Por Francisvaldo Mendes de Souza
A disputa nessas eleições, para nós do PSOL, é a disputa de um projeto político. Ou seja, ocupar espaço para criar as condições no Estado para favorecer e valorizar a vida. No capitalismo, esse sistema econômico que toma o mundo, o Estado vive disputas na política para ampliar o lucro e favorece somente os grandes empresários, os banqueiros, e alguns serviçais do sistema.
Nós queremos e faremos diferente, a política que organizamos com as pessoas é para transformar o modo de vida, arquitetando um ambiente no qual o ódio, o preconceito e a ignorância sejam superados por meio do conhecimento, da solidariedade, com outra organização sociopolítica.
Queremos estar no parlamento ou no executivo para ampliar o fôlego de vida e ampliar as forças contrárias à política de extermínio imposta pelos governantes aos mendigos, aos LGBTQI e às mulheres. Violência imposta a todas as pessoas que foram empobrecidas pelo capitalismo, pessoas que vivem da venda da força de trabalho e só isso possuem viver. Atualmente, a necropolítica predomina nas variadas dimensões do Estado, seja pelo poder de polícia, seja pela elaboração de leis para retirar direitos de trabalhadoras e trabalhadores em favor do “mercado”, seja por meio da espada da justiça que só corta contra aqueles que já são massacrados na sociedade.
Nos dias atuais, principalmente com a pandemia, as políticas impostas ampliam a devastação da vida de forma volumosa, haja vista a preocupação com a aglomeração nas praias. Porém, essa indignação não atinge quem é obrigado a se submeter a ônibus, trens ou metrôs lotados. Não é por menos que um país que tem 1/38 da população mundial possui 1/7 das mortes pelo vírus no planeta. Isso é a maior demonstração das desigualdades nos dias de hoje e comprova que as mortes são produtos de uma política aplicada e não de um “inimigo invisível” que circula nos corpos, nas coisas e no ar. O nosso desafio é enfrentar e superar essa ordem que predomina na vida contra a maioria das pessoas.
MUDAR O ESTADO
O PSOL, portanto, não pode ocupar a administração do Estado para gerenciar os interesses de alguns como já foi feito em administrações passadas. O que disputamos é a mudança da forma de ação do Estado, outra organização nos aparelhos estatais, inclusive no judiciário que é uma aberração na democracia atual. Devemos nos amparar e nos combinar na auto-organização popular e criar espaços para fortalecer a ideia de público. Dessa forma, ampliar o controle da sociedade com a finalidade de acompanhar os investimentos dos recursos centralizados e controlados pelo Estado, para que todo o dinheiro seja destinado à coletividade e que possamos diminuir, ao máximo, os ladrões que se aproveitam do cargo e desviam dinheiro em benefício próprio.
A vida das pessoas só melhorará se for fruto de um movimento político, coletivo, amplo e inspirado por um projeto de transformação social organizado e debatido por meio do conhecimento acumulado com a participação ativa com a sustentação das pessoas. Esse é um elemento fundamental para que o Estado seja um ambiente da esfera pública e não um ambiente da esfera privada, como ocorre nos governos atuais. Essa participação ativa e democrática empurrará a política para a transformação e permitirá que a maioria social se torne também a maioria política e cultural.
DEFESA DOS SERVIÇOS PÚBLICOS
Somos nós, a maioria que procura o acolhimento nas religiões, nos jogos, na família, no trabalho, na amizade e na sobrevivência. Vivemos a falta de recursos e as piores consequências dos desvios desses montantes. Esses recursos são criados por nós e precisam chegar à maioria da população e para as principais organizações que podem defender e ampliar a vida, como hospitais, postos de saúde, escolas, creches, e para as políticas afirmativas que garantam remédios, alimentações, água e saneamento básico. Não se pode seguir sofrendo com enchentes, com a poluição e com o descaso das autoridades. Posto isso, estamos desafiados a superar essa ordem e a organizar um sistema fundado na prática da democratização sem perder o objetivo estratégico de transformação social, afim de que as pessoas organizem a economia para se sustentar em todas as dimensões da vida.
O nosso objetivo, que brilha forte no sol do socialismo e da liberdade, certamente traz um desafio de não apenas ganhar as eleições, mas nessas eleições termos uma capacidade de comunicação com as pessoas. Dessa forma, ser um processo de formação, criação de consciência crítica e capacitação política para podemos, por meio da participação política, não depender apenas das vitórias eleitorais, mas criar condições de direcionar as políticas do Estado ocupando cargos ou ampliando a organização popular para dar volume às contradições. Passo fundamental para alterarmos os desmandos que assolam a nossa vida.
SUJEITOS POLÍTICOS
Sujeitos políticos No período eleitoral de brasileiras e brasileiros que votam a cada dois anos, infelizmente convivemos com uma política rasa, que cultua o lucro e amplia a morte, o que causa desgosto coletivo, e faz com que muitas pessoas não gostem de eleições, e não concebam o voto como uma conquista e, progressivamente, afastem- -se da política. Isso é um processo que já começa a mudar, pois, faz-se necessário que a maioria das pessoas se aproxime da política e se reconheça como sujeito político, sujeito de sua vida e com condição de conquistar outra realidade. Essa é a grande tarefa de todas as candidatas e de todos os candidatos do PSOL – que se apresentam em todo o Brasil – de aproximar as pessoas da política e unificar forças para coletivamente mudar o país. E é na cidade que esse processo de mudança ganha vulto imediato na vida das pessoas, onde podemos alterar as condições objetivas de morar, ter saúde, estudar, vender a força de trabalho e aglutinar mobilidade plena, tanto no corpo quanto simbólica, para crescer como sujeitos múltiplos de uma mudança coletiva e solidária.
PSOL NAS CIDADES
Em São Paulo a capacidade de aglutinação e o desprendimento com que Guilherme Boulos construiu sua história, lutando ao lado daqueles despossuídos que alimentam a perspectiva de realizar o sonho da casa própria, o capacita para a empreitada na prefeitura de São Paulo ao lado de Luiza Erundina, que contrariou interesses de muitos poderosos quando esteve na prefeitura.
No Rio de Janeiro, Renata Souza joga sua dedicação na luta contra a discriminação racial, e contra o machismo e acumulou experiência na luta em defesa dos direitos humanos ao lado de Marielle Franco, no gabinete do então deputado estadual Marcelo Freixo, que se destacou na luta contra as milícias no Rio de Janeiro.
Áurea Carolina, com o sorriso espontâneo, garra voraz na luta contra a desigualdade social e uma ativista cultural em defesa do povo pobre de Minas Gerais atua para colocar a experiência que tem em defesa da maioria do povo pobre e desfavorecido de Belo Horizonte.
Em Belém, o sempre lutador Edmilson Rodrigues, já administrou a cidade e fez a diferença atendendo aos interesses daqueles que mais precisam, enfrentando as oligarquias locais. Acumulou a posição de extremo conhecedor da cultura e do sofrimento de seu povo. Dispor-se a retornar a prefeitura significa apostar na ampliação da organização popular na defesa dos direitos do povo belenense.
Fernanda Melchiona simboliza a jovem que quer fazer a transformação social em defesa do fim da acomodação do status quo para que Porto Alegre irradie sua particularidade de povo lutador e aguerrido nas reivindicações em defesa da maioria contra os interesses privados.
Em São Luís, no Maranhão, o representante das ideias de transformação é Franklin Douglas, professor e advogado que atua na defesa dos direitos humanos.
Em Campo Grande, onde uma dupla de mulheres disputa a vaga da prefeitura da cidade, Cris Duarte e Val Ely lutam contra uma sociedade local machista e lgbtfóbica. A dupla é o espelho de garra e alegria para tornar uma sociedade mais justa e humana e, principalmente, na defesa dos povos indígenas. Val Eloy é uma indígena terena, com garra de defesa dos interesses da maioria do povo de Campo Grande.
Em Fortaleza, o nosso representante é Renato Roseno, formado em Direito e funcionário público federal. Há muito atua nos movimentos sociais contra as desigualdades de classe, gênero, etnia, e orientação sexual e na luta por moradia e melhores condições de vida para população Fortalezense.
Hilton Coelho é historiador e defende a cultura baiana e soteropolitana e luta contra a discriminação de maneira geral, mas tem enfrentado a discriminação que se agudizou com o governo federal, contra o preconceito com as religiões de matriz afrodescendente.
Valéria Correia, professora universitária e funcionária pública federal, foi exemplo de reitora na Universidade Federal de Alagoas, investindo na melhoria do campus e dando ênfase na aproximação da universidade com a comunidade maceioense, além de lutar na defesa do SUS, sendo uma das coordenadoras dessa frente nacional.
Em Cuiabá, Gilberto Lopes é funcionário da saúde e defende o Sistema Único de Saúde (SUS). Ele terá o desafio de enfrentar os barões do agronegócio da soja e do gado que se encastelaram no Estado para defender os interesses privados.
Em Florianópolis, o professor Elson Pereira é o candidato do PSOL, ao qual conseguiu aglutinar o maior número de partidos e de esquerda para a prefeitura em defesa de uma cidade mais humana e acolhedora para a própria população. Ele luta contra o racismo e o preconceito que predominam de forma geral na sociedade e, também, quer colocar a prefeitura para amparar os mais humildes.
Vamos disputar em cada local deste país o direito de viver plenamente nas cidades, com projetos, práticas e ações que fazem valer a pena fazer política neste imenso e múltiplo país que é o Brasil.
Reconhecemos e apostamos na sabedoria e na potência criativa do nosso povo, que é explorado todos os dias e em todas as dimensões, que possui, na maioria, mulheres, pessoas negras e indígenas, para construirmos um projeto de país que respeite a vida em todas as dimensões.
Francisvaldo Mendes é advogado e diretor-presidente da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco.