Dando seguimento a um ciclo de debates inaugurado neste ano, a Fundação Lauro Campos e Marielle Franco (FLCMF) realizou um encontro na Universidade de Brasília (UnB) na segunda-feira, dia 25 de março, para discutir a ascensão da extrema direita e o papel da esquerda socialista. A atividade, que aconteceu no Auditório Azul da Faculdade de Administração, Contabilidade, Economia e Gestão de Políticas Públicas (FACE), contou com a presença de Luciana Genro, presidente da FLCMF, do deputado distrital Fábio Felix, da presidente do PSOL-DF, Giulia Tadini e de Gardênia Alves, secretária de Formação do PSOL-DF.
Na ocasião, Luciana Genro apresentou seu novo livro: “A Alemanha da revolução ao nazismo – Reflexões para a atualidade”, que trata da derrota da Revolução Alemã e da ascensão do regime nazista poucas décadas depois. Ao resgatar essa experiência histórica e seus protagonistas, como Rosa Luxemburgo, a presidente da FLCMF lembrou que a traição da social-democracia alemã à classe trabalhadora pavimentou o caminho para a extrema direita no país.
“O SPD (Partido Social-Democrata) no governo se alia aos chamados Freikorps, os ‘corpos livres’, que são os ex-militares que foram desmobilizados com o fim da I Guerra Mundial, mas que depois se constituíram em milícias. Foram justamente eles que assassinaram Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht”, explicou, em referência aos dois líderes da esquerda alemã que romperam com o SPD e fundaram o Partido Comunista Alemão.
Contudo, ao refletir sobre a necessidade de unidade política para derrotar a extrema direita, Luciana Genro também resgatou outra passagem histórica da experiência alemã, que foi a posição equivocada do Partido Comunista – já sem a liderança de Rosa e Karl, assassinados – de priorizar o combate à social-democracia e não à extrema direita, que já vinha crescendo com a ascensão do Partido Nazista.
“Na Alemanha, num primeiro momento, o Partido Comunista define que o principal inimigo a ser derrotado é a social-democracia, não os nazistas. Fazendo uma anaologia bruta, é como se a gente definisse, aqui no Brasil, que nosso principal inimigo é o PT e não Bolsonaro”, comparou.
Ao falar sobre a situação atual do Brasil, a presidente da FLCMF, que também é deputada estadual no Rio Grande do Sul pelo PSOL, reforçou a necessidade de uma unidade com o governo Lula contra os ataques da extrema direita, mas também defendeu que o PSOL se postule como uma esquerda independente e apresente uma alternativa, pela esqueda, ao sistema político.
“Qual o papel da esquerda brasileira no contexto de crescimento da extrema direita? Não é um papel de submissão aos interesses da burguesia. Não tem como resolver os problemas do povo sem contrariar os interesses da burguesia, e se isso não for feito, os problemas sociais de agravarão cada vez mais e a extrema direita vai capitalizar esse descontentamento popular, aparecendo como uma força política contra tudo e contra todos”, ponderou, acrescentando que, na verdade, a extrema direita é o que existe de mais velho e podre no sistema político.
Na mesma linha, Fábio Felix falou sobre o crescimento da extrema direita no mundo, com os exemplos da Argentina, dos Estados Unidos e de Portugal, e defendeu a necessidade de construção de um programa político de enfrentamento ao sistema capitalista pela esquerda e de ocupação das ruas. “No Brasil, me parece que existe uma certa paralisia e incapacidade da esquerda em apresentar um programa de transformação da realidade identificado com as demandas do povo. Há também uma incapacidade de mobilização em amplos setores da sociedade”, criticou.
O deputado lamentou a ausência de peso entre setores ligados ao governo Lula na convocação dos atos do dia 23 de março. “A crise na convocação dos atos era um projeto”, disse. Para ele, é preciso ocupar as ruas em luta por mudanças estruturais, e não apenas assumir um papel defensivo de aliar-se ao governo. “O PSOL nasceu para ser uma ferramenta de enfrentamento ao sistema”, pontuou.
Assim como Luciana Genro, Fábio Felix ressaltou a necessidade de se ter uma voz ativa na defesa do governo contra os ataques da extrema direita, mas se não se limitar a isso. “Nessa linha tênue, nosso desafio é também lutar contra a acomodação, denunciar uma política econômica que é feita para as elites brasileiras e apostar na mobilização e na rua, ao invés de confiar somente nos palácios e governos”, concluiu.
O debate realizado no Distrito Federal faz parte de um ciclo de encontros que a FLCMF vem promovendo em sua nova gestão, que tomou posse no final de janeiro. Desde então, já foram realizados eventos semelhantes em São Paulo e em Natal, e um próximo encontro está marcado para o dia 4 de abril em Curitiba.