Novo Partido Anticapitalista (NPA)*
O resultado destas eleições europeias é um estrondo. Com o anúncio de Macron da dissolução da Assembleia Nacional, é crucial que toda a esquerda – os partidos, os sindicatos e todas as organizações do movimento operário – se reúna e se mobilize. Propomos que nas cidades, nos bairros e a nível nacional esses encontros ocorram nos próximos dias, a fim de realizar a unidade nas ruas e nas urnas para resistir.
Somente pouco mais de um em cada dois eleitores votou nestas eleições europeias e, no entanto, os resultados desta noite soam como um sinal de alerta. Como anunciado há semanas, a extrema direita conquistou um grande número de votos em toda a Europa e poderá eleger várias dezenas de deputados, provavelmente mais de uma centena, no Parlamento Europeu. A extrema direita está às portas do poder em vários países da Europa, quando já não participa de coalizões governamentais.
Na França, a Reunião Nacional aumentou sua votação em quase 10% em relação às eleições anteriores, e no conjunto a extrema direita angariou 40% de votos para listas de candidaturas racistas, autoritárias e homofóbicas. Não se trata de um raio em céu azul, pelo contrário, isso é o resultado de várias décadas de políticas racistas e antissociais conduzidas por diferentes governos de direita e de esquerda.
É também o resultado da vontade do governo Macron de legitimar a Reunião Nacional, seu “melhor inimigo”, aplicando uma parte de sua política, e transformando cada eleição em um duelo entre o campo presidencial e a Reunião Nacional. Mas essa chantagem de dizer “votem em nós ou deixem a extrema direita ganhar” funciona cada vez menos, pois o repúdio ao governo Macron, autoritário, antissocial e racista, é cada vez maior.
Após a derrota das eleições legislativas de 2022, o campo do presidente Macron sofre mais uma vez o repúdio dos eleitores e só consegue reunir, penosamente, 15% dos votos, apesar de todos os meios do Estado terem sido postos a serviço da lista de candidaturas apoiada por Macron e de o presidente e o primeiro-ministro terem feito campanha.
A retomada de popularidade, de caráter midiático, da esquerda de cogestão social-liberal e do hollandismo (termo relativo a apoiadores do ex-presidente François Hollande, do Partido Socialista) não é um bom sinal. Essa esquerda neoliberal que flexibilizou a legislação trabalhista, que implantou a política de “perda de nacionalidade” (política adotada por Hollande que retirava a cidadania francesa de estrangeiros naturalizados no país ou mesmo de franceses com dupla cidadania condenados por terrorismo), e que é comprometida com o imperialismo ocidental nos conduziu ao fracasso, desmoralizando e enfraquecendo ainda mais nosso campo social, e impulsionou Macron ao poder.
Os votos para a lista de candidaturas de Manon Aubry e de Rima Hassan foram impulsionados pela ira popular e do mundo do trabalho contra o ultraliberalismo autoritário de Macron, mas também contra sua cumplicidade em relação ao genocídio que está acontecendo neste momento em Gaza.
O desafio para nosso campo social é retomar a iniciativa e assumir a liderança em um contexto de crises econômica, social, democrática e ecológica que se combinam e se amplificam. Todas as forças de esquerda que rejeitam este sistema social e ecologicamente destrutivo devem se reunir para resistir nas urnas e nas ruas à extrema direita e ao macronismo que a alimenta.
Montreuil, domingo, 9 de junho de 2024
*Tradução para o português: Samir Oliveira