Natalia Szermeta – Presidente da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco
Em 2024 o Partido Socialismo e Liberdade completará 20 anos. Essa trajetória de duas décadas já deixou importantes marcas na história da esquerda brasileira. Após os primeiros anos de dificuldades para se consolidar, como em geral enfrentam os movimentos socialistas, hoje somos uma alternativa política real para importantes parcelas da população brasileira.
O oitavo congresso é um momento privilegiado para celebrarmos essa história, fazermos um balanço do último período e nos prepararmos para os próximos desafios.
A unidade política dos últimos anos ocorreu em torno da compreensão que derrotar a extrema direita é a nossa prioridade. Essa visão nos permitiu ampliar ações com os setores democráticos de esquerda que resultaram no apoio a candidatura de Lula, no nosso crescimento institucional, e, em seguida, na derrocada do governo do genocida.
Esse caminho ampliou a base política e a sintonia entre o partido e os setores sociais que atuam para promover mudanças na sociedade brasileira.
A unidade contribuiu com a derrota eleitoral do projeto reacionário. Agora ela deve servir para avançarmos nas conquistas populares e animar os movimentos a terem protagonismo nos destinos do país. O eixo mínimo dessa agenda deve contemplar o enfrentamento ao sistema financeiro; defesa da soberania nacional; retomada de programas sociais; redistribuição da renda; tributação progressiva; e a defesa dos direitos humanos.
Engana-se profundamente quem acredita que o crescimento do PSOL no último período resume-se a esfera institucional. Hoje temos um diálogo privilegiado com a juventude, setores médios e seguimos avançando a presença nas camadas populares. Encaramos os temas essenciais da atualidade e despertamos várias gerações para entrarem na política partidária e nos movimentos sociais.
Mesmo com o país sofrendo um golpe e uma campanha criminosa de setores da imprensa e do judiciário, que buscou ampliar a apatia com a participação política, mantivemos firme no horizonte a necessidade de mudanças estruturais na sociedade brasileira, enfrentando a maré conservadora.
Somos uma referência no combate ao racismo, na pauta feminista, no respeito a população LGBTQIA+ e pela firme defesa dos direitos humanos. Dessa maneira, damos uma valorosa contribuição para a política brasileira ampliando a representação negra, de gênero, indígena e de pessoas trans nos postos de poder.
Avançamos na compreensão da crise climática e da necessidade de um projeto contemporâneo de desenvolvimento sustentável. Temos reconhecido compromisso com a pauta indígena e com a construção de políticas públicas que preservem e protejam os direitos dessa população.
O PSOL contribui substancialmente com o debate público, é uma voz relevante e portadora de um projeto transformador para o país. Precisamos avançar a presença nas camadas mais populares, pois sem elas é impossível colocar em prática qualquer projeto de mudança.
Um partido socialista e de esquerda deve se adaptar a realidade de seu povo e não o contrário. Temos que ampliar a criatividade e sintonia com as diversas formas populares de organização já vigentes no cotidiano de quem depende do seu trabalho para viver.
Temos o desafio de ser um partido acolhedor para a população periférica que está submetida as diversas condições de trabalho precário e mora em territórios carentes de direitos básicos como transporte, educação e saúde.
O MTST sempre esteve muito próximo do PSOL, mantendo sua independência, mas reconhecendo o compromisso partidário com as demandas da habitação popular e da reforma urbana.
Diversas experiências, como a dos sem-teto e de outros movimentos periféricos deveriam ser mais inspiradoras para a esquerda brasileira. Esses grupos têm vasto contato com temas essenciais como a questão da religiosidade, o protagonismo da mulher negra e também enfrentam diariamente as visões predominantes do senso comum sobre assuntos como segurança pública, educação e diversidade sexual.
Por mais de um século um dilema atormentou a esquerda no mundo todo, combinar o trabalho institucional com o trabalho de base e as lutas sociais. Como fazer dessas diferentes formas de intervenção uma potente ação transformadora? Não permitir que o braço institucional se transforme em um pólo acomodador e adaptado ao status quo nem que os movimentos sociais abdiquem ou terceirizem a atuação na luta político-institucional. Não existe a fórmula desse equilíbrio e nós também enfrentaremos esse dilema.
Que o oitavo congresso nacional produza debates e sínteses que nos ajudem a responder essas questões e que prepare o partido para assumir um lugar ainda mais transformador na história das lutas do povo brasileiro.
Saudações à todas/os que lutam e constroem o PSOL.