Para marcar as comemorações dos 206 anos de Karl Marx, a Boitempo e o MST, com apoio da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco (FLCMF), realizaram um ciclo de atividades no sábado (04/05), no Armazém do Campo de São Paulo. O evento foi marcado por debates sobre os rumos da esquerda e o papel do marxismo, além da presença de destacados intelectuais e de editoras independentes.
As mesas de debate passaram por diferentes temas, como a luta anticolonial na Palestina, a crítica da formação da sociedade brasileira e o papel do marxismo na transformação social. Além disso, o evento contou com refeições preparadas com ingredientes orgânicos dos assentamentos do MST, manifestações culturais e “espaço camaradinha” para as crianças. Ao lado de editoras independentes com livros que estampavam os escritos revolucionários de autores como Karl Marx, Frantz Fanon e Angela Davis, a FLCMF apresentou em sua banquinha a nova edição da Revista Jatobá e outras iniciativas.
Convidada para um dos debates, Luciana Genro, presidenta da Fundação, indicou a vereadora Luana Alves para representá-la, já que, como deputada estadual no Rio Grande do Sul, está voltada ao atendimento das vítimas da catástrofe climática no estado. Ao lado de Luana, a mesa “Por uma crítica radical da sociedade brasileira” também foi composta por Alysson Mascaro, Thiago Torres (também conhecido como Chavoso da USP) e Guilherme Terreri (também conhecido como Rita von Hunty).
Para dar o pontapé inicial ao debate, Mascaro apresentou seu novo livro, “Sociologia do Brasil”, que se propõe a pensar uma interpretação marxista da sociedade brasileira. Para ele, é necessário “superar a visão liberal que temos da história da sociedade brasileira, que só interessa aos capitalistas.” Além disso, o professor também debateu o papel que um intelectual deve ter diante da sociedade: “o papel do intelectual é transformar a sociedade. Não adianta ser marxista e não pensar em como fazer a revolução.”
Em seguida, Luana Alves trouxe dois elementos fundamentais para refletir a sociedade brasileira: o racismo e o gênero. Ela explica que “a superexploração do trabalho feita no Brasil se beneficiou do estigma da raça através da escravidão e das estruturas de gênero através do trabalho reprodutivo”. Para ela, tanto o racismo, quanto o trabalho reprodutivo são fundamentais para a formação do capitalismo brasileiro. Os reflexos disso nos dias de hoje estariam, por exemplo, no “PL do Uber” que propõe a regulamentação do trabalho precarizado que afeta principalmente a população negra e nas duplas jornadas de trabalho das mulheres brasileiras por conta do trabalho do cuidado.
Thiago Torres, o Chavoso da USP, aprofundou o debate sobre problemas da atualidade: “não podemos normalizar as mudanças climáticas e nem sermos fatalistas, sabemos que a luta pela revolução pode e deve nos guiar para uma outra sociedade. Isso deve começar pelo combate ao agronegócio e pela reforma agrária.” Nesse sentido, para ele, “o governo Lula não pode seguir financiando e dando benefícios para o agronegócio” e a insatisfação com o governo só tende a aumentar enquanto a “conciliação com os liberais e com políticos da extrema direita seguir acontecendo e políticas como o arcabouço fiscal seguirem de pé.”
Em seguida, como provocação aos convidados, Guilherme Terreri, a Rita von Hunty, pautou o debate sobre como construir uma alternativa de esquerda no Brasil que supere a conciliação de classes. De acordo com ele, “é necessário pensar um programa para a classe trabalhadora, que entenda que políticos como Alckmin são nossos inimigos e que não tenha medo de levantar as pautas históricas da esquerda radical”.
O debate se mostrou proveitoso e conseguiu construir uma síntese entre os convidados sobre a necessidade da construção de uma esquerda anticapitalista que dialogue com a população. As centenas de pessoas presentes, durante toda a conversa, se manifestaram com palmas e demonstraram concordância com o que estava sendo debatido. Foi nesse espírito que Luana Alves convocou as pessoas presentes a se tornarem militantes pelo socialismo e Alysson Mascaro, com otimismo, anunciou que a causa por uma sociedade radicalmente diferente ganhava cada vez mais adesão entre a classe trabalhadora.
O “Aniversário de Marx” foi fruto de um esforço de síntese entre a Boitempo, o MST e a FLCMF. O evento provou a necessidade de construção de espaços de socialização e de debate entre camaradas da esquerda socialista!