Volta por cima
Em 21 anos, o Bloco não teve uma trajetória de crescimento linear e uniforme, como é natural. Sofreu algumas rupturas, tanto à sua esquerda quanto à sua direita, sofreu derrotas eleitorais pesadas, como nas eleições de 2011, quando perdeu metade da sua bancada parlamentar.
Mas também soube mostrar a sua capacidade de dar “a volta por cima” colado a lutas como aquela que mobilizou a maioria do país contra a austeridade imposta pela troika (FMI, Banco Central Europeu, União Europeia), que lhe valeu superar a crise e ter o seu maior resultado até agora nas eleições de 2015. Um ano antes, o Bloco vivera a sua mais importante crise, quando pela primeira vez no seu congresso duas tendências que se equivaliam disputaram a direção. Tão equilibrada foi a disputa que as listas (chapas) empataram, e foi necessário um trabalho de grande paciência de parte a parte para chegar a uma nova convivência. Os anos passaram, as fronteiras das organizações fundadoras desvaneceram-se e hoje a maioria dos militantes nunca pertenceu a nenhuma delas. Aliás, as próprias organizações ou se dissolveram ou se mantém apenas como associações.
Curiosamente, depois do primeiro coordenador, Francisco Louçã, vindo do PSR, um dos partidos fundadores, João Semedo, que lhe sucedeu, teve 30 anos de militância no PCP antes de aderir ao Bloco, e a atual coordenadora, Catarina Martins, não tinha experiência anterior de militância partidária e só entrou no Bloco em 2010.
Nova geração
Um dos segredos do sucesso do Bloco foi o de saber fazer, no momento, certo a transição da direção, assumindo o comando do partido uma geração mais jovem rejuvenescendo-a e com grande presença feminina, onde ressaltam a coordenadora nacional, Catarina Martins, a deputada europeia Marisa Matias e a economista Mariana Mortágua. O jornal The Guardian foi um dos que notou essa característica no artigo “Women who conquered macho world of Portugueses politics prepare for Power” (Mulheres que conquistaram o mundo machista da política portuguesa preparam-se para o poder), de novembro de 2015.
No momento de atingir a “maioridade”, o Bloco de Esquerda é um partido mais maduro. Sobre os ombros pesa uma responsabilidade muito superior. Quem tem 10% dos votos determina políticas concretas que fazem a diferença no quotidiano das pessoas. Pode decidir se um governo fica ou cai.
Há quem diga que o Bloco perdeu o frescor dos primeiros anos. Mas os mais críticos deveriam, antes de julgar, conhecer a experiência que levou o Bloco a se tornar um partido de massas. Terão muito boas surpresas