Há cinco anos, em 25 de maio de 2020, George Floyd foi assassinado em Minneapolis, Minnesota, Estados Unidos. Em uma abordagem criminosa, um policial branco ajoelhou-se sobre o pescoço de Floyd por mais de nove minutos, enquanto ele estava algemado e repetia a frase “eu não consigo respirar”.
A cena brutal em Minnesota espalhou-se pelo mundo e motivou a maior onda de protestos já vista nos Estados Unidos, além de um levante do movimento negro em escala mundial. Calcula-se que 25 milhões de estadunidenses foram às ruas naquele momento, sob a palavra de ordem Black Lives Matter (Vidas Negras Importam). O movimento negro foi estratégico para a posterior derrota eleitoral de Trump.
Há ainda lições a serem extraídas daquela luta. Sobretudo, é preciso ter em vista o quão recente ela é na experiência das massas e a necessidade, agora, de novos enfrentamentos contra um segundo governo Trump.
Cinco anos depois, as mudanças institucionais foram praticamente inexistentes no enfrentamento ao racismo nos Estados Unidos, à exceção de iniciativas pontuais em determinados estados, agora ameaçadas por ações do governo federal. Entre 2019 e 2024, o número de assassinatos cometidos anualmente pela polícia aumentou 20%, afetando os negros em uma proporção três vezes maior do que os brancos.
A memória de George Floyd e dos protestos em solidariedade a ele se choca com um conjunto de ações racistas do novo governo, nos níveis simbólico e institucional.
A mais recente demonstração racista do presidente ocorreu na última quarta-feira (21). Ao receber na Casa Branca o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, Trump quebrou o protocolo e levantou acusações falsas sobre uma suposta perseguição racista contra “fazendeiros brancos” no país africano. Dias antes, Trump havia acolhido nos Estados Unidos, com status de refugiados, membros da comunidade “Afrikaners”, composta por sul-africanos brancos historicamente ligados ao apartheid.
O acobertamento do grupo supremacista branco alinha-se, gerando um contraste perverso, aos padrões igualmente racistas que reprimem a imigração nos Estados Unidos. Não por menos, recentemente, foram revogados no país o status de refugiados para cidadãos de Cuba, Haiti, Venezuela, Nicarágua e Camarões.
Em uma entrevista recente ao The New York Times, o vice-presidente estadunidense, JD Vance, foi abertamente racista ao acusar imigrantes de destruírem a “coesão social” nacional e de constituírem, nos Estados Unidos, comunidades pautadas pelo “caos, violência e pela brutalidade pré-moderna”. Em um decreto pouco notado, Trump também instituiu o inglês como única língua oficial nos Estados Unidos.
Há um evidente contraste entre o racismo no governo e as aspirações dos movimentos e das massas que se ergueram há cinco anos. A propósito, a história dos Estados Unidos é marcada tanto pelo racismo quanto pela resistência a ele, que remonta, muito antes do movimento Black Lives Matter, às lutas abolicionistas, antissegregacionistas e pelos direitos civis, com figuras como Rosa Parks, Martin Luther King, Malcolm X, Angela Davis, os Panteras Negras, entre outros.
Dessa forma, em tempos difíceis, é correto seguir depositando no movimento negro — e na aliança entre ele e os movimentos anticapitalistas — a esperança de luta contra a barbárie neofascista. Assim como em 2020, a derrota de Trump pode e deve vir das mãos dos mais oprimidos pelo governo. Como afirmou James Baldwin no ensaio Da próxima vez, o fogo: “Somos encorajados pelo espetáculo da história humana em geral, e da história dos negros americanos em particular, pois ela testemunha nada menos do que a realização perpétua do impossível.”