20 de maio de 1973: 50 anos de resistência saaraui pela
sua liberdade
A vela que aprofundou o Nacionalismo do Povo Saaraui
Ahamed Mulay Ali Hamadi
O Povo Saaraui que vive no Saara Ocidental é um povo pacífico.
Começou sua luta pela liberdade no final dos anos sessenta, criando a
Organização Avançada para a Libertação do Saara. Uma organização que
buscava chegar a um acordo com o ditador espanhol Franco para, em um
tempo limitado, dar-nos nossa liberdade e independência. A resposta foi o
massacre da manifestação em 17 de junho de 1970. A Espanha buscava
transformar nosso país na província 53, devido a dois pontos: as grandes
riquezas descobertas e como base de segurança para as Ilhas Canárias.
Por outro lado, a França não estava interessada na existência
de um Estado de língua espanhola no norte da África, que era seu feudo.
Assim, manobrou-se para a eliminação de nosso povo e a partilha de
nosso país entre Marrocos e Mauritânia, enquanto a Espanha teria uma
boa participação na exploração de nossas riquezas.
Diante da resposta bélica do colonialismo espanhol, o povo
saaraui não teve outra escolha senão recorrer às armas. Em 10 de maio
de 1973, os saarauis decidiram criar seu movimento. Nesse dia, foi
organizado o primeiro Congresso de criação da Frente Popular de
Libertação de Saguia el Hamra e Rio de Oro (POLISARIO). Foi decidido
um programa popular orientado para a luta armada. Seu primeiro slogan
foi “Com o fuzil conquistaremos a liberdade”.
Dessa forma, um grupo de 16 homens, com vários fuzis, ataca
uma guarnição militar espanhola em 20 de maio de 1973, dando início à
Revolução Saaraui, que é conhecida hoje como a República Árabe
Saaraui Democrática ou Saara Ocidental.
A Revolução de 20 de maio, cujo 50º aniversário estamos
comemorando, tornou-se uma chama de esplendor. Um evento anual
histórico e um bastião dos sacrifícios, sucessos e vitórias, bem claras em
nível internacional.
A Revolução Saaraui, além de enfrentar o colonialismo espanhol,
teve que lidar com a invasão militar: pelo Norte, o Exército do Reino de
Marrocos, e pelo Sul, o Exército Mauritano. O Exército Saaraui, composto
por cerca de dois mil combatentes com fuzis, camelos e pouca experiência,
acompanhados pela justiça e pelo conhecimento de sua terra, enfrentou
mais de 250 mil soldados armados até os dentes por França e Estados
Unidos.
O Reino de Marrocos iniciou sua invasão em nossas terras com
a chamada Marcha Verde, e o exército perseguiu os saarauis pelo deserto
com armas pesadas e bombas de napalm e fragmentação, proibidas
internacionalmente, em um massacre pouco conhecido.
Os saarauis na zona ocupada, cercados pelo Muro da Vergonha,
estão nas mãos do Majzén, a Gestapo marroquina. Mais de 600 pessoas
desaparecidas, centenas de encarceramentos, torturas nas ruas,
desemprego, entre outras calamidades que nossa gente vive nos
territórios ocupados.
O Movimento Saaraui enfrentou dois grandes problemas: salvar
o que puder da população; e o outro, continuar a luta armada. Debilitado,
Marrocos concordou em negociar e um plano de paz foi assinado em 1991,
entre a Frente POLISARIO e Marrocos. Em outro momento, o reino retirou
a sua assinatura e os saarauis tiveram que retomar as armas, embora o
governo saaraui tenha declarado aceitar participar de novas negociações.
Entre os mais importantes sucessos, estão:
- A consolidação do Estado Saaraui como membro fundador da
União Africana e com mais de 30 embaixadas; Reconhecimento de mais
de 84 países; - A organização de um Estado com a sua constituição e leis;
- A eliminação do analfabetismo, a criação de programas para
o bem-estar, garantir a saúde e ensino a todos; - Vencedor de sentenças e opiniões da Corte Internacional de
Justiça, da ONU, dos Tribunais Africanos, do Tribunal de Justiça Europeu,
assim como centenas de resoluções que lhe dão o direito à
autodeterminação e independência, entre outros.
Infelizmente, diante da fraqueza das Nações Unidas e da espera
de mais de quarenta anos, os saarauis foram forçados a voltar às armas
em 13 de novembro de 2020, devido à violação do acordo de cessar-fogo
por parte de Marrocos. Entretanto, estão dispostos a negociações, desde
que o seu direito à autodeterminação e independência seja respeitado.
Por último, apela-se à Comunidade Internacional e à Sociedade
Civil para fazer um esforço e prestar atenção à situação dos Direitos
Humanos nas áreas ocupadas pelo Exército Marroquino, pôr fim à
ocupação do território saaraui e libertar a última colônia da África.
Ahamed Mulay Ali Hamadi, é Diplomata Saaraui e Representante da
Frente POLISARIO para o Brasil