Francisco Piyãko
“Nós indígenas brasileiros compomos um total de 305 povos diferentes e uma população estimada em um milhão de pessoas. Falamos 274 línguas e estamos distribuídos em 705 territórios. Há 96 referências a povos isolados e ainda não contatados. Esse é o levantamento disponibilizado pela Funai. Diante desse quadro, como se comporta o governo Bolsonaro? Ele simplesmente ignora a discussão, a luta e as conquistas que nos legaram direito a terra, ao nosso modo de vida e às nossas crenças. Querem desconstruir tudo. Tentam desmontar a Funai, um órgão com experiência e profundo conhecimento sobre as questões indígenas. É um retrocesso de mais de cem anos.
O incrível é que mesmo no governo passado havia diálogo e reconhecimento dos territórios e da agenda indígena. Mas, nos últimos dois anos, o Congresso passou a questionar nossas conquistas, por meio da liberação da mineração em nossas terras. Eles não conseguem ver a responsabilidade do Estado na política indigenista. Não é preciso inventar uma nova política indígena. Se o governo pegar o que já acumulamos nos debates dos últimos quarenta anos, vai saber o que fazer. Isso em todas as áreas: educação, cultura, saúde etc.
Há uma forte tensão nos territórios. Os inimigos dos índios agora se sentem empoderados e incentivados a invadir áreas que nos pertencem. Perdemos segurança sobre nossas vidas. O movimento indígena sempre esteve articulado com universidades, com movimentos ambientalistas e de trabalhadores, com partidos políticos e com entidades nacionais e internacionais.
Temos que construir um grande movimento de resistência. O Brasil é do povo brasileiro e não de um presidente alinhado com interesses de fora.