Rafael Nascimento Gomes
Em outubro de 1917, junto com a Revolução Socialista que eclodia na distante pátria de Lênin, nascia Violeta del Carmen Parra Sandoval, que ganhou o mundo como Violeta Parra, uma das mais importantes folcloristas latino-americanas, fundadora do movimento estético-político musical chamado Nueva Canción Chilena, do qual fizeram parte também Victor Jara, Rolando Alarcón, Patrício Manns, além dos grupos Inti-Illimani e Quilapayún. Com seu violão, Violeta levou o Chile e a América Latina ao mundo; um mundo tão desigual e injusto. Em 1952, profundamente influenciada pelas lutas sociais de seu país, realizou recitais engajados em universidades e dedicou-se a pesquisar a música popular chilena, ganhando imensa popularidade.
Além da brilhante cantora que era, Violeta também foi poetiza, artesã, artista plástica e folclorista. A arte corria em suas veias. E a arte, em seu melhor sentido de ser, era para ela um importante agente transformador do mundo. Uma mulher curiosa e inquieta, tiraria das raízes folclóricas chilenas a principal inspiração para suas músicas, verdadeiras manifestações artísticas populares. Buscou mapear ritmos, danças e canções populares e reuniu cerca de três mil canções tradicionais, um legado cultural inestimável. O maior poeta chileno, Pablo Neruda, homenageou Violeta em alguns de seus belos versos:
“(…) Quando nasceste foste batizada como Violeta Parra, o sacerdote levantou as uvas sobre tua vida e disse: ‘Parra és e em vinho triste te converterás.’ Em vinho alegre, em peralta alegria, em barro popular, em cantochão, Santa Violeta, tu te converteste, em violão com lâminas que reluzem ao brilho da lua, em ameixa selvagem transformada, em povo verdadeiro, em pombo do campo (…).”
(Pablo Neruda, Elegía para cantar, 1970).
Violeta representava a voz do Chile e da América Latina; e disso ela não abria mão. Seja pela Europa ou por nuestra América, Violeta, muitas vezes acompanhada pelos filhos, Isabel e Angel, levava a riqueza de nossa cultura e identidade latino-americanas para o mundo, além de manifestar seu repúdio às injustiças sociais tão marcantes em nosso continente. Por isso, Violeta pode ser considerada a mãe da canção comprometida com a luta dos oprimidos e explorados, tendo sido autora de páginas inapagáveis, como a clássica canção Volver a los 17, que mereceu uma antológica gravação de Milton Nascimento e Mercedes Sosa.
As letras de suas canções refletem uma militância que sempre fez parte de sua vida. Seu filho, Angel, ao lembrar a Violeta, dizia: “Minha mãe tinha uma capacidade especial de absorver e reproduzir a cultura do povo e para o povo; sempre defendeu essa identidade e valores como a justiça social”.