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  • FLIPEI: Os Piratas da FLIP

    FLIPEI: Os Piratas da FLIP

    FLIPEI: Os Piratas da FLIP

    Adaptar-se ao subir e descer da maré talvez seja a melhor tradução do que representou a FliPEI – Festa Literária das Editoras Independentes para a 16a. FLIP – Feira Literária de Paraty, que  encerrou neste domingo, 29 de julho. Mover a estrutura para as pessoas assumirem seus locais de fala neste momento incerto de país foi a possibilidade e abertura aportadas. “Não estamos em terra firme, é isso é o que está acontecendo de uma forma geral na política”, disse o coreógrafo e escritor Wagner Schwartz ao participar com a filósofa Márcia Tiburi, agora pré-candidata ao governo estadual do Rio de Janeiro, da discussão “A criminalização e o controle dos corpos no neoliberalismo”.

    O artista acusado de pedofilia por estar nu mediante platéia, a líder feminista negra, a candidata indígena, as autoras negras, candidatos ativistas, a família de Marielle Franco, filósofos, sociólogos, economistas, psicanalistas, a programação do barco pirata apresentou muito do pensamento crítico brasileiro, e encantou pela criatividade que vem das bordas, da periferia, com os slams de poesia, campeonatos em que  competidores e jurados improvisam sobre realidades.
    Barco que sedia a Flipei (Festa Literária Pirata das Editoras Independentes)

    PSOL no barco

    A Fundação Lauro Campos esteve presente durante todos os dias da FliPEI, com a revista Socialismo e Liberdade, as camisetas “Do luta à Luta, Marielle presente”,  e apoio à programação.

    Na mesa de sexta-feira à noite, “O que os indígenas nos ensinam com 518 anos de resistência?”, Sônia Guajajara,  primeira mulher indígena candidata à co-presidência, junto com lideranças indígenas locais, falou sobre a necessidade de demarcação das terras dos povos originários e as muitas violências sofridas. Houve a denúncia de Ivanilde e Neusa Guaranis da violência em Paraty com o assassinato de indígenas, como há seis meses o do irmão de Neusa.

    Sônia Guajajara, pré-candidata a vice-presidente pelo PSOL, participa da FLIPEI, em Paraty (RJ).

    Guajajara lembrou da história deste país: “Venho lá do Maranhão, da terra Araribóia, nasci em 1974, mas como todo indigena representa seus ancestrais, minha luta de resistência ocorre desde 1500”. Destacou a necessidade de preservação das áreas de matas e floresta para a vida do planeta, que “a luta dos povos indígenas tem que ser compreendida pela sociedade como uma luta civilizatória.” E a necessidade de protagonismo que o momento exige: “Não é mais suficiente resistir, precisamos dar um passo a mais, precisamos ocupar os espaços de poder, ocupar as instituições. É responsabilidade nossa escrever uma nova história”. Também participaram da mesa o antropólogo Daniel Calazans e o historiador indigenista Benedito Prezia.

    Guilherme Boulos, pré-candidato a presidente pelo PSOL também participou da FLIPEI

    No sábado  pela manhã, Anielle Franco e Marcelo Freixo lembraram que no dia anterior, 27 de julho, Marielle Franco teria completado 39 anos. Anielle voltou a perguntar quem matou sua irmā, já são quatro meses e meio sem resposta. “Estamos entre a democracia e a barbárie.  O que está em jogo não é qualquer coisa”, disse Freixo, e destacou a importância da presença de Anielle ao se falar da violência no Rio de Janeiro.

    Freixo e Anielle juntamente com a cientista política Jaqueline Muniz, protagonizaram o debate “Rio colapsado: intervenção para quê?”. Falaram sobre as Unidades Pacificadoras, as várias etapas das intervenções militares no Rio, dados e fundamentos de um colapso anunciado. Freixo informou que em cinco meses de intervenção militar foram gastos R$ 3 bilhões, com aumento de 37% em conflitos armados e 80% de chacinas nas regiões mais pobres da cidade do Rio de Janeiro. “A intervenção não tem o menor sentido. Com muito menos dinheiro poderia ter sido feito um investimento mais eficiente em um serviço de inteligência para combater o crime sem violência para a população”.

    Jaqueline Muniz, aplaudida muitas vezes, soltou a verve: “Existe uma polícia do bem, que é a polícia de verdade, e uma polícia dos bens, que se chama milícia – e funciona dentro do próprio Estado”. Em uma aula sobre a construção do estado de violência, lembrou que são pretos,  pobres e favelados os que morrem nesta guerra juntamente com os policiais, que são do mesmo extrato social. “A metáfora da guerra serve para naturalizar a predação”.

    Guilherme Boulos esteve presente na mesa “A revolta da senzala no país da casa grande, com o Supremo, com tudo”, com o jurista Silvio Luiz de Almeida e a socióloga Sabrina Fernandes.

    Público acompanha a fala de Sônia Guajajara na FLIPEI
    A matemática Tatiana Roque, candidata a deputada federal pelo Rio de Janeiro, participou junto com Gregório Duduvier e Sabrina Fernandes da discussão “Democracia no divã: da ressaca da esquerda à Rebordosa da direita”, também no sábado à tarde.
    O vai e vem, sobe e desce do barco pirata, demonstra a real situação política que o país vive. E iniciativas como essa precisam ser valorizadas e apoiadas para que possamos sempre dizer o que pensamos, para lutarmos contra as ondas do acaso que tentam inviabilizar o avanço necessário do crescimento humano.

    Confira algumas fotos do evento:

  • FLC participa da construção da FLIPEI

    FLC participa da construção da FLIPEI

    FLC participa da construção da FLIPEI

    Evento tradicionalmente dominado pelo estreito círculo das editoras mainstream, a Festa Literária Internacional de Paraty será invadida por piratas em 2018. O ato chama-se Flipei, Festa Literária Pirata das Editoras Independentes, e reunirá autores e personalidades políticas de perfil progressista, como Djamila Ribeiro, Esther Dwek, Gregório Duvivier, Guilherme Boulos, Jessé Souza, Laura Carvalho, Manuela D’Ávila, Marcelo Freixo, Marcelo Semer, Marcia Tiburi, Roberta Estrela D’Alva, Sabrina Fernandes, Sonia Guajajara, Suely Rolnik, Tatiana Roque e Wagner Schwartz, entre dezenas de outros.

    A iniciativa é da editora Autonomia Literária e da plataforma cooperativa Rizoma (“o vietcong das editoras independentes” contra “a ilha colonial de Paraty”) e conta com o apoio da Fundação Lauro Campos.

    A Fundação Lauro Campos considera o acesso à cultura e ao conhecimento um bem fundamental e imprescindível a todas e todos. Infelizmente, perspectivas culturais muitas vezes são política e ideologicamente apropriadas em prol de alguns. Mas, felizmente, quando isso acontece, surgem outras possibilidades, por caminhos antes não trilhados – ou navegados. O barco da FLIPEI – Festa Literária Pirata das Editoras Independentes traz a efervescência cultural do campo progressista brasileiro por águas d’antes navegadas. Traz perspectivas e visões com autores, debatedores, políticos, ativistas sociais para um Brasil mais justo, igualitário e tolerante.

    Estar em uma feira literária como a FLIP neste momento de Brasil, é muito importante, pois ali se apresentam e debatem conteúdos, fundamentos. Com o acesso cultural facilitado pelas tecnologias digitais, a difusão via redes dos mais diferentes produtos e ideias, a questão que se apresenta, a nosso ver, é a do conteúdo.

    A expressão de ódio nas redes sociais, na internet, muitas vezes é muito mais ação performática que visa a forma para atingir maior número de pessoas do que a identificação com o conteúdo da mensagem. Pessoas expressam opiniões em frases vazias de senso e sentido, somente em prol de um alcance vazio. Trazer poesia, mostrar a forma, o formato da língua portuguesa e sua linguagem literária é fundamento. Por isso que aqui estamos, em prol de um mundo mais político-poético solidário e livre.