Esta edição traz um esforço de reflexão sobre o mundo do trabalho hoje e os principais desafios de organização da classe trabalhadora. O termo “mundo do trabalho” abarca uma multiplicidade complexa de ocupações que obviamente uma revista não dá conta de tratar ou mesmo aprofundar. Portanto, nossa perspectiva é de ponto de partida para provocar um debate que consideramos crucial para a esquerda socialista.
O capitalismo está passando por mudanças muito significativas e no seu atual estágio, o neoliberalismo, observamos um processo de financeirização da economia, de avanço tecnológico, e a mercantilização de todas as relações cotidianas ancoradas numa ideologia de competitividade e individualismo que muitas vezes encontra expressão em ideologias fascistas.
Dentro desse processo são perceptíveis as transformações na ocupação profissional, em que a possibilidade de um emprego formal, assalariado e com carteira assinada vem se tornando cada vez mais restrita e o caminho para o acesso a uma renda mínima que garanta a sobrevivência é cada vez mais precário.
Temos visto como essa transformação do capitalismo que produz a ampliação da riqueza de uma minoria e amplia a miserabilidade de uma maioria necessita de uma forma política conservadora e reacionária para garantir sua reprodução. No Brasil, isso ficou explícito no golpe de 2016 contra a Presidenta Dilma que levou Michel Temer ao poder e abriu espaço para a realização de uma reforma trabalhista com retirada de direitos e o congelamento dos gastos públicos. Na sequência, no governo de Jair Bolsonaro, foi realizada a reforma da previdência.
Mesmo com o Governo Lula, temos visto a dificuldade de romper com a lógica da política de austeridade, o quanto as pressões do grande capital se fazem presentes, e o papel de um Congresso conservador que atua de forma contundente para manutenção dos interesses das elites. Isso nos traz grandes desafios no próximo período.
Diante desse cenário, como apontou o professor Ruy Braga, o epicentro do mundo do trabalho não é mais o chão da fábrica, e sim as ruas, e uma classe trabalhadora cada vez mais pulverizada e precarizada. Mesmo reconhecendo a importância das formas tradicionais de organização da esquerda, como os sindicatos, por exemplo, verificamos que as formas tradicionais tornam-se insuficientes diante das novas configurações do mundo do trabalho.
Nesse sentido, a organização nos territórios, as lutas urbanas por moradia digna, pelo direito à cidade, as formas de construção de identidades coletivas por meio da cultura, os trabalhos comunitários, as igrejas, a organização das mulheres, o movimento negro, movimento LGBTQIAPN+ ganham cada vez mais relevância como polos de resistência e de possibilidade de organização da classe trabalhadora.
Não existe uma fórmula pronta, mas é essencial construirmos um diagnóstico que nos permita pensar os instrumentos mais adequados para atuarmos em uma sociedade cada vez mais complexa.
Para além das disputas institucionais temos uma batalha ideológica gigante. Precisamos disputar o imaginário da classe trabalhadora, explicitar as contradições e limites desse modelo de sociedade que só ampliam as desigualdades e a degradação da nossa condição humana, apresentando saídas alternativas concretas e objetivas que transforme essa realidade.
Uma ótima leitura.
Saudações socialistas!
Natália Szermeta