Estudantes e trabalhadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) lotaram o auditório do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA) na noite desta quarta-feira (13/03) para a atividade realizada pela Fundação Lauro Campos e Marielle Franco (FLCMF). Sob o título “A ascensão da extrema direita e o papel da esquerda socialista”, o evento contou com a presença de Camila Barbosa, secretária-geral do PSOL em Natal, Mariana Riscali, diretora-executiva da FLCMF, e Gabriel Vitulo, professor do Departamento de Ciências Sociais da universidade.
Abrindo a mesa, Camila Barbosa lembrou que a atividade estava ocorrendo em meio ao início de uma greve dos servidores técnico-administrativos da UFRN. Os trabalhadores aderiram ao movimento nacional convocado pela categoria na luta por melhores condições de trabalho, recomposição salarial e ampliação do orçamento para a educação pública no país. “É fundamental o envolvimento de toda a comunidade da UFRN neste processo de mobilizações, somando as forças dos alunos e professores em apoio aos técnicos e avançando na luta por uma educação pública de qualidade”, disse.
Já o professor Gabriel Vitulo, que é argentino, refletiu sobre a experiência do novo governo de extrema direita no país, sintonizada com seus pares em nível global, como Trump, Bolsonaro e Netanyahu. “Milei está avançando a passos muito acelerados com seu programa. Em apenas três meses, as aposentadorias na argentina perderam 40% de seu valor real”, lamentou.
Vitulo entende que a extrema direita atual, especialmente nos países do Sul Global, é uma combinação entre neofascismo e ultraliberalismo. “Uma combinação muito estranha, pois o fascismo tradicional se associava ao nacionalismo. Mas a ultradireita contemporânea é completamente entreguista, sem nenhuma característica nacionalista. Nem Collor, nem FHC foram tão longe quanto Bolsonaro na entrega do patrimônio nacional”, explicou.
Apontando a existência de uma “Internacional da extrema direita”, o professor criticou o discurso antipolítica adotado por este setor e ressaltou que é fundamental a esquerda travar a disputa política e ideológica para barrar o avanço do neofascismo. “O fascismo não está morto no Brasil, ele está aí e pode retornar a qualquer momento. Temos que reagir, o que significa politizar e mobilizar, sem nos contentarmos apenas com pequenas melhorias”, concluiu.
Integrante da Executiva Nacional do PSOL e diretora-executiva da FLCMF, a cientista social Mariana Riscali lembrou que um dos lugares onde a situação do avanço da extrema direita é mais crítica no mundo é Israel. “É onde um governo de extrema direita vem perpetrando um genocídio contra o povo palestino”, apontou.
Em seguida, comentou a situação dos Estados Unidos, onde a extrema direita pode retornar ao poder. “O avanço nas pautas reacionárias no centro do capitalismo, após um governo do Partido Democrata que não deu respostas a essa realidade, pode fazer com que Trump volte ao poder”, avaliou, acrescentando que na Europa também há um crescimento de forças da extrema direita, como a AfD na Alemanha e o partido Chega, em Portugal.
Para Mariana, a extrema direita cresce ao se apropriar de um discurso antissistema que foi abandonado por forças políticas à esquerda que já estiveram em governos no Brasil e no mundo e acabaram se transformando em gestores do sistema capitalista, ao invés de lutarem por sua transformação. “Há uma crise de hegemonia na sociedade e um cenário de desesperança entre a população. Neste contexto, a extrema direita tem conseguido ocupar um espaço de questionamento ao sistema, e a esquerda não tem conseguido se apresentar como uma alternativa”, criticou, frisando que, no Brasil, o PSOL é o partido que tem as condições de ser essa alternativa antissistêmica ao capitalismo.
Para isso, ela chamou a atenção para a necessidade de a esquerda retomar o terreno das ruas e das mobilizações. “Bolsonaro nos últimos dias organizou um ato em São Paulo que mostrou o quanto o bolsonarismo ainda tem força, E a esquerda, se não se organizar para a esfera das ruas, para mobilizações, pode acabar perdendo para a extrema direita numa arena onde sempre fomos dianteira, que é a arena das mobilizações e das lutas”, concluiu.