Uma breve nota sobre a Venezuela

Por Roberto Robaina*

A posição da diplomacia brasileira sobre a crise da Venezuela é muito inteligente. De difícil execução, mas a única que poderia ser adotada capaz de preservar a defesa das liberdades democráticas e a soberania do processo eleitoral, não fazendo, tampouco, o jogo da extrema direita. Não é a mesma posição da direção nacional do PT, que é de respaldo incondicional ao presidente Maduro e a legitimidade de sua reeleição.

A posição da diplomacia – neste caso, chefiada por Celso Amorim e costurada em conjunto com Lula -, busca colocar o Brasil num lugar que lhe permita mediar o conflito. Em primeiro lugar, quer evitar uma guerra civil, uma insurreição cuja direção seja da extrema direita ultraliberal e um autogolpe do próprio Maduro. Uma hipótese em que a diplomacia certamente está trabalhando seria a substituição do governo Maduro via um processo de negociação e transição que permita anistia, exílio, manutenção de privilégios à cúpula militar etc.

Essa hipótese pode se fortalecer à medida em que as mobilizações populares cresçam e que exista um polo diplomático capaz de ser um mediador, justamente o lugar que o Brasil quer ocupar. A ligação telefônica entre Lula e Biden mostra que os EUA têm também interesse nesse papel do Brasil – consciente de que a simples derrubada do governo é uma hipótese cuja realização é muito difícil, tem alto custo humano, político e econômico.

Para os EUA, a saída negociada pode ser também a melhor. Se Lula consegue essa posição, mesmo a direita da Venezuela terá que ressaltar seu papel de mediadora e irá enfraquecer o discurso anti-Lula da extrema direita – e mesmo da ignorante e/ou reacionária burguesia liberal e sua mídia corporativa que ataca Lula. A posição de Lula, portanto, é uma busca de não respaldar uma eleição sem atas, sem provas e, ao mesmo tempo, não respalda a extrema direita venezuelana.

O caminho da negociação, finalmente, é uma tentativa de evitar uma instabilidade ainda maior, que possa aumentar a fuga de venezuelanos do país, já superior a 7 milhões de pessoas – o que é um fator de crise não apenas na Venezuela, mas no Brasil, na Colômbia e nos EUA. O sucesso da via diplomática, aliás, seria justamente reverter o fluxo migratório, permitindo que milhões de venezuelanos voltem para suas casas e suas famílias. Eis o que seria uma vitória para o povo da Venezuela.

*Roberto Robaina é ex-presidente da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, vereador em Porto Alegre e membro da Direção Nacional do PSOL.

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