Karl Marx
Oportunidades de ouro e o uso que se faz delas é o título de uma das mais tragicômicas efusões do solene e profundo Economist. As “oportunidades de ouro” foram, obviamente, oferecidas pelo livre comércio, e o “uso”, ou melhor, “abuso” delas se refere àquele feito pelas classes trabalhadoras.
As classes trabalhadoras, pela primeira vez, tiveram seu futuro em suas próprias mãos! A população do Reino Unido começou realmente a diminuir, tendo a emigração superado o seu crescimento natural. Como os operários usaram sua oportunidade? O que eles fizeram? Exatamente o que costumavam fazer antigamente, em cada retorno do brilho temporário do sol, casaram e multiplicaram o mais rápido possível…Com está taxa de aumento, não demorará muito para que a emigração seja efetivamente contrabalançada e a oportunidade de ouro jogada fora.
A oportunidade de ouro de não casar e não se multiplicar, exceto à taxa ortodoxa permitida por Malthus e seus discípulos! Que moralidade de ouro! Mas, até agora, de acordo com o próprio The Economist, a população diminuiu e ainda não contrabalançou a emigração. A superpopulação, então, não entrará na conta dos desastres da época. “O imediato uso que as classes trabalhadoras deveriam ter feito da sua rara ocasião era acumular poupanças e se tornar capitalistas… Nessa escassa circunstância, elas parecem ter … ascendido, ou começado a ascender, à posição de capitalistas … Elas jogaram fora a sua oportunidade”.
A oportunidade de se tornar capitalistas! Ao mesmo tempo, The Economist conta aos operários que, depois de terem finalmente obtido 10% de aumento sobre seus ganhos anteriores, conseguiram embolsar 16,5 xelins por semana ao invés de 15. Ora, os salários médios são muito altos calculados em 15 xelins por semana. Mas não importa. Como se tornar um capitalista com 15 xelins por semana! Esse é um problema que merece ser estudado. Os operários tinham a falsa ideia de que para melhorar sua situação deveriam tentar melhorar suas rendas. “Eles têm batalhado”, diz The Economist, “mais do que lhes seria necessário”. Com 15 xelins por semana tiveram a oportunidade de se tornarem capitalistas, mas com 16,5 essa oportunidade teria ido embora. Por um lado, os operários devem manter a mão de obra escassa e o capital abundante, a fim de poder impor aos capitalistas um aumento de salários. Mas se o capital se revela abundante e o trabalho escasso, eles não podem absolutamente se beneficiar desse poder, para cuja aquisição eles necessitariam parar de se casar e se multiplicar. “Eles têm vivido mais luxuriosamente”. Sob as Leis do Milho, somos informados pelo mesmo The Economist, que eles estavam meio alimentados, meio vestidos e mais ou menos famintos. Se eles fossem então viver de fato, como poderiam conseguir viver menos luxuriosamente que antes? As tabelas de importação foram repetidamente desdobradas por The Economist para provar o crescimento da prosperidade do povo e a solidez do negócio feito. O que foi assim proclamado como uma prova das bênçãos indescritíveis do livre comércio agora é denunciado como demonstração da tola extravagância das classes trabalhadoras. Porém, continuamos sem entender como a importação pode continuar aumentando com uma população decrescente e um consumo em declínio: como a exportação pode continuar a subir com a diminuição da importação e como a indústria e o comércio podem se expandir com as importações e exportações contraídas.
A terceira oportunidade de ouro deveria ter sido a de obter a melhor educação possível para si e para seus filhos, de maneira a se ajustarem à melhoria da situação econômica e aprenderem como fazer seu melhor uso. Infelizmente, somos obrigados a afirmar … que as escolas raramente foram tão pouco frequentadas, ou as mensalidades escolares tão mal pagas.
Há algo de maravilhoso nesse fato? O comércio ativo era sinônimo de fábricas expandidas, de aumento dos investimentos em maquinaria, de mais trabalhadores adultos substituídos por mulheres e crianças, de horas prolongadas de trabalho. Quanto mais a mãe e a criança compareciam à fábrica, menos a escola poderia ser frequentada. E no final das contas, a que tipo de educação teriam oportunidade esses pais e seus filhos? A oportunidade de aprender como manter a população no ritmo descrito por Malthus, diz The Economist. Educação, diz o senhor Cobden, mostraria aos homens que as instalações sujas, mal ventiladas e abarrotadas não são a melhor forma de conservar a saúde e o vigor. Igualmente, talvez, se salvasse um homem de morrer de fome contando a ele que as leis da Natureza demandam um suplemento perpétuo de comida ao corpo humano. A educação, diz The Daily News, teria informado nossas classes trabalhadoras como extrair substância nutritiva de ossos secos como fazer bolos de amido para o chá, e como fazer sopa com o pão que o diabo amassou.
Se listarmos então as oportunidades de ouro que foram assim desperdiçadas pelas classes trabalhadoras, elas consistem na oportunidade de ouro de não se casar, na oportunidade de viver menos luxuriosamente, de não pedir salários mais altos, de se tornarem capitalistas com 15 xelins por semana, de aprenderem como manter o corpo saudável com comida grosseira e como degradar a alma com as pestilentas doutrinas de Malthus.
Na última sexta-feira, Ernest Jones visitou a cidade de Preston para se dirigir aos trabalhadores impedidos de entrar na fábrica, falando sobre a questão do trabalho. No momento do encontro, pelo menos 15 mil pessoas (o Preston Pilot estima o número em 12 mil) haviam se juntado no pátio, e o senhor Jones, ao seguir para palanque, foi recebido calorosamente. Reproduzo alguns trechos de seu discurso:
Qual o motivo dessas lutas? Por que acontecem agora? Por que elas irão retornar? Porque as fontes das suas vidas estão seladas pela mão do Capital, que entorna o seu cálice de ouro e deixa a borra para vocês. Por que vocês estão impedidos de entrar na vida quando estão impedidos de entrar na fábrica? Porque vocês não têm outra fábrica para ir nenhum outro meio de trabalhar pelo seu pão. […] O que dá ao capitalista esse poder tremendo? O fato de que ele detém todos os meios de emprego… os meios de trabalho são assim a dobradiça sobre a qual o futuro do povo se move… somente um movimento de massas em todos os setores, um movimento nacional das classes trabalhadoras, pode triunfar… segmentem e regionalizem sua luta e vocês possivelmente fracassarão, nacionalizem ela e vocês certamente vencerão.
O senhor George Cowell de maneira muito cortês moveu um voto de agradecimento, apoiado pelo senhor John Matthews, a Ernest Jones em razão de sua visita a Preston e aos serviços prestados por ele à causa do trabalho.
Grandes esforços foram feitos por parte dos donos de fábrica para impedir a visita de Ernest Jones à cidade; nenhum salão podia ser reservado para este propósito, e, dessa forma, cartazes foram impressos em Manchester convocando uma reunião ao ar livre. O informe que o senhor Jones se oporia à greve foi difundido diligentemente por partes auto interessadas e semeou a divisão entre os homens, e cartas foram enviadas comunicando que não seria seguro para ele visitar Preston.