Eliane Silva
As pessoas não conseguem se isolar por causa da fome. A pandemia escancara o sofrimento dos que têm seus direitos reduzidos enquanto o desemprego aumenta e deixa as maiorias sem renda. O auxílio emergencial não chega para todos. O governo de Alagoas decidiu reabrir o comércio com a doença em expansão. Não há nenhum plano de emergência para as periferias e para a população pobre. Graças às lutas dos partidos de oposição, conquistamos a possibilidade de as mulheres receberem o auxílio emergencial de R$ 1.200, mas não chega a todas. Assim, os movimentos sociais, os sindicatos, o MTST e várias associações organizam redes de solidariedade, com vaquinhas on-line, compras de alimentos e cozinhas coletivas. Ou seja, o movimento social faz o que o Estado se mostra incapaz de fazer.
Eliane Silva, agricultora assentada em programa de reforma agrária e militante do PSOL e do MTST. Atua na zona rural de São Luís do Quitunde, a 70 km de Maceió
Izadora Gama Britto
Tivemos um corte absurdo no programa Bolsa-família, no Nordeste. Com o aumento do desemprego e da informalidade, vivemos um quadro de caos e fome, com forte aumento da população de rua. Assim, uma das saídas emergenciais dos movimentos sociais, como em Alagoas, foi montar cozinhas coletivas para distribuir alimentos aos moradores de rua. Em Sergipe, cerca de 80% da população não recebem nem dois salários mínimos. As políticas sociais da época dos governos petistas chegaram, mas não se consolidaram, apesar de terem movimentado as economias da região. Não vamos conseguir ter uma política de isolamento eficiente sem auxílio emergencial. As pessoas estão indo para a rua e correndo o risco de contágio por não terem como sobreviver em casa.
Izadora Gama Britto, advogada de movimentos sociais, Aracaju, Sergipe
Rud Rafael Souza e Silva
Recife é a capital mais desigual do país, onde predominam formas precárias de moradia em favelas e palafitas. O mais preocupante aqui é a volta da fome. Num quadro de aumento da contaminação e do número de mortes é que se dá a retomada das atividades econômicas, sem nenhum plano de expansão de leitos e de assistência médica. A solução é fazer com que o dinheiro chegue às mãos das pessoas. A maioria não pode cuidar da higiene para evitar a doença, pois 60% da cidade não tem saneamento básico. Além disso, o isolamento social sem o auxílio emergencial tem o impacto de cortar uma movimentação de R$ 4,5 milhões de reais entre os trabalhadores ambulantes informais da capital.
Rud Rafael Souza e Silva, assistente e educador social da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE) e membro da Coordenação Estadual e Nacional do MTST