O 26 de julho de 2020 marca os 90 anos de nascimento de um bravo. Ele teve ação decisiva na fundação e na consolidação de dois dos mais importantes partidos de esquerda nacional, o PT e o PSOL. Trata-se de Plínio de Arruda Sampaio, que durante mais de seis décadas esteve no olho do furacão dos grandes enfrentamentos políticos brasileiros.
Plínio veio ao mundo no exato dia em que assassinaram o presidente da Paraíba assim eram chamados os governadores, no processo que deflagrou a Revolução de 1930. Ao longo do tempo, sua vida política o aproximou dos ideais de outro 26 de julho. Esta é também a data em que um grupo de jovens barbudos tentou tomar de assalto um quartel do exército chamado Moncada, em Santiago de Cuba, em 1953. O comandante era um grandalhão falante, cujo nome ecoa mundialmente até hoje, Fidel Castro Ruiz.
Plínio tinha um perfil de senador romano de filmes da Metro. Testa alta, nariz proeminente e olhar seguro. O corpo magro, os gestos incisivos e a voz tranquila se agigantavam diante de um microfone. Mesmo quando fazia um discurso indignado, parecia o mais moderado dos homens.
Oriundo de uma família de produtores de café, nosso personagem delineou trajetória raríssima. Promotor público de posições moderadas, ao longo dos anos, seguiu passos que o levaram cada vez mais à esquerda. Sua militância começou na Ação Católica e continuou no Partido Democrata Cristão (PDC). Eleito deputado federal em 1962, Plínio logo se tornou relator do plano de reforma agrária do governo João Goulart (1962-1964).
Quando a direita civis e militares deflagrou o golpe de 1964, Plínio foi colocado na primeira lista de cassados, juntamente com Luiz Carlos Prestes, João Goulart, Leonel Brizola, Miguel Arraes, Darcy Ribeiro, Celso Furtado, Josué de Castro, Francisco Julião e dezenas de outros. Daí cumpriu 14 anos de exílio no Chile e nos Estados Unidos, onde trabalhou na FAO (órgão da ONU que trata das questões relativas à agricultura e à alimentação).
Plínio voltou ao Brasil em 1976 e tomou parte nas lutas sociais que marcaram o final da ditadura. Ajudou a fundar o PT e elegeu-se deputado constituinte, em 1986. Bateu-se por uma reforma agrária que erradicasse o latifúndio.
Dirigente petista, Plínio foi candidato a governador de São Paulo, em 1990. Paulatinamente, desencantado com os rumos partidários após a primeira eleição de Lula, esse comunista que acreditava em Deus se desligou da legenda em 2005, juntamente com mais de dois mil militantes. Logo ingressou no PSOL. Foi novamente candidato a governador (2006) e a presidente da República (2010).
Em 8 de julho de 2014, ele nos deixou. É impossível saber como Plínio reagiria diante da terrível situação do Brasil atual. Fiquemos com suas palavras no último debate televisivo da campanha presidencial:
“Pensem grande, não pensem pequeno, não acreditem no impossível. O impossível vira possível se vocês quiserem. (…) É preciso coragem, tenacidade e força”. Coragem, tenacidade e força! Três palavras que formam uma frase intensa e atual, como quem as proferiu. Não esqueceremos. Valeu, camarada!
Plínio de Arruda Sampaio (1930-2014)