Luciana Genro
Presidenta da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco.
O mundo entrou em 2025 em uma overdose de guerras, genocídios, disputas econômicas acirradas e mudanças geopolíticas, como não se via nos últimos 80 anos. De volta ao poder do país militar e financeiramente mais poderoso do globo, reforçado pela vitória nas urnas, o milionário corretor de imóveis Donald Trump mostra que veio para tentar mudar a ordem mundial vigente desde o fim da Segunda Grande Guerra (1939-1945). Mudar para bem pior.
Trump 2.0 e seu governo de bilionários representam a saída de extrema direita radical que uma grande parte dos capitalistas do planeta decidiu adotar em busca de superar a crise econômica aberta em 2008. Assim, tentam “reinventar” com desfaçatez o imperialismo agressivo, expansionista, invasor de territórios e depredador da natureza, que caracterizou o modelo capitalista “adolescente” de fins do século XIX e começo do XX. Não é casual seu apoio incondicional à chacina sionista de Netanyahu em Gaza e Cisjordânia, contra a qual não cansamos de levantar vozes e punhos.
Este cenário político global desconhecido tem repercussões diretas sobre nosso país e toda nossa região. A vitória e o acionar de Trump reforçam as extremas direitas. Torna-se mais complicado e desafiador enfrentar as novas caras do fascismo. Mas nenhuma das mudanças que o novo “comandante em chefe” do capitalismo quer impor à humanidade vai passar sem contradições e resistências de grandes proporções. E como para agir é preciso antes compreender o que acontece, traçar objetivos e formas de ação, preparamos uma edição que trata de muitos temas fundamentais nestes tempos.
Contamos com luxuosas colaborações – a cujos autores, do PSOL ou de fora dele, agradecemos – para falar do impacto da vitória de um neofascista nos EUA, do doloroso tema do trato de Trump aos imigrantes – entre os quais milhares de brasileiros radicados na América do Norte –, da disputa do imperialismo estadunidense com a emergente China, e da até agora “invisível” nova onda panafricanista na imensa e estratégica região do Sahel.
Damos espaço ao debate crucial sobre como enfrentar a extrema direita em nosso país, nas palavras de nossas deputadas federais Érika Hilton e Sâmia Bonfim. Mesmo em tempos de unidades de todo tipo para enfrentar a extrema direita, registramos que os explorados têm – e não podem deixar de ter – suas próprias reivindicações: a luta pelo fim da jornada 6 x 1, por uma vida além do trabalho, chuta as portas da política institucional e lança jovens trabalhadores do comércio e do serviço ao centro da cena brasileira. O PSOL tem orgulho de ter acolhido dirigentes desse movimento. Em tempos de implantação da Inteligência Artificial e de agressividade redobrada das Big Techs, temos um dossiê especial, a partir da página 42, onde o leitor encontrará vozes que discutem os desafios colocados aos movimentos populares e à esquerda pelo uso capitalista das novas tecnologias de comunicação e informação.
Deixo meu abraço a todas as lutadoras e lutadores contra a extrema direita, contra os genocidas e tiranos, aos que se erguem contra as mazelas do capitalismo neoliberal, por um mundo novo sem explorados nem exploradores, em equilíbrio com a natureza. Um abraço mais apertado ainda às mulheres e homens trans, alvos prioritários de Trump, do bolsonarismo (com ou sem o inelegível) e da ultradireita conservadora global. Estamos juntas!