FLIPEI: Os Piratas da FLIP
Adaptar-se ao subir e descer da maré talvez seja a melhor tradução do que representou a FliPEI – Festa Literária das Editoras Independentes para a 16a. FLIP – Feira Literária de Paraty, que encerrou neste domingo, 29 de julho. Mover a estrutura para as pessoas assumirem seus locais de fala neste momento incerto de país foi a possibilidade e abertura aportadas. “Não estamos em terra firme, é isso é o que está acontecendo de uma forma geral na política”, disse o coreógrafo e escritor Wagner Schwartz ao participar com a filósofa Márcia Tiburi, agora pré-candidata ao governo estadual do Rio de Janeiro, da discussão “A criminalização e o controle dos corpos no neoliberalismo”.

PSOL no barco
A Fundação Lauro Campos esteve presente durante todos os dias da FliPEI, com a revista Socialismo e Liberdade, as camisetas “Do luta à Luta, Marielle presente”, e apoio à programação.
Na mesa de sexta-feira à noite, “O que os indígenas nos ensinam com 518 anos de resistência?”, Sônia Guajajara, primeira mulher indígena candidata à co-presidência, junto com lideranças indígenas locais, falou sobre a necessidade de demarcação das terras dos povos originários e as muitas violências sofridas. Houve a denúncia de Ivanilde e Neusa Guaranis da violência em Paraty com o assassinato de indígenas, como há seis meses o do irmão de Neusa.

Guajajara lembrou da história deste país: “Venho lá do Maranhão, da terra Araribóia, nasci em 1974, mas como todo indigena representa seus ancestrais, minha luta de resistência ocorre desde 1500”. Destacou a necessidade de preservação das áreas de matas e floresta para a vida do planeta, que “a luta dos povos indígenas tem que ser compreendida pela sociedade como uma luta civilizatória.” E a necessidade de protagonismo que o momento exige: “Não é mais suficiente resistir, precisamos dar um passo a mais, precisamos ocupar os espaços de poder, ocupar as instituições. É responsabilidade nossa escrever uma nova história”. Também participaram da mesa o antropólogo Daniel Calazans e o historiador indigenista Benedito Prezia.

No sábado pela manhã, Anielle Franco e Marcelo Freixo lembraram que no dia anterior, 27 de julho, Marielle Franco teria completado 39 anos. Anielle voltou a perguntar quem matou sua irmā, já são quatro meses e meio sem resposta. “Estamos entre a democracia e a barbárie. O que está em jogo não é qualquer coisa”, disse Freixo, e destacou a importância da presença de Anielle ao se falar da violência no Rio de Janeiro.
Freixo e Anielle juntamente com a cientista política Jaqueline Muniz, protagonizaram o debate “Rio colapsado: intervenção para quê?”. Falaram sobre as Unidades Pacificadoras, as várias etapas das intervenções militares no Rio, dados e fundamentos de um colapso anunciado. Freixo informou que em cinco meses de intervenção militar foram gastos R$ 3 bilhões, com aumento de 37% em conflitos armados e 80% de chacinas nas regiões mais pobres da cidade do Rio de Janeiro. “A intervenção não tem o menor sentido. Com muito menos dinheiro poderia ter sido feito um investimento mais eficiente em um serviço de inteligência para combater o crime sem violência para a população”.
Jaqueline Muniz, aplaudida muitas vezes, soltou a verve: “Existe uma polícia do bem, que é a polícia de verdade, e uma polícia dos bens, que se chama milícia – e funciona dentro do próprio Estado”. Em uma aula sobre a construção do estado de violência, lembrou que são pretos, pobres e favelados os que morrem nesta guerra juntamente com os policiais, que são do mesmo extrato social. “A metáfora da guerra serve para naturalizar a predação”.
Guilherme Boulos esteve presente na mesa “A revolta da senzala no país da casa grande, com o Supremo, com tudo”, com o jurista Silvio Luiz de Almeida e a socióloga Sabrina Fernandes.

Confira algumas fotos do evento:




