Poucas séries nos quadrinhos brasileiros expressam com tamanha crueza nossos abismos sociais como “Os Santos” e “A confinada”. Os autores, Triscila Oliveira, 35, e Leandro Assis, 46, são cariocas separados por um oceano; ela no Brasil e ele em Portugal. Sem se conhecerem pessoalmente, formam uma afinadíssima dupla que incendeia as redes sociais. Em nunca mais de dez imagens por tira, traçam um perfil sem contemporizações da elite branca – e bronca – zona sul e sua carga de preconceitos contra empregadas domésticas, pajens, porteiros e aquilo que em outros tempos se chamava pejorativamente de “gentinha”. Em cada cena emerge o mandonismo da casa grande – em sua versão Leblon-Barra – sobre a senzala, em sua identidade secreta de morro.
Triscila, ex-empregada doméstica que cresceu vendo a mãe ralar em casas de classe média, produz roteiros quase telegráficos que ganham forma no desenho de Leandro. Sua arte final parece feita a machadadas. A combinação é quase um molotov gráfico que arrebanha mais de 750 mil seguidores no Instagram e se infiltra pela Folha de S. Paulo e revista Piauí.
“Os Santos” e “A Confinada” podiam virar filme, minissérie ou quadro televisivo. Enquanto isso não acontece, aperte os cintos e aproveite o aperitivo das próximas páginas.
Leandro Assis
Triscila Oliveria