá-las plenamente”, enfatizou. Já Jurandir Novaes complementou a contribuição do arquiteto, Juliano Ximenes, ao dizer que “a participação popular é uma decisão política, que serve para romper a lógica da dominação sobre o povo”.

         Edmilson Rodrigues finalizou o debate, destacando que a falta da participação popular é um dos fatores que contribuiu para o aprofundamento da crise vivida no Brasil e sofrida pela população. “A participação do povo na gestão é o instrumento que deve ser usado para que superemos as crises e para que possamos caminhar rumo a um futuro democrático, sem diferenças na sociedade e que tenha a população como foco”, concluiu.

    Propostas:

    • Ampliar e reforçar as formas de participação popular, através de conselhos, conferências e mecanismos de participação direta nas decisões, bem como reforçar mecanismos de controle social dos gastos e contratos.
    • Descentralizar o governo e estabelecer mecanismos de protagonismo local e popular.

     

    Tema 9: Educação.

    Local: São Paulo-SP

    Participantes: Luiz Araújo (professor UNB e presidente nacional do PSOL), Lisete Arelaro (professora da Faculdade de Educação da USP) e Sylvie Klein (pesquisadora), com comentários de Paula Coradi (professora)

         Para o PSOL, é central a defesa da educação pública, gratuita e de qualidade para todas e todos. A efetivação desse direito depende das prioridades e opções do governo. Luiz Araújo, professor da UNB e presidente nacional do PSOL, contou que no governo de Belém, quando foi secretário de Educação, “o Edmilson reuniu lá no palácio do governo a equipe que trabalhava comigo na secretaria e fez a seguinte pergunta: de tudo que vocês estão fazendo ou estão planejando fazer, o que a direita não faria?”.

         Para a esquerda socialista são três tarefas: a) garantir o acesso universal aos direitos sociais, o que envolve a inversão de prioridades e a “disputa do fundo público com outras prioridades”; b) fazer uma disputa de valores pela herança imaterial de concepções, o que implica em “empoderar a população”; e c) radicalizar a participação popular , “abrir os dados e discutir a sua composição e capacitar a população a discutir isso e decidir de forma inclusive diferente”.

         Já a professora Lisete Arelaro, professora da Faculdade de Educação da USP, começou lembrando que “nós estamos em tese numa democracia, e efetivamente a gestão democrática foi para as cucuias”. E que a preocupação com os números de matriculados precisa ser balizada pela qualidade. E como faz pra melhorar a qualidade? “Querido, se tiver uma jornada digna para o professor e ele ganhar um salário minimamente decente, surpresa, dá certo a escola, em geral”.

         Sobre a educação de jovens e adultos e a alfabetização no país, Lisete lembrou da enorme dívida social, do alto número de analfabetos e de adultos que não passaram do ensino fundamental ou médio: “ Porque ele pensa: eu trabalho nove horas, 14h eu estou aqui, duas horas para voltar, se eu ainda for estudar três horas e meia, quatro, tem que valer muito à pena”.

          Finalizando o debate, a pesquisadora Sylvie Klein falou sobre educação infantil, que é uma das responsabilidades dos municípios. Para ela, “a creche e a educação infantil, é um direito das crianças, é um direito que as crianças têm de estarem num espaço público, que as crianças têm de estarem num espaço coletivo, um espaço entre pares, que ela saia daquele núcleo que é caminhar, que é o espaço do privado, para estar nesse lugar”. Aqui, o desafio é o acesso com qualidade: “Se é direito das crianças, de todas as crianças, ela é um dever do estado, e aí o estado tem que se responsabilizar por esse atendimento. E o que a gente tem visto é uma desresponsabilização do estado via política de conveniamento”.

    Propostas:

    • Fim das matrículas da educação infantil nas entidades conveniadas e progressiva retomada da prefeitura
    • Limite de alunos por sala de aula definido por critérios pedagógicos
    • Ampliação dos programas de alfabetização de Jovens e Adultos
    • Valorização do professor e ampliação dos mecanismos de participação social nas escolas
  • Fundação Lauro Campos promove debate no Fórum Social Mundial

    Fundação Lauro Campos promove debate no Fórum Social Mundial

    A Fundação Lauro Campos promoveu no último dia 11 de agosto o painel “The new latinamerican situation” (A nova situação latinoamericana), durante o Fórum Social Mundial, em Montreal, no Canadá. O evento, que integrava a programação oficial do Fórum, contou com a participação de ativistas de vários países, como Equador, Argentina, Estados Unidos, Canadá, Bélgica, Venezuela, dentre outros.

    Na mesa do debate estiveram presentes Pablo Solon, ex-ministro plenipotenciário do governo de Evo Morales, na Bolívia, Richard Arce, deputado da Frente Ampla na Assembléia Nacional do Peru e Charles Lenchner, dirigente da campanha do pré-candidato democrata Bernie Sanders, nos Estados Unidos. Além deles, participaram representando a Fundação Lauro Campos os companheiros Pedro Fuentes, coordenador do Observatório Internacional da Fundação, e Juliano Medeiros, diretor-presidente da entidade.

    No debate, cada um dos integrantes da mesa destacou aspectos particulares da realidade de seus países. Pablo Solon abordou as contradições advindos do processo de crescimento econômico da Bolívia nos últimos anos e os inconvenientes que o modelo extrativista traz consigo, especialmente no caso boliviano. Richar Arce, deputado recém-eleito pela Frente Ampla após a extraordinária campanha presidencial de Veronika Mendoza (terceira colocada, com 18% dos votos), abordou a situação política de seu país a partir do processo e reorganização da esquerda peruana neste ano. Para ele, uma esquerda “renovada” deve saber construir uma agenda política a partir das mobilizações de todos os excluídos. Charles Lenchner, dirigente da campanha de Bernie Sanders, o senador que enfrentou Hilary Clinton nas primárias do Partido Democrata com uma plataforma claramente anticapitalista, mencionou as discussões acerca da criação de um partido independente que busque romper a histórica polarização entre democratas e republicanos. Além deles, estava confirmada a presença da ex-ministra do meio ambiente do governo de Hugo Chavez, Ana Elisa Osório, que não pode vir ao Canadá depois que o país negou a emissão de seu visto, o que foi objeto de protesto de vários participantes.

    Os representantes da Fundação Lauro Campos foram ouvidos atentamente pelo público. Pedro Fuentes, coordenador do Observatório Internacional da entidade, apresentou as características gerais do que ele considera “o fim de um ciclo” na América Latina. Esse ciclo teria sido caracterizado por governos anti-imperialistas e reformistas de diferentes características, e seu fim se expressa na crise que estes projetos vivem hoje, com a derrota do kirschnerismo na Argentina, o impeachment de Dilma no Brasil e as dificuldades do governo Maduro, na Venezuela. Já o presidente da Fundação Lauro Campos, Juliano Medeiros, concentrou sua análise nas consequências do golpe no Brasil e as características gerais do governo de Michel Temer. Para ele, o golpe tem por objetivo “colocar em marcha uma agenda ultraliberal que busca garantir as condições para um novo ciclo de valorização do capital no Brasil, destruindo direitos sociais e instrumentos de proteção aos povos indígenas e ao meio-ambiente”. Após a exposição dos debatedores, vários participantes pediram a palavra para fazer perguntas. O debate contou com a tradução de Alejandra Zaga, militante peruana do partido Québec Solidaire, e foi realizado na Universidade de Quebéc.

    Durante o Fórum Social Mundial os representantes da Fundação Lauro Campos ainda participaram do Fórum Parlamentar Mundial e distribuíram o Guia do Golpe para Estrangeiros, editada pela entidade em quatro idiomas (francês, inglês, espanhol e português), e que foi um sucesso entre os participantes do FSM.

  • Guia do golpe no Brasil para estrangeiros

    Guia do golpe no Brasil para estrangeiros

    A publicação lançada pela Fundação Lauro Campos tem como foco explicar aos estrangeiros o processo em andamento do golpe no Brasil, suas causas, atores envolvidos e consequências imediatas. Nele, há dez perguntas e respostas que explicam o atual processo político em curso e as razões pelas quais é fundamental denunciá-lo aqui e no exterior.

     

    O caderno em formato de revista foi produzido nos idiomas inglês, francês e espanhol, além do português.

     

    A Guide to the Coup in Brazil for Foreigners (english/français/español/português)

     

     

  • Fundação Lauro Campos no Fórum Social Mundial em Montreal

    Fundação Lauro Campos no Fórum Social Mundial em Montreal

    A Fundação Lauro Campos estará presente nesse importante FSM que se realiza pela primeira vez no hemisfério norte, num momento em que a América do Norte é sacudida pela crise do bipartidarismo nos Estados Unidos com a candidatura de Donald Trump, de um lado, e da excepcional campanha liderada por Bernie Sanders, de outro.

    A Fundação Lauro Campos e o PSOL promoverão um debate sobre a nova situação na América Latina depois dos triunfos reacionários de Maurício Macri, na Argentina, e do golpe parlamentar no Brasil que pôs fim ao ciclo de governos petistas. Nesta mesa participaram importantes personalidades da esquerda:

    Pablo Solon, da Bolivia, Ex-Ministro Plenipotenciário do governo de Evo Morales e embaixador boliviano na ONU. Hoje se dedica ao estudo e denúncia das grandes corporações internacionais em seus avanços predatórios, em particular na crítica à chamada “economia verde”.

    Richard Arce, do Peru, dirigente do Frente Amplio Peruano, eleito deputado ao Congresso Nacional do Peru no distrito de Apurimac. Richard Arce tem liderado uma poderosa denúncia do extrativismo e da mineração predatória nessa região como parte da luta em todo o Peru contra esses empreendimentos.

    Ana Osorio, ex-Ministra do Meio Ambiente do governo de Chávez, membro do Parlatino e que se tem destacado pelo empreendimento de projetos eco-ambientais durante sua gestão junto ao governo de Chávez.

    Pela Fundação e o pelo PSOL estarão presentes o presidente da Fundação Lauro Campos, Juliano Medeiros, e o coordenador do Observatório Internacional do PSOL, Pedro Fuentes.

    Abaixo mais informações sobre a atividade:

    The new Latino American situation

    August 11 / 9 am 11. 30 University of Quebec Montreal

    Pavillon PK (Local PK-1620) 201, Avenue du Président-Kennedy

    foto1

    Fórum Mundial de Parlamentares

     

    foto2

    Durante o Fórum Social Mundial acontece também o Fórum Mundial de Parlamentares. Este Fórum é organizado pelo Partido Quebec Solidarie junto a Esquerda Unida do Parlamento Europeu. A grande expectativa é a presença de Bernie Sanders, entre outras personalidades da esquerda dos EUA e América Latina. Os representantes do PSOL, Juliano Medeiros e Pedro Fuentes, também acompanharão o evento.

    Wednesday August 10th, 2016

    Salle Coeur des sciences, Université du Québec à Montréal (Room SH- 4800)200 Sherbrooke West Street, Montréal, H2X 1X5

  • O colapso ético

    O colapso ético

    por Roberto Amaral

    Estamos em face do colapso do sistema partidário, atingido pela inautenticidade, falência representativa e absoluta renúncia a qualquer ordem de opção ideológica ou programática.

    Nada menos do que 117 deputados federais respondem a inquéritos, alguns de natureza penal, outros por compra de votos, quase todos acusados de corrupção.

    Por seu turno, e coroando o escândalo que só não é visto por quem não quer, mais de uma dezena de senadores são alvos de processos de natureza vária, desde delitos eleitorais a crimes comuns.

    Um deles, então líder do governo, foi preso em pleno exercício do mandato, o que denota tanto o caráter da composição da câmara alta quanto sua pusilanimidade.

    Seu ainda presidente sobrevive toureando os processos que lhe move o Ministério Público, alguns já acatados pelo Supremo Tribunal Federal.

    Esse quadro, que sugere um colapso ético, que revela a iminente tragédia política, se reproduz, como fractal, por todo o país, nos parlamentos estaduais e nos municipais, indicando os riscos que ameaçam a mambembe democracia representativa de nossos tristes dias, infectada pelo vírus letal da ilegitimidade, que mais a distancia da soberania popular.

    O deputado Eduardo Cunha, afastado do mandato parlamentar por inédita ordem do STF e presentemente aguardando a inevitável cassação de seu mandato (não obstante a solidariedade cúmplice de seus correligionários), é réu em processos da mais vária natureza.

    Do inefável ex-presidente da Câmara dos Deputados pode-se dizer que se trata de profissional, com rica folha corrida, figura icônica da nova ordem política brasileira, esta que aos trancos e barrancos nos governa, violando a ordem constitucional e ferindo tudo o que se assemelhe a hora e dignidade.

    Dessa ordem política de hoje, mesquinha e pobre, pedestre, aflora o nanismo de personagens da linhagem de Michel Temer, Jair Bolsonaro, Ronaldo Caiado, Eliseu Padilha, Romero Jucá, Geddel Vieira Lima …, nossos governantes de hoje, e, dentre outros, esse lamentável Waldir Maranhão, ora retornado ao ostracismo, cuja alçada à presidência interina da Câmara dos Deputados por si só é a mais contundente demonstração da falência de um Parlamento que não se dá a respeito.

    A sobrevida parlamentar de Cunha, por sinal, deriva diretamente de sua condição como líder do ‘Centrão’, o valhacouto que o elegeu e o sustenta ainda, depois de abrir, por mesquinharia, o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

    Nesse ‘Centrão’ se reúnem – e dele partem para o assalto à República – o que há de pior do fisiologismo e do assistencialismo, o pior da representação do agronegócio, dos grileiros e dos latifundiários assassinos de índios e quilombolas, o pior do fundamentalismo neopentecostal, o pior das bancadas dos empreiteiros, o pior do lobby dos sonegadores de impostos financiados pelas FIESPs da vida.

    O pior do atraso. O ‘Centrão’, recuperado por Temer e hoje majoritário, é certeza de restauração do passado.

    A questão grave, crucial, o caruncho que está a construir nossa tragédia institucional, é que somos hoje governados por essa horda dos piores, senhores de baraço e cutelo dos três poderes da República.

    Esse condomínio de interesses pérfidos reúne algo mais que a maioria absoluta do Congresso Nacional e, assim, liderado ideologicamente pelo atraso, apoiado pela grande mídia, dispõe das condições objetivas para promover a restauração conservadora, a ressurreição do Brasil arcaico, dependente, oligárquico, reacionário.

    Essa coalizão – resultado do encontro do pior da base de Dilma Rousseff com o pior da oposição ao seu governo e ao lulismo – tem no Palácio do Planalto de hoje o comando do processo (e aí atuam de braços dados Legislativo, Executivo e Judiciário) de retomada do atraso que lembra os piores momentos da ditadura militar, com o agravante do entreguismo e do sentimento antinacional, de que não podem ser acusados os militares.

    A disfunção institucional, porém, é profunda, é estrutural, e sua gravidade independe das figuras e figurinhas que compõem nosso cenário político.

    Estamos em face do colapso do sistema partidário, atingido pela inautenticidade, falência representativa e absoluta renúncia a qualquer ordem de opção ideológica ou programática.

    Proliferando graças à irresponsabilidade da dupla STF-TSE, os partidos, na sua maioria – e relembremos sempre as exceções oferecidas pelos partidos de esquerda, em que pese sua crise coletiva – nada mais são hoje que meras siglas, ‘sopas de letrinhas’ sem significado, quase todos transformados em projetos empresariais que se beneficiam do fundo partidário e vendem tempo de televisão no processo eleitoral, além de apoios no Congresso a cada votação do interesse do Governo ou dos lobbies, chantageando a ambos.

    Por fora dos partidos formais, corroendo-os, ultrapassando-os, desmoralizando-os, agem os ‘partidos reais’, as bancadas interpartidárias, como as mais notórias, as bancadas do boi, da bola, da bíblia e a dos bancos, a bancada dos donos de emissoras de radio e tevê, e, até, as bancadas sérias, como a da saúde e a dos educadores, dentre outras, mas significando sempre o fracasso organizacional e programático e doutrinário dos partidos.

    O chamado ‘presidencialismo de coalizão’ vive seus estertores, após haver levado o governo Dilma à debacle política conhecida.

    A necessidade de reforma profunda, estrutural, aquilo que Darcy Ribeiro chamaria ainda hoje de “passar o Brasil a limpo”, é porém, tarefa do Congresso que temos, o grande beneficiário de todas essas mazelas.

    O que fazer? Sem respostas objetivas, mas apenas sonhos, resta-nos crer que a exaustão política, aguçando a crise, levará esse Congresso, ou o que se instalar em seu lugar em 2019 (se assim chegarmos até lá), a, pressionado pelo clamor das ruas, finalmente realizar as reformas sem as quais poderá estar escrevendo seu necrológio.

    A eleição na Câmara dos Deputados

    A disputa pela sucessão de Cunha-Maranhão (retrato de corpo inteiro da degenerescência que invade todo o organismo político brasileiro) travou-se entre um representante do ‘Centrão’ profundo e um líder orgânico da direita, vitorioso.

    Em seu discurso, ao assumir a Presidência da Câmara, o representante do DEM, ex-PFL, ex-Arena, um dos líderes do golpismo em curso, agradeceu a todos os que o apoiaram, agradeceu ao interino Temer que por ele tanto batalhou, mas, significativamente, agradeceu também ao PT e ao PCdoB.

    Uma vez mais e desta feita mais imperdoavelmente do que nunca, a esquerda parlamentar revelou-se incapaz de interpretar corretamente a realidade e assim, falha em estratégia, terminou por renunciar ao papel de sujeito, imobilizada por uma falsa dúvida hamletiana entre as vias pragmática e programática, sem saber que nenhuma opção é em si boa ou má, pois o que as qualifica são as circunstâncias.

    Por fim, e por tudo isso, a esquerda ficou sem papel, nem marcou a posição política necessária nem interferiu no processo eleitoral, e ainda ficou devendo aos seus militantes uma explicação por, já lançada a candidatura de Luiza Erundina, haver ora optado por apoiar o candidato do PMDB, desidratado por seu correligionário Temer, ora por lançar mais uma anticandidatura.

    Ao fim e ao cabo, com nossas dúvidas, nossas vacilações, nossos erros de avaliação, nossa ausência de estratégias, nosso apego às táticas como fatos isolados, a eleição do deputado Rodrigo Maia como presidente-tampão representou mais uma vitória da direita brasileira, passo importante na implementação de sua restauração conservadora, ansiada e frustrada ao longo de nada menos que quatro eleições presidenciais!

    O próximo pilar político será, tudo o indica, fincado em agosto, quando da decisão sobre o impeachment no Senado Federal.

    Fica a velha lição: quem não aprende com a experiência está condenado a repetir seus erros.

    (Fonte: http://ramaral.org/?p=13980)

  • “Por que gritamos Golpe?”, Boitempo lança livro com apoio da Fundação Lauro Campos

    “Por que gritamos Golpe?”, Boitempo lança livro com apoio da Fundação Lauro Campos

    A Editora Boitempo, com apoio da Fundação Lauro Campos e da FETEC-CUT/CN, lança em julho de 2016 a coletânea Por que gritamos Golpe? – Para entender o impeachment e a crise política no Brasil, pela coleção Tinta Vermelha. O evento na cidade de São Paulo ocorrerá na sexta-feira, 15 de julho, às 18h00 na Quadra dos Bancários (Rua Tabatinguera, 192).

    Confira o evento no Facebook: https://www.facebook.com/events/1651239881866628/

    Somando-se ao debate público sobre a crise política no Brasil, a obra proporciona ao leitor diversas análises sobre a dinâmica do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, dentro de uma perspectiva multidisciplinar e de esquerda. Os textos que compõem a coletânea são inéditos e buscam desenhar uma genealogia da crise política, entender as ameaças que se colocam à democracia e aos direitos conquistados pela Constituição de 1988 e apontar caminhos de superação de nossos impasses políticos. São trinta autores (a lista completa segue abaixo), entre pesquisadores, professores, ativistas, representantes de movimentos sociais, jornalistas e figuras políticas.

    Por que gritamos Golpe? conta ainda com epígrafe de Paulo Arantes, textos de capa de Boaventura de Sousa Santos e Luiza Erundina e com charges de Laerte Coutinho, que representam nossa realidade pelo viés do humor, escracham valores alegados pelos conspiradores e revelam outra narrativa e outra comunicação. Ao lado das fotos cedidas e selecionadas pelo coletivo Mídia NINJA, que cobre em tempo real as manifestações que pululam em todo o país, colaboram para montar o cenário do golpe ponto a ponto, passo a passo.

    Trate-se do quinto título da coleção Tinta Vermelha, que aborda sob perspectivas variadas temas atuais, dando sequência às coletâneas Occupy: movimentos de protesto que tomaram as ruas (2012), Cidades rebeldes: Passe livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil (2013), Brasil em jogo: o que fica da Copa e das Olimpíadas? (2014) e Bala Perdida: a violência policial no Brasil e os desafios para sua superação (2015).

    Os autores: André Singer (cientista político, professor da USP), Armando Boito Jr. (cientista político, professor da Unicamp), Ciro Gomes (ex-ministro da Integração Nacional), Djamila Ribeiro (secretária-adjunta da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo), Eduardo Fagnani (economista e professor da Unicamp), Esther Solano (professora de relações internacionais da Unifesp), Gilberto Maringoni (professor de relações internacionais da UFABC), Graça Costa (CUT), Guilherme Boulos (dirigente do MTST), Jandira Feghali (deputada federal), Juca Ferreira (sociólogo e Ministro da Cultura afastado), Leda Maria Paulani (economista, professora da FEA/USP), Lira Alli (Levante Popular da Juventude), Luis Felipe Miguel (cientista político, professor da UnB), Luiz Bernardo Pericás (historiador, professor da USP), Marcelo Semer (juiz de direito), Márcio Moretto (professor de sistema de informação da EACH/USP), Marilena Chaui (filósofa e professora aposentada da FFLCH/USP), Marina Amaral (jornalista e cofundadora da agência Pública), Mauro Lopes (jornalista, membro do coletivo Jornalistas Livres), Michael Löwy (filósofo e sociólogo, pesquisador no Centre National de la Recherche Scientifique/França), Murilo Cleto (historiador e colunista da Revista Fórum), Pablo Ortellado (professor de gestão de políticas públicas na EACH-USP), Renan Quinalha (advogado, pesquisador e ativista de direitos humanos), Roberto Requião (senador), Ruy Braga (sociólogo, professor da USP), Tamires Gomes Sampaio (vice-presidente da UNE) e Vítor Guimarães (dirigente do MTST).

    SUMÁRIO

    EpígrafePaulo Arantes
    Para o filósofo Paulo Arantes, chamar de “golpe” o atual estado de coisas da crise política brasileira é uma forma otimista de encarar o que se passa. Aquilo que se avizinha parece novo e sombrio.

    Prólogo – O desmonte do Estado, Graça Costa
    Para a sindicalista Graça Costa, o golpe de 2016 é contra o povo trabalhador e solicita a resistência de todos que sonham em viver num país desenvolvido com justiça social.

    Apresentação – O golpe que tem vergonha de ser chamado de golpe, Ivana Jinkings

    Parte 1 – Os antecedentes do golpe

    A nova classe trabalhadora brasileira e a ascensão do conservadorismo, Marilena Chaui 
    A filósofa Marilena Chaui analisa as divisões políticas que atravessam a nova classe trabalhadora e como se revelam nas manifestações de 2016.

    Os atores e o enredo da crise política, Armando Boito Jr.
    O cientista político Armando Boito radiografa os antecedentes do golpe e a crise da frente neodesenvolvimentista.

    A democracia na encruzilhada, Luis Felipe Miguel 
    O cientista social Luis Felipe Miguel discorre sobre as diferentes perspectivas na disputa pelo conceito de democracia em meio ao golpe de 2016.

    Por que o golpe acontece?, Ciro Gomes 
    O ex-governador do Ceará dispara contra os erros do governo Dilma e os três pulsos que levaram ao golpe: a banda podre da política, a rifa dos direitos sociais pelo pagamento da dívida pública e a ameaça da soberania nacional.

    O triunfo da antipolítica, Murilo Cleto 
    O historiador Murilo Cleto discute o imaginário ocidental sobre o espaço público, a instrumentalização da política pela moral e as práticas discursivas que alimentaram o horror à política no Brasil.

    Jabuti não sobe em árvore: como o MBL se tornou líder das manifestações pelo impeachment, Marina Amaral 
    A jornalista Marina Amaral segue os passos da nova direita latino-americana.

    O fim do lulismo, Ruy Braga 
    Para o sociólogo Ruy Braga, a crise política brasileira decorre da radicalização das contradições do modelo político do lulismo, baseado nas tentativas de conciliação entre as classes sociais.

    Parte 2 – O golpe ponto a ponto

    Da tragédia à farsa: o golpe de 2016 no Brasil, Michael Löwy
    Em um retrospecto dos governos de esquerda na América Latina do século XXI, o filósofo e sociólogo Michael Löwy reflete sobre o Estado de exceção como regra e a democracia como exceção.

    Ponte para o abismo, Leda Maria Paulani 
    A economista Leda Maria Paulani analisa as políticas econômicas brasileiras desde os anos 1990, discutindo os acertos e erros dos governos petistas em meio à perspectiva de um resgate pleno do neoliberalismo no país.

    Rumo à direita na política externa, Gilberto Maringoni 
    Professor de relações internacionais da UFABC, Gilberto Maringoni discute a agenda regressiva posta em prática pelo governo interino e o mito da neutralidade ideológica de políticas de Estado.

    Previdência social: reformar ou destruir?, Eduardo Fagnani 
    Para o economista Eduardo Fagnani, por trás das propostas de reforma da previdência se oculta a mais feroz disputa por recursos públicos de nosso país.

    Para mudar o Brasil, Roberto Requião
    Para o senador Roberto Requião (PMDB-PR), falta – tanto ao governo afastado, quanto ao interino – uma proposta que una o país em torno dos interesses populares e nacionais.

    Os semeadores da discórdia: a questão agrária na encruzilhada, Luiz Bernardo Pericás 
    O historiador Luiz Bernardo Pericás analisa os retrocessos postos em prática pelo governo interino, alinhados com os ruralistas em torno do documento “Pauta positiva biênio 2016/2017”.

    Ruptura institucional e desconstrução do modelo democrático: o papel do Judiciário, Marcelo Semer
    O juiz de Direito Marcelo Semer desmascara as perversões que se combinaram nos episódios que fizeram a narrativa jurídica do impedimento.

    Cultura e resistência, Juca Ferreira
    O Ministro da Cultura afastado Juca Ferreira aponta para a novidade representada pela diversidade dos setores da sociedade que defenderam a manutenção do MinC pelo governo interino, reforçando a indissociável relação entre cultura e democracia.

    As quatro famílias que decidiram derrubar um governo democrático, Mauro Lopes
    O jornalista livre Mauro Lopes traça paralelos entre 1964 e 2016 e discute a imprensa internacional, as técnicas jornalísticas, as relações entre governo e mídia e a contranarrativa da outra imprensa.

    Avalanche de retrocessos: uma perspectiva feminista negra sobre o impeachment, Djamila Ribeiro
    Para o além das arbitrariedades do processo, a secretária-adjunta dos Direitos Humanos da cidade de São Paulo escancara o impedimento da presidenta como mais uma ameaça à vida da população já historicamente discriminada.

    “Em nome de Deus e da família”: um golpe contra a diversidade, Renan Quinalha 
    O advogado e ativista de direitos humanos Renan Quinalha denuncia o retrocesso em direitos civis e políticos para os setores mais vulneráveis da sociedade brasileira representado pelo golpe, com ênfase para as ameaças à comunidade LGBT.

    Resistir ao golpe, reinventar os caminhos da esquerda, Guilherme Boulos e Vítor Guimarães
    Os militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto e da Frente Povo Sem Medo explicam o rompimento do pacto que conciliou interesses e a necessidade de um novo projeto de desenvolvimento.

    A luta por uma educação emancipadora e de qualidade, Tamires Gomes Sampaio
    A União Nacional dos Estudantes denuncia o golpe como interrupção de um projeto que ampliou o acesso ao ensino e ameaçou a estrutura colonialista do país.

    Parte 3 – O futuro do golpe

    Por uma frente ampla, democrática e republicana, André Singer
    O cientista político André Singer, estudioso do lulismo, busca indicar caminhos para a organização de uma frente única da esquerda, em defesa da democracia, tendo em vista a superação dos impasses atenuados pela crise política brasileira.

    A ilegitimidade do governo Temer, Jandira Feghali
    Deputada federal pelo PCdoB do Rio de Janeiro, Jandira Feghali fala sobre as imoralidades escancaradas de um golpe que se fez para barrar a Operação Lava-Jato.

    Uma sociedade polarizada?, Pablo Ortellado, Esther Solano e Márcio Moretto
    Coordenadores das principais pesquisas que perfilaram os manifestantes anti e pró-impeachment, os professores da USP e Unifesp questionam a polarização “coxinhas-petralhas” como divisor social do país.

    É golpe e estamos em luta!, Lira Alli 
    A mobilização do Levante Popular da Juventude para a destruição de privilégios e a reinvenção do sistema político no Brasil.

     

    (Fonte: site da editora Boitempo)